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terça-feira, 31 de maio de 2022

Espíritas progressistas e de esquerda rompem com maioria conservadora e preparam iniciativa de educação popular

 

Coletivo religioso critica interpretação reacionária da doutrina e aposta em trabalho de educação base nas periferias

Do Brasil de Fato | Lábrea (AM) |
 
Integrantes da entidade estão nas ruas contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - Reprodução/Facebook/Espíritas à Esquerda

No começo de 2016, o clima de polarização política que levou ao golpe contra a presidenta Dilma Rousseff contaminava, também, as casas espíritas. A apologia à ofensiva conservadora era a regra nos encontros religiosos e discursos públicos feitos por lideranças ligadas à doutrina. 

Sentindo-se isolados, espíritas baianos criaram um pequeno coletivo para reunir adeptos com perfil progressista. Desde então, centenas de membros de todo o Brasil se somaram ao Espíritas à Esquerda

Neste ano, o grupo pretende passar do discurso à ação, promovendo iniciativas de educação popular inspiradas nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) ligadas à Igreja Católica, espaços que foram cruciais na resistência durante a ditadura militar. 

:: Como as famílias brasileiras vêm praticando a fé em meio ao isolamento social? ::

Hegemonia conservadora 

 "O Livro dos Espíritos, bem como o anúncio do reino feito por Jesus, são necessariamente transformadores, revolucionários", afirma um dos fundadores do movimento, Sergio Maurício Pinto, ao citar a obra fundamental à doutrina espírita escrita no século XIX pelo francês Allan Kardec.

“Eles ensinam o tempo todo que o nosso dever é lutar por uma sociedade de justiça social, de igualdade de direitos. Então todo discurso conservador, reacionário, discriminatório, preconceituoso, como nós temos visto dentro desse movimento espírita hegemônico, na verdade, é uma farsa, uma mentira”. 

:: "Todo rito litúrgico pode ser feito online. Quem abre é por dinheiro", dizem pastores ::

Maurício relembra o silenciamento sobre as questões políticas dentro das casas espíritas. Quando acontecia, as falas eram contrárias às perspectivas progressistas, criando constrangimento para fiéis que não se identificavam com o conservadorismo predominante. 


Um dos fundadores da organização, Sergio Maurício Pinto, cita trecho do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec (foto): “O forte deve trabalhar para o fraco. Não tendo este família, a sociedade deve fazer as vezes desta"  / Domínio público

“Havia uma interdição de qualquer discurso progressista, de qualquer discurso que tivesse um viés de esquerda, no sentido de uma luta por justiça social, por novas políticas públicas que pudessem amparar a sociedade. Isso fez que surgissem diversos coletivos. O Espíritas à Esquerda é um dos pioneiros, mas existem outros”, afirma. 

Consolidação

Com o processo eleitoral de 2018, a onda reacionária ganhou contornos fascistas, escancarando ainda mais o “racha” no ambiente espírita. Segundo Maurício, os coletivos espíritas de esquerda ganharam ainda mais força, e um encontro nacional do Espíritas à Esquerda em 2019 marcou o início da trajetória ascendente. 

“Temos hoje cerca de 500 membros regulares dentro da nossa organização. O nosso alcance hoje na internet é de aproximadamente 20 mil seguidores, somando as nossas redes sociais. E agora temos um site”, conta Maurício, membro da coordenação da entidade. 

:: Campanha da CNBB critica “necropolítica” e é atacada por católicos conservadores ::

Atualmente a organização está presente em 17 estados brasileiros e em Portugal. Remando contra a maré, o grupo divulga artigos e reflexões articulando os preceitos espíritas aos principais debates políticos contemporâneos, como o racismo, a desigualdade social, a questão de gênero, a os direitos da comunidade LGBTQI+. 

Trabalho de base

Os Espíritas à Esquerda estão buscando uma nova forma de organização social dos adeptos da doutrina. No horizonte próximo, estão os chamados Núcleos Espíritas Populares (NEPs), cuja atuação se dará nas periferias das cidades. As inspirações são o educador e filósofo Paulo Freire e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).


"Espíritas à Esquerda" querem levar projeto de educação popular para periferias / Divulgação/Facebook/Espíritas à Esquerda

"Refletimos que a única forma de mudar a nossa sociedade é por meio da educação popular, por meio do trabalho de base, aquele trabalho que leva a consciência, que produz libertação. Trabalho que auxilia as pessoas que vivem em condições opressivas a se auto libertarem”. 

