domingo, 24 de janeiro de 2021

Leonardo Attuch escreve sobre os dez principais motivos do sórdido golpe contra Dilma e o sentimento de culpa (ainda sem autocrítica) dos golpistas

 

"Jamais houve qualquer intenção nobre por trás do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff. Houve apenas ambição, vilania, torpeza, misoginia e preconceito", diz o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247. "E se foi assim, jamais poderia dar certo"


Dilma Rousseff

Dilma Rousseff

artigo deste domingo 24 da jornalista Miriam Leitão, em que ela afirma que o Brasil precisa afastar Jair Bolsonaro para que "o impeachment de Dilma não pareça injusto", prontamente rebatido pela ex-presidente, nos oferece, mais uma vez, a oportunidade de refletir sobre a maior canalhice da história do Brasil, que foi o golpe de 2016, em que um grupo de políticos extremamente corruptos se uniu para afastar uma presidente honesta, a pretexto de "combater a corrupção", numa farsa que uniu meios de comunicação, juízes, promotores, tribunais superiores, parlamentares à venda e militares. O único ponto ausente neste processo foi o interesse nacional. E como não havia qualquer intenção nobre, mas apenas ambição, torpeza, vilania e preconceito, não tinha como dar certo – como, efetivamente, não deu. Jair Bolsonaro, que hoje provoca uma certa vergonha nos golpistas de 2016, é apenas a consequência da trama articulada por nomes como Fernando Henrique Cardoso, Rodrigo Maia, Aécio Neves, José Serra, Michel Temer, Eduardo Cunha, Moreira Franco, Aloysio Nunes e tantos outros integrantes da elite que destruiu o Brasil.

Decidi então listar aqueles que me parecem os dez motivos principais pelos quais a ex-presidente Dilma Rousseff foi golpeada em 2016 (não necessariamente por ordem de importância): (1) para que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o PSDB retomassem o projeto “Petrobrax” de fatiar e vender a Petrobrás aos pedaços, contemplando também as petroleiras internacionais; (2) para fazer cessar a política externa de um Brasil soberano e recolocar o país como quintal dos Estados Unidos; (3) para a bandidagem parlamentar tentar “estancar a sangria” das investigações de Curitiba, como foi profetizado pelo ex-senador Romero Jucá, do MDB; (4) para reduzir salários e aposentadorias tanto no setor público como no setor privado; (5) para desmontar o BNDES e inviabilizar todos os mecanismos de fomento do estado, esvaziando também os bancos públicos; (6) para vender Eletrobrás, Correios e outras estatais, como a BB-DTVM, a tubarões do mercado que ajudaram a financiar o golpe; (7) para saciar a síndrome de abstinência de poder do DEM e do PSDB após quatro derrotas presidenciais para o Partido dos Trabalhadores; (8) para saciar a fome por publicidade estatal da imprensa corporativa, que não aceitava as políticas democratização que vinham sendo executadas pelos governos progressistas; (9) para a classe média saciar seus preconceitos e se distanciar dos ex-pobres que se aproximavam perigosamente nos aeroportos; (10) para Michel Temer, que nunca havia chegado a lugar algum, nem na política nem na poesia, dizer que sua vida vazia fez algum sentido. 

Entre os motivos do golpe contra Dilma jamais esteve o “combate à corrupção”, já demonstrado pelas malas de dinheiro da JBS e pela demissão do ex-juiz Sergio Moro por Jair Bolsonaro (para quem com ele se iludiu), nem a responsabilidade fiscal, que piorou muito no governo Temer-Bolsonaro, dois personagens que são parte do mesmo projeto fracassado de "ponte para o futuro". Como nenhum dos dez motivos listados acima tem qualquer relação com crescimento, geração de empregos e desenvolvimento, seus cúmplices e co-autores tentam agora se desvencilhar deste processo que destruiu não apenas a economia nacional como a própria ideia de Brasil. Mas, independentemente do que escrevam, a história lhes será implacável.

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