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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Elogio da Dialética



A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração:
isto é apenas o meu começo.
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.
Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
Quem, pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há ai que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje. 
Bertolt Brecht

Dom Héder Câmara e a melhor maneira de ajudar o próximo...

A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar.

Dom Hélder Câmara


Berthold Brecht: "Nunca digam que isso é natural!"




Nós vos pedimos com insistência:
Não digam nunca: "isso é natural!"
Diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão.
Em que corre o sangue,
Em que se ordena a desordem,
Em que o arbitrário tem força da lei,
Em que a humanidade se desumaniza,
Não digam nunca: isso é natural!

Bertolt Brecht 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

É preciso sonhar




Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanha pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina."

Paul Freire (1921-1997)

domingo, 25 de dezembro de 2011

Mídia constrangida pela Privataria Tucana tenta defender o PSDB e continuar a ser o Quarto Poder


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

"No Brasil, a blogosfera e as redes sociais ajudaram a quebrar o silêncio. Para a velha mídia, o livro “A Privataria Tucana” não existia. Depois, passou a existir, em matérias feitas para defender Serra e seus amigos. Os documentos e informações a mostrar o caminho suspeito do dinheiro por paraísos fiscais caribenhos não despertou interesse dos jornais e TVs brasileiros",  escreveu o analista Rodrigo Viana em seu blog "O Escrivinhador".

  Mas este arremedo de operação abafa feito pela mídia pró-tucanagem não atingiu a Argentina, onde o livro A Privataria Tucana foi capa do jornal "Página 12". Lá, em manchete, estava escrito:

El jueves 15, el diario Folha de Sao Paulo, ligado a Serra, publicó una nota sobre el tema, destacando las declaraciones de los acusados que buscan descalificar al periodista y sus denuncias”. 
  Esta mesma fórmula, apontada pelo jornal argentino, de tentar desqualificar o trabalho documentado do autor e jornalista Amaury Ribeiro Júnior foi seguido com maior virulência por todos os periódicos paulistas ligados ao PSDB, como a Veja (como era de se esperar) e a Revista Época e a rádio CBN (ambas da Globo). A mesma mídia que estava a todo tempo buscando indícios para atacar Dilma através de seus ministros, no entanto, demorou a mostar as garras no evento do lançamento do livro A Privataria Tucana e quando o fez, o fez timidamente em um tom de desprezo e sarcasmo.

 O tom clientelista de dois pesos e duas medidas da mídia paulista na questão do livro A Privataria Tucana não passou desapercebido ao histoiriador Túlio Muniz. Em um artigo, composto em Portugal para o Observatório da Imprensa, em certa altura ele escreve:

Fora do foco das redes e TV e dos jornalões, o lançamento e consequente repercussão do livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr, provavelmente o maior fenômeno editoral do ano (80 mil exemplares tirados e praticamente vendidos em uma semana), é também símbolo da importância de veículos credíveis de imprensa (Carta Capital e Record). Sobretudo, é prova da irreversível penetração da internet na sociedade, legando ao vexame público jornais e jornalistas ávidos por escândalos, desde que não contrariem os interesses de seus patrões e/ou de patrocinadores de iniciativas e de suas publicações e projetos pessoais.
A imprensa europeia não é imune ao controle por parte do mercado, mas não zomba da inteligência do público, tampouco prescinde da presença de intelectuais em suas páginas – diariamente, e não a conta-gotas semanais, prescrição comum no Brasil (mesmo em certo jornalismo universitário), cuja imprensa é inimiga do pensamento.

A Privataria Tucana e sua desconsideração evidenciam a estratégia orquestrada de poder dos grupos privados de comunicação de massa. O silêncio para com o “concorrente” (aspas, pois aqui não se trata de concorrência, e sim, de aliado cartelista) ocorre para não promover o hipotético adversário de mercado, mas para também, e sobretudo, legitimar o próprio silêncio em torno de assunto que contrarie os interesses do cartel (não confundir com “máfia”, apesar das semelhanças).
 Grosseiramente invisibilizado pela mídia convencional, A Privataria Tucana demonstra como o cartel foi assimilado pela grande(?) mídia nacional não só em termos de disputa mercado, mas também de negação de um imaginário já consolidado entre a população, que lhe presta assistência e audiência mas não mais se deixa guiar acriticamente como há duas décadas. Lembremos da reeleição de Lula em 2006: sob massacre e bombardeio da mídia cartelista, ele não só venceu o segundo turno como seu adversário (Geraldo Alckmin) teve menos votos que obtivera no primeiro. Portanto, o caso de A Privataria Tucana não é o primeiro. Será o último?

Reproduzo, agora, trecho de um artigo de Inês Nassif publicado na revista Carta Capital sobre o assunto:


  Mais sorte que arte, a (próxima) reforma ministerial começa no momento em que a grande mídia, que derrubou um a um sete ministros de Dilma, se meteu na enrascada de lidar com muito pouca arte no episódio do livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Passou recibo numa denúncia fundamentada e grave. Envolve venda (ou doação) do patrimônio público, lavagem de dinheiro – e, na prática, a arrogância de um projeto político que, fundamentado na ideia de redução do Estado, incorporou como estratégia a “construção” de uma “burguesia moderna”, escolhida a dedo por uma elite iluminada, e tecida especialmente para redimir o país da velha oligarquia, mas em aliança com ela própria. Os beneficiários foram os salvadores liberais, príncipes da nova era. O livro “Cabeças de Planilha”, de Luís Nassif, e o de Amaury, são complementares. O ciclo brasileiro do neoliberalismo tucano é desvendado em dois volumes “malditos” pela grande imprensa e provado por muitas novas fortunas. Na teoria. Na prática, isso é apenas a ponta do iceberg, como disse Ribeiro Jr. no debate de ontem (20), realizado pelo Centro de Estudos Barão de Itararé, no Sindicato dos Bancários: se o “Privataria” virar CPI, José Serra, família e amigos serão apenas o começo.


  A “Privataria” tem muito a ver com a conjuntura e com o esporte preferido da imprensa este ano, o “ministro no alvo”. Até a edição do livro, a imprensa mantinha o seu poder de agendamento e derrubava ministros por quilo; Dilma fingia indiferença e dava a cabeça do escolhido. A grande mídia exultou de poder: depois de derrubar um presidente, nos anos 90, passou a definir gabinetes, em 2011, sem ter sido eleito e sem participar do governo de coalizão da mandatária do país. A ideologia conservadora segundo a qual a política é intrinsicamente suja, e a democracia uma obra de ignorantes, resolveu o fato de que a popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizimou a oposição institucional, em 2010, e a criação do PSD jogou as cinzas fora, terceirizando a política: a mídia assumiu, sem constrangimentos, o papel de partido político. No ano de 2011, a única oposição do país foi a mídia tradicional. As pequenas legendas de esquerda sequer fizeram barulho, por falta de condições, inclusive internas (parece que o P-SOL levou do PT apenas uma vocação atávica para dissidências internas; e o PT, ao institucionalizar-se, livrou-se um pouco dela – aliás, nem tanto, vide o último capítulo do livro do Amaury Ribeiro Jr.).


  Quando a presidenta Dilma Rousseff começar a escolher seus novos ministros, e se fizer isso logo, a grande mídia ainda estará sob o impacto do contrangimento. Dilma ganhou, sem imaginar, um presente de Papai Noel. A imprensa estará muito menos disposta a comprar uma briga durante a CPI da Privataria – quer porque ela começa questionando a lisura de aliados sólidos da mídia hegemônica em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, quer porque esse tema é uma caixinha de surpresas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A normalidade para Carl Gustav Jung



"Ser 'normal' é provavelmente a coisa mais útil, menos complicada e conveniente com que podemos aspirar; mas a noção de 'humano normal', tal como a conceituação de adaptação, implica reduzir-se à média (...). Ser 'normal' é o ideal dos que fracassam, daqueles que ainda se encontram abaixo no nível geral de adaptação. Mas para quelas pessoas dotadas de capacidades acima da média, que não encontram dificuldades em obter êxitos e em realizar sua quota-parte de trabalho no mundo, para essas pessoas a compulsão moral a não serem mais que pessoas normais representa o leito de Procustro: mortal e insuportável fastio, um inferno de esterelidade e desespero".

Carl Gustav Jung (1875-1961)


A lição obscurantista do Encontro da Consciência "Cristã"

 


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

  Em época de avanço da mediocridade e da superficialidade de venda fácil, o campo da religião se mostrou propício para o enriquecimento rápido de picaretas e manipuladores de consciência das pessoas simples que se deixam levar por promessas fáceis e ensaiadas em um roteiro de dizeres ao estilo auto-ajuda...

  Ao invés da reflexão espiritual que leve à maturidade humana, à tolerância e ao respeito do próximo, o que vemos é o estímulo ao exclusivismo egoísta, à pertença a uma forma rígida de doutrina (que, claro, desconsidera as demais), o fundamentalismo, o fanatismo e o adesismo, pago, à certas seitas espetaculosas. De fato, é tal a associação entre a ética evagélica e o espírito do capitalismo que os líderes "detentores de verdade" de tão certos estão que devem ser ouvidos e seguidos, exigem rios de dinheiro de tudo e de todos.

  Em vez de destacar a reflexão íntima e a vivência de uma espiritualidade que nos une a todos na grande familia humana, muitos por vaidade e imaturidade preferem as diferenças e pequenezas que nos dividem e fazem destas as pedras fundamentais de suas doutrinas...

  O mais absurdo é a força que a bancada evangélica exerce sobre os políticos, sempre ameaçando com as eleições, casos eles não liberem dinheiro para os seus eventoss (e olhe que o Brasil, no papel, é um país laico).

Isto é amplamente percebido em um evento chamado Encontro para a Consciência "Cristã", criado por evangélicos da linha neo-pentecostal para reprimir um outro evento macro-ecumênico, leigo e participativo, chamado Encontro para a Nova Consciência, ainda sobrevivente e já em sua 21ª Edição. Este encontro original, da Nova Consciência, estimulava o diálogo, respeito e troca de idéias interreligioso e filosófico e, com isso, ajudou a divulgar o nome da cidade de Campina Grande, Paraíba, durante o período do Carnaval, trazendo à esta cidade, antes parada durante o período momesco, um afluxo notável de pessoas. Mas os evangélicos se sentiram incomodados com este sucesso e, assim, se sentiram desafiados a acabar com este fórmula madura de tolerância. Assim, através da bancada evangélica, planejaram e construíram o seu agressivo encontro próprio, e fazem o máximo de barulho sobre isso, refletindo o fundamentalismo e o fanatismo que lhes é típico, com um discurso apologético auto-referente, dogmático, mas preocupado com um redução literal ao pé da letra escrita dos textos, sem levar em conta seu contexto histórico e processo de formulação, e ao moralismo de fachada, aplicado aos outros, gerando uma postura perseguidora, arrogante e nada cristã.

  Como fala com rara lucidez e muita propriedade o esclarecido pastor Ed René Kivtz, doutor em ciências das Religiões, essa atitude fundamentalista e arrogante de alguns evangélicos"acaba gerando uma postura inquisitorial, uma vez que sua identidade  implica o combate violento a tudo e todos que compreende como  inimigos da sã doutrina e da moral e dos bons costumes. O fundamentalismo é  expressão do que há de pior  prepotência ocidental, que confunde Cristianismo com positivismo e evangelização com colonização e, seguindo os modelos das potências econômicas, pretende com que a fé, tal como por eles e tão só por eles entendida, seja equivalente á cultura do homem branco imperialista."

  A belicosidade dos "conscientes cristãos" (pois assim intitulando-se subentende-se que cristãos são apenas eles e que, belicosamente, eles são os verdadeiramente "conscientes", ou seja, a percepção de mundo e dos assuntos do mundo deles é melhor que a dos demais) chegou ao ponto de, além de ficarem á porta do Teatro Municipal, onde ocorre o maduro Encontro para a Nova Consciência, acusando a dialogicidade, o enconto das diferenças e o pensamento laico e ecumênico serem coisa do diabo, chegarem a queimar pneus e tábuas, em claro desafio inquisitorial ao Encontro da Nova Consciência, há alguns anos. Para eles, não importa que Deus faça a luz do sol brilhar para todos, a verdade é propriedade exclusiva evangélica. Se julgam superior ao Rei, que se faz tolerante para com todos, e buscam impor sua visão aos demais. A Bíblia deve ser literalmetne interpretada, especialmente o belicoso Antigo Testamento, e o pensamento divergente deve ser perseguido e a tolerância ecumênica, destruída.

 Isso sem falar na mistura de denominações e estilos, muitas vezes mercantilistas, dos pastores do tal evento da "Consciência Cristã". Não é à toa que novamente evangélicos esclarecidos (alguns até participantes do Encontro da Nova Consciència) questionem esta postura infantil. É novamente o pastor Ed René Kivtz que reflete que

"(...) um é o evangelho dos evangélicos, outro é o evangelho do reino de Deus. Registro que uso o termo “evangélico” para me referir à face hegemônica da chamada igreja evangélica, como se apresenta na mídia radiofônica e televisiva.
O evangelho dos evangélicos é estratificado. Tem a base e tem a cúpula. Precisamos falar com muito cuidado da base, o povo simples, fiel e crédulo. Mas precisamos igualmente discernir e denunciar a cúpula. A base é movida pela ingenuidade emocional e singeleza da fé; a cúpula, muitas vezes é oportunista, mal intencionada, e age de má fé. A base transita com certa liberdade entre o catolicismo, o protestantismo e as religiões afro. A base de certa forma busca a Deus onde parece haver algo bom, vai à missa no domingo, faz cirurgia em centro espírita, leva a filha em benzedeira, e pede oração para a tia que é evangélica. Assim é o povo crédulo e religioso. Uma das palavras chave desta estratificação é “clericalismo”: os do palco manipulando os da platéia, os auto-instituídos guias espirituais tirando vantagem do povo simples, interesseiro, ignorante e crédulo.
A cúpula é pragmática, e aproveita esse imaginário religioso como fator de crescimento da pessoa jurídica, e enriquecimento da pessoa física. Outra palavra chave é “sincretismo”. A medir por sua cúpula, a igreja evangélica virou uma mistura de macumba, protestantismo e catolicismo. Tem igreja que se diz evangélica promovendo “marcha do sal”: você atravessa um tapete de sal grosso, sob a bênção dos pastores, e se livra de mal olhado, dívida, e tudo que é tipo de doença. Já vi igreja que se diz evangélica distribuir cajado com água do Jordão (i.é, um canudo de bic com água de pia), para quem desejasse ungir o seu negócio, isto é, o seu business. Lembro de assistir a um programa de TV onde o apresentador prometia que Deus liberaria a unção da casa própria para quem se tornasse um mantenedor financeiro de sua igreja."