Segundo Maurício, o objetivo é mudar a forma como os espíritas se relacionam com o conjunto da população e, com isso, inspirar iniciativas semelhantes no restante do país. Ainda neste ano, a meta é inaugurar o primeiro CEB em Natal (RN). 

:: Nengua Monasanje, liderança do candomblé, fala da atuação do terreiro na pandemia ::

“É possível, sim, que o discurso da fé, num novo mundo, seja um discurso libertador. É preciso que o nosso discurso religioso seja um discurso ideologicamente engajado, que diga às pessoas: ‘sim, é possível transformar a sua realidade’”. 
 

Edição: Marina Duarte de Souza

sexta-feira, 27 de maio de 2022

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Vassoler: Quando o ateísmo acaba sendo tão dogmático quanto a religião que dizem combater

 

Do Canal de Flávio Ricardo Vassoler:




"Vassoler responde: O ateísmo é uma religião?": o escritor e professor Flávio Ricardo Vassoler discorre sobre as inusitadas afinidades eletivas entre ateísmo e religião. Site do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF): https://www.ufjf.br/nupes/ Canal no YouTube do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF): https://bit.ly/3r2Ldbv

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Ladislau Dowbor escreve sobre a atualidade brutal de Hannah Arendt em tempos de retorno do fascismo e das ameaças autoritárias contra a Democracia

 


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A atualidade brutal de Hannah Arendt

