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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A polêmica do Caso Cesare Battisti



Carlos Antonio Fragoso Guimarães


O engraçado é que, quando refugiado na França, tão perto, a Itália nada fez, nada clamou para a volta de Battisti ao seu solo. E agora, sem que tenha feito ou tomado medidas reais para ajudar sua própria população e diminuir os efeitos da crise econômica do modelo neoliberal em seu país, Sílvio Berlusconi, que não é propriamente um modelo de moral, buscando solapar a lembrança de suas muitas lambanças e continuar no poder - apesar de todos os sinais e evidências de corrupção - viu no caso Battisti uma forma de distração, de circo, para entreter parte da população do país em uma polêmica do qual espera tirar benefícios políticos, insuflando os italianos contra o Brasil, e isso bem antes mesmo da decisão final de Lula, em 31 de dezembro.

Nenhuma país julgou o Brasil quando este recebeu ditadores de direita, como o famigerado Alfredo Stroessener, ou mentirosos senhores da "Guerra Contra o Terror", que tantas vidas tiraram - e ainda tiram -, quando aqui vieram.

Muitas conquistas sociais que hoje os italianos estão usufruindo como país de primeiro mundo foram obitidas graças à luta de uma minoria que sonhou em construir um mundo melhor, como ocorreu aqui no Brasil nos anos de chumbo da ditadura militar apoiada pelas mesmas elites de hoje e que, como bem vimos no uso da mídia nas últimas eleições, fazem de tudo para modelar a realidade de acordo com seus interesses.

Alguns destes utópicos que se dedicaram, talvez romanticamente, à luta por um mundo melhor são julgados à revelia por "crimes" mais propriamente denunciados que tecnicamente provados, do mesmo modo como hoje, no Brasil, a direita quer tentar abafar as atrocidades dos golpistas de 64 e taxarem de criminosos as vítimas do regime.
No surreal Brasil da época da Ditadura militar, criminosos reais conhecidos, como o famoso "assaltante do trem pagador inglês" Ronald Biggs, foram não só aceitos no país, durante muitos anos, como a mídia quase os elevou à estatura de heróis...

Mas, claro, a mesma mídia de então, dominada por poucas famílias, e que hoje forma a espinha do PIG - Partido da Imprensa Golpista - tudo fará para tirar o máximo proveito contra um governo que, bem ou mal, possui o potencial de contrariar (mas que dificilmente o fará) a FIESP, as multinaicionais e as elites. Terá o PIG, lógico, Boris Casoy, Diogo Mainardi, Jabor e a Revista Veja à frente e outros parecidos, e vários editoriais "imparciais". Vão aproveitar para agir como Berlusconi, sedo mesmo até mais explícitos, pois irão, na prática, exaltar a Itália e chamar o Brasil de atrasado, especialmente por ainda não ter "privatizado" tudo. Como diz o lúcido jornalista Hélio Fernandes:

O Supremo e a negativa de extradição de Battisti

Helio Fernandes

Não se pode mais revogar a negativa de extradição do prisioneiro italiano. O mais alto tribunal do país, pode determinar o tipo de vida que ele levará no Brasil. O Supremo tem duas opções sobre o tipo de liberdade que terá no Brasil.
Muito se tem comentado o perigo que corre a decisão de Lula, já que Gilmar Mendes é o relator, o processo irá direto para ele. Votou pela extradição, pode (e irá) votar pelo tipo de permanência mais opressivo para ele. Mas é apenas um voto.
Quanto à alegada afirmação de Berlusconi, “a ação ainda não acabou”, pura divagação de um corrupto, que não sabe quanto tempo ainda ficará em liberdade. Difícil ganhar na Corte da Haya, pois na Itália Battisti foi JULGADO À REVELIA.

Não absolvo nem condeno Battisti, condeno irrevogavelmente o governo da Itália, pelo desprezo que sempre demonstrou pelo governo do Brasil.

Na chamada questão Battisti, o que deve ser levado em consideração é apenas isso. A Itália, desabonadoramente insensata, exigiu a entrega de Battisti. Antes mesmo de qualquer decisão do mais alto tribunal do Brasil (o Supremo), já fazia acusações, transformou o exame de um Tratado numa intimidação visível e invisível. Anunciava sanções e retaliações, no caso do Brasil não entregar (que eles chama acintosamente de extraditar) o cidadão Battisti.

O governo (c-o-r-r-u-p-t-í-s-s-i-m-o) de Berlusconi, que se agüenta no Poder por 1 voto (nominalmente por três), fez disso uma bandeira para tentar recuperar a popularidade que jamais conquistou, sempre comprou. Para início de conversa, “chamou” o embaixador, começou as hostilidades.
E o próprio Berlusconi usou a mídia italiana (da qual, uma parte muito importante pertence a ele) para atingir o Brasil. Uma delas, a mais acintosa: “A questão Battisti ainda não acabou”. Como não acabou, se a última palavra cabe e coube ao presidente do Brasil?

PS – Nada realmente ficou provado a respeito das mortes. Quase 20 anos depois dele ter desaparecido (e mais de 6 anos morando na França sem que a Itália se manifestasse), pedem a extradição ao Brasil, na tentativa de intimidação.

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