 Vê-se, pois, que a tal "consciência 'Cristã' " é um encontro político-religioso pensado para se fazer  exclusivista e proselitista, pois pretende fundos públicos para se impor e demonstrar força (cadê a tolerância e a mansidão pregadas por Cristo, que eles dizem seguir?) e foi criado para competir e destruir um outro evento já existente e que tinha por característica exatamente a tolerância, o diálogo e a aceitação das diferenças, exemplificando o diálogo e a fraternindade....

Mas há o que se aprender da comparação entre estes dois eventos bem diferentes. Um, é atrelado à religião, o outro, à espiritualidade. A religião é construção de quem, percebendo de certo modo a transcendência, contudo não a vivencia intimanete, mas busca encerrá-la em suas mãos, engarrafá-la, tornando-se, desde então, propriedade farisáica de certos doutores da lei, antigos e moderns. Por isso temos centenas de religiões (basta contar o número das que se dizem evangélicas). Já quem tem espiritualidade, percebe que elas possuiem diferentes entendimentos da divinidade e, assim, consegue cicular e dialogar com elas sem pertencer a nenhuma, rigidamente.

 A religião é rígida, pretende ter receitas prontas e pretende seguir literalmente textos (embora duas religiões com os mesmos textos possam interpretar diferentemente as mesmas coisas, ainda que se digam literalistas). Preferem a letra que mata ao espírito que vivifica. Já a espiritualidade te convida a refletir que os textos apenas apontam para algo que deve ser vivenciados e sentido mais do que lido. A espiritualidade procura ver para onde apontam os textos mais do que adorar os próprios textos que apenas apontam, com a carga contextual de suas épocas, para o mais além...

 Portanto, a religião é a forma fragmentada e egóica de se entender, ou melhor, pretender entender Deus, enquanto a espiritualidade de um Francisco de Assis, de um Gandhi, de uma Madre Teresa, de um Martin Luther King, de um Dalai Lama ou de um  Chico Xavier mostram que a espiritualidade é uma e permite a fraternidade dentro e na diversidade. A religião é para quem necessita ser guiado, a espiritualidade é para quem despertou para caminhar.

  O Encontro evangélico chamado de "Consciência 'Cristã' " é tão somente um partido religioso. O Encontro da Nova Consciência é a demonstração da diálogo e convivência entre pessoas espiritualmente maduras para trocarem idéias e perceberem a riqueza da unidade na diversidade.

  A religião é produto social. Quando se torna um grêmio exclusivista e auto-indugente e não uma comunidade de diálogo com o diferente, é causa de divisões e, com estas, de extremismos. Já a espíritualidade sadia reconhece a parte de verdade de cada tradição religiosa, mas a entende como parte e não como todo. É no reconhecimento que a centelha divina está em todos e que todos os caminhos são expressões da busca de Deus que promove o entendimento, a fraternidade e a civilidade. É o reconhecimento de que todos provimos de uma mesma fonte superior, que está acima e além de nosso intelecto, e por isso pede a vivência do amor. E isso é, de fato, uma Nova Consciência... Consciência que causa unidade na diversidade..... E não a utilização de uma interpretação seletiva de um texto que sirva de pretexto para a agressividade (para eles, Direito de Expressão), e qualquer reação normal vai ser interpretada por eles como maldade do outro e não de quem a provocou, como nos quadrinhos abaixo:

Natal de Jesus ou do consumismo capitalista?



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Então, mais uma vez é Natal... e o que nós fazemos? Qual significado damos a esta data?

Recordamos do nascimento daquele menino que iria se tornar o Homem que iria despertar as esperanças e estimular a espiritualidade, a tolerância e a fraternidade ou, ao contrário, caimos na paranóia do consumismo, da hipocrisia, do egoísmo e do estresse de mercado? Mercado que, inclusive, desenvolveu uma forma compatível de religião igualmente midiática, espetaculosa e banal a envolver noites e madrugadas a mesmerizar a gente ingênua?

A quem a mídia exalta, o Cristo humilde no coração de todos, especialmente dos mais simples,  ou o Papai Noel que só é de fato generoso para quem já nasceu acima da miséria?

Nos reunimos para repartir a ceia com carinho ou esperamos apenas os presentes e a mesa farta (que, para alguns, não existe)?

Não é estranho que uma festa que deveria destacar a paz e a espiritulidade seja, pela mídia, transformada no seu oposto mesquinho e materialista? E ainda assim, permitimos que isso aconteça....

Guerra dos Livros: Um abismo de documentos separam o livro ‘A Privataria Tucana’ de ‘O Chefe’



Extraído do Blog da Cidadania, de Eduardo Guimarães, 20/12/2011


Na última quarta-feira, o programa “Tema Quente”, da Rede TV!, comandado pelo jornalista Kennedy Alencar, recebeu os líderes do PSDB e do PT no Senado, os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR) e Humberto Costa (PT-PE). O tema central do programa – que, para variar, era o das denúncias de sempre contra o PT –, porém, acabou ficando em segundo plano.
Até certa altura do programa, Dias recitava tranquilamente seu costumeiro rosário moralista contra os adversários quando foi surpreendido por aquilo que dá não combinar estratégias com “os russos”, pois Costa, tranquilamente, introduziu (no debate) o livro-bomba da política brasileira neste século, A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr.
No programa em questão, o senador do PSDB paranaense assumiu a postura de defensor dessa dita “grande” imprensa que boicotou o livro azul da privataria tucana enquanto foi possível, ou seja, até que a imprensa internacional e, sobretudo, o próprio ninho tucano a furassem e começassem a falar do assunto.
Para defender os meios de comunicação que apoiam seu partido dos questionamentos feitos por Costa, Dias afirmou que Globos, Folhas, Vejas e Estadões tampouco noticiaram o livro do ex-petista Ivo Patarra “O Chefe”, que pretendeu acusar o ex-presidente Lula pelo escândalo do mensalão. Além disso, afirmou que o PSDB não se aproveitou do livro para fazer denuncismo.
Costa retrucou dizendo que o livro sobre a privataria é farto de documentos com fé pública que comprovam suas denúncias enquanto que o livro contra Lula contém apenas opiniões. Dias treplicou afirmando que o livro do ex-petista também continha documentos do mesmo jaez, o que não é verdade.
Passado o choque inicial e o silêncio ensurdecedor que se seguiu entre tucanos e mídia imediatamente após o lançamento do livro da privataria, partido e meios de comunicação começaram a falar nessa obra à qual editora nenhuma deu bola e que não gerou a mínima luz e muito menos um resquício de calor simplesmente porque O Chefe não é só um amontoado de idiossincrasias de seu autor contra o ex-presidente Lula, mas, também, mera compilação de reportagens publicadas incessantemente na grande mídia sobre o mensalão e uma imensa bajulação aos barões da mídia que, aliás, acabou não rendendo nada ao bajulador.
Aliás, Patarra, esse ex-petista que chegou a integrar a gestão (1989-1992) da ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, em entrevista que concedeu ao site Observatório da Imprensa em 2006, poucos dias após o lançamento de O Chefe, que pretendia abalar a recandidatura de Lula à Presidência, fez uma declaração que prova que seu livro nada tem que ver com A Privataria Tucana, pois não é um livro investigativo ou de denúncia como este.
Veja o que disse o próprio autor de O Chefe:
Meu livro não é investigatório. Ele contém as investigações feitas. Eu compilei e organizei os documentos investigatórios e o equilíbrio que eu dei foi em cima da reiteração e confirmação das denúncias. Tirei todo o ruído, a contra-informação do governo, que procurava minimizar e comparar o escândalo do mensalão com o que aconteceu com a mal-sucedida candidatura de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais. São fatos incomparáveis. Uma é candidatura mal-sucedida ao governo. A outra [o mensalão] é o governo federal constituído usando o esquema do Marcos Valério para distribuir, comprar e subornar parlamentares no Congresso.
(Ivo Patarra, 9 de junho de 2006, no Observatório da Imprensa)
O Chefe foi um fracasso em todos os sentidos. Nem a oposição nem a sua mídia o levaram a sério porque nada acrescentou ao bombardeio que a imprensa fez durante o escândalo do mensalão.
O Chefe se limitou a misturar o que Globo, Folha, Estadão e Veja publicaram com as próprias opiniões e ressentimentos de mais esse ex-petista.
O chefe, por conta disso tudo, não vendeu e acabou sendo colocado na internet para leitura gratuita por quem possa se interessar.
Quem tiver interesse em ler o livro que mídia e oposição ensaiaram – sem muito empenho – tentar opor a “Privataria” pode conhecer a obra, na íntegra, clicando aqui. Dei uma passada de olhos e me bastou.
Qualquer pessoa alfabetizada e honesta reconhecerá que não há como comparar os dois livros. Para compará-los é preciso não conhecer nenhum deles, o que seguramente é o caso da maioria da militância tucana na internet. Mas os tucanos mesmo, esses não insistirão nessa comparação simplesmente porque alguém pode resolver fazê-la.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Filme sobre A Privataria Tucana traz um resumo dos acontecimentos