Por Ladislau Dowbor, no Justificando (publicado em 05 de outubro de 2015).
O filme causa impacto. Trata-se, tema central do pensamento de Hannah Arendt, de refletir sobre a natureza do mal. O pano de fundo é o nazismo, e o julgamento de um dos grandes mal-feitores da época, Adolf Eichmann. Hannah acompanhou o julgamento para o jornal New Yorker, esperando ver o monstro, a besta assassina. O que viu, e só ela viu, foi a banalidade do mal. Viu um burocrata preocupado em cumprir as ordens, para quem as ordens substituíam a reflexão, qualquer pensamento que não fosse o de bem cumprir as ordens. Pensamento técnico, descasado da ética, banalidade que tanto facilita a vida, a facilidade de cumprir ordens. A análise do julgamento, publicada pelo New Yorker, causou escândalo, em particular entre a comunidade judaica, como se ela estivesse absolvendo o réu, desculpando a monstruosidade.
A banalidade do mal, no entanto, é central. O meu pai foi torturado durante a II Guerra Mundial, no sul da França. Não era judeu. Aliás, de tanto falar em judeus no Holocausto, tragédia cuja dimensão trágica ninguém vai negar, esquece-se que esta guerra vitimou 60 milhões de pessoas, entre os quais 6 milhões de judeus. A perseguição atingiu as esquerdas em geral, sindicalistas ou ativistas de qualquer nacionalidade, além de ciganos, homossexuais e tudo que cheirasse a algo diferente. O fato é que a questão da tortura, da violência extrema contra outro ser humano, me marcou desde a infância, sem saber que eu mesmo a viria a sofrer. Eram monstros os que torturaram o meu pai? Poderia até haver um torturador particularmente pervertido, tirando prazer do sofrimento, mas no geral, eram homens como os outros, colocados em condições de violência generalizada, de banalização do sofrimento, dentro de um processo que abriu espaço para o pior que há em muitos de nós.
Por que é tão importante isto, e por que a mensagem do filme é autêntica e importante? Porque a monstruosidade não está na pessoa, está no sistema. Há sistemas que banalizam o mal. O que implica que as soluções realmente significativas, as que nos protegem do totalitarismo, do direito de um grupo no poder dispor da vida e do sofrimento dos outros, estão na construção de processos legais, de instituições e de uma cultura democrática que nos permita viver em paz. O perigo e o mal maior não estão na existência de doentes mentais que gozam com o sofrimento de outros – por exemplo uns skinheads que queimam um pobre que dorme na rua, gratuitamente, pela diversão – mas na violência sistemática que é exercida por pessoas banais.
Entre os que me interrogaram no DOPS de São Paulo encontrei um delegado que tinha estudado no Colégio Loyola de Belo Horizonte, onde eu tinha estudado nos anos 1950. Colégio de orientação jesuíta, onde se ensinava a nos amar uns aos outros. Encontrei um homem normal, que me explicava que arrancando mais informações seria promovido, me explicou os graus de promoções possíveis na época. Aparentemente queria progredir na vida. Outro que conheci, violento ex-jagunço do Nordeste, claramente considerava a tortura como coisa banal, coisa com a qual seguramente conviveu nas fazendas desde a sua infância. Monstros? Praticaram coisas monstruosas, mas o monstruoso mesmo era a naturalidade com a qual a violência se pratica.
Um torturador na OBAN me passou uma grande pasta A-Z onde estavam cópias dos depoimentos dos meus companheiros que tinham sido torturados antes. O pedido foi simples: por não querer se dar a demasiado trabalho, pediu que eu visse os depoimentos dos outros, e fizesse o meu confirmando a verdades, bobagens ou mentiras que estavam lá escritas. Explicou que eu escrevendo um depoimento que repetia o que já sabiam, deixaria satisfeitos os coronéis que ficavam lendo depoimentos no andar de cima (os coronéis evitavam sujar as mãos), pois veriam que tudo se confirmava, ainda que fossem histórias absurdas. Segundo ele, se houvesse discrepâncias, teriam de chamar os presos que já estavam no Tiradentes, voltar a interrogá-los, até que tudo batesse. Queria economizar trabalho. Não era alemão. Burocracia do sistema. Nos campos de concentração, era a IBM que fazia a gestão da triagem e classificação dos presos, na época com máquinas de cartões perfurados. No documentário A Corporação, a IBM esclarece que apenas prestava assistência técnica.
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Banalidade do mal: Panfleto atirado em frente ao velório do ex-senador José Eduardo Dutra, em Belo Horizonte, pede a morte de petistas 
O mal não está nos torturadores, e sim nos homens de mãos limpas que geram um sistema que permite que homens banais façam coisas como a tortura, numa pirâmide que vai desde o homem que suja as mãos com sangue até um Rumsfeld que dirige uma nota aos exército americano no Iraque, exigindo que os interrogatórios sejam harsher,ou seja, mais violentos. Hannah Arendt não estava desculpando torturadores, estava apontando a dimensão real do problema, muito mais grave.
A compreensão da dimensão sistêmica das deformações não tem nada a ver com passar a mão na cabeça dos criminosos que aceitaram fazer ou ordenar monstruosidades. Hannah Arendt aprovou plenamente e declaradamente o posterior enforcamento de Eichmann. Eu estou convencido de que os que ordenaram, organizaram, administraram e praticaram a tortura devem ser julgados e condenados.
O segundo argumento poderoso que surge no filme, vem das reações histéricas de judeus pelo fato de ela não considerar Eichmann um monstro. Aqui, a coisa é tão grave quanto a primeira. Ela estava privando as massas do imenso prazer compensador do ódio acumulado, da imensa catarse de ver o culpado enforcado. As pessoas tinham, e têm hoje, direito a este ódio. Não se trata aqui de deslegitimar a reação ao sofrimento imposto. Mas o fato é que ao tirar do algoz a característica de monstro, Hannah estava-se tirando o gosto do ódio, perturbando a dimensão de equilíbrio e de contrapeso que o ódio representa para quem sofreu. O sentimento é compreensível, mas perigoso. Inclusive, amplamente utilizado na política, com os piores resultados. O ódio, conforme os objetivos, pode representar um campo fértil para quem quer manipulá-lo.
