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terça-feira, 6 de outubro de 2020

Sem a arte real não viveremos em meio à alienação, ao isolamento e ao discurso de ódio! Por Dora Incontri

 

Entre as lições que podemos tirar da quarentena – que os sensatos e os que podem ainda estão praticando, diante do número de mortos que não diminui – é o rearranjo de nossa lista de prioridades.


Sem arte, não viveremos! Por Dora Incontri

Talvez esse texto seja redundante, mas não importa. Num momento de tanta surdez coletiva, não custa repetir e repetir muitas vezes o óbvio, até mesmo repetir e ensinar de novo que a terra não é plana!

Entre as lições que podemos tirar da quarentena – que os sensatos e os que podem ainda estão praticando, diante do número de mortos que não diminui – é o rearranjo de nossa lista de prioridades.

Agora sabemos o que nos é essencial, e que não podemos ter, e o que nos é essencial, e podemos ainda usufruir mesmo trancafiados em casa. Abraços e beijos são essenciais (e quanto muitos de nós estamos sentindo falta!). Pessoas da saúde, da limpeza pública (a particular, podemos praticar nós mesmos, se estivermos saudáveis), professores (que precisariam nesse momento, na verdade, estar mais debatendo com os alunos temas atuais do que ensinando gramática e matemática on-line)… Quem diria, descobrimos que barbeiros e cabeleireiros fazem muita falta! Hoje tive o privilégio de ter meu cabeleireiro aqui em casa, depois de 5 meses em que ele estava de quarentena de um lado e eu aqui trancada. Com todos os cuidados, me senti melhor com o cabelo tinto e cortado.

Mas talvez a maior necessidade que descobrimos (se já não tínhamos plena consciência dela) é a necessidade de arte. Não é possível manter a sanidade, uma alegria mínima de existir sem uma música, uma poesia, um bom filme ou tudo isso junto, misturado. E ainda melhor quando produzimos arte, mesmo que seja para nós mesmos: cantar no banheiