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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Um governo liberal-fascista-conservador? Uma verdadeira jabuticaba, por Rogério Maestri


  "Tenho feito há mais de um ano extensas pesquisas sobre o fascismo e sobre o liberalismo von Miseano, e cada vez mais que pesquisava mais me aumenta a minha confusão, simplesmente pois olhando com cuidado o que se chama o liberalismo do instituto von Mises, as características dos diversos movimentos fascistas e das ideologias conservadoras em costumes enxergo claramente que além das fortes contradições internas das ideologias acima nominadas, a soma destas três cria uma espécie de jabuticaba ideológica que não pode coexistir dentro de um só governo." - Rogério Maestri





Um governo liberal-fascista-conservador? Uma verdadeira jabuticaba
por Rogério Maestri
Tenho feito há mais de um ano extensas pesquisas sobre o fascismo e sobre o liberalismo von Miseano, e cada vez mais que pesquisava mais me aumenta a minha confusão, simplesmente pois olhando com cuidado o que se chama o liberalismo do instituto von Mises, as características dos diversos movimentos fascistas e das ideologias conservadoras em costumes enxergo claramente que além das fortes contradições internas das ideologias acima nominadas, a soma destas três cria uma espécie de jabuticaba ideológica que não pode coexistir dentro de um só governo.
Excetuando o ódio a esquerda e um ataque a qualquer organização ou reivindicação popular, que as três ideologias contêm, não há o mínimo ponto de contato num discurso que se queira montar a partir destas três vertentes. Se quisermos ligar alguma concepção liberal a uma ideia de conservadorismo de costumes com a chamada ética liberal, o choque seria frontal entre os dois e com perda total dos veículos que se chocassem.
Se alguém se der o trabalho como eu, de olhar o livro seminal da ética liberal, “A ética da liberdade” de Murray N. Rothbard verá absolutas contradições entre a ética liberal e a ética conservadora, isto vem da concepção de humano para um e para outro, para exemplificar melhor colocarei um parágrafo pertinente ao aborto que Rothbard, seguindo a tradição liberal de John Locke nos seus “Dois Tratados Sobre o Governo” Rothabard escreve:
A fundamentação apropriada para analisar o aborto está no absoluto direito de auto propriedade de cada homem. Isto imediatamente implica que toda mulher tem o absoluto direito ao seu próprio corpo, que ela tem o domínio absoluto sobre seu corpo e sobre tudo que estiver dentro dele. Isto inclui o feto. A maioria dos fetos está no útero da mãe porque a mãe consentiu a esta situação, porém o feto está lá pelo livre e espontâneo consentimento da mãe. Mas, se a mãe decidir que ela não deseja mais o feto ali, então o feto se torna um invasor parasitário de sua pessoa, e a mãe tem o pleno direito de expulsar o invasor de seu domínio. O aborto não deveria ser considerado o “assassinato” de uma pessoa, mas sim a expulsão de um invasor não desejado do corpo da mãe. Quaisquer leis restringindo ou proibindo o aborto são, portanto, invasões dos direitos das mães.
Poderia enumerar mais algumas discrepâncias fundamentais entre a Ética Liberal e o Conservadorismo de costumes, chamando a atenção que Murray N. Rothbard é um dos expoentes do libertarismo, tão caro aos liberais, e se querem entender a importância que o Instituto von Mises dá a ele é só clicar no link.
Seguindo nas contradições, o fascismo, que como ideologia supõe um Estado Máximo e não mínimo como diz a famosa frase de Mussolini “Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado.” Esta contradição do Fascismo com o liberalismo é uma das principais bases do regime fascista, também no seu discurso em 1922 ele profere a seguinte frase:
O ESTADO QUE NÓS QUEREMOS
Teremos um Estado que faça este simples raciocínio: "O Estado não representa um partido, representa a coletividade nacional, abrange tudo, supera tudo, protege tudo e procederá contra todo aquele que atentar contra sua soberania imprescritível".....”
Ou parte de outro discurso de Mussolini:
O FASCISMO EM FACE DA BURGUESIA E DO PROLETARIADO
É uma Itália que quer iniciar um novo período da história. Entre a Itália de ontem e a nossa Itália, há, portanto, um contraste plástico, dramático.
O choque parece inevitável. Trata-se de preparar as nossas forças, os nossos valores e energias, de coordenar os nossos esforços para que embate nos dê a vitória de que não duvidamos.
O Estado liberal é hoje uma máscara detrás da qual não há um rosto. É uma fachada sem edifício. Há forças aparentes, dentro das quais não existe o espírito. Todos os que deveriam ser os sustentáculos deste Estado, sentem que se atingiram os extremos limites da vergonha, da impotência e do ridículo. Por outro lado, como já disse em Udina, não queremos pôr tudo em jogo, porque não nos apresentamos como redentores do gênero humano, nem prometemos nada de extraordinário aos italianos. Pelo contrário, pode ser que tenhamos de impor aos italianos uma disciplina mais dura e maiores sacrifícios. Imporemos essa disciplina e esse sacrifício tanto à burguesia como ao proletariado, porque, se o proletariado está infectado, a burguesia está-o ainda mais. Há um proletariado que merece ser castigado para depois se lhe dar possibilidades de redenção; há uma burguesia que nos detesta, tenta lançar a confusão nas nossas fileiras, paga a todas as folhas que colaboram na obra de calúnia antifascista; uma burguesia que, até ontem, se rojava ignobilmente aos pés das forças antinacionais; uma burguesia para a qual não teremos um gesto de piedade!
Conforme se pode ver, o discurso fascista se confrontado com a prática fascista é totalmente incoerente, pois como colocado em destaque no último texto nem precisou piedade para a burguesia, ela foi simplesmente agraciada em todo o período do governo (1922-1943).
Porém o que resta de comum nestas três ideologias na teoria e na prática, é a perseguição a esquerda e como não há nenhum programa do atual governo que premie as classes menos privilegiadas, a perseguição aos pobres será inclemente e permanente.
Entretanto tem dois problemas no parágrafo anterior, como a esquerda propriamente dita, não se encontra organizada e nucleada em instituições políticas claras com direções e quadro de direção perfeitamente definidos, o governo Bolsonaro será a parte mais patética do Cavalheiro da Triste Figura da obra de Miguel de Cervantes "Dom Quixote", onde nos seus delírios persegue Moinhos de Vento, que são o marxismo cultural de Bolsonaro e o socialismo no governo.
O que Bolsonaro certamente perseguirá será o povo brasileiro, e como ficou patente na sua posse que reuniu poucas dezenas de milhares de pessoas, rapidamente a sua base vai se transformar num valor insignificante, pois a sua minoria minguará mais ainda, migrando para tênues acenos de uma desorganizada esquerda.

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