Inteligente sátira-resumo, em vídeo, da situação provocada nos chefes do PSDB pelo livro A Privataria Tucana, de Amauri Ribeiro Júnior. Estrelando Adolf no papel de líder tucano. Fonte: Youtube

O resumo de A Privataria Tucana, na lista dos mais vendidos, apesar do esforços da Mídia em silenciá-lo e/ou desmerecê-lo



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

    O livro de Amaury Ribeiro Júnior, que teve a primeira edição esgotada em pouco mais de 24 horas desde seu lançamento, dia oito de dezembro, expõe, com base em documentos, o modus operandi dos caciques do PSDB, com especial destaque para José Serra. É apresentada e comprovada as muitas formas de manipulação de Serra contra Aécio neves. Fala do processo das privatizações, regidos por FHC, e o enriquecimento, através destas, de membros do PSDB e familiares, entre os quais a filha e o genro de Serra. E muito mais, o livro revela o partidarismo tendenciosa da mídia, especialmente da Veja, da Globo e da Folha, e sua seletividade dos escândalos de corrupção: focalizar no PT e fazer vista grossa aos escândalos do PSDB, na verdade partidarismo tão escancarado que mereceu uma crítica - interna, mas que vazou para o público - de uma articulista da própria folha, Suzana Singer.



domingo, 18 de dezembro de 2011

O gritante silêncio da mídia comercial ante A Privataria Tucana

 

   Após o estrondoso sucesso de vendas e debates, sem qualquer divulgação da chamada "grande mídia", de A Privataria Tucana, livro investigativo de Amaury Ribeiro Júnior que deixa, a partir de inúmeras provas e documentos, FHC e José Serra, bem como todo o PSDB, de saia justa, cabe aqui expor o vídeo onde Bob Fernandes, comentarista político do jornal A Gazeta, fala sobre o gritante e esclarecedor silêncio da Veja, da Globo, da Bandeirantes e outras mídias comerciais, sempre prontas e ágeis para estribilhar contra qualquer coisa dos governos não-neoliberais, mas que guardam um cúmplice silêncio ante as provas de irregularidades dos membros do PSDB citados no livro de Amaury Ribeiro Jr. A única honrosa exceção foi a heroica revista Carta Capital, que fez do livro sua matéria de capa, e algumas reportagens da Record. Ou seja, a "grande mídia", pronta para apontar qualquer espirro do outro, se cala quando a verdade contraria seus interesses ou os dos patrões e empresários comprometidos com o modelo neoliberal que, pela crise de 2008 e a atual, já demonstrou ser nocivo a tudos e à maioria (salvam-se apenas os políticos, os bancos e os colarinhos brancos da Av. Paulista). Será que o Amaury vai ser entrevistado um dia pelo Jô?

   Como destaca Bob Fernandes (veja vídeo completo abaixo), 

   “Os citados no livro  ‘A Privataria Tucana’ seguem em profundo silêncio. A mídia, sempre pronta para investigar e manchetar - como é do seu ofício -, também segue em silêncio. Um silêncio estrondoso. Se continuar assim, um silêncio extremamente revelador...”



sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Sobre A Privataria Tucana



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

        Finalmente, como um presente de Natal, saiu o livro de Amaury Ribeiro Jr., muito bem documentado, sobre o descalabro das doações, chamadas de privatizações, da época escura do neoliberalismo selvagem (que de forma menos intensa levou à crise de 2008 e 2011) tucano, e ainda do processo de tráfico de influência dentro do PSDB e as relações do alto tucanato com grandes empresários.

        Obra ímpar, pela apresentação detalhada dos fatos, esquemas, pessoas e documentos (muitos, oficiais), vinha, há mais de um ano, desde que foi conhecido seu projeto de lançamento, tirando o sono dos tucanos. 
      O livro narra diversas irregularidades no processo de entrega do patrimônio nacional - muitos dos quais, como a Vale do Rio Doce, altamente lucrativos - aos interesses privados, sem que tenha havido real benefício ao povo, ao contrário foi usado dinheiro público e de fundos de pensões (por exemplo, a Previ dos funcionários do Banco do Brasil, como está mostrado no livro, foi desviada pelo tesoureiro de campanhas de FHC e Serra para ajudar na compra da Vale onde quem manda hoje é o pessoal do Bradesco) para o financiamento das doações
      Também destaca o livro o papel de José Serra em tudo isso, braço direito de FHC, bem afinado que era com o consenso neoliberal de Washington e as receitas nocivas contra o Estado de bem-estar social do FMI, e enriquecimento fenomenal de associados, ligados ao que pode ser o maior crime de lesa-pátria oficioso. 
       O livro deixa claro, por meio dos documentos que apresenta, quem foi quem no processo de pirataria do patrimônio nacional. Apresenta quem se movimentava e o que fazia nos porões da privataria, o que esclarece algumas perguntas. Quem enriqueceu com isso? Quem recebeu propina? Quais meios de comunicação de massa foram os principais instrumentos de manipulação intelectual para encobrir os descalabros da privataria? Por que agentes de importância neste esquema de doações financiados com o dinheiro público recebem, repentinamente, perdão das dívidas com os bancos que eram públicos e que se enfraqueceram em frente aos bancos privados? Quem se tornou especialista em lavagem de dinheiro? E, por fim, qual a causa e motivo deste processo? Que caminhos ocultos tomaram os valores das privatizações? Tudo isso e muito mais está bem respondido, documentado e descrito no livro do repórter Amaury Ribeiro Jr.
     Apesar da grande procura, tornando-o um dos livros mais vendidos nas últimas semanas, tendo a sua primeira edição esgotada em 24 horas, a mídia comercial atrelada ao modelo neoliberal tucano faz um estrondoso e sonoro silêncio sobre a obra, com exceção da revista Carta Capital. Por que será?
         Também os citados no livro até bem pouco tempo seguiam em profundo (e suspeito) silêncio... Deles, depois de dias, veio apenas uma curta e lacônica afirmação de um José Serra visivelmente contrariado: "É lixo!"... Um lixo muito bem documentado, diga-se de passagem. Já na Internet, a situação é bem outra... O livro vem batendo recordes de comentários nas redes sociais e no Youtube, de onde se vê que o monopólio da informação não é mais "mercadoria" apropriada pela mídia comercial a ser comercializada e manipulada de acordo com os interesses das famílias Civita, Marinho, Mesquita ou Haddad, entre outras.
        A Privataria Tucana foi lançada pela Geração Editorial e está a agitar os ninhos onde dormitavam aparentemente calmos os tucanos. O livro demonstra o que todos já sabiam: envolve nomes como o de José Serra (principalmente) e tantos outros famosos nos porões do desmonte do patrimônio público. Dentre os conhecidos e semi-celebridades que se encontram na narrativa de Amaury Ribeiro estão, além de FHC e José Serra, é claro, o do ex-tesoureiro de campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio de Oliveira, o Mr. Big, homem forte do Banco do Brasil durante as privatarias de FHC, utilizando dinheiro dos fundos de pensão dos funcionários do Banco do Brasil e também ajudando a enfraquecer este banco para benefíciar os bancos privados que investiaram no processo, como o Bradesco. Também  se fazem bem presentes no texto três dos parentes de Serra: a filha Verônica Serra, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Também a irmã do Daniel Dantas, Verônica Dantas, e o próprio Daniel Dantas estão no meio da privataria. Todos eles se beneficiaram muitíssimo com o processo de entreguismo e, afirma o autor, têm muito o que explicar ao Brasil, bem como os meios de desinformação e manipulação de informações por parte de Serra e do PSDB.