Quando exilado na Argélia, durante a ditadura militar, conheci Ali Zamoum, um dos importantes combatentes pela independência do país. Torturado, condenado à morte pelos franceses, foi salvo pela independência. Amigos da segurança do novo regime localizaram um torturador seu, numa fazendo do interior. Levaram Ali até a fazenda, onde encontrou um idiota banal, apavorado num canto. Que iria ele fazer? Torturar um torturador? Largou ele ali para ser trancado e julgado. Decepção geral. Perguntei um dia ao Ali como enfrentavam os distúrbios mentais das vítimas de tortura. Na opinião dele, os que se equilibravam melhor, eram os que, depois da independência, continuaram a luta, já não contra os franceses mas pela reconstrução do país, pois a continuidade da luta não apagava, mas dava sentido e razão ao que tinham sofrido.
No 1984 do Orwell, os funcionários eram regularmente reunidos para uma sessão de ódio coletivo. Aparecia na tela a figura do homem a odiar, e todos se sentiam fisicamente transportados e transtornados pela figura do Goldstein. Catarse geral. E odiar coletivamente pega. Seremos cegos se não vermos o uso hoje dos mesmos procedimentos, em espetáculos midiáticos.
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Manifestantes protestam durante velório de ex-presidente do PT, em total desrespeito aos amigos e parentes
O texto de Hannah, apontando um mal pior, que são os sistemas que geram atividades monstruosas a partir de homens banais, simplesmente não foi entendido. Que homens cultos e inteligentes não consigam entender o argumento é em si muito significativo, e socialmente poderoso. Como diz Jonathan Haidt, para justificar atitudes irracionais, inventam-se argumentos racionais, ou racionalizadores. No caso, Hannah seria contra os judeus, teria traído o seu povo, tinha namorado um professor que se tornou nazista. Os argumentos não faltaram, conquanto o ódio fosse preservado, e com o ódio o sentimento agradável da sua legitimidade.
Este ponto precisa ser reforçado. Em vez de detestar e combater o sistema, o que exige uma compreensão racional, é emocionalmente muito mais satisfatório equilibrar a fragilização emocional que resulta do sofrimento, concentrando toda a carga emocional no ódio personalizado. E nas reações histéricas e na deformação flagrante, por parte de gente inteligente, do que Hannah escreveu, encontramos a busca do equilíbrio emocional. Não mexam no nosso ódio. Os grandes grupos econômicos que abriram caminho para Hitler, como a Krupp, ou empresas que fizeram a automação da gestão dos campos de concentração, como a IBM, agradecem.
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“Qualquer momento é momento de mandar um bandido embora. Até no enterro da minha mãe eu faria isso”, disse o aposentado de 60 anos com o cartaz na mão
O filme é um espelho que nos obriga a ver o presente pelo prisma do passado. Os americanos se sentem plenamente justificados em manter um amplo sistema de tortura – sempre fora do território americano pois geraria certos incômodos jurídicos -, Israel criou através do Mossad o centro mais sofisticado de tortura da atualidade, estão sendo pesquisados instrumentos eletrônicos de tortura que superam em dor infligida tudo o que se inventou até agora, o NSA criou um sistema de penetração em todos os computadores, mensagens pessoais e conteúdo de comunicações telefônicas do planeta. Jovens americanos no Iraque filmaram a tortura que praticavam nos seus celulares em Abu Ghraib, são jovens, moças e rapazes, saudáveis, bem formados nas escolas, que até acham divertido o que fazem. Nas entrevistas posteriores, a bem da verdade, numerosos foram os jovens que denunciaram a barbárie, ou até que se recusaram a praticá-la. Mas foram minoria.
O terceiro argumento do filme, e central na visão de Hannah, é a desumanização do objeto de violência. Torturar um semelhante choca os valores herdados, ou aprendidos. Portanto, é essencial que não se trate mais de um semelhante, pessoa que pensa, chora, ama, sofre. É um judeu, um comunista, ou ainda, no jargão moderno da polícia, um “elemento”. Na visão da KuKluxKlan, um negro. No plano internacional de hoje, o terrorista. Nos programas de televisão, um marginal. Até nos divertimos, vendo as perseguições. São seres humanos? O essencial, é que deixe de ser um ser humano, um indivíduo, uma pessoa, e se torne uma categoria. Sufocaram 111 presos nas celas? Ora, era preciso restabelecer a ordem.
Um belíssimo documentário, aliás, Repare Bem, que ganhou o prêmio internacional no festival de Gramado, e relata o que viveu Denise Crispim na ditadura, traz com toda força o paralelo entre o passado relatado no Hannah Arendt e o nosso cenário brasileiro. Outras escalas, outras realidades, mas a mesma persistente tragédia da violência e da covardia legalizadas e banalizadas.
Sebastian Haffner, estudante de direito na Alemanha em 1930, escreveu na época um livro – Defying Hitler: a memoir – manuscrito abandonado, resgatado recentemente por seu filho que o publicou com este título.3 O livro mostra como um estudante de família simples vai aderindo ao partido nazista, simplesmente por influência dos amigos, da mídia, do contexto, repetindo com as massas as mensagens. Na resenha do livro que fiz em 2002, escrevi que o que deve assustar no totalitarismo, no fanatismo ideológico, não é o torturador doentio, é como pessoas normais são puxadas para dentro de uma dinâmica social patológica, vendo-a como um caminho normal. Na Alemanha da época, 50% dos médicos aderiram ao partido nazista.
O próximo fanatismo político não usará bigode nem bota, nem gritará Heil como os idiotas dos “skinheads”. Usará terno, gravata e multimídia. E seguramente procurará impor o totalitarismo, mas em nome da democracia, ou até dos direitos humanos.
Ladislau Dowbor é professor de economia nas pós-graduações em economia e em administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e consultor de várias agências das Nações Unidas. Seus artigos estão disponíveis online em http://dowbor.org.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Vídeo-aula de Flávio Ricardo Vassoler sobre a Psicologia de massas do fascismo, baseado na obra de Wilhem Reich e, subsidiariamente, na de Amós Oz

