quarta-feira, 24 de julho de 2019

Steve Bannon, o mesmo mentor de Trump, dos Bolsonaros e de toda a extrema-direita mundial, comanda ataque orquestrado ao Papa e a suas ideias




O mentor das eleições de Trump e ícone do neopopulismo se 

une à direita italiana contra o pontífice

O ex-estrategista-chefe de Donald Trump, Steve Bannon, aconselhou o ministro do Interior da Itália, 
Matteo Salvini, a atacar o papa sobre a questão da imigração, segundo fontes próximas à 
extrema-direita italiana.
Durante uma reunião em Washington, em abril de 2016, Bannon – que dali a alguns meses assumiria a 
função de chefe da campanha presidencial de Donald Trump – sugeriu que o líder do partido italiano 
anti-imigração Liga Norte começasse a visar abertamente Francisco, que fez das lutas dos refugiados 
uma pedra angular de seu papado.
“Bannon disse pessoalmente a Salvini que o papa atual é uma espécie de inimigo. Ele sugeriu atacar 
com certeza, frontalmente”, informou uma fonte ligada aos políticos da Liga, com conhecimento da
 reunião, em entrevista ao site SourceMaterial.
Depois do encontro, Salvini tornou-se mais franco nas declarações contra o papa. Afirmou até que os conservadores no Vaticano estavam do seu lado. Um tuíte da conta de Salvini, em maio de 2016, dizia: “O papa diz que os migrantes não são um perigo. Que besteira!”. Em 6 de maio de 2016, Salvini, depois do pedido do líder da Igreja Católica por compaixão pelos migrantes, declarou: “A imigração descontrolada, uma invasão financiada e organizada, traz caos e problemas, e não paz”.
As afirmações coincidem com sugestões de que o projeto populista pan-europeu de Bannon, o Movimento, estagnou. Enquanto isso, Salvini anunciou que quer trazer a extrema-direita de toda a Europa para uma aliança. No último dia 15, em Milão, ele revelou sua “visão da Europa para os próximos 50 anos”, chamando-a de o lançamento de uma nova coalizão de direita para as eleições parlamentares europeias em 23 de maio.
Salvini revelou sua aliança dias depois de encontrar Bannon em Roma em março. Isso levou alguns a acreditar que Bannon escolheu Salvini como líder informal dos Eurocéticos, as forças populistas da Europa.
A dupla também se encontrou em Roma seis meses atrás. Estimulado pelo encontro, Mischaël Modrikamen, o diretor-gerente do Movimento, escreveu no Twitter que o vice-primeiro-ministro da Itália “está dentro!”.
Bannon e Matteo Salvini, ministro do Interior da Itália, combinaram uma estratégia para se contrapor ao pontífice, crítico do neopopulismo
Bannon, em uma entrevista à NBC e à SourceMaterial que seria transmitida nos Estados Unidos no domingo 14, também trata das advertências do papa sobre o ressurgimento de movimentos populistas. “Você pode percorrer a Europa toda e o populismo está pegando fogo. O papa está totalmente errado”, afirmou o guru da Alt-Right.
Depois da reunião de setembro de 2016, entre Salvini e Bannon, o líder da Liga foi fotografado com uma camiseta na mão que trazia os seguintes dizeres: “Bento é o meu papa”.
O slogan se refere à versão do Vaticano da campanha desferida por Trump contra Barack Obama, afirmando que o papado de Francisco é ilegítimo e que seu antecessor ultraconservador, Bento XVI, é de fato o verdadeiro pontífice.
A fonte da Liga afirmou ainda que Salvini teria atacado o papa de forma mais contundente, mas foi contido pelo próprio partido, principalmente por Giancarlo Giorgetti, vice-secretário-geral da Liga Norte, que é próximo de figuras graduadas do Vaticano.
“Depois da reunião com Bannon, Salvini se moveu com firmeza e disse: ‘Temos de atacar o Vaticano, mas o outro sujeito disse espere’. Salvini pensa por si mesmo e age por si mesmo… por isso ele começou a agir, por exemplo, aparecendo com a camiseta sobre Bento”, disse a fonte.
Bannon tem construído uma firme oposição a Francisco por meio de seu Instituto Dignitatis Humanae, baseado em um mosteiro do século XIII numa montanha não distante de Roma.
“O populismo está pegando fogo. O papa está totalmente errado”, afirmou Bannon
Em janeiro de 2017, Bannon tornou-se um patrono do instituto, cujo presidente honorário é o cardeal norte-americano ultraconservador Raymond Burke, que acredita que redes organizadas de homossexuais são responsáveis por difundir uma “agenda gay” no Vaticano.
O presidente do instituto é o ex-deputado italiano Luca Volontè, que enfrenta neste momento um julgamento por corrupção ligada a propinas do Azerbaijão. Ele negou as acusações.
Entre os fiduciários do instituto está um dos maiores críticos do papa, Austin Ruse, ex-colaborador do site de notícias de direita Breitbart. Ruse dirige o grupo antiaborto C-FAM, cujo fundador era inclinado a arengas antissemitas sobre controle populacional e que foi declarado um grupo de ódio por ativistas pelos direitos humanos.
Como Volontè, Ruse é uma autoridade do Congresso Nacional de Famílias, reunião de grupos cristãos de direita, anti-gays, apoiados por Konstantin Malofeev, oligarca russo próximo a Vladimir Putin.
Outros  integrantes incluem Ben Harris-Quinney, presidente do grupo de pensadores conservador Bow Group, que se encontrou com Bannon em Londres no último verão, juntamente com Ra-heem Kassam, ex-editor do Breitbart no Reino Unido. Bannon foi um dos fundadores do conselho do Breitbart.
Bannon foi convidado pelo The Observer para comentar, mas no momento da publicação ainda não havia respondido.
*Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.

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