O Significado perdido do Natal e a violência do Capitalismo

 

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

  Não faz muito tempo, os dezembros no Brasil eram diferentes.... Menos Shjoppings (que não faziam falta) davam lugar a mais sorrisos, mas carinho, mais tempo com amigos e vizinhos, mas espaço para a reflexão espiritual. Progamações especiais nas tvs e rádios eram voltados para crianças e para a família, com os clássicos contos, filmes e concertos que falavam de esperança, de Deus, de Jesus. A chegada de dezembro, com suas luzes, trazia para muitos uma espécie de magia que retemperava os ânimos. As pessoas pintavam casas, armavam e enfeitavam árvores e a televisão passava desenhos e filmes que falavam da época, focando em imagens de presépios e na história do nascimento de Jesus...

  Hoje, o Brasil e o mundo estão bem diferentes. Dezembro chega e as pessoas ficam mais estressadas. Uma nova religião dominante exige tributos pesados, a serem depositadas em novos templos de consumo. Pessoas devem continuar a trabalhar duro para receber pouco e a televisão vive a passar reportagens sobre o mercado, as vendas, os shoppings. Você "tem" de comprar, "deve" consumir, agir em função do mercado, aquecer as vendas. Também se promovem "festinhas" intra-empresas onde corre solto a hipocrisas: o chefe que passou o ano vociferando para se produzir mais deve receber presentes e felicitações, do mesmo modo que o colega dedo-duro. Em casa, quando não estão cada um vendo sua próprio TV, as pessoas participam de um almoço ou jantar "em família", mas fica aquele clima pesado de que isso é agora algo artificial. Quanto ao aniversariante, pouco ou quase nunca é lembrado na mídia e no meio das conversas entre as pessoas. Quando muito, virou mais uma mercadoria apossada por novas e estranhas religiões tele-evangélicas pentecostais que se dizem detentoras Dele...

  Esse é o nosso mundo neoliberal e de mercado, que deixa o Cristo e sua mensagem de tolerância, amor e fraternidade entre todos  ("ao bem que fizeres a cada um destes pequeninos é a mim que o fazeis") do lado de fora de nossos corações.... Foi substituído por um representante comercial que se veste de vermelho e branco (as cores da Coca-Cola que o divulgou pelo mundo), usado para ampliar as vendas e hoje, só muito levemente, possuindo os traços originais baseado na figura de São Nicolau, o bispo que jogou um saquinho de moedas de ouro na casa de uma família pobre, no Natal, para ajudar o casamento da filha da família em meados da Idade Média e que juntava moedas e presentes para dar algo às crianças de um orfanato durante o inverno. Mas o atual Papai Noel foi construido e pensado para estimular o consumismo e nada tem a ver com o signifcado real de amor e magia que antes estava atrelada à figura meiga e tolerante de Jesus de Nazaré (e não o Senhor Jesus ciumento e julgador dos evangélicos)... Não é  mais Jesus, nos traços de um menino, quem entra no coração das crianças nas noites de Natal....


Reflexões sobre o fundamentalismo de Mercado e suas ligações com os evangélicos radicais



Segue, para reflexão, parte da discussão do historiador e sociólogo, Prof. Lázaro  Curvêlo Chaves sobre o fundamentalismo evangélico e de mercado. Extraido do texto Reflexões sobre o Fundamentalismo, Revista Espaço Acadêmico, nº 6, 2001, também publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 24/10/2001.

 Vejamos um pouco mais de perto o fundamentalismo evangélico. Pratica uma forma de religião que nasce contra o catolicismo especificamente para corroborar e homologar o capitalismo (é a forma religiosa do fundamentalismo de mercado em sua versão mais acabada) e, como todo o fundamentalismo, não aceita argumentações racionais voltadas à viabilização de um diálogo. Se lhes dizemos: “ninguém é dono da verdade, somos, na melhor das hipóteses, buscadores da verdade”, respondem coisas como “a verdade é Cristo e, quem tem Cristo no coração somente vive, fala e pratica a verdade”, ou seja, uma vez que, segundo aquela visão “a salvação não está nas obras, mas na fé”, pode-se praticar o que se quiser desde que a “profissão de fé” esteja dita. (...).
De todas as formas de fundamentalismo hoje vigentes no mundo globalizado pelos norte-americanos, o fundamentalismo de mercado é o mais baixo, vil, cruel e mesquinho. Com o fundamentalismo evangélico a homologá-lo na dimensão religiosa vemos a Nação mais poderosa do mundo a submeter e massacrar todos os povos da terra culminando com uma guerra insana contra uma das mais pobres do planeta sem que possamos fazer absolutamente coisa alguma a não ser deixar o nosso protesto registrado (...).
Resumindo:
1) Vivemos num mundo em que o fundamentalismo de mercado impõe seus valores a todos os povos. “Tecnicamente” se possível. À bala se necessário.
2) O fundamentalismo de mercado apresenta total devoção ao comércio e preocupação social tendente a zero.
3) Em todas as formas de fundamentalismo ocorre uma busca de absolutização do “eu”, do “ego”. Diz-se “eu tenho razão”, “sou dono da verdade”, você, se pensa diferente de mim, não tem razão. Tem de ser “globalizado”!
4) A marca da globalização de cima para baixo promovida pelos norte-americanos é o não reconhecimento do outro.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Paulo de Tarso modificou a mensagem de tolerância de Jesus