 

Do Canal de Flávio Ricardo Vassoler:

"Psicologia de massas do fascismo": aula a ser ministrada pelo escritor e professor Flávio Ricardo Vassoler, em diálogo com a obra homônima (1933), de autoria do psicanalista austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), e com as trágicas expressões do autoritarismo contemporâneo.


Referências bibliográfias feitas durante a aula: 0:42 "Psicologia de massas do fascismo" (1933), de Wilhelm Reich (1897-1957). Tradução de Maria da Graça Macedo. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 7:29 "Como curador um fanático" (2004), de Amós Oz (1939-2018). Tradução de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 20:50 "Germinal" (1885), do escritor francês Émile Zola (1840-1902). Tradução de Eduardo N. Fonseca. São Paulo: Abril Cultural, 1996. 22:07 "Em alguma passagem de suas obras, Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa". Karl Marx (1818-1883), "O 18 Brumário de Luís Bonaparte". Tradução de Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2011. 22:42 "Minha luta" (1925), autobiografia política de Adolf Hitler (1889-1945). Tradução de Klaus von Putschen. São Paulo: Editora Centauro, 2001. 28:03 "Depois da revolução, resta o problema dos revolucionários" [Benito Mussolini (1883-1945)]. Citado em "Hitler", do historiador alemão Joachim Fest (1926-2006). Tradução de Analúcia Teixeira Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. 28:43 "Manifesto do Partido Comunista" (1848), de Karl Marx e Friedrich Engels (1820-1895). Tradução de Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo, 1998. 31:01 "Era dos extremos" (1994), do historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012). Tradução de Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 31:46 "Arquitetura da destruição" (1989), documentário dirigido pelo judeu sueco Peter Cohen (1946 - ). 34:00 "Origens do totalitarismo" (1951), da filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975). Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. 40:53 Diplomata e teórico social francês Alexis de Tocqueville (1805-1859), autor de "A democracia na América" (1835). Tradução de Júlia de Rosa Simões. São Paulo: Edipro, 2019. 42:33 Menção à primeira epístola aos Coríntios, capítulo 14, versículos 34 e 35, escrita pelo apóstolo Paulo (5 d.C. - 67 d.C.). "Permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas, pois não lhes é permitido falar; antes permaneçam em submissão, como diz a lei. Se quiserem aprender alguma coisa, que perguntem a seus maridos em casa; pois é vergonhoso uma mulher falar na igreja". 44:33 "Memórias do subsolo" (1864), novela do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Resenha de "Memórias do subsolo": https://bit.ly/2QtvDCP. 50:14 "Se o judeu não existisse, teria sido necessário inventá-lo". Citação de Hitler feita em "Minha luta". (Referência inicialmente feita em 22:42.) 52:06 Nova menção à biografia de Hitler escrita pelo historiador alemão Joachim Fest. Primeiramente mencionada em 28:03. 54:16 "O grande ditador" (1940), filme dirigido pelo inglês Charlie Chaplin (1889-1977). 1:02:40 "Vladímir Putin, tsar de todas as Rússias?": debate de que participei no canal do YouTube "A nova máquina do mundo", de André Teixeira Jacobina. Link para o debate: https://bit.ly/2QtrnTP. 1:05:15 Johann Mortiz Rugendas (1802-1858), pintor alemão, e não holandês, como foi dito. 1:08:19 A citação de Stálin sobre Hitler está mencionada no livro "Stálin: a corte do tsar vermelho" (2004), do historiador britânico Simon Sebag Montefiore (1965 - ). Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. 1:09:26 A citação do revolucionário russo Liev Trótski (1879-1940) aparece no ensaio "O direito à literatura" (1988), do professor e crítico literário Antonio Candido (1918-2017). 1:10:44 "Eichmann em Jerusalém" (1963), de Hannah Arendt. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 1:12:28 "Hannah" (2012), filme dirigido pela alemã Margarethe von Trotta (1942 - ).

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Para entender a "onda" da psicologia de manipulação de massas do comportamento fascista: o medo à responsabilidade pessoal e o desamparo existencial que buscam fanaticamente inimigos expiatórios, a força do líder, da identificação a um grupo e da disciplina manipuladora ilustrado pelo filme "A Onda", na versão de 1981

 

Do Canal Palas Athena:

O filme "A Onda", de 1981, mostra uma experiência real vivenciada por alunos de uma escola em Palo Alto, nos EUA, que acompanhando uma proposta de seu professor de história, reproduz o perigo de uma doutrina. A Onda, um movimento criado por este professor, foi inspirado nas rotinas utilizadas por Adolf Hitler com o povo alemão, durante a segunda guerra mundial. A pergunta de uma aluna em sala de aula, motiva esse professor a recriar a mesma experiência em menor escala, com impactantes consequências.



