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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Em tempos do retorno da alienação, Eduardo Cunha inaugurou a política do "coitadismo evangélico"


     "Se alguém prega intolerância e preconceito, é natural que sofra alguma rejeição ou, no mínimo, receio por parte de quem não professa a mesma fé ou tem um pouco de juízo. A vontade de levar o Brasil à Idade Média tem a assinatura dos evangélicos e isso precisa ser dito de maneira clara. Isso não é discriminação, mas chamar as coisas pelo nome que elas têm."


  Segue texto de Kiko Nogueira, extraído do Diário do Centro do Mundo:

  “Isso é discriminação pura”: Eduardo Cunha inaugurou o coitadismo evangélico


  Eduardo Cunha inaugurou a onda do coitadismo evangélico.

  O presidente da Câmara enfiou a mão em sua cartola para ressuscitar iniciativas caras à bancada religiosa, mas vê — ou diz que vê — discriminação na maneira como isso é noticiado.

  Cunha desarquivou um projeto em defesa da heterossexualidade, que embute uma palhaçada chamada Dia do Orgulho Hetero, e autorizou uma comissão para discutir um “Estatuto da Família” — que defende que a célula familiar é formada apenas por homem e mulher e pode resultar no veto à adoção de crianças por casais gays.

  O velho e mau Marco Feliciano trouxe de volta de seu mundo escuro uma proposta para tornar obrigatório o ensino do criacionismo na educação básica. Feliciano e colegas acham fundamental que crianças sejam expostas a uma picaretagem.

 O grupo dos evangélicos tem 80 dos 513 deputados. Virtualmente todos os candidatos à presidência e aos governos pagaram pedágio nas igrejas. O Brasil teve, pela primeira vez, uma candidata crente, Marina Silva, assembleísta com muito orgulho, com muito amor.

 No entanto, Cunha quer que se acredite numa perseguição. “É muito estranho só falarem da recriação das comissões pedidas por deputados evangélicos. Já é absurdo carimbarem quando é deputado evangélico”, escreveu no Twitter.

 “Ninguém fala deputado católico, espírita etc. Mas fala sempre evangélico quando ele é evangélico. Isso é discriminação pura e agride a laicidade do Estado”.

 É isto uma inversão extraordinária. O mimimi esconde o contrário: a ofensiva de Eduardo Cunha e seus pares justamente contra a laicidade.

 Não se fala em parlamentar católico, judeu, ateu, umbandista ou espírita simplesmente porque não existe uma bancada organizada para eles e, mais do que isso, uma agenda específica.

 Os fundamentalistas deveriam parar de subverter a liberdade religiosa alheia e cessar seus esforços para utilizar o poder no sentido de impor seus dogmas. A conversa de martirização não é apoiada pelos fatos.

 Se alguém prega intolerância e preconceito, é natural que sofra alguma rejeição ou, no mínimo, receio por parte de quem não professa a mesma fé ou tem um pouco de juízo. A vontade de levar o Brasil à Idade Média tem a assinatura dos evangélicos e isso precisa ser dito de maneira clara. Isso não é discriminação, mas chamar as coisas pelo nome que elas têm.


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Sobre o Autor

Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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