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sábado, 28 de fevereiro de 2015

Cynara Menezes: "Dilma, o único antídoto contra o fundamentalismo é o confronto"

   "Não existe mais a possibilidade de Dilma dialogar com o PMDB que Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, representa. O PMDB dos fundamentalistas religiosos, dos que querem transformar o País numa teocracia. Esta gente odeia Dilma, odeia tudo que ela representa. E quer tomar o seu lugar."

Cynara Menzes




Entendo que Lula deseje pacificar Dilma com o PMDB para que, afinal, eles não acabem participando da trama do impeachment. Entendo que a própria presidenta queira isso. Mas há PMDBs e PMDBs. Não existe mais a possibilidade de Dilma dialogar com o PMDB que Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, representa. O PMDB dos fundamentalistas religiosos, dos que querem transformar o País numa teocracia. Esta gente odeia Dilma, odeia tudo que ela representa. E quer tomar o seu lugar.
A história do PT o empurra para a obrigação de deter a escalada dos fundamentalistas, cujo alvo principal é a presidência da República. Ou Dilma e Lula têm a ilusão de que em 2018 terá este PMDB a seu lado novamente? Em nome da tal governabilidade, o PT dilapidou seu patrimônio ético e político ao longo dos anos que está no poder. Para agradar setores à direita, eliminou os “radicais” do partido, quando em muitos aspectos eles eram o que de melhor o PT tinha. Que falta eles fazem hoje!
Será que o PT acalenta o sonho de permanecer no poder em 2018? Ou melhor: será que o PT será reeleito em 2018? Tenho minhas dúvidas. Mas tanto para permanecer no poder quanto para se preparar para deixá-lo, o partido deveria começar a fazer o que tem de ser feito. Dar ao Brasil de presente a entrada no primeiro mundo de fato, onde a civilidade supera a barbárie. Neste quarto mandato à frente do País, o PT precisa garantir seu lugar na história, como fez Pepe Mujica no Uruguai e mesmo Barack Obama nos Estados Unidos. E acredito que Dilma sairá fortalecida se o fizer. O PT cresce quando confronta.
O contra-ataque no Congresso deveria se basear em quatro projetos basicamente:
1. Imposto sobre grandes fortunas: é um assunto que conta com o apoio de grande parcela da população. Só é polêmico, na verdade, para quem possui grandes fortunas.
2. Legalização da maconha para uso medicinal: segundo pesquisa Datafolha de novembro do ano passado, 56% dos brasileiros se manifestaram contrários à venda da maconha para uso medicinal |(caso do Canabitiol). Mas e os outros 44%? Uma boa campanha não seria capaz de modificar o pensamento de quem se opõe? Se o próprio ex-presidente FHC, que é da oposição, participa de campanhas a favor… E o ideal é que fosse um projeto que abarcasse também o uso e o plantio para consumo próprio, o que elimina o narcotráfico.
3. Reforma política: um projeto próprio e avançado, com tudo que o PT sempre quis colocar em pauta. Voto em lista, financiamento público de campanha e aumento da participação da mulher. Nada mais perfeito para mostrar quem está mesmo preocupado com a ética na política.
4. Criminalização da homofobia: pesquisa do Ibope de setembro do ano passado mostrou que 53% dos brasileiros são contra o casamento gay, mas 40% são a favor. Trata-se de uma parcela muito significativa da população que se mostra partidária da tolerância com o semelhante e que precisa ser atendida em seu desejo de que o País avance no combate ao preconceito. Sem contar que os cidadãos LGBTs votaram em Dilma, ela lhes deve isso.
Ao apresentar estes projetos no Congresso, Dilma iria recuperar imediatamente a simpatia da parcela mais progressista do eleitorado, que é formadora de opinião e foi importantíssima para sua reeleição. E, assim como Obama fez, dará um xeque-mate no conservadorismo religioso, porque é uma dessas ocasiões em que, mesmo se for derrotada, Dilma ganha. Se perder, o Congresso sairá com uma imagem extremamente retrógrada não só diante do Brasil como do mundo. A presidenta, ao contrário, sairá como a mulher que tentou colocar o País no rumo das nações mais civilizadas do planeta e foi derrotada por políticos atrasados, dignos de república de bananas.
Aposto que seria uma boa briga e que só faria bem à popularidade da presidenta. Um antídoto contra o golpismo dos fundamentalistas, que dificilmente conseguiriam levantar a cabeça de novo. Se, em vez disso, o PT e Dilma resolverem baixar a cabeça, cedendo cargos e espaço no governo para o conservadorismo, nada mais farão que dar um tiro no próprio pé e enterrar o partido de vez. Além de colocar o Brasil no rumo das trevas.
Ninguém aguenta mais a covardia que o PT está demonstrando no governo. Afinal, a presidenta tem coração valente ou era só truque de marketing? Vai para cima deles, Dilma!
Publicado em 27 de fevereiro de 2015

A lista do HSBC, " o Abutre" e a imprensa brasileira em análise de Fábio de Oliveira Ribeiro

Artigo retirado do Jornal GGN/Luis Nassif Online:


O abutre, a imprensa brasileira e a lista do HSBC, por Fábio de Oliveira Ribeiro

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O evangélico Eduardo Cunha, em seu afã elitista, ressuscita privilégios para Deputados com prejuízos dos Cofres Públicos


Eduardo Cunha em culto, promovido por ele em sala do Congresso Nacional, Instituição de um Estado que, constitucionalmente, deveria ser Laico (vide, abaixo, o Art. 19 da Constituição)


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

    Eduardo Cunha, do PMDB, membro da Bancada Evangélica e - infelizmente - recém-eleito por seus pares conservadores para a presidência da Câmara, fazendo pouco do povo brasileiro (afinal, nem todos votaram nos membros mais reacionários do Congresso), acabou de promover uma elevação na mordomia dos deputados: aumentou a dotação orçamentária para que os colegas tenham o direito de dar passagens aéreas a seus cônjuges, cujo gasto estimado aos cofres públicos é de cerca de mais de 150 Milhões de reais ao ano, dinheiro que fará falta na Educação e na Saúde, para dizer o mínimo. 

  Já conhecido por promover cultos e desarquivas projetos polêmicos, em grande parte ligados à aberrações fundamentalistas da bancada evangélica, Cunha tem também ressuscitado regalias antes proibidas por serem consideradas abusivas e/ou incompatíveis com a moralidade pública. Sem se importar com isso, Eduardo Cunha, com apoio de reaças como Bolsonaro, Feliciano e outros, aponta que quer aumentar ainda mais as regalias dos deputados, além de aprovar projetos controversos e insanos, como o tal Dia do Orgulho Hétero.

    Contra estes desmandos surreais e abusivos, há um abaixo-assinado no Avaaz (link abaixo), que busca levar vergonha na cara aos deputados, pondo um freio ou ao menos um contrapeso nos desmandos de Eduardo Cunha, cujo poder, infelizmente, foi dado por uma parte dos brasileiros que, ano passado, elegeram o Congresso mais reacionário desde o golpe militar de 64. 

   Ainda há tempo para que esta onda reacionária seja minimizada. A petição do Avaaz pode ser acessada clicando no seguinte link:


  Obs.: De acordo com a Constituição Brasileira, em seu Art. 19, é estabelecido que:

 É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

Neopentecostais fundamentalistas trabalham explicitamente para chegar ao Poder, afirma o pastor Ricardo Gondim

Extraído do blog de Paulo Lopes, publicado em 23 de abril de 2011:


Neopentecostais querem o poder do Brasil, alerta pastor Gondim



"O objetivo é, se possível, eleger um presidente da República"

   O objetivo do movimento neopentecostal é assumir o poder político do Brasil, com a eleição, se possível, de um presidente da República já nas próximas eleições. 

   Essa avaliação é de Ricardo Gondim, 54, da Igreja Betesda, mestre em teologia da Universidade Metodista e, entre os pastores, o mais contundente crítico do movimento neopentecostal brasileiro. 

  Gondim afirmou que o projeto político dos neopentecostais tem ficado mais evidente na Igreja Universal do Reino de Deus, que tem pastores em diversas instâncias do poder, incluindo um no Senado, o bispo Marcelo Crivella. 

  O pastor disse que a obtenção do poder político possibilitará que as igrejas evangélicas se expandam com mais facilidade. 

  No começo do ano, Gondim deixou pastores abismados com um texto publicado em seu blog no qual afirmou que “Deus nos livre de ter um Brasil evangélico”.

   Ele escreveu que, se a maioria da população se tornar evangélica, o efeito do puritanismo na cultura seria devastador, colocando em risco, por exemplo, o Carnaval, o futebol, a música de Ney Matogrosso, Caetano e Chico e o folclore. 

  Agora, em entrevista à Carta Capital, o pastor afirmou que, que houvesse essa hegemonia, “seria a talebanização do Brasil”, em uma referência aos fundamentalistas islâmicos dos Talibãs. 

  Gondim disse à revista que, em termos de fundamentalismo, a maior influência no movimento evangélico brasileiro vem dos Estados Unidos.

  “Nos Estados Unidos, a igreja se apega a três assuntos: aborto, homossexualidade e a influência islâmica no mundo. No Brasil, não é diferente. Existe um conservadorismo extremo nessas áreas, mas um relaxamento em outras. Há aberrações éticas enormes.” 

  Mas antes que os evangélicos transformem o Brasil em um país de comportamento fundamentalista, é possível que os brasileiros acabem transformando as igrejas evangélicas, o que já estaria ocorrendo, de acordo com o pastor. 

  Ele afirmou que já existem evangélicos que pertencem a comunidades católicas ou espíritas. “Já se fala em um ‘evangelicalismo popular’, nos modelos do catolicismo popular, e em evangélicos não praticantes, o que não existia até pouco tempo atrás.” 

  O pastor observou que há no movimento evangélico duas tendências aparentemente contraditórias: de um lado absorção de elementos religiosos da tradição brasileira, o sincretismo, e, de outro, radicalização na oposição a questões como o aborto e direitos dos homossexuais. 

  No entendimento do pastor, o ‘evangelicalismo popular’ está descaracterizando a religião. “O rigor doutrinário e os valores típicos dos pequenos grupos estão se dispersando.”



O melhor nem sempre é visto ou é quase sempre negligenciado no ser humano...





Somos tão bombardeados pelo que há de pior na mídia, nas conversas, nas ruas, 
que acomodamos e embotamos o olhar a negligenciar o que de belo e bom ainda nos cerca...

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Em tempos do retorno da alienação, Eduardo Cunha inaugurou a política do "coitadismo evangélico"


     "Se alguém prega intolerância e preconceito, é natural que sofra alguma rejeição ou, no mínimo, receio por parte de quem não professa a mesma fé ou tem um pouco de juízo. A vontade de levar o Brasil à Idade Média tem a assinatura dos evangélicos e isso precisa ser dito de maneira clara. Isso não é discriminação, mas chamar as coisas pelo nome que elas têm."


  Segue texto de Kiko Nogueira, extraído do Diário do Centro do Mundo:

  “Isso é discriminação pura”: Eduardo Cunha inaugurou o coitadismo evangélico


  Eduardo Cunha inaugurou a onda do coitadismo evangélico.

  O presidente da Câmara enfiou a mão em sua cartola para ressuscitar iniciativas caras à bancada religiosa, mas vê — ou diz que vê — discriminação na maneira como isso é noticiado.

  Cunha desarquivou um projeto em defesa da heterossexualidade, que embute uma palhaçada chamada Dia do Orgulho Hetero, e autorizou uma comissão para discutir um “Estatuto da Família” — que defende que a célula familiar é formada apenas por homem e mulher e pode resultar no veto à adoção de crianças por casais gays.

  O velho e mau Marco Feliciano trouxe de volta de seu mundo escuro uma proposta para tornar obrigatório o ensino do criacionismo na educação básica. Feliciano e colegas acham fundamental que crianças sejam expostas a uma picaretagem.

 O grupo dos evangélicos tem 80 dos 513 deputados. Virtualmente todos os candidatos à presidência e aos governos pagaram pedágio nas igrejas. O Brasil teve, pela primeira vez, uma candidata crente, Marina Silva, assembleísta com muito orgulho, com muito amor.

 No entanto, Cunha quer que se acredite numa perseguição. “É muito estranho só falarem da recriação das comissões pedidas por deputados evangélicos. Já é absurdo carimbarem quando é deputado evangélico”, escreveu no Twitter.

 “Ninguém fala deputado católico, espírita etc. Mas fala sempre evangélico quando ele é evangélico. Isso é discriminação pura e agride a laicidade do Estado”.

 É isto uma inversão extraordinária. O mimimi esconde o contrário: a ofensiva de Eduardo Cunha e seus pares justamente contra a laicidade.

 Não se fala em parlamentar católico, judeu, ateu, umbandista ou espírita simplesmente porque não existe uma bancada organizada para eles e, mais do que isso, uma agenda específica.

 Os fundamentalistas deveriam parar de subverter a liberdade religiosa alheia e cessar seus esforços para utilizar o poder no sentido de impor seus dogmas. A conversa de martirização não é apoiada pelos fatos.

 Se alguém prega intolerância e preconceito, é natural que sofra alguma rejeição ou, no mínimo, receio por parte de quem não professa a mesma fé ou tem um pouco de juízo. A vontade de levar o Brasil à Idade Média tem a assinatura dos evangélicos e isso precisa ser dito de maneira clara. Isso não é discriminação, mas chamar as coisas pelo nome que elas têm.


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Sobre o Autor

Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A imprensa em questão: Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, analisa o que os jornais dizem na tentiva de esconder


   Por que a imprensa brasileira tenta pintar tudo em preto e branco, sem considerar as muitas tonalidades entre os dois extremos? Ora, porque a imprensa faz parte do sistema de poder na sociedade moderna, e exerce esse poder fazendo pender as opiniões para um lado ou para outro, usa o mito da objetividade para valorizar seus produtos e cobra de seus financiadores um custo por esse trabalho.
Luciano Martins Costa

LEITURA CRÍTICA

A graça da não-notícia

Por Luciano Martins Costa em 19/02/2015 na edição 838
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 19/2/2015
A leitura crítica dos jornais brasileiros pode produzir momentos interessantes, não propriamente pelo que dizem, mas principalmente pelo que tentam esconder. O hábito de analisar criticamente o conteúdo da mídia tradicional produz calos no cérebro, e eventualmente o observador passa a enxergar não mais a notícia, mas a não-notícia, ou seja, aquilo que o noticiário dissimula ou omite.
Trata-se de um exercício divertido, como se o leitor estivesse desfazendo um jogo de palavras cruzadas já preenchido. É mais ou menos como adivinhar, a partir das palavras que se interconectam num texto, o sentido que o autor pretendeu dar à sua construção. No entanto, embora o esquema seja interessante, a prática desse jogo de “interpretação reversa” não chega a ser instigante, porque a qualidade dos textos é geralmente muito pobre, e as intenções dos autores e editores se tornam muito explícitas. Mas não deixa de ser boa diversão, o que, afinal, ajuda a cumprir o novo papel da imprensa, o de entretenimento.
Há um bom número de exemplos nas edições dos jornais de quinta-feira (19/2), entre eles o esforço em manter a atenção do leitor com foco na lenta recuperação do reservatório da Cantareira, ao mesmo tempo em que apela ao bom senso para que as pessoas continuem a economizar a água.
No Jornal Nacional da TV Globo, a cada nota sobre o volume de chuvas em São Paulo segue-se a imagem da apresentadora, com expressão de madre superiora, lembrando que não basta a ajuda de São Pedro: é preciso seguir contando as gotas no chuveiro.
No Globo, chega a ser patético o esforço dos editores em celebrar a vitória da escola de samba Beija-Flor e ao mesmo tempo denunciar as relações de seu presidente, o bicheiro Anísio Abrahão David, com o ditador da Guiné Equatorial, que financiou o desfile carnavalesco.
Na Folha de S. Paulo, que produz três páginas especiais para festejar seus 94 anos, esse aspecto ambíguo da imprensa ganha ares oficiais: para mostrar que “o pluralismo é um dos pilares editoriais da Folha”, como diz o enunciado do material comemorativo, o jornal apresenta oito artigos sobre temas da atualidade. Assim, o leitor pode apreciar duas opiniões diferentes sobre as seguintes questões: “A presidente Dilma deve sofrer ação de impeachment em decorrência do escândalo da Petrobras?”; “O governador Alckmin é culpado pela crise hídrica em São Paulo?”; “Diante dos sinais de recessão, o BC deveria parar de subir os juros?”, e “As redes sociais tornam as pessoas mais egoístas?”
Por que a árvore caiu?
Decompondo a edição da Folha, pode-se afirmar que nenhuma das quatro questões admite apenas duas respostas, “sim” ou “não”, como propõe o jornal. Mas o mais interessante é que a Folha apresenta afirmações como se fossem perguntas. Por exemplo, se misturarmos as palavras, um dos enunciados seria: “O governador Alckmin deve sofrer ação de impeachment por ter adiado decisões sobre a crise hídrica por razões eleitorais?”; outro enunciado poderia ser: “A presidente Dilma é culpada pelo escândalo da Petrobras?”
Como se vê, a tal “pluralidade” já nasce condicionada, porque a imprensa brasileira quer convencer o leitor de que existem apenas duas interpretações possíveis para questões complexas como essas. E observe-se que todo o noticiário é composto por questões complexas, ou, no mínimo, controversas, porque é isso que define uma notícia.
Uma árvore caiu. Por que a árvore caiu? – mesmo num evento corriqueiro e aparentemente banal, há muitas respostas possíveis.
Por que a imprensa brasileira tenta pintar tudo em preto e branco, sem considerar as muitas tonalidades entre os dois extremos? Ora, porque a imprensa faz parte do sistema de poder na sociedade moderna, e exerce esse poder fazendo pender as opiniões para um lado ou para outro, usa o mito da objetividade para valorizar seus produtos e cobra de seus financiadores um custo por esse trabalho.
Mas pode-se elaborar melhor essa análise. O observador arriscaria afirmar que a narrativa jornalística, tal como foi construída ao longo do tempo, já não dá conta de acompanhar a percepção da realidade, amplificada pelo domínio da imagem transmitida globalmente em tempo real. Como notou o filósofo Vilém Flusser, a superfície ínfima da tela substitui o mundo real. O que a imprensa faz é comentar essa superficialidade, não a realidade.
Mas a resposta é ainda mais simples: para ser levado a sério, um jornal precisa dar a impressão de concretude em seu conteúdo, mas, ao se tornar refém do mundo das imagens, produz uma concretude – ou, como diz Flusser, uma “concreticidade” superficial.
Essa superficialidade procura esconder o propósito do conteúdo jornalístico, que não é informar, com pensam os leitores correligionários: é induzir uma opinião específica.
Se tudo é opinião, tudo é não-notícia.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Religião, Carnaval, Futebol e Mídia: o conflito fomentado por um jornalismo de aparências



Segue texto de Luciano Martins Costa, extraído do Observatório da Imprensa:

CARNAVAL, FUTEBOL & RELIGIÃO

Detalhes tão pequenos

Por Luciano Martins Costa em 18/02/2015 na edição 838
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 18/2/2015

 Há quem diga que o carnaval e o futebol fazem a melhor síntese do Brasil. Pode-se acrescentar, com os mesmos argumentos, que o quadro fica mais completo e equilibrado se incluirmos nessa moldura a religião. Porém, sempre é bom lembrar que não estamos observando diretamente a sociedade brasileira, mas sua expressão na mídia, o que se torna essencial porque, como sabemos, todo o conteúdo do ambiente comunicacional está se transformando progressivamente num simulacro da realidade.
Há, portanto, um carnaval real, que se passa na interação entre o estado de espírito que vai da alegria exagerada, pura sensação, a suas expressões corporais através da dança, dos saltos, dos rodopios, da disposição para o prazer. Há também o futebol real, que acontece na expectativa de cada partida, na tensão das jogadas extremas, na explosão do gol – evento feliz para uns, tristeza para outros. Da mesma forma, a religião possui uma realidade, que se resume na busca íntima de uma relação privilegiada com a divindade e se realiza socialmente nas comunidades de crentes.
Mas aqui falamos dessas realidades quando passam pelo filtro da mídia, pois é nesse processo que se constrói o simulacro de sociedade através do qual tentamos entender a sociedade em si. Nesse ambiente específico, que funciona como uma outra dimensão da vida, carnaval, futebol e religião sintetizam o gosto brasileiro pelas sensações extremadas, mas são meras alegorias do carnaval, do futebol e da religião reais.
A questão é: quando a mídia interpreta essas alegorias, devolve uma versão distorcida ao campo da realidade, num processo contínuo que, em algum momento, vai provocar rupturas. Na vida real, não no simulacro.
Há muitos exemplos na rotina da imprensa. Na quarta-feira (18/2), podemos apanhar uma reportagem de página inteira publicada pela Folha de S. Paulo para ilustrar esse fenômeno. O assunto é a manchete do jornal, que diz o seguinte: “Impunidade é regra em brigas de torcidas em SP”. O pano de fundo é a partida entre Sport Club Corinthians Paulista e São Paulo Futebol Clube, em torno da qual se discute a conveniência de promover jogos com uma só torcida no estádio.
Estimulando os valentões
O texto faz um apanhado das mortes produzidas em confrontos de torcidas organizadas, no território paulista, para demonstrar que a Justiça não alcança os brigões nem mesmo quando eles produzem vítimas fatais: apenas três torcedores, dos milhares que se envolveram em centenas de casos nos últimos dez anos, estão na cadeia. Todos os três são corintianos, acusados de participar do assassinato de um torcedor do Palmeiras, ocorrido em agosto do ano passado, e estão em prisão preventiva aguardando julgamento.
O último caso grave que resultou em condenação ocorreu em 1995, e colocou um palmeirense na cadeia, em 1998, pela morte de um torcedor do São Paulo. Ele cumpriu pouco mais da metade de uma sentença de doze anos de prisão e foi colocado em liberdade.
A reportagem parece movida pela ótima intenção de alertar as autoridades e dirigentes esportivos para o risco da partida marcada para a noite de quarta-feira, quando Corinthians e São Paulo se defrontam pela primeira vez em um jogo da Copa Libertadores da América. O jogo abre a fase de grupos, e apenas um dos dois times prosseguirá na competição.
Estão dados, portanto, os requisitos para uma disputa acirrada dentro de campo, mas é fora dele que se desenrola o outro enredo, do qual trata o jornal paulista.
O ponto central da reportagem questiona: os organizadores deveriam permitir apenas torcedores do Corinthians, mandante da partida, no estádio? Como a imprensa considera que todo assunto tem apenas dois lados, há um artigo a favor, outro artigo contra a proposta.
Mas a realidade tem outros elementos. A começar da verdadeira dimensão da violência entre torcedores: em dez anos, brigas envolvendo torcidas organizadas no estado de São Paulo provocaram “ao menos onze mortes”, diz o jornal. Ou seja, a letalidade desses conflitos é relativa, comparada a outras causas. Por exemplo, morrem mais pessoas em quatro dias de carnaval do que em um ano com duas partidas de futebol por semana. No entanto, o assunto ganha muita repercussão na mídia e tem valido proveitosas carreiras políticas a autoridades que defendem medidas restritivas à liberdade de expressão e associação.
Há recursos tecnológicos e legais para identificar e controlar os indivíduos propensos à violência, sem estragar o espetáculo do futebol. Outra questão subjacente nasce da própria manchete: ao anunciar que ninguém é punido por causa de brigas entre torcedores, a Folha não estaria estimulando os valentões?
Como se vê, detalhes tão pequenos mostram que a imprensa já não dá conta de retratar a sociedade.

Bob Fernandes discute a "vitória" de Cunha, desejos de impeachment e a amnésia sugestiva da mídia



 Segue o vídeo e a transcrição do comentário do analista político da TV Gazeta Bob Fernandes sobre Eduardo Cunha, os desejos da direita golpista e a amnésia do povo brasileiro sugestionado pela grande mídia comprometida:


A vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e a derrota do governo Dilma têm várias etapas de construção e consequências. Algumas visíveis, e até já vocalizadas.

Note-se: ao topar embarcar no noticiário como se tivesse chance real de vitória, ao alardear que acreditava na vitória, o governo amplificou ainda mais o tamanho da derrota.

E isso em meio às graves crises que se somam: a da economia e a do escândalo na Petrobras, para citar apenas duas já concretas.

Vitória e derrota não devem ser vistas só como reflexo de erros do governo, ou da competência do novo presidente da Câmara em seus movimentos no baixíssimo e no altíssimo clero.

A vitória e a derrota -querendo-se ou não- se inserem em um jogo de encaixes, de lego. De intenções.
Ilimar Franco, de O Globo, conta que em conversa recente com tucanos Serra disse: "Dilma não irá concluir seu segundo mandato".

Fernando Henrique, em artigo para o Estadão no domingo,1, indicou:
-No passado, seriam golpes militares. Não é o caso, não é desejável nem se veem sinais. Resta, portanto, a Justiça.
(Se dê o desconto de ter sido apenas uma infelicidade no fraseado, ou, não tendo sido, pergunte-se: e qual seria "o caso" aceitável para um golpe militar?)
Disse ainda o ex-presidente: "Que tenham a ousadia de chegar até aos mais altos hierarcas".

Vale lembrar: boa parte da cúpula do PT foi investigada, condenada e presa no chamado "mensalão do PT"... enquanto o chamado "mensalão do PSDB" segue impune.

A investigação em curso na Petrobras não poupa partidos DO e NO governo.

Quem roubou que pague. Ponto.

E, a propósito de profecias e desejos, e em nome do futuro, nunca é demais recordar o passado recente.

Ao menos dois fatos, entre muitos outros: a compra de votos para a reeleição do próprio Fernando Henrique não teve CPI, não foi investigada pra valer.

Muito menos, os escandalosos grampos e as denúncias de negociatas na bilionária privatização do sistema telefônico.

Uma coisa é pedir: "Esqueçam o que eu escrevi". Outra, enquanto aponta o dedo para os males do presente, que estão ai, inegáveis, é esperar que todos esqueçam o que fizeram nos verões passados.


domingo, 15 de fevereiro de 2015

Com Eduardo Cunha, sob as bênçãos de Silas Malafaia e similares, a mais reacionária Câmara dos Deputados desde o Golpe de 64 passa a ser super influenciada pela Bancada Evangélica


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

 "Dia do Orgulho Hetero", "Projeto da imposição da Crença Criacionista nas Escolas",  "Projeto da Cura Gay", "Financiamento Público para Igrejas e Eventos Evangélicos", são apenas algumas das temáticas de projetos da cada vez mais poderosa Bancada Evangélica no Congresso Nacional. Boa parte destas aberrações têm o apoio de outros setores ultra-conservadores, com a defesa explícita de nomes como o de Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha, João Campos, etc, etc... 

 Não deixa de ser irônico que as manifestações de junho de 2013, iniciadas por militantes de esquerda mas logo apossada pela direita golpista com incentivo da mídia de olhos nas eleições de 2014, seja uma das principais responsáveis pela deterioração obscurantista do Congresso, onde os reacionários se fortaleceram pela eleição de novos representantes que  seguem o exemplo de Bolsonaros, Felicianos, Cunhas e Cunha Limas,  dentre outros mais. Contudo, o mais aterrador é a associação de direita com elementos fundamentalistas da área da religião institucional, especial os pentecostais, setor altamente influente pela manipulação de fiéis e domínio da mídia.

 É esse um processo, que se iniciou há alguns anos, mas que agora tomou grande impulso, regressivo no solapamento visível do Estado Laico, com táticas  manobras políticas e o máximo de exposição midiática planejada, como mostra, por exemplo, a divulgação da Folha de São Paulo (http://folha.com/no1589350)  da disposição de Eduardo Cunha (evangélico) de entregar a TV Câmara a um partido ligado à Igreja Universal, entre outras ações teocráticas pretendida pelo atual (e controverso) presidente da Câmara que, alias, usando de suas atribuições de Deputado pelo PMDB-RJ, lançou o portal Jesus.com, rede social para evangélicos, como se pode conferir no link http://uol.com/bfczKw . O projeto de Lei do "Dia do Orgulho Hetero", lembremos, é dele (veja a materia do Estadão sobre este tema clicando aqui).

 A eleição de Eduardo Cunha, que é um dos políticos com mais processos na Câmara, para presidência da casa não se deveu, contudo, apenas por sua explícita vinculação com os "ideais" da bancada evangélica, mas por ser, na prática e apesar de seu partido posar de aliado de Dilma, um feroz antagonista do governo e de qualquer outro partido e movimento social progressista. Exemplo sintomático de sua tendenciosidade à direita é o fato de que, surfando na mídia, após aprovar mais uma CPI para investigar a Petrobrás, Cunha também proibiu que as investigações cheguem à época de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e dos governos anteriores (clique aqui para mais informações), quando todos os documentos e a memória mostram que FHC, usando a expressão do jurista Bandeira de Mello sobre o caso, na preparação que fazia para privatizar a estatal com o nome de Petrobrax,"pôs a raposa no galinheiro" (veja o que diz o jurista Celso Bandeira de Mello sobre isto clicando aqui).

 Como afirma Cynara Menezes, 


"Os fundamentalistas estão tomando de assalto a câmara dos deputados do brasil com a cumplicidade da oposição e da mídia. 'Cria cuervos y te sacarán los ojos'. faz tempo que estou advertindo para o desamor pelo país de quem alimenta essa gente, apenas para ser contra o PT. Hoje teve culto na igreja pentecostal, ops, Câmara. Assim sendo, viva o estado laico".


  Num Estado Laico, que respeita as religiões mas não se associa a elas, nem muito menos em uma área interpretativa de cunho religioso, todo poder emana da vontade do ser humano, ao bem do ser humano, em sua variedade de manifestações, expressões culturais e crenças. Tal poder deve ser exercido em prol do bem comum a partir do conhecimento e reconhecimento das necessidades humanas e não da ideia interpretativa e sempre parcial que se tenha sobre a vontade dos deuses ou dos seus pretensos representantes ou intérpretes.

  O que caracteriza, portanto, um real Estado Laico voltado para o bem das pessoas, sem distinções de credo, cor, raça, não são apenas a garantia da liberdade de consciência, que inclui a religiosa, e a inexistência formal de relações entre esferas governamental igrejas, evitando o tráfico de influência e abusos de poder, mas também a vigência de medidas protetivas da democracia, o que inclui o acesso e diversidade da mídia, a diversidade de pensamento e  regras e normas eficazes que proíbam qualquer tipo de influência das crenças na atividade política e administrativa do país.

  Não é que o que está acontecendo. Pelo contrário, o plano de poder da bancada evangélica é não apenas a de influenciar a atividade legislativa, como o de efetuar táticas de expansão ideológica em todas os setores sociais a partir da consolidação do Poder político em todas as esferas, do executivo ao judiciário, e em todos os níveis, do municipal ao federal. Na prática, o que há é uma tentativa de imposição de uma forma de teocracia patriarcal conservadora e elitista, calcada numa forma igualmente arcaica de interpretar a Bíblia (com ênfase no Antigo Testamento). Pior, muitas das atitudes dos pretensos "salvos salvadores" bate de frente com quase tudo o que Jesus ensina nos evangelhos, a começar pela humildade, ação social, fraternidade, a coerência,  o não julgamento e o amor aos excluídos.

 Para onde caminha um país onde o Estado Laico é destroçado e a política é retomada por conservadores e reacionários em que parte é constituida por fundamentalistas? A resposta está escancarada nas propostas esdruxulas destes....

 Vejamos mais alguns projetos de Lei de políticos da Bancada Evangélica no Congresso e nas Assembéias Legislativas estaduais desde há alguns anos:

- Projeto de Resolução que determinada obrigatoriedade de leitura de versículo bíblico antes de cada sessão na Câmara dos Deputados (PRC 4/1999) e no Senado Federal (PRS 10/2007)
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=21630
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=80322

- Projeto de Lei (873/1999) que obriga leitura de versículos bíblicos antes de cada aula nas escolas públicas de SP
http://webspl1.al.sp.gov.br/internet/download?poFileIfs=2480350&%2F01_0873_1999_2480350.tif%22

- Projeto de Lei (256/2011) que obriga todos estabelecimentos de ensino (públicos e privados) do Estado de SP a fixar crufixos em local e em tamanho de fácil visualização, em área de circulação.
http://webspl1.al.sp.gov.br/internet/download?poFileIfs=22010914&%2Fpl256.doc%22

- Emenda ao projeto de lei acima obrigando também os estabelecimentos de ensino públicos e privados de SP a exporem uma Bíblia em cima da mesa de cada sala de aula.
http://webspl1.al.sp.gov.br/internet/download.do?poFileIfs=22041287&%2Fsl49.doc

-- Projeto de Lei (PL 7924/2010) que determina que só terão validade legal os casamentos celebrados por instituições religiosas.
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=487034

- Projeto de Lei (PL 1021/2011) que institui o "Programa Nacional PAPAI DO CÉU NA ESCOLA"
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=498262


- Projeto de Lei (1118/99) que obriga os alunos das escolas estaduais de ensino fundamental do Rio de Janeiro a lerem versículos bíblicos antes do início de cada aula.
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/scpro99.nsf/7e242f7bd3a467e0832567040007cc4c/af42e840d81975b703256827006a8f09?OpenDocument

- Lei 5.998/2001, sancionada pelo governador Sergio Cabral, que obriga todas as bibliotecas do Rio de Janeiro a manterem exemplares da Bíblia, sob pena de multa.
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contlei.nsf/b24a2da5a077847c032564f4005d4bf2/32a52ee9566e214b832578c3005b1acf?OpenDocument

- Projeto de Lei (279/1999) que obriga as concessionárias de serviços públicos no Estado do Rio de Janeiro a imprimirem a inscrição "DEUS SEJA LOUVADO" de forma clara e legível na parte frontal das contas mensais de serviços prestados.
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/scpro99.nsf/d61c4dc8418f55d1832567040007cc4b/3bd437f6301b674d0325674d00734e6a?OpenDocument&CollapseView

- Projeto de Lei (11.867/2011) inclui a Bíblia como material escolar fornecido pela prefeitura de Maringá/PR e institui a Semana Interdisciplinar de Estudos Bíblicos na Rede Municipal de Ensino.
http://sapl.cmm.pr.gov.br:8080/sapl_site/sapl_skin/consultas/materia/materia_mostrar_proc?cod_materia=6169


 Para encerrar, vejamos o que diz, sobre tal estado de coisas, o seguinte artigo de David Ayrolla, extraído do site "Papo de Primata", na seção "dialética":

A Câmara nas garras do fundamentalismo


POR DAVID AYROLLA · 12 DE FEVEREIRO DE 2015

Mal esquentou a cadeira da presidência da Câmara dos Deputados, e o Deputado Federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), membro da bancada evangélica, já mostrou ao que veio: seguindo a cartilha teocrática da bancada da qual faz parte, em poucos dias o parlamentar já se posicionou de forma veemente contra liberdades individuais contrárias aos dogmas da sua crença, atuou no sentido de impedir avanços nos direitos dos homossexuais e maculou a casa legislativa que preside com um ritual religioso.

Quando alertei para o risco da ascensão dos fundamentalistas no meu vídeo “A Ameaça das Bancadas Religiosas”, em julho de 2013, expliquei que o plano dos parlamentares teocratas se baseia na tomada de poder paulatinamente. Um projeto de lei aqui, um deputado a mais sendo eleito acolá, e tanto a influência dos evangélicos aumentará, como seus arroubos anti-laicistas passarão a ser vistos com mais condescendência. A chegada de um deputado com o perfil de Cunha na presidência da Câmara é um passo importante neste ameaçador avanço da frente teocrática.

Nesta segunda-feira, 9, Eduardo Cunha, que foi eleito para o cargo com apoio maciço da bancada evangélica, declarou-se radicalmente contra a votação de qualquer projeto de legalização do aborto no Brasil. O fervor com que promete combater qualquer tentativa de salvar a vida de centenas de mulheres que morrem anualmente no país em clínicas de aborto clandestinas foi escancarado com uma declaração bem ao gosto dos correligionários apreciadores de discursos inflamados: “Vai ter que passar por cima do meu cadáver para votar”.

No dia seguinte, Cunha ainda teve fôlego para mais uma vez manifestar seu total desprezo à laicidade constitucional, ao criar uma comissão especial com o objetivo de acelerar a tramitação de um projeto que reconhece como família apenas os núcleos sociais formados da união de um homem e de uma mulher, o famigerado “Estatuto da Família” – que visa, obviamente, impedir que a união de casais homoafetivos possa ser considerada como uma família. A motivação religiosa deste retrocesso social é evidente, e Eduardo Cunha aqui faz o papel de raposa que tem a responsabilidade de tomar conta do galinheiro.

Na manhã do mesmo dia, o presidente da Câmara participou de um culto organizado pelo presidente da bancada evangélica, Deputado João Campos (PSDB‬-GO). “Não vou abrir mão dos meus princípios cristãos pelo fato de estar na presidência da Câmara.”, disse Cunha. Nenhum problema com o direito do deputado exercer seu direito à religiosidade. O problema é que o culto, mais uma vez, ocorreu nas dependências da Câmara dos Deputados. Ou seja, instalações públicas que deveriam ser utilizadas com fins bem diferentes da execução de cerimônias religiosas. Cabe a pergunta: a bancada aceitaria que o mesmo espaço fosse reservado, em algum dia da semana, para práticas de rituais religiosos de umbanda, por exemplo?

A verdade é que Eduardo Cunha é um legítimo representante, não do povo, mas da bancada evangélica. E como grande parte da mesma, tem pecados a serem expurgados com a justiça! Cunha responde a um inquérito no STF por crimes contra a ordem tributária, e a outras ações por crime de improbidade administrativa.

Típico!


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Em prol dos interesses de uma classe elitista dominante, nacional e internacional, o movimento neoliberal golpista joga o bem comum no limbo



 "As atuais discussões políticas no Brasil em meio a uma ameaçadora crise hídrica e energética se perdem nos interesses particulares de cada partido. Há uma tentativa articulada pelos grupos dominantes, por detrás dos quais se escondem grandes corporações nacionais e multinacionais, a midia corporativa e, seguramente, a atuação do serviços de segurança do Império norte-americano, de desestabilizar o novo governo de Dilma Rousseff. Não se trata apenas de uma feroz critica às políticas oficiais mas há algo mais profundo em ação: a vontade de desmontar e, se possível, liquidar o PT que representa os intersses das populações que historicamente sempre foram marginalizadas."

Segue artigo de Leonardo Boff sobre o golpismo em marcha no Brasil:

O bem comum foi enviado ao limbo


 As atuais discussões políticas no Brasil em meio a uma ameaçadora crise hídrica e energética se perdem nos interesses particulares de cada partido. Há uma tentativa articulada pelos grupos dominantes, por detrás dos quais se escondem grandes corporações nacionais e multinacionais, a midia corporativa e, seguramente, a atuação do serviços de segurança do Império norte-americano, de desestabilizar o novo governo de Dilma Rousseff. Não se trata apenas de uma feroz critica às políticas oficiais mas há algo mais profundo em ação: a vontade de desmontar e, se possível, liquidar o PT que representa os intersses das populações que historicamente sempre foram marginalizadas. Custa muito às elites conservadores aceitarem o novo sujeito histórico – o povo organizado e sua expressão partidária – pois se sentem ameaçadas em seus privilégios. Como são notoriamente egoistas e nunca pensaram no bem comum, se empenham em tirar da cena essa força social e política que poderá mudar irreversivelmente o destino do Brasil.

 Estamos esquecendo que a essência da política é a busca comum do bem comum. Um dos efeitos mais avassaladaores do capitalismo globalizado e de sua ideologia, o neo-liberalismo, é a demolição da noção de bem comum ou de bem-estar social. Sabemos que as sociedades civilizadas se constroem sobre três pilastras fundamentais: a participação (cidadania), a cooperação societária e respeito aos direitos humanos. Juntas criam o bem comum. Mas este foi enviado ao limbo da preocupação política. Em seu lugar, entraram as noções de rentabilidade, de flexibilização, de adaptação e de competividade. A liberdade do cidadão é substituida pela liberdade das forças do mercado, o bem comum, pelo bem particular e a cooperação, pela competição.

  A participação, a cooperação e os direitos asseguravam a existência de cada pessoa com dignidade. Negados esses valores, a existência de cada um não está mais socialmente garantida nem seus direitos afiançados. Logo, cada um se sente constrangido o garantir o seu: o seu emprego, o seu salário, o seu carro, a sua família. Impera o individualismo, o maior inimigo da convivência social. Ninguém é levado, portanto, a construir algo em comum. A única coisa em comum que resta, é a guerra de todos contra todos em vista da sobrevivência individual.

  Neste contexto, quem vai implementar o bem comum do planeta Terra? Em recente artigo da revista Science (15/01/2015) 18 cientistas elencaram os nove limites planetários (Planetary Bounderies), quatro dos quais já ultrapassados: o clima, ia ntegridade da biosfera, o uso da solo, os fluxos biogeoquímicos (fósforo e nitrogênio). Os outros encontram-se  em avançado grau de erosão. Só a ultrapassagem desses quatro, pode tornar a Terra menos hospitaleira para milhões de pessoas e para a biodiversidade. Que organismo mundial está enfrentando essa situação que detrói o bem comum planetário?

  Quem cuidará do interesse geral de mais de sete bilhões de pessoas? O neoliberalismo é surdo, cego e mudo a esta questão fundamental como o tem repetido como um ritornello o Papa Francisco. Seria contraditório suscitar o tema do bem comum, pois o neoliberalismo defende concepções políticas e sociais diretamente opostas ao bem comum. Seu propósito básico é: o mercado tem que ganhar e a sociedade deve perder. Pois é o mercado que vai regular e resolver tudo. Se assim é por que vamos construir coisas em comum? Deslegitimou-se o bem-estar social.

 Ocorre, entretanto, que o crescente empobrecimento mundial resulta das lógicas excludentes e predadoras da atual globalização competitiva, liberalizadora, desregulamentora e privatizadora. Quanto mais se privatiza mais se legitima o interesse particular em detrimento do interesse geral. Como mostrou em seu livro Thomas Piketty, O Capitalismo no século XXI quanto mais se privatiza, mais crescem as desigualdades. É o triunfo do killer capitalismo. Quanto de perversidade social e de barbárie aguenta o espírito? A Grécia veio mostrar que não aguenta mais. Recusa-se a aceitar do diktat dos mercados, no caso, hegemonizados pela Alemanha de Merkel e pela França de Hollande.

  Resumindo: que é o bem comum? No plano infra-estrutural é o acesso justo de todos à alimentação,à saúde, à moradia, à energia, à segurança e à cultura. No plano social e cultural é o reconhecimento, o respeito e a convivência pacífica. Pelo fato de sob a globalização competitiva foi desmantelado, o bem comum deve agora ser reconstruído. Para isso, importa dar hegemonia à cooperação e não à competição. Sem essa mudança, dificilmente se manterá a comunidade humana unida e com um futuro bom.

  Ora, essa reconstrução constitui o núcleo do projeto político do PT originário e de seus afins ideológicos. Entrou pela porta certa: Fome Zero depois transformada em várias políticas públicas de cunho popular. Tentou colocar um fundamento seguro: a repactuação social a partir dos valores da cooperação e a boa-vontade de todos. Mas o efeito foi fraco, dada a nossa tradição individualista a patrimonialista.

  Mas no fundo vigora esta convicção humanística de base: não há futuro a longo prazo para uma sociedade fundada sobre a falta de justiça, de igualdade, de fraternidade, de respeito aos direitos básicos, de cuidado pelos bens naturais e de cooperação. Ela nega o anseio mais originário do ser humano desde que emergiu na evolução, milhões de anos atrás. Quer queiramos ou não, mesmo admitindo erros e corrupção, o melhor do PT articulou e articula esse anseio ancestral. É a partir daí que pode se resgatar, se renovar e alimentar sua força convocatória. Se não for o PT serão outros atores em outros tempos que o farão.

 Cooperação se reforça com cooperação que devemos oferecer incondicionalmente.Sem isso viveremos numa sociedade que perdeu sua altura humana e regride ao regime dos chimpanzés.

  Leonardo Boff é colunista do JBonline, teólogo, filóaofo e escritor.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A decadência da civilização ocidental: Antonio Abujamra narra adaptação de um texto de Martin Heidegger


Segue um vídeo onde o ator Antônio Abujamra cita uma adaptação de uma reflexão do filósofo alemão Martin Heidegger sobre a decadência mecanicista da civilização ocidental




Em homemagem ao Encontro da Nova Consciência, de Campina Grande, um vídeo a favor da fraternidade, ecumenismo e partilha e crítico do fundamentalismo exclusivista

 



   Segue um excelente vídeo de Altay Veloso e outros, que destaca a pérola linda de todas as vertentes espirituais e critica o fundamentalismo esclusivista que buscam deter Deus e o espírito em "verdades" limitadas, exclusivistas, a serem impostas pela violência a quem pensa diferente.... Vídeo em homenagem ao ecumênico, dialógico, fraterno e realmente Cristão Encontro da Nova Consciência, de Campina Grande, Paraíba.

Alabê de Jerusalém - Os Intolerantes - Altay Veloso



OS INTOLERANTES

"Ah, meu Deus! Assisto com muita tristeza a pena da aspereza dilacerando a beleza de uma linda sinfonia. A aguarrás de juizes, ciumentos inflexíveis, descolorindo as matizes de uma linda pintura, só porque não gostam da assinatura?"

"E vai com uma bailarina, com a inocência de menina, dançando em volta do sol, a Grande Mãe Terra. Enquanto muitas nações, governos, religiões ensaiam a dança da guerra."

"Na verdade a bola azul quase nunca foi amada; é sempre penalizada. Tem um trabalho enorme, dedicação e talento para preparar a mistura, juntar os seus elementos para dar forma às criaturas, e elas, depois de paridas, desconhecem a matriarca e dizem, mal agradecidas: que a carne é fraca."

"E quando o planeta gera um Avatá, um iluminado assim como o Nazareno, tem logo quem se apresenta com conhecimento profundo e diz logo: não é desse mundo, só pode ser extraterreno."

"Ah, é difícil entender porque é que o homem, até hoje, cospe no prato que come. Algumas religiões, não sei por qual motivo, dizem que a Terra é um território com vocação pra purgatório, não passa de sanatório... E que nós só seremos felizes longe dela, bem distante, lá onde os delirantes chamam de paraíso."


"Olha, eu vou dizer de coração. Na minha simples, dia após dia, me perdoem a liberdade, mas religião de verdade, mais parecida com a que Jesus queria, talvez seja sentimento de ecologia. Para esse sentimento não tem fronteiras e só reza um mandamento: preservação das espécies com urgência, sem adiamento."

"Hoje, ela pensa nas plantas, nos rios, no mar, nos bichos. Amanhã, com certeza, com a mesma dedicação e capricho, pensará com muito cuidado nos meninos abandonados."

"Ah, se ela tivesse mais força para sustentar sua zanga, evitaria, com certeza a fome cruel de Ruanda. Não tinha maturidade, ainda era uma menina, quando a impertinência sangrou, com a bola de fogo, a pobre Hiroshima. Mas ela cresce, se instala como uma prece no coração das crianças. Tenho muitas esperanças..."

"Eu tenho toda a certeza que nosso planeta um dia, mesmo cansado, exausto, terá toda a garantia e guardado por uma geração vigia, nunca mais verá a espada fria no Holocausto."

"A intolerância, repito, é a mais triste das doenças. Não tem dó, não tem clemência. Deixa tantas cicatrizes nas pessoas, nos países, até as religiões, guardiãs da Luz Celeste, abandonam seus archotes para empunhar cassetete. E o que, na verdade, refresca o rosto de Deus, é um leque, que tem uma haste de Calvino e outra de Alan Kardec."