Resenha de Flávio Ricardo Vassoler: Psicologia de massas do fascismo, de Wilhem Reich

 


“o fascismo, na sua forma mais pura, é o somatório
de todas as reações irracionais do caráter do homem médio”
W. Reich

“queriam que eu falasse do agora
mas, o presente que procuro
está preso em um passado
que insiste em ser futuro”
M. Iasi


Do Canal de Flávio Ricardo Vassoler:




Portal do José: O papelão do exército sob ordens do capitão para a distração dos reais problemas da nação

 


Ontem ocorreu um fato derradeiro e desmoralizante. Os "questionamentos" das Forças Armadas sobre o processo eleitoral revelaram um total despreparo do setor que foi designado para a missão pretensamente patriótica.

Os técnicos do TSE responderam ao Exército, sob a orientação do Ministro Fachin, ainda que não fosse sua obrigação, todos os questionamentos apresentados à comissão de transparência do TSE.
Perguntas contendo premissas erradas, desconhecimento da legislação eleitoral e constitucional, erros grosseiros de cálculos e dúvidas primárias, marcaram o rol de estupidez.



10/05/22- Faltam 145 dias para as nossas eleições. As estratégias do medo implementadas pelo esquema bolsonariano para distrair a sociedade estão se esvaindo. Ontem ocorreu um fato derradeiro e desmoralizante. Os "questionamentos" das Forças Armadas sobre o processo eleitoral revelaram um total despreparo do setor que foi designado para a missão patriótica.
Perguntas contendo premissas erradas, desconhecimento da legislação eleitoral e constitucional, erros grosseiros de cálculos e dúvidas primárias, marcaram o rol de estupidez.
Os técnicos do TSE responderam ao Exército, sob a orientação do Ministro Fachin, ainda que não fosse sua obrigação, todos os questionamentos apresentados à comissão de transparência do TSE. Aí há que se discordar da imensa maioria de colunistas que tem comentado o assunto. Não creio que o convite para que a comissão tivesse um representante das FFAAs foi um erro. O problema é a qualidade do representante em tal comissão.

Como sai o Exército desse lamentável episódio? Se descobriu alguma falha sistêmica? Algum artifício cibernético de última geração? Servidores infiltrados? Juízes mancomunados? Forças estrangeiras? Chips adulterados? Redes corrompidas? Não! Nada!
Apenas os delírios de um capitão baderneiro preocupado com a própria pele insuflaram militares de alta patente a colocarem em risco as suas reputações conquistadas ao longo de uma vida. O Exército deve por iniciativa própria dar como encerrada a sua participação na comissão e retornar ao cotidiano de suas tarefas institucionais, dentre as quais não está a intromissão nos assuntos de natureza político-eleitoral.
Não sobrou mais nada ao Exército nessa missão.
Resta apenas a humilhação que o episódio deixará como legado aos que toparam a encenação bufa de uma comédia escrita por um capitão irresponsável. Sigamos. OFICIO RESPOSTA DO TSE AO EXÉRCITO https://politica.estadao.com.br/blogs...

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Discurso de Lula: enfim um rumo, por Aldo Fornazieri

 

Na ação política, conteúdo e forma precisam combinar para gerar uma sinergia produtiva e profícua. No discurso, Lula foi capaz de gerar essa combinação


Ricardo Stuckert

Discurso de Lula: enfim um rumo

por Aldo Fornazieri

Os discursos de Lula e de Alckmin na formalização da chapa, no último sábado, sinalizaram o conteúdo programático geral que deverá ser desenvolvido e defendido durante a campanha. Tanto o evento, quanto o conteúdo dos discursos foram alentadores, pois podem representar o início efetivo de uma campanha que não tem o direito de cometer erros.

Um início que significa também a saída de Lula do campo minado que estava armando para si mesmo, com uma série de declarações confusas que geraram repercussões negativas e produziram uma série de preocupações. Aparentemente Lula e a direção da campanha perceberam com rapidez que era preciso sair desse campo minado, apresentar um conteúdo mais assertivo e menos genérico. O discurso genérico nessa campanha é altamente perigoso. Todo discurso genérico se presta a interpretações e as interpretações formam a cultura levada para a estufa onde são criadas as distorções, as mentiras e as fake News.