Carlos Antonio Fragoso Guimarães

                Embora quase sempre desconhecido do grande público – em parte devido à resistência dos chamados “líderes religiosos”, especialmente os mais conservadores, que buscam fundamentar sua autoridade em uma aura de verdade absoluta em cima dos chamados textos sagrados -, o estudo crítico, histórico e acadêmico da Bíblia e, em especial, do Novo Testamento, desde o século XIX vêm trazendo à luz novas perspectivas de entendimento das chamadas escrituras sagradas. Entre as mais importantes descobertas existe a crescente percepção da contradição entre as mensagens de Jesus, ética e de cunho fraterno tal como encontrada nos evangelhos, especialmente em Mateus e Lucas, e o cristianismo de mera adesão proposto por Paulo de Tarso, o real fundador do cristianismo como sendo uma religião independente e um seguidor posterior que não conviveu com Jesus.
                Pela análise do estilo literário e das colocações sociais de cada texto -  que é uma das formas de se estudar o material que dispomos, já que não existem originais do século I, sendo as mais antigas cópias disponíveis, já datadas, do século II -, percebe-se que as chamadas “cartas paulinas” constituem o conjunto de textos cristãos mais antigos, as atribuídas como autênticas, redigidas provavelmente cerca dos anos 50 da era comum. Os evangelhos propriamente ditos são, contudo, historicamente, em determinados pontos, mais precisos que as observações de Paulo. Constituem eles  compilações de fontes orais e de, possivelmente, registros escritos perdidos (como, por exemplo, a fonte Q, tão citada pelos estudiosos acadêmcios e que pode ser, em parte, reconstituída, pelo material dos chamados evangelhos sinóticos: Marcos, Mateus e Lucas), compostas  entre os anos 65-70 (data provável da composição do evangelho de Marcos) a até aproximadamente 95 ou 100 da era cristã (quando provavelmente foi escrito o evangelho atribuído a João, mas que de fato é uma compilação de interpretações posteriores de uma comunidade de cristãos tardios, provavelmente baseadas muito levemente em tradições orais que remontam a algum discípulo de João).

Apesar de serem 13 o número de epistolas atribuídas a Paulo na maioria das Bíblias ocidentais, hoje a maior parte dos pesquisadores considera que apenas seis destas epístloas tenham sido formuladas pelo próprio, pois apresentam o mesmo estilo e pontos de semelhança, sendo as demais meras composições posteriores de discípulos que queriam validar sua importância como documentos atribuindo-os a Paulo. O pesquisador Pedro Vasconcelos, da PUC, afirma que "Elas (as cartas não-paulinas) são muito diferentes em estilo literário e conteúdo". Para o conservadorismo das igrejas mais ligadas a uma concepção tradicional da Bíblia, no entanto, toas as cartas encontradas nas edições correntes da mesma são consideradas autênticas. As epístolas consideradas realmente originais pela maior parte dos experts são: aos Romanos, 1 e 2 aos Coríntios, aos Gálatas, aos Filipenses, a primeira à Tessalônica e a endereçada a Filêmon.
Por sua ação missionária em meios não judeus, a figura de Paulo de Tarso teve uma importância indiscutível na constituição do cristianismo (especialmente do cristianismo “paulino”) em sua ansiedade em construir uma teologia sobre a figura Cristo (e não da mensagem de Cristo), o que causou impacto na formulação da teologia ortodoxa posterior - inicialmente no Império mas, bem depois, mais especialmente na teologia protestante. O problema, contudo, surge quando comparamos os dizeres e visões teológicas de Paulo com os que são atribuídos ao próprio Jesus, pelos evangelhos, especialmente o de Mateus.
          Igualmente digno de nota é de que certamente Paulo não pensava que suas cartas acabariam por ir parar na Bíblia (ao menos naquilo que se transformaria Bíblia cristã). Elas eram produtos do interesse de Paulo em esclarecer problemas e situações das comunidades que ele tinha ajudado a criar, e não súmulas teológicas indiscutíveis a serem tomadas como regra. Só muito mais tarde alguém com alguma influência política as julgariam apropriadas para formarem parte do cânone do Novo Testamento.

Paulo, como todos sabem, foi um aspirante a doutor da Lei (sacerdote graduado). Um judeu do século I, contemporâneo de Cristo, mas que nunca o vira pessoalmente durante seu ministério, e que, profundamente zeloso da ortodoxia judaica, de início foi perseguidor implacável dos primeiros cristãos. Contudo, esta atitude agressiva iria mudar radicalmente após Paulo (na época, Saulo) ter uma visão do Cristo pós-morte. Isso o abalou o suficiente para que passasse por uma crise religiosa, se convertendo ao cristianismo e se transformando de perseguidor a divulgador. Contudo, apesar do que diz supostamente Lucas nos Atos dos Apóstolos (escrito muitos anos após a morte de Paulo, provavelmente em torno do ano 75), Paulo não procurou nas fontes apropriadas, ou seja, nos discípulos diretos de Jesus, a base da sua própria mensagem. Ao invés disto, após um contato muito superficial com alguns discípulos menores – e não com os apóstolos, o que só se daria após três anos -, Paulo se afastou para pensar sobre sua experiência da visão que teve do ente que antes perseguira. Com estas reflexões ele também questionou sua herança formal judaica, para voltar três anos depois com toda uma visão pessoal já sedimentado do seria ou deveria ser o cristianismo, moldada com elementos judaicos e gregos (Paulo era cosmopolita). Só então, depois, teve contato com alguns dos apóstolos diretos de Jesus e, nas suas palavras, destes mais precisamente apenas Pedro e Tiago, “irmão do Senhor”, sem que este contato tivesse qualquer  grande impacto na sua já cristalizada visão do cristianismo. Assim, lemos pela pena do próprio Paulo em Gálatas 1:16-20:

“Não consultei carne nem sangue, nem subi a Jerusalém aos que eram apóstolos antes de mim, mas fui à Arábia e voltei novamente a Damasco. Em seguida, após três anos, é que subi a Jerusalém para avistar-me com Pedro e fiquei com ele por 15 dias. Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor. Isso vos escrevo e asseguro diante de Deus que não minto.”

O estudo crítico das epístolas junto com os novos textos descobertos no século XX, daquela época, mostra que ante o que pareciam ser elementos próprios de Paulo em muitas de suas cartas, as descobertas de textos antigos, como os famosos Manuscritos do Mar Morto (que, ao contrário do que muitos pensam, nada têm de cristãos) mostrou serem elementos de discussão comum entre a classe judaica mais instruída na época, especialmente as interpretações apocalípticas dadas ao que se esperava do “messias” e que foi adaptada à singularidade da vida e obra de Jesus (o apocalipsismo era uma mentalidade constante entre os judeus oprimidos da época). Porém, muito mais sério do que isso, uma parte da visão “cristã” de Paulo parece chocar de frente com os próprios ensinamentos de Jesus. Isso fica mais grandemente visível no núcleo do pensamento paulino de que a simples justificação pela fé em Jesus, especialmente nos fatos de seu sacrifício e ressurreição, serem os únicos elementos que justificariam a salvação de um crente, doutrina arduamente abraçada pela maioria das igrejas e seitas evangélicas, mas que bate frontalmente com o que Jesus diz em Mateus em 25:31-45:
«Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. 32Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos bodes. 33À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os bodes.
34O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. 35Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, 36estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’
37Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?38Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? 39E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ 40E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’
41Em seguida dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o mal e para os seus anjos!42Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, 43era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.’ 44Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’ 45Ele responderá, então: ‘Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’”

