segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Do Caminho pra Casa, de Mauro Lopes: No cristianismo, mais importante que a fé é o amor




 "Eis, em Mateus 25, a surpresa daquelas pessoas que não conheceram Jesus mas às quais Ele diz que foi a Ele que elas fizeram todas essas coisas: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? com sede e te demos de beber… etc.”.

 "Pois bem, a resposta de Jesus: “Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!”.

 "Quem são esses “menores”?Eles são os invisíveis da sociedade,são os necessitados, os marginalizados, os excluídos. Portanto,Jesus considera tudo isso feito a Ele. Isso não significa que devemos amaros outros por Jesus, mas amá-los com Jesus e como Jesus!"

Do Caminho pra Casa:


O Papa abraça Vinicius Riva, na Praça São Pedro, em 6 de novembro de 2013
A seguir, o comentário do grande biblista italiano, o padre Alberto Maggi, sobre o Evangelho que encerra o Ano Litúrgico A (centralizado pelo texto de Mateus nas Liturgia da Palavra dominical).
O título da solenidade de hoje, Cristo Rei do Universo, é uma criação do Papa Pio XI, em 1925, no espírito da Igreja tridentina e que aspirava a poder e serviço aos ricos –mas isso é assunto para outro dia
Ele nos apresenta uma questão central: o cristianismo não é a religião da fé, mas a religião do amor: “O Deus de Jesus nunca vai perguntar a você se acreditou Nele, mas se você amou como Ele ama!”.
A tradução é do padre Meo Bergese.
[Mauro Lopes]
O texto da Liturgia deste domingo é um dos centrais do Novo Testamento, do capítulo 25 de Mateus (31-46):
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 31”Quando o Filho do homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32 Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 3 4Então o rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo!35 Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36 eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. 37 Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? com sede e te demos de beber? 38 Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39 Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’
40Então o rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ 41Depois o rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar’. 44E responderão também eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ 45Então o rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!’ 46Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.