"Na outra haste, as brisas, que vêm das terras de Shivas, são uma, dos franciscanos, e outra, dos beduínos. Não precisa ir muito longe... Jesus nasce entre os rabinos."

"Às vezes corações que crêem em Deus, são mais duros que os ateus. E jogam pedra sobre as catedrais dos meus deuses Yorubás. Não sabem que a nossa terra é uma casa na aldeia, religiões na Terra são archotes que clareiam."

DE ALTAY VELOSO

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Leonardo Boff escreve sobre o fundamentalismo do Ocidente



"Predominante é o fundamentalismo islâmico. Mas há também uma onda de fundamentalismo especialmente na França e na Alemanha onde comparecem fortemente a xonofobia, a islamofobia, o antiseminitismo. Os vários atentados da al-Qaeda e de outros grupos jihadistas alimentam esse sentimento que desumaniza a todos: as vítimas e os causadores das vítimas."
Fundamentalismo do Ocidente e do Extremo Ocidente


Leonardo Boff


Predominante é o fundamentalismo islâmico. Mas há também uma onda de fundamentalismo especialmente na França e na Alemanha onde comparecem fortemente a xonofobia, a islamofobia, o antiseminitismo. Os vários atentados da al-Qaeda e de outros grupos jihadistas alimentam esse sentimento que desumaniza a todos: as vítimas e os causadores das vítimas. Podemos compreender os contextos globais que subjazem à violência terrorista (o terror das guerra do Ocidente levadas ao Oriente Médio), mas jamais, por nenhum motivo, aprová-la por seu caráter criminoso.
Radical é o fundamentalismo em vários grupos do Islam, criando um novo tipo de guerra: o terrorismo. Atualmente é ofensivo acusar alguém de fundamentalista. Geralmente só os outros são fundamentalistas, esquecendo, não raro, que quem acusa também vive numa cultura de raiz fundamentalista. É sobre isso que quero me deter rapidamente, mesmo irritando não poucos leitores e leitoras. Refiro-me ao fundamentalismo presente em amplos setores do Ocidente e do Extremo Ocidente (as Américas).
Historicamente o fundamentalismo que já pre-existia, ganhou corpo no protestantismo norte-americano entre 1890 e 1915 quando um grupo de pastores publicou uma coleção de 12 fascículos teológicos com o título Fundamentals: a testimony of the Thruth (Fundamentos: um testemunho da verdade). Ai se afirmava o caráter absoluto das verdades de fé, contra a secularização, fora da quais só poderia haver erro. Esse fundamentalismo perdura ainda hoje em muitas denominações critãs e em setores do catolismo conservador à la Lefbvre.
Diria com certo exagero, mas nem tanto que o fundamentalismo é uma das doenças crônicas do Ocidente e também do Extremo Ocidente (USA) e das mais deletérias. É tão arraigado que virou inconscinte mas bem expresso pelo político mais hilário e grosseiro da Europa, Silvio Berlusconi que declarou ser a civilização ocidental a melhor do mundo e, por isso, a ser imposta a todos. Cito dois tipos de fundamentalismo: um religioso e outro politico.
O cristianismo de versão romano-católica foi por séculos a ideologia hegemônica da sociedade ocidental, do “orbis catholicus”. Nesta lógica vejam o absolutismo de dois Papas, uma expressão clara de fundamentalismo religioso.
O Papa Alexandre VI (1492-1503) pela bula Inter Caetera destinada aos reis de Espanha determinava:”Pela autoridade do Deus todo-poderoso a nós concedida em São Pedro, assim como do vicariato de Jesus Cristo, vos doamos, concedemos e entrregamos com todos os seus domínios, cidades fortalezas, lugares e vilas, as ilhas e as terras firmes achadas e por achar”. Isso foi tomado a sério e legitimou a colonização espanhola com a destruição de etnias, culturas e religiões ancestrais.
O Papa Nicolau V (1447-1455) pela bula Romanus Pontifex dirigida aos reis de Portugal é ainda mais arrogante:”Concedo a faculdade plena e livre para invadir, conquistar, combater, vencer e submeter a quaisquer sarracenos e pagãos em qualquer parte que estiverem e reduzir à servidão perpétua as pessoas dos mesmos”. Também essa faculdade foi exercida no sentido de “dilatar a fé e o império” mesmo à custa da dizimação de nosos indígenas (eram 6 milhões) e a devastação de nossas florestas.
Esse versão religiosa ganhou uma tradução secular nos colonizadores que praticavam tal terror sobre os povos. Mas ela subsiste ainda hoje; basta ver como  a Alemanha de Merkel e a França de Hollande tratam a humilhada Grécia junto com a Troika. Julgam-se senhores do destino do povo grego, obrigando-o a pagar uma dívida impagável até o juizo final (170% acima do PIB). Temos a ver com um tipo de  fundamentalismo, o do neoliberalismo econômico com a expressão:TINA:There is No Alternative: não há outra alternativa. Quem decide que não há? Os bancos? Os governos? O povo?
Lamentavelmente essa versão absolutista foi ressuscitada por um controvertido documento do então Card. Joseph Ratzinger, Dominus Jesus (2001) onde reafirma a idéia medieval de que fora da Igreja não há salvação. Os demais estão em situação de risco face à salvação eterna.
A versão religiosa acima ganhou expressão política pelo Destino Manifesto dos USA. Esta expressão foi cunhada em 1845 pelo jornalista John O’Sullivan para justificar o expansionismo norte-americano como a anexação de parte do México. Em 1900 o senador por Indiana, Albert Beveridge explicava:”Deus designou o povo norte-americano como nação eleita para dar início à regeneração do mundo”. Outros Presidentes especialmente George W. Bush se remetiram a essa pretensiosa exclusividade. Ela justificou guerras de conquista especialmente no Oriente Médio. Parece que em Barak Obama ela não está totamente ausente.
Em resumo concentrado: os dois Ocidentes imaginam-se os melhores do mundo: a melhor religião, a melhor forma de governo, a melhor tecno-ciência, a melhor cosmovisão. Isso constitui uma forma de fundamentalismo que sugnifica: fazer de sua verdade a única e impo-la aos demais. Essa arrogância está presente no consciente e no subconsciente dos ocidentais. Graças a Deus, criou-se também um antídoto: a auto-crítica sobre os males que esse fundamentalismo tem trazido para a humanidade e para a relação com a natureza. Mas não é compartilhado pela coletividade.
Vale a frase do grande poeta espanhol Antonio Machado: ”Não a tua verdade. A verdade. Vem comigo buscá-la. A tua, guarde-a”. Se a buscarmos juntos, no dialogo e na cordialidade, então mais e mais desaparece a minha verdade para dar lugar a Verdade comungada por todos. E assim se pode, quem sabe, limitar o fundamentalismo no mundo nos dois Ocidentes.
Leonardo Boff é colunista do JBonlie e escreveu: Fundamentalismo, terrorismo, religião e paz, Vozes 2009.