Esta campanha, pelo seu significado e pelos perigos que o momento histórico representa para o Brasil, não comporta amadorismo, nem arrogância e nem triunfalismo. Em que pese a distância significativa que as simulações de segundo turno indicam, nenhuma disputa eleitoral pode se considerar vitoriosa antes da contagem dos votos. Nenhum candidato deve ter a presunção de se sentar na cadeira antes da consagração da vitória.

A conjuntura é favorável a uma vitória de Lula. Mas a disputa será difícil. E se a fortuna parece sorrir mais uma vez a Lula ele só terá a deusa nos braços se for virtuoso, se for astucioso e se conduzir a nau da campanha com maestria. É preciso considerar que é comum os ventos das campanhas mudarem de direção e que os imprevistos, os eventos contingentes estão sempre acompanhando as ações e os atores políticos.

Não se sabe ainda, por exemplo, qual será a estratégia de campanha de Bolsonaro. Não se sabe ainda quais as ferramentas de maldade que utilizará, com que naves pulverizará sobre as pessoas o ódio, a mentira e a desinformação. Não se sabe que efeitos esses afetos malignos produzirão nas mentes e nas escolhas das pessoas. O que se sabe é que muitas pessoas se deixam atrair por esses afetos.

Os que estão fora das campanhas e dos partidos também não sabem se o PT e Lula se prepararam, desde a experiência de 2018, para enfrentar essa máquina do ódio e se constituíram saberes, práticas e técnicas capazes de participar com êxito da guerra digital. Existem dúvidas e temores a esse respeito. Durante a campanha, o PT terá que provar que aprendeu com a derrota.

Não se sabe também com quais estratégias Ciro Gomes e os candidatos da chamada terceira via disputarão as eleições e quais os efeitos que elas produzirão sobre as intenções de voto. Seria presunçoso supor que eles permanecerão quase na estaca zero. Assim, se a análise de conjuntura e do cenário pode agregar uma série de informações e de tendências, uma estratégia que se prese precisa ser permanentemente calibrada pela evolução dos acontecimentos, pelas mudanças e pela intervenção dos incidentes e dos imprevistos que costumam ocorrer nas disputas políticas em geral e nas disputas eleitorais em particular.

Na ação política, conteúdo e forma precisam combinar para gerar uma sinergia produtiva e profícua. No discurso, Lula foi capaz de gerar essa combinação, algo que nas campanhas do passado ele foi mestre, mas que não se via nesta pré-campanha. Com efeito, em alguns eventos e discursos que vieram a público, Lula parecia mais o irado que Jeová entrincheirado no Monte Sinai a expelir colunas de fumaça e fogo de sua voz. Forçava a voz, assim como Alckmin a forçou naquele evento com os sindicalistas. Nem o conteúdo e nem a forma soavam agradáveis ao eleitor em geral.

Agora não. Lula foi a face e o verbo da serenidade.  Lula lembrou as injustiças de que foi vítima, mas não expressou nem sentimentos de rancor e nem de ódio. A história, os tribunais e a ONU já fizeram justiça ao injustiçado. Em parte, já fizeram justiça também aos algozes, pois estes saíram derrotados. Então Lula está correto em apresentar-se como alguém que tem o coração pacificado, que tem a serenidade dos justos.

Esta serenidade, contudo, não é indiferença. Cabe nela a justa indignação. Lula acertou também neste ponto em dois momentos altos do discurso. Um, no começo, quando Lula se referiu às dores, aos sofrimentos e tribulações do povo. A compaixão para com aqueles que mais sofrem é o ponto de partida de todo líder autêntico. Lula sempre teve isto na alma, pois ele era e é esse povo, mesmo não estando mais na condição de um atribulado pelas necessidades imediatas da vida. Esta capacidade de se emocionar e de emocionar é um dos grandes diferenciais persuasivos de Lula em relação a outros líderes. E esta emoção, tal como Lula a expressa, é também uma forma de indignação.

O outro momento foi no final, quando Lula confrontou as ameaças, as suspeições absurdas, as brigas intermináveis e as mentiras diárias de Bolsonaro. Não é este o papel de um presidente. O presidente precisa conduzir o país com calma, com união, com democracia.

O Brasil precisa de um líder equilibrado, sereno e competente para que possa superar a fome e a pobreza, para que possa sair da crise, para que possa caminhar para o crescimento e o desenvolvimento, para que consiga iniciar a transição ambiental. O Brasil precisa de um líder democrático, que respeite a Constituição e que garanta a normalidade.

