EDITORIAL
A presidente foi derrubada por seus inimigos, mas podem eles dar ao Brasil o novo começo que ele precisa?
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O Brasil se meteu em uma terrível confusão e é difícil de ver como vai sair dela. A votação do Senado nessa semana, seguindo a da Câmara dos deputados no mês passado, significa que a presidente Dilma Rousseff está suspensa do cargo e vai ser julgada sob as acusações de manipulação das finanças do país para ganho de vantagem eleitoral.
Que a história da primeira mulher presidente, conhecida por sua participação na resistência à ditadura militar que governou o país até 1985, por sua firmeza sob tortura naqueles dias, e por sua longa associação com Luiz Inácio Lula da Silva, o líder mais popular do Brasil nos tempos modernos e seu antecessor na presidência, tenha atingido esse ponto é uma tragédia pessoal para ela.
Seus próprios erros, os quais até seus defensores entendem que são substanciais, contribuíram para a queda dela. Mas o que está claro é que não é apenas a carreira dela que caiu, mas o sistema democrático brasileiro como um todo. Disfuncional ao ponto onde a corrupção é virtualmente inevitável e a boa governança constantemente impedida, ele funcionou, praticamente, nas mãos hábeis do Lula durante um período de crescimento econômico animado. Lula podia afinar suas adequações e administrar a complexa coalizão a que ele deu origem. No entanto, ele recorreu a corrupção para fazê-lo.
Dilma herdou esse infeliz legado e começou a perder o controle durante um período de declínio econômico, como de corrupção, graças a independência da polícia e da promotoria, foi se tornando um escândalo de proporções cada vez maiores. Preconceito machista contra uma líder mulher, e os ressentimentos de uma direita política nunca totalmente reconciliada pela ascensão do Partido dos Trabalhadores certamente desempenharam os seus papéis. O elemento tóxico final na crise foi a realização por vários políticos que promotores podem, em breve, pegar em sua rede, e que um meio de evitar ou minimizar essa possibilidade seria distrair a atenção e tomar o controle do processo político ao prosseguir o impeachment da chefe de Estado.
Os acertos e erros do caso contra a presidente vão ser debatidos no Senado, atuando como uma corte. Isso envolve, nesse estágio, nenhuma acusação por corrupção, enquanto um considerável número daqueles que votaram pelo impeachment são acusados ou enfrentam investigações por essa ofensa. A ironia é fácil de ver, quando tantos dos acusadores são eles mesmos acusados, e de pecados piores. Por exemplo, Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos deputados, que orquestrou a campanha para o impeachment da presidente, no começo desse mês foi afastado porque ele enfrenta um julgamento por corrupção.
Quem deveria ser julgado e quem não deveria é uma questão importante. Mas o que deveria estar em julgamento, acima de todo o resto, é o falho modelo político brasileiro. A constituição brasileira separa o poder executivo da legislatura mas também, através da maneira que se contam os votos para o congresso, dá origem a uma grande quantidade de partidos políticos.
O resultado é que um presidente que recebeu a maioria dos votos populares enfrenta uma legislatura na qual o partido dele ou dela tem sorte se tiver 20% das cadeiras.
Para governar, o presidente deve fazer acordos que dificultam a execução de políticas e entrega milhares de cargos no governo para os frequentemente incompetentes nomeados pelos partidos políticos. Para piorar a situação, até os grandes partidos não podem levantar dinheiro suficiente de fontes legítimas para campanha em um país enorme com vários níveis de governo. As eleições brasileiras são quase tão caras como são as dos EUA.
Onde encontrar o dinheiro sempre foi uma questão obscura. Mas quando uma mina de ouro na forma de propinas de contratos com a Petrobrás aparece, o PT, seguido por políticos de quase todas as estirpes, toma vantagem. Uma nova administração brasileira deve iniciar mudanças constitucionais radicais que façam a política ser mais praticável e mais honesta. Mas se o novo governo que o vice-presidente, Michel Temer, está montando vai ser capaz de tal salto é, infelizmente, muito duvidável.
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