O conhecido especialista em Novo Testamento Bart D. Ehrman reflete que esta passagem de Mateus “sugere que a salvação não é apenas uma questão de crença, mas também de ação, uma idéia absolutamente ausente do raciocínio de Paulo”. Poderíamos dizer ausente não apenas de Paulo, mas de toda a tradição que se moldou a partir das igrejas “paulinas”, especialmente as atuais igrejas televangélicas, de cunho paulino-fundamentalista.  Na passagem de Mateus acima transcrita se percebe mesmo que os escolhidos (as “ovelhas”) podem sequer ter tomado conhecimento da vida de Jesus (“Senhor, quando foi que te vimos...”). Nos dizeres de Bart D. Ehrman,

As ‘ovelhas’ ficam perplexas (de terem sido escolhidas como herdeiras do Reino). Elas não se lembram sequer de ter encontrado Jesus, o Filho do Homem, quanto mais de fazer essas coisas por ele. Mas ele diz a elas: ‘Cada vez que fizeste a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes’. Em outras palavras, é cuidando dos que têm fome, sede, estão nus, doentes e encarcerados que é possível herdar o Reino de Deus.
“Como essas palavras se coadunam com Paulo? Não muito bem. Paulo acreditava que a Cida eterna era dada àqueles que acreditavam na morte e ressurreição de Jesus. No relato de Mateus sobre as ovelhas e os bodes, a salvação é dada a quem nunca havia falar de Jesus. É dada a quem trata os outros de forma humana e carinhosa no momento de maior necessidade. É uma visão  da salvação inteiramente diferente” (Bart D. Ehrman, “Quem foi Jesus? Quem Jesus não foi”, Ed. Ediouro, 2010).

Portanto, segundo alguns pesquisadores – e até mesmo alguns teólogos mais esclarecidos – ,existe material suficiente para suspeitar que Paulo  divulgou uma doutrina “paulina” em franco contraste com a mensagem de Jesus. Paulo ajudou a cristalizar uma religião sobre Cristo e não de Cristo. Edgar Jones, autor do livro Paulo: O Estranho, diz que "Jesus de Nazaré deve ser cuidadosamente diferenciado do Jesus de Paulo. Gerações e séculos passaram até que a corrente paulina com seu forte apelo em favor do Império Romano ganhasse ascendência sobre a corrente apostólica". O fato é que, até o século 4, existiam várias correntes de cristianismo, cada uma com uma forma de interpretar a mensagem original de Jesus e, em linhas gerais. eram divididas entre as que eram lideradas pelos discípulos de Paulo e outras atreladas, pelos seguidores, à tradição mais ligada aos apóstolos de Cristo. Uma que dava ênfase à transformação pessoal calcada na preocupação ética com o próximo a partir das mensagens éticas do evangelho e outra mais voltada para a conversão ideológica à própria figura de Jesus. Sobre essa divisão veja-se, por exemplo, a ênfase que está na epístola atribuída ao apóstolo Tiago, o irmão do Senhor – e que portanto, se for dele mesmo conheceu e conviveu com Jesus. Ainda que provavelmente a epístola não seja do Tiago apóstolo, parece ser de alguém que conhecia melhor os ensinos de Jesus que Paulo. Esta epístola dá a grande ênfase à caridade e às obras humanistas, criticando quem acha que apenas a fé o ajudará a purificar a alma e atingir o nível do Reino dos Céus, o que está concorde com o trecho de Mateus que já vimos. Na epístola a Tiago atribuída, que não se encontra em algumas bíblias protestantes, lê-se o seguinte:

“14 Que aproveitará, irmãos meus, a alguém que tem fé, se não tiver obras? Acaso podê-lo-á salvá-lo a fé? 15 Se um irmão, porém, ou uma irmã estiverem nus e lhes faltar o alimento diário, 16 e lhes disser algum de vós: Vá em paz, aquentai-vos e farte-se, e não lhes deres o que é preciso para o corpo, de que lhes aproveitará estas palavras? 17 Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma”.
“18 Poderá logo alguém dizer: Tu tens a fé e eu tenho as obras. Mostrai-me tu a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. 19 Tu crês que há um só Deus, fazes muito bem, mas também os demônios o crêem e tremem. 20 Queres tu, pois, saber, oh homem vão, que a fé sem obras é morta? (...) 24 Não vedes como é que é pelas obras que um homem é justificado e não somente pela fé? (...) 26 Porque bem como um corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.”

Este é igualmente o diferencial que muitos dos acadêmicos têm sobre o diferencial da corrente paulina e da corrente apostólica (veja-se que nos Atos dos Apóstolos Paulo não é chamado de Apóstolo, embora ele mesmo o faça em suas epístolas). O professor Bart Ehrman, resumindo o pensamento da maioria dos pesquisadores e do que é mesmo ensina na maior parte dos centros de formação teológica de grandes universidades, chega mesmo a enfatizar que, de acordo com os indícios das palavras ou, ao menos do pensamento, do Jesus histórico:

“ As ‘ovelhas’ recebem sua recompensa celestial e eterna por todas as coisas boas que fizeram: alimentar os que tinha fome, vestir os despidos, cuidar dos doentes; os ‘bodes’ são punidos por não terem feitos boas ações. Um cristão posterior inventaria tal tradição? Após a morte de Jesus, seus seguidores alegaram que a pessoa se tornava justa perante Deus e receberia sua recompensa eterna ao [simplesmente] acreditar na morte e na ressurreição de Jesus, não fazendo boas ações. Portanto, essa hsitória (encontrada em Mateus 25) rema contra a corrente desse ensinamento, ao indicar que a pessoa será recompensada por suas boas ações. Logo: isso tem de remontar a Jesus.
“Em síntese, Jesus ensinou (...) que as pessoas (...) deveriam mudar seu comportamento e viverem como Deus esperava que vivessem. Isso envolvia o amor desinteressado pelos outros. Assim, Jesus teria cidade as Escrituras: ‘Amarás a teu próximo como a ti mesmo’ (Mateus 22:39, citando Levítico 19:118). Sua formulação da idéia é a Regra de Ouro: Tudo aquilo, portanto, que querei que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mateus 7:12). É difícil afirmar, de forma mais concisa, as exigências éticas da lei de Deus” (EHRMAN, 2010, “Quem foi Jesus, Quem Jesus não foi?”, PP. 177-178).

Quando o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, especialmente com Teodósio, a corrente paulina saiu-se vitoriosa, especialmente porque uma das cartas (Romanos) de Paulo diz textualmente que os cristãos deveriam se submeter às autoridades constituidas, no caso, Roma.  "As idéias de Paulo, afáveis aos dominadores, foram definitivamente incorporadas à doutrina cristã", diz Fernando Travi, teólogo evangélico. Ora, essa submissão passiva ás autoridades políticas soa estranha a um seguidor de um revolucionário morto por estas mesmas autoridades, com o aval das autoridades religiosos locais, por seu potencial perigo político. O teólogo franciscano Jacir de Freitas Faria, mestre em exegese bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico (PIB), de Roma, comunga da mesma opinião: "Paulo é uma figura basilar do cristianismo, mas não podemos deixar de ser críticos a ele nessa relação com o Império Romano".