Aqui a indignação apareceu veemente e justa, mas também serena. Lula não pode e nem deve ser o “Lulinha paz e amor”. Nesse momento, o Brasil não comporta esse tipo de líder. O Brasil precisa de um líder comprometido com os que mais sofrem, um líder indignado com as injustiças sociais e com os desmandos de um governo criminoso, mas um líder sereno e competente para retirar o país do abismo e do atoleiro, para restaurar a normalidade democrática, unir e conduzir o país e o povo com firmeza, coragem e sem medo.

Este líder não pode colocar-se no mesmo patamar de Bolsonaro. Não pode rebaixar-se à arruaça política de um delinquente. Este líder precisa afirmar sua autoridade pela grandeza da missão e pela consciência de que sua ação pastoral é decisiva para tirar o país do abismo e dos perigos em que está imerso.

Somente um líder com esta autoridade será capaz de reconduzir o Brasil no sentido da civilidade, da humanidade, da democracia, da Constituição. E por estar comprometido com o valor que define a autenticidade histórica do líder – a compaixão para com os que mais sofrem – Lula é o líder que melhor pode agir para restaurar, de forma prática, os princípios da liberdade, da justiça e da igualdade.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (Fespsp).

Portal do José: Como derrotar Bolsonaro? Revelações que derrubam! Generais da banda podre querem armar o circo?

 


    Bolsonaro fez de nosso país o seu picadeiro mor. Ele faz sucesso dentre os menos atentos na plateia. Assim como nos eventos de luta livre onde há uma encenação e não uma disputa real, parte da plateia não consegue perceber, ainda que a fraude seja tão explicita, que há apenas uma simulação em sua frente. Mas há como derrotar esse circo mambembe do mal. A cada novo vídeo e nova revelação, nós ajudamos a que alguma reflexão ou dúvida chegue até eleitores enganados.

Do Portal do José:



Faltam 148 dias para as nossas eleições. Bolsonaro fez de nosso país o seu picadeiro mor. Ele faz sucesso dentre os menos atentos na plateia. Assim como nos eventos de luta livre onde há uma encenação e não uma disputa real, parte da plateia não consegue perceber, ainda que a fraude seja tão explicita, que há apenas uma simulação em sua frente.

Mas há como derrotar esse circo mambembe do mal. A cada novo vídeo e nova revelação, nós ajudamos a que alguma reflexão ou dúvida chegue até eleitores enganados.

Bolsonaro sabe que boa parte das pessoas que o seguem, não conseguem diferenciar o palhaço, do homem. Acreditam no palhaço. São capazes de jurarem que ele é real e que fala a verdade. Não conseguem perceber que ele é um quando está no picadeiro e outro quando está fazendo negócios para escapar de seus enormes problemas.

Assim, Bolsonaro reclama e ataca a Petrobras como se estivesse fora do poder. Tudo é culpa dos outros. Nada é de sua responsabilidade. Mas a Petrobras pode ter uma nova política de preços voltadas ao interesse nacional. Mas é preciso que tenhamos um Presidente na nação e não um palhaço despreparado e criminoso.

A Tapeação continua vinda por vários lados. Conta nessa rotina de enganação de incautos com uma máquina de propaganda e ilusão que desvia a atenção do público enquanto a vida real segue implacável. Os grandes veículos de comunicação agem como os malabaristas e engolidores de fogo.

Todos, engajados no firme propósito de levar ilusões aos que estão dentro do imenso circo nacional. É preciso que haja segurança no local. Não apenas para garantir que todos estejam tranquilos enquanto o circo funciona alegremente. É mais importante ainda que haja segurança armada com o único propósito de aprisionar o público e os obrigar a se comportar como querem. Hora de aplaudir! Hora de rir! Hora de gritar! Hora de sair!

Bolsonaro é um palhaço que recruta gorilas amestrados para assustar muito mais do que proteger. Nada como mostrar como agem essas criaturas.

Paulo Guedes não aparece no circo. Ele controla a grana remotamente, assim como determina o que o circo fará para arrancar mais dinheiro dos espectadores. Algodão doce, pipocas, refrigerantes são impostos a todos mesmo que ninguém queira consumir nada.

O Brasil segue nas mãos de vigaristas.

Mas a revelação de como está estruturado esse circo dos horrores pode fazer com que muitos brasileiros acordem antes que percebam que as lonas ao redor do picadeiro estão em chamas. É o que devemos fazer até o segundo turno terminar. Sigamos.