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terça-feira, 22 de novembro de 2022

Há uma perigosa, criminosa e canalha trama sendo urdida no Planalto, por Fernando Castilho

 

Um áudio vazado do ministro do TCU, Augusto Nardes, demonstra que há realmente uma urdidura em curso.

Bolsonaro sabe que, após a posse de Lula, ou até antes, muita sujeira virá à tona quando for revelado o que acontecia nos ministérios e no gabinete do ódio. É preciso lembrar que a corrupção descoberta no Ministério da Educação só veio à público porque o próprio ministro Mílton Ribeiro acabou, num ato falho, revelando que os recursos eram destinados a pastores para que eles fizessem a distribuição nas cidades, a mando do presidente. Mas deve haver muito mais. Apostaria que o grande antro da corrupção é, além da Educação e Saúde (tentativa de compra de vacinas superfaturadas, como revelou a CPI da Covid-19) o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que era comandado pela senadora eleita Damares Alves.

Arquivo PR

Há uma perigosa trama sendo urdida no Planalto

por Fernando Castilho

Enquanto escrevo este texto, constato que já se passaram 20 dias das eleições presidenciais vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva e até agora, o presidente Jair Messias Bolsonaro permanece recluso, calado, recusando-se a admitir a derrota.

Muita gente, a grande imprensa, inclusive, acredita que ele apenas se recupera do baque e de uma erisipela na perna.

Enquanto isso, milhares de bolsonaristas acampam nas cercanias de vários quartéis do exército, negando-se a acreditar na lisura das urnas eletrônicas e implorando aos militares uma intervenção.

Nossos honrosos generais abrem uma exceção em sua rígida disciplina para acolher os golpistas como gente de bem que apenas está se expressando livre e pacificamente.

Lógico que se fossem membros do MST esse direito à liberdade de expressão seria reprimido violentamente, até porque, em se tratando de Área de Segurança Nacional, os quartéis, em condições ideais de temperatura e pressão, não toleram a simples presença de qualquer pessoa por mais de alguns minutos próxima a seus portões.

Alguém, nas redes sociais, perguntou se já era possível organizar um grupo e ir para a frente de quartéis pedir uma revolução comunista.

Brincadeiras à parte, os comandantes militares estão seguindo a orientação do ex-candidato a vide presidente de Bolsonaro, o general Braga Netto.

Braga Netto, como foi revelado pelo site Metrópoles, mantém a residência em Brasília, utilizada como comitê eleitoral até 30 de outubro, para promover reuniões com políticos do PL, partido do presidente. É nesse QG que está sendo tramado um golpe.

O general, o articulador da resistência contra o resultado das eleições, em rápida conversa com alguns golpistas à frente do Palácio do Planalto, pediu para continuarem com fé e aguardarem só mais um pouco. Mais, não poderia adiantar.

Um áudio vazado do ministro do TCU, Augusto Nardes, relator da análise das contas presidenciais que culminaram no impeachment de Dilma Rousseff demonstra que há realmente uma urdidura em curso. Na gravação, Nardes fala claramente em um “movimento nas casernas” e diz que é “questão de horas, dias, no máximo, uma semana, duas, talvez menos, para que um desenlace bastante forte na nação ocorra”.

Na outra ponta, o ministro Alexandre de Moraes determinou o bloqueio das contas de 43 empresários que estão bancando os acampamentos com enormes barracas, cozinha, banheiros químicos, alimentação e ajuda custo aos manifestantes. Esperava-se que, com essa medida, os golpistas acabassem voltando para suas casas, mas, até agora, não é o que está acontecendo.

Apesar das ordens expressas às polícias militares e à Polícia Rodoviária Federal para acabarem de vez com os bloqueios nas estradas, estes ainda permanecem, numa espécie de queda de braço entre as instituições de segurança e o judiciário.

O que transparece é que a tensão vem sendo mantida de maneira latente, aguardando algum tipo de ordem por parte dos comandos das Forças Armadas.

Parece que há nos bastidores militares conflitos a serem resolvidos antes de uma possível ruptura institucional, pois nem todos os generais estão convencidos do sucesso de uma empreitada do porte de um golpe num país muito maior do que era em 1964.

A máquina a ser posta em movimento para se implantar uma ditadura no Brasil é gigantesca e envolve estratégias extremamente complexas e organização demasiadamente trabalhosa para que generais se motivem a trabalhar por elas. Eles, com certeza hoje preferem curtir seus uísques 12 anos, vinhos caros e churrasco de picanha, além dos comprimidos de Viagra.

Além disso, os Estados Unidos, antigos fomentadores e mantenedores do golpe de 64, hoje são totalmente contrários à uma ditadura no Brasil.

É preciso levar em conta também o incrível sucesso de Lula na COP27 que fez o mundo respirar aliviado com sua eleição e que colocou o país de volta ao concerto das nações.

Mas, uma coisa é afirmar que não haverá golpe porque não há as condições mínimas para isso. Outra é ignorar a tentativa.

Bolsonaro sabe que, após a posse de Lula, ou até antes, muita sujeira virá à tona quando for revelado o que acontecia nos ministérios e no gabinete do ódio. É preciso lembrar que a corrupção descoberta no Ministério da Educação só veio à público porque o próprio ministro Mílton Ribeiro acabou, num ato falho, revelando que os recursos eram destinados a pastores para que eles fizessem a distribuição nas cidades, a mando do presidente. Mas deve haver muito mais. Apostaria que o grande antro da corrupção é, além da Educação e Saúde (tentativa de compra de vacinas superfaturadas, como revelou a CPI da Covid-19) o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que era comandado pela senadora eleita Damares Alves.

Pois bem, o capitão deverá sofrer inúmeros processos e acabará por ser preso. Não só ele, mas todos seus asseclas.

É por isso que há uma intensa movimentação para melar o resultado das urnas.

É preciso, neste momento, que Alexandre de Moraes não puxe para si toda a responsabilidade na luta pela manutenção da democracia, mas que divida com todos os demais ministros do Supremo Tribunal Federal, para que eles se organizem como uma verdadeira muralha contra a ruptura institucional.

Além disso, o elemento povo é fundamental neste momento.

Mais de 60 milhões de brasileiros se decidiram por Lula e precisam agora estar atentos e à postos para defender o resultado legítimo das urnas.

Bolsonaro não está morto, mas somos muito mais que os milhares de golpistas que estão na frente dos quartéis.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

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