sexta-feira, 2 de abril de 2021

Espiritismo não combina com armas, autoritarismo, punitivismo, pena de morte, violência e discurso de ódios. Artigo Franklin Félix, extraído da CartaCapital

 

Ver espíritas em marcha com o atraso, com o preconceito, com a ruptura democrática, com a retirada de direitos e com o ódio e fundamentalismo, me faz acreditar que essas pessoas estão bem distantes dos postulados de Kardec e dos ensinamentos de Jesus.

Artigo extraído da CartaCapital:


Espiritismo não combina com armas, pena de morte, violência e discurso de ódio

A Doutrina Espírita, essencialmente educativa, tem como objetivo libertar e proclamar o reino de Deus - de justiça, amor e paz – para todos.



“Jesus respondeu: Amarás o Senhor teu Deus

de todo o teu coração, de toda a tua alma,

e de todo o teu entendimento!

Esse é o maior e o primeiro mandamento.

O segundo é semelhante a esse:

Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.

Toda a Lei e os profetas.

dependem desses dois mandamentos.”

Matheus 22:34-40


É raro o dia em que não recebo – de amigos/as ou anônimos, no privado ou público – mensagens de desencanto com o movimento espírita, com dirigentes, médiuns famosos ou palestrantes popstars. São sempre depoimentos muito doloridos, relatando perseguições, censuras e até expulsões.

Uma companheira partilhou que durante o passe – prática amplamente difundida entre os espíritas e que consiste na imposição de mãos, visando promover a doação de bioenergias de um indivíduo ao outro – o passista (que é a pessoa que aplica o passe) pediu a espiritualidade que “livrasse a irmãzinha das influências do comunismo”. Outra companheira desabafou que foi retirada de todos os trabalhos espirituais do centro espírita (que ela ajudou fundar) por conta de suas ideias sociais e progressistas. Um casal de amigos abandonou o centro espírita depois que foram impedidos pelos dirigentes de continuarem atuando na evangelização infantil (uma espécie de catecismo) para não influenciarem as crianças “com essas ideias esquerdistas anti-doutrinárias".  Nós mesmos fomos expulsos da rádio espírita que fazíamos programa a mais de 13 anos por dizermos que o presidente – na época candidato – era machista, racista, LGBTfóbico e violento (continuamos afirmando e agora com mais motivos).

A sensação que tenho é que todos os violentos, hipócritas, cruéis, incluindo aí os religiosos, resolveram sair, de uma só vez, dos seus armários e tumbas. Estão se sentindo empoderados.

Ver espíritas em marcha com o atraso, com o preconceito, com a ruptura democrática, com a retirada de direitos e com o ódio e fundamentalismo, me faz acreditar que essas pessoas estão bem distantes dos postulados de Kardec e dos ensinamentos de Jesus.

Kardec foi ainda mais enfático na questão 350 de O Livro dos Médiuns: “De que serve acreditar na existência dos Espíritos, se essa crença não torna o ser humano melhor, mais benevolente e mais indulgente para com seus semelhantes, mais humilde, mais paciente na adversidade?”

Ele entendia que desde que uma pessoa se intitulasse espírita, ela já teria motivos suficientes para iniciar essa transformação e reforma íntima (que é um compromisso consigo mesma), passando a se esforçar para se tornar melhor e contribuir, assim, para o adiantamento da humanidade.

Mas também é verdade que na mesma proporção que os odiosos deixaram suas máscaras caírem, espíritas de todos os cantos do País e de fora dele tem se reunido, presencialmente ou virtualmente, incomodados/as com essa captura do movimento espírita brasileiro.

O espírita, autointitulado “cidadão de bem”, limpinho e cheiroso (como diz aquela jornalista), que dita normas como um general nas entidades que deveriam se conectar fraternalmente, mas ao contrário prega o ódio e a intolerância, sabe que está condenado, e se desespera por isso, porque sabe que afronta as leis divinas e naturais. Porque sabe que a consciência libertadora o inquieta e o aprisiona.