O comentário de Alberto Maggi:
No Evangelho de Mateus que vamos comentar – cap. 25, versículos 31-46 – nos é dado o último grande ensinamento de Jesus. Para esse ensinamento Jesus serve-se de uma imagem conhecida no mundo hebraico: encontra-se no Talmud (livro sagrado e registro dos estudos rabínicos), onde se diz que “na vida do além, o Santo – bendito seja – tomará o rolo da Torá,a Lei,o colocará sobre os joelhos e dirá: ‘Que venha quem se ocupou com isso e receberá a sua recompensa’”.
Pois bem, Jesus toma essas palavras como modelo, mas muda o conteúdo. O que determina a realização da pessoa humana não é a relação que ela teve com a lei, com Deus, mas a relação que ela teve com as outras pessoas. Porque isso? Por que, com Jesus, Deus – como o próprio evangelista Mateus descreve no início de seu evangelho – é o “Deus conosco”, o “Emanuel”. Portanto, com Jesus a orientação da humanidade não aponta mais para Deus, mas com Deus e como Deus para os seres humanos.
O Deus de Jesus nunca vai perguntar a você se acreditou Nele,mas  amou como Ele ama!
Vejamos, então, o ensinamento de Jesus. Jesus se apresenta como “o Filho do Homem” que vem “em sua glória” e divide os povos pagãos. Não é um juízo final. Israel já foi julgado neste evangelho! Aqui trata-se do julgamento “de todos os povos da terra”, quer dizer, daqueles que não conheceram a Deus.
Pois bem, “como o pastor separa as ovelhas dos cabritos” o Filho do Homem vai separar as pessoas. Assim como o agricultor separa os bons frutos dos frutos podres e como o pescador, neste evangelho, sabe distinguir os peixes bons e descartar os podres, assim também o Senhor reconhece imediatamente quem tem orientado a sua própria vida para o bem dos outros!
”Então o rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai! ’”. Abençoa-los, porque eles são aqueles que realizaram o projeto de Deus para a humanidade.
Em seguida, enumera seis ações de carência, de sofrimento, de necessidade que uma parte da humanidade sofre e, logo, enumera as respostas concretas que foram dadas.
Nessas seis ações, nenhuma tem a ver com comportamentos religiosos, nenhuma tem a ver com atitudes em relação a Deus, mas, todas têm tudo a ver com as necessidades de uma humanidade carente!O que merece a vida eterna (“a herança do reino do meu Pai”) não é, portanto, o comportamento religioso, mas o comportamento humano.
O destaque, nessas seis situações, é o presidiário. “Eu estava na prisão e fostes me visitar”. Naquela época, o presidiário não despertava compaixão, não suscitava qualquer piedade, mas apenas desprezo! Visitar um prisioneiro significava, também, alimentá-lo, uma vez que os guardas carcerários não forneciam alimento algum.
Eis a surpresa daquelas pessoas às quais Jesus diz que foi a Ele que elas fizeram todas essas coisas:  “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? com sede e te demos de beber… etc.”.
Pois bem, a resposta de Jesus: “Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!”.
Quem são esses “menores”?Eles são os invisíveis da sociedade,são os necessitados, os marginalizados, os excluídos. Portanto,Jesus considera tudo isso feito a Ele. Isso não significa que devemos amaros outros por Jesus, mas amá-los com Jesus e como Jesus!
Em seguida, logo, o outro lado da medalha! “Depois o rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! ’”. É importante sublinhar que enquanto Jesus chamou os justos de “benditos de meu Pai”, aquidiz“malditos”, mas não por seu Pai;Deus não amaldiçoa. Deus apenas é bênção!
Essa maldição- é a únicavez que aparece no Evangelho-recorda a primeira maldição na Bíblia,no livro de Gênesis: é sobre Caim que havia assassinado seu próprio irmão.
Então,Jesus é muito severo.Não oferecer ajudas, não responder às necessidades básicas, aos sofrimentos,às necessidades dos outros, é o mesmo que assassinar as pessoas!São amaldiçoados não por Deus, mas, pelo seu próprio egoísmo, pelo seu fechar-se perante as necessidades dos outros: é essa atitude que os amaldiçoa. Quem se fecha à vida, amaldiçoa a si mesmo!
“Malditos! Ide para o fogo eterno…” – o fogo eterno,significa o que destrói tudo – “… preparado para o diabo…”. É a última vez, neste evangelho,que o diabo aparece em sua destruição final!  Isso significa sua derrota definitiva, porque ele termina no fogo eterno que é imagem daquilo que tudo destrói.  “… e para os seus anjos” – isto é, os seus emissários, aqueles que se tornaram instrumentos de morte. Jesus não repreende essas pessoas por ter feito algo errado,mas por se tornarem instrumentos de morte, por que não fizeram o bemem momentos de necessidade, em tempos de sobrevivência.
Esses também ficam surpreendidos – e demonstram-no. Repetindo todas as privações da humanidade, a fome, a sede…
Mas, é interessante o que dizem no final: “…e não te servimos?”. Os justos não falam isso! Evidentemente esses últimos acreditam ter servido ao Senhor, tê-lo servido na liturgia, no culto, na adoração… Mas não se deram conta de que, com Jesus, Deus não pede para ser servido, mas Ele próprio que é Deus se coloca ao serviço dos seres humanos, a fim de que, os homens, com Ele e como Ele se coloquem ao serviço dos outros.
E eis a sentência de Jesus: “Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!”. Portanto, mais uma vez, o que determina o sucesso na vida e nas atitudes da pessoa não é a relação havida com Deus, mas a relação tida com os outros. Quem se fechar aos outros, fecha-se a Deus!
“Portanto, estes irão para o castigo eterno”. Essa imagem, tirada do livro do profeta Daniel, capítulo 12, versículo 2, significa o fracasso total de suas próprias vidas. A palavra traduzida como “castigo” em grego significa “mutilar”.  A punição, portanto, não é devida ao Pai, mas eles mesmos se puniram a si próprios, porque a vida deles continuará mutilada, isto é, uma vida que não chegou à plenitude.
Portanto não é um castigo, mas o fracasso total! O Apocalipse definirá isso como “morte segunda”.
Mas o Evangelho termina com uma imagem positiva: “os justos irão para a vida eterna”. Aqueles que viveram fazendo o bem, comunicando vida aos que dela precisavam, esses  realizaram sua própria existência e, sobretudo, realizaram o projeto de Deus para a humanidade!

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