Entenda como o patriarcado, um sistema de dominação enraizado na sociedade, perpetua desigualdades de gênero, limita a autonomia feminina e influencia as relações de poder.
Do site Icl notícias:
Essa estrutura de poder profundamente enraizada em nossas instituições, costumes, valores e comportamentos se perpetua há séculos. Ele se manifesta de forma invisível, moldando as relações de gênero e reproduzindo desigualdades entre homens e mulheres, limitando o acesso das mulheres ao poder, à autonomia e à liberdade.
O que é patriarcado?
Patriarcado, significado segundo o dicionário:
- Dignidade ou jurisdição de patriarca;
- Exercício das funções de patriarca;
- Diocese dirigida por um patriarca;
- Tipo de organização social que se caracteriza pela sucessão patrilinear, pela autoridade paterna e pela subordinação das mulheres e dos filhos.
Ou seja, o patriarcado é um sistema social em que os homens detêm o poder e a autoridade sobre as mulheres e se baseia na ideia da superioridade masculina e da inferioridade feminina. Esse desequillíbrio permite que os homens tenham direito a uma posição dominante na sociedade.
O termo “patriarcado” deriva da palavra grega “pater”, que significa “pai”, e reflete a ideia de que o pai é a figura de autoridade e poder na família e na sociedade.
A diferença entre machismo e patriarcado
Machismo e patriarcado são conceitos relacionados, mas não são sinônimos. Enquanto o machismo é uma manifestação do patriarcado em nível individual, o patriarcado é um sistema social de opressão que sempre necessita do vínculo para existir – seja o pai ou o marido.
O machismo é o conjunto de atitudes e comportamentos que expressam a crença na superioridade masculina e na inferioridade feminina, uma espécie de manifestação do patriarcado no nível individual.
Já o patriarcado é um sistema social que estrutura as relações de poder entre homens e mulheres de forma hierárquica, favorecendo os homens, sejam nas relações familiares ou conjugais. É uma estrutura de dominação que se manifesta em leis, costumes, valores e comportamentos, sempre eliminando direitos e liberdades das mulheres em favor do desejo masculino.
A sociedade patriarcal
Uma sociedade patriarcal é uma sociedade organizada em torno de um sistema de poder masculino. Nessa sociedade, as mulheres estão subordinadas aos homens em todos os aspectos da vida, desde a família até o trabalho, a política e a cultura. Mas é importante lembrar que os homens a quem elas devem responder são pessoas com quem têm vínculos, como familiares ou cônjuges.
Na sociedade patriarcal, o controle do corpo feminino se dá por meio de diversos mecanismos, incluindo leis, costumes e valores, todos pensados para limitar a autonomia da mulher sobre seu próprio corpo. O patriarcado define como as mulheres devem se vestir, os ideais que devem seguir e quais comportamentos são esperados delas – o que inclui o exercício da sexualidade.
Como um sistema de poder masculino, o patriarcado limita o acesso e a atuação das mulheres em todos os aspectos da vida comum, da política aos ambientes sociais. Isso significa que mulheres vão enfrentar dificuldades para ocupar cargos de liderança, ter acesso a recursos financeiros (como conta em bancos, cartão de créditos e até empréstimos) e participar ativamente das decisões que afetam a sociedade.
É importante lembrar que, no Brasil, por muito tempo o único lugar possível para uma mulher era o ambiente doméstico. Por isso, o acesso a diversos ambientes tidos como naturais para os homens foi conquistado tardia e com muita batalha pelas mulheres.
As barreiras invisíveis do patriarcado
Parte da herança dessa superioridade masculina – hipotética, já que não há nenhuma evidência científica de que os gêneros representam diferenças fisiológicas de habilidade ou capacidade -, o patriarcado perpetua estereótipos de gênero.
Segundo esse ideal patriarcal, as mulheres estão sempre associadas à fragilidade, à submissão e aos cuidados domésticos, enquanto os homens são sinônimo de força, autoridade e competitividade. Esses estereótipos limitam as oportunidades e influenciam as relações entre homens e mulheres.
O patriarcado perpetua a violência contra as mulheres em todas as suas formas, implementando uma espécie de cultura da violência contra a mulher. Entre essas violências estão a violência doméstica, a importunação e o assédio sexual, o estupro e o feminicídio. A cultura da violência é uma consequência direta da estrutura de poder masculina tão característica do patriarcado.
Quais as diferenças entre matriarcado e patriarcado?
O matriarcado é um sistema social em que as mulheres detêm o poder e a autoridade sobre os homens (mesmo que seja matriarcado seja um conceito teórico e não exista nenhuma sociedade que seja completamente matriarcal).
A comparação é útil para compreender as dinâmicas de poder que se estabelecem em uma sociedade. A principal diferença entre matriarcado e patriarcado é a estrutura de poder. No patriarcado, os homens detêm o poder, enquanto no matriarcado as mulheres detêm o poder.
O conceito de matriarcado é usado principalmente como um contraponto ao patriarcado, para representar um sistema social hipotético em que as mulheres tenham o poder.
A relação intrínseca e histórica entre patriarcado e religião
O patriarcado tem influenciado profundamente as religiões ao longo da história, e vice-versa, considerando que muitas delas têm uma estrutura hierárquica e patriarcal, com homens ocupando posições de liderança e de autoridade sobre as mulheres.
A interpretação de textos religiosos muitas vezes reforçou (e ainda o faz) os estereótipos de gênero e a subordinação feminina, justificando a discriminação contra as mulheres, a violência doméstica e a limitação dos direitos reprodutivos.
O combate ao patriarcado requer, obrigatoriamente, o debate e a luta por uma religião mais igualitária e justa entre homens e mulheres. É preciso repensar, de forma crítica, a leitura dos textos ecumênicos e os dogmas religiosos para eliminar preconceitos, interpretações tendenciosas e outros vieses que prejudiquem majoritariamente o sexo feminino.
A crise da masculinidade na sociedade moderna
A violência do patriarcado não se restringe às mulheres, mas também se estende negativamente a diversos aspectos da vida dos homens.
Algumas dessas expressões estão relacionadas à forma como os homens demonstram sentimento – ou não o fazem de forma alguma, com receio de que isso os torne “menos masculinos”. Essa barreira limita também as possibilidades de construir relações de igualdade e respeito com as mulheres, e tem levado à uma crise da masculinidade que se manifesta em diversos aspectos:
A pressão por ser “homem de verdade”
A sociedade patriarcal impõe um modelo de masculinidade que já é considerado tóxico, por associar a identidade masculina total e exclusivamente à força, à competitividade, à dominação e à repressão das emoções. Essa pressão para ser “homem com H” impede que homens, crianças ou adultos, possam lidar com seus sentimentos, o que gera sofrimento e ansiedade, levando a comportamentos violentos e autodestrutivos.
A dificuldade de expressar emoções
O modelo patriarcal de masculinidade bloqueia tudo associado ao feminino, incluindo sentimentos como a tristeza, o medo e a vulnerabilidade. Essa repressão emocional afeta a saúde mental dos homens, dificultando o processo de reconhecimento e cura de traumas – começando pela busca por ajuda profissional em situações de sofrimento.
A impossibilidade de construir relações de igualdade
O patriarcado impossibilita a construção de relações de igualdade e respeito entre homens e mulheres, já que os homens são educados e socializados para serem dominantes e subjugarem as mulheres em todas as relações. O resultado, para a sociedade, é um ciclo de desigualdade que se perpetua ao longo das gerações.
A luta contra o patriarcado e por uma sociedade mais igualitária
O combate ao patriarcado é uma luta fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, e começa pela desconstrução desse sistema de opressão masculina.
Construir uma sociedade em que homens e mulheres tenham oportunidades iguais de realização pessoal e social requer, obrigatoriamente, uma educação feminista para desconstruir os estereótipos de gênero e permitir a quebra dos paradigmas machistas e patriarcais tão arraigados nos comportamentos atuais. Crianças e jovens devem ser educados para respeitar a igualdade de gênero e para construir relações de igualdade e respeito mútuo.
A violência contra as mulheres é uma das maiores expressões do patriarcado e seu combate exige a mobilização de toda a sociedade. De um lado, o trabalho inclui garantir que as mulheres tenham acesso à justiça, à proteção e à assistência necessárias. Do outro, é preciso atenção e educação constante para desconstruir preconceitos que atrapalham essa justiça e proteção.
Por isso, é essencial que os homens se engajem na luta contra o patriarcado. Da mesma forma que pessoas brancas fazem parte do combate ao racismo, os homens devem reconhecer seus privilégios e se comprometer a combater a violência de gênero.
Combater a desigualdade de poder requer tempo, paciência e determinação
O patriarcado é um sistema de opressão que tem moldado a sociedade há séculos e é responsável por inúmeras desigualdades e injustiças que afetam as mulheres e os homens. É fundamental que a sociedade se mobilize para combater o patriarcado, desconstruindo estereótipos, promovendo a igualdade de oportunidades e combatendo a violência de gênero.
A luta contra o patriarcado é uma luta por um futuro em que todos os indivíduos tenham oportunidades iguais de realização pessoal e social, independentemente do gênero, e requer um pacto coletivo para, pouco a pouco, eliminar as pequenas atitudes e manifestações do preconceito.
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