Há cristãos – mal-intencionados – que utilizam argumentos religiosos para defender a barbárie e a violência. Uma das passagens preferidas dessa “gente de bem” é a em que Jesus disse não ter vindo trazer a paz, mas a espada.

Não há paz sem voz e Jesus já sabia disso. Quando usou a analogia da espada, Jesus estava se referindo ao império romano (dominação) e que a pacificação só seria possível se houvesse conflito e divisão às hierarquias e poderes estabelecidos, rompendo com a política de morte da época. Jesus tornou-se o centro da separação e rompe com a manutenção das relações estabelecidas pelo legalismo.

Uma das possibilidades que a Doutrina Espírita apresenta para o enfrentamento da violência é a educação em suas múltiplas interfaces. O Espiritismo, essencialmente educativo, tem como objetivo libertar e proclamar o reino de Deus – de justiça, amor e e paz – para todos/as, mas a sua missão não poderá ser realizada em um ambiente de acomodação “paz” que só atendem a alguns poucos.

Uma das possibilidades que a Doutrina Espírita apresenta para o enfrentamento da violência é a educação em suas múltiplas interfaces. O Espiritismo, essencialmente educativo, tem como objetivo libertar e proclamar o reino de Deus – de justiça, amor e paz – para todos/as, mas a sua missão não poderá ser realizada em um ambiente de acomodação “paz” que só atendem a alguns poucos.

O impulso de transformação presente na doutrina espírita – para além dos fundamentalismos e articulações reacionárias que infelizmente disputam os ensinamentos de Kardec – defende que uma sociedade justa e livre se dará por meio da implantação de políticas públicas que valorizem a cultura da não-violência, o respeito à diversidade e a todas as pessoas como portadoras de direitos.

A apologia ao porte de armas, o aumento da repressão institucional e armada contra a população de forma indiscriminada não é o caminho.

As forças progressistas dentro da doutrina espírita serão o futuro de uma doutrina livre e que cada vez mais estará integrada com o povo e suas conquistas sociais.


FRANKLIN FÉLIX

É psicólogo, educador, militante pelos direitos humanos e um dos idealizadores do movimento de espíritas pelos direitos humanos.

4 comentários:

  1. Exatamente isso,Irmão Franklin ! Espírita discriminatório e excludente de outros Seres Humanos não tem a Luz Divina e nem os Ensinamentos do nosso Codificador Kardec na Alma e nosso Coração! O Ambiente Espírita deve gerar tranquilidade e calmaria para nós,porquê a Doutrina Espírita é isso e não Segregação! Fora que Segregando pessoas não estamos praticando nosso Lema:"Fora da Caridade não há Salvação " ! É isso,Abraços muita Paz e muita Luz����������-Gabrielly!

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  2. Boa noite amigo. Sou leitor digital da Carta. Também busco outros caminhos de informação pois como já é sabido, estamos no país da desinformação e isto, já vem de décadas.A respeito do assunto, é triste demais convivermos neste processo de intimidação articulado por muitos e muitos dirigentes que se achavam os donos das Casas Espíritas. Ao defrontarem - se com pensamentos opostos e conflitantes procuraram o atalho melhor, a censura ou destrato. Eu e minha esposa mais minha filha de 15 anos somos trabalhadores de 30 anos de uma Casa, com muito afinco e dedicação várias frentes. Sempre colocamos que a Cada Espírita tem por hábito fechar fronteiras com quem tem poder aquisitivo no que tange diretorias e com o trabalhador mais humilde no aspecto mão de obra. É tiro e queda. Vai haver ruptura ? Já houve. Vai haver cisão ? Já está acontecendo. O futuro está sendo escrito por quem se propõe a por aão naassa e brigar muito por uma evolução real e não fictícia.

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  3. Matéria maravilhosa e oportuna, especialmente nesse momento de discórdias, opressão e ódios que estamos vivendo.
    Qual o espírita hoje que não passou por constrangimentos e decepções
    causadas por frequentadores e trabalhadores das casas espíritas que frequentamos? achavamos que tinham uma linha de conduta e postura totalmente voltada para aquilo que prega a nossa doutrina.
    Eu passei e estou passando por esses dissabores lamentáveis.

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