Outro ponto de controvérsia clássico sobre Paulo é a sua clara (ou a ele associada) e nem sempre sutil opinião sobre as mulheres. Na carta, provavelmente espúria, endereçada à comunidade cristã de Colosso, encontramos a seguinte passagem machista: "Quanto às mulheres, que elas tenham roupas decentes, se enfeitem com pudor e modéstia. (...) Durante a instrução, a mulher conserve o silêncio, com toda submissão. Não permito que a mulher ensine, ou domine o homem".

domingo, 11 de dezembro de 2011

Reflexão sobre as escolhas, os valores e a discussão sobre a vida depois da morte na série A Gifted Man




Carlos Antonio Fragoso Guimarães

É sabido que, nos últimos anos, as tvs norte-americanas parecem ter achado a fóruma de fazer bons seriados de televisão. Exemplos como Lost, Fringe, Ghost Whispers, House e outros bem demonstram que se podem fazer episódios inteligentes e instigantes que haverá um público cativo e preparado para digeri-los. Estes sucessos seguiram a esteira de programas como Arquivo X que acabou por servir de modelo a tudo o que foi feito posteriormente....

A nova série da série da CBS A Gifted Man segue a linha entre House e Ghost Whisperer. A série baseia-se nas ações de um médico extremamente bem sucedido de Nova York, Dr. Michael Holt (interpretado por Patrick Wilson), um neuro-cirurgião das elites abastadas da Big Apple e dono de uma das melhores clínicas da cidade. Holt é e se vê como um materialista cujos conhecimentos e competência médica servem para lucrar e obter status entre seus pares até que, um belo dia, recebe a visita de sua ex-esposa, Anna (interpretada por Jennifer Ehle), uma médica idealista e dedicada a ajudar pessoas sem recursos, sem saber, inicialmente, que esta havia morrido duas semanas antes. O choque da informação e a experiência de te-la visto tão real o faz, de início, questionar sua própria sanidade. Contudo, Anna volta a contactar Michael e pede que ele ajude no hospital dedicado aos imigrantes em que ela trabalhava. Michael acabar por visitar o local e uma série de acontecimentos o fazem rever seus conceitos e sua auto-imagem de um homem materialista e competitivo, bem como a questionar a base dos valores que adotava a partir da visão de mundo materialista dominante...

Bem feito e dirigido (por ninguém menos que o diretor de O Silêncio dos Inocentes, Jonatham Demme), A Gifted Man é um seriado inteligente e sensível, que faz pensar e que promete levar a uma discussão sobre as questões mais fundamentais entre seus espectadores. Inicialmente, a CBS pensou em fazer apenas uma temporada de 13 capítulos para o final do ano ( a série começou a ser exibida nos EUA em setembro). Mas os bons números de audiência a fizeram encomendar mais três episódios, totalizando 16 a serem apresentados até fins de dezembro, às sextas-feiras. Isso pode ser um sinal de que, provavelmente, A Gifted Man possa ganhar mais uma temporada em 2012, o que seria bom, visto a profundidade da temática apresentada. No Brasil, a série é exibida pela Universal Channel, pelas tvs por assinatura, todas às quintas, às 23 horas.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Deus cria a beleza e a vida, mas a religião cria gaiolas, medos e culpas



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

(a partir de algumas reflexões de Rubem Alves)


 Engraçado como os homens, que se reconhecem limitados nas ciências e no conhecimento, teimam em dizer que entendem e, mais do que isso, que possuem Aquilo que deu causa a tudo e que, certamente, está além do humano e portanto além dos aspectos mesquinhos de exclusivismos, ciumes, juízos e obsessões que marcam a mentalidade tacanha de muitos líderes religiosos, especialmente os fundamentalistas cristãos que vêem crescendo em número pela sedução cômoda de que basta a fé - e nada mais que isso - em um interpretação antiquada de escritos igualmente antigos, onde impera deus tribal ciumento para conseguirem tudo, inclusive bem materiais....

  O medo e os interesses egoístas enchem templos e bolsos de novos mercadores da "fé", alguns dos quais até buscam fabricar uma falsa conexão com estes antigos textos (destacnado mais, quando assim lhes convém, os do Antigo Testamento contra a fraternidade e amor do Novo), reconstruindo templos salomônicos ou faraônicos em benefício da própria vaidade e conta-corrente.


 Esta mentalidade infantil em recurdescimento no século XXI é um retrocesso imenso, mas está concorde com o espírito do capitalismo neoliberal, egoísta, individualista e imediatista, que grassa o mundo. Não é à toa que muito do neopentecostalismo fundamentalista se arvore em práticas midiáticas importadas do televangelismo norte-americano e se caracteriza por apelar não para o sentimento de fraternidade, compreensão, partilha e amor, mas para a espetaculosidade, o egoísmo, o imediatismo, o exclusivismo e a vaidade.

  Por outro lado, religiões institucionalizadas são formas que os homens dão àquilo que lhes chama a atenção, causa espanto, mas não entendem. Como bem fala o Físico e Professor Guido Nunes Lopes: "A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados. A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior."

 A espiritualidade vê a essência de Deus em todas as religiões, mas as religiões se vêem como as únicas e exclusivistas detentoras da essência de Deus. A espiritualidade é um estado de consciência e uma forma de ver a vida, a religião é um conjunto de ditos, normas e prescrições impostas socialmente.

  Sobre essa estreiteza espiritual, bem fala Rubem Alves em seu livro Perguntram-me se acredito em Deus:

 "Deus é uma suspeita do nosso coração de que o universo tem um coração (...). Suspeita... Nenhuma certeza. Fujam dos que têm certezas. Olhem bem: eles trazem gaiolas nas suas mãos (...).

 "Deus nos deu asas. Mas as religiões inventaram gaiolas

 "É preciso esquecer os nomes de Deus que as religiões inventaram para encontrá-lo sem nome no assombro da vida.

 "Que desejamos para os nossos filhos? Que eles sejam felizes. Sorrimos ao vê-los por ai a correr, a pular, a cantar, a brincar (...). Mas enquanto brincam e riem eles não pensam em nós. Se um filho, ao se levantar, viesse até você e o elogiasse, e agradecesse porque você lhe deu a vida e jurasse amor para sempre, e fizesse a mesma coisa na hora do almoço, e repetisse os mesmos gestos e palavras no meio da tarde e de noite fizesse tudo de novo, suspeitaríamos de que alguma coisa não está bem. O que desejamos é que eles aproveitem a vida sem pensar muito em nós. Quem pensa demais em fala demais sobre Deus é porque não o está respirando. A fala indica uma ausência 'Pensar em Deus e desobedecer a Deus. Porque Deus não quis que o conhecêssemos, por isso não se mostrou' (Alberto Caeiro).

"Deus nunca foi visto por ninguém. Por acaso a gente vê os próprios olhos? Quem vê os próprios olhos não enxerga mais nada. Para ver com os olhos é preciso não ver os próprios olhos.... Deus é como os olhos. Não podemos vê-lo para ver através Dele. Deus é um jeito de ver.

"Mas uns homens tolos, querendo ver Deus, fizeram um deus com pedaços deles mesmos. E assim inventaram ujm deus à sua imagem e semelhança. E, como muitos homens têm corações maus, eles inventaram um deus parecido com eles mesmos, um deus mau que provoca medo. Disseram até que esse deus tem uma câmara de tortura chamada inferno, onde tranca seus desafetos por toda eternidade... Que tipo de pai é esse?

"Há pessoas que pensam que Deus se parece com um banqueiro que tem um livro de contabilidade onde registra os débitos e os créditos dos homens para acertos futuros. Os débitos, chamados pecados, serão punidos. E os créditos, chamados virtudes, serão recompensados. Mas Deus não se parece com banqueiros. Ele não tem um livro de contabilidade. Deus (...) é como um regato de águas cristalinas. Não importa que joguemos nele os nossos detritos. Ele continua a jorrar águas cristalistas... (Paráfrase. Lucas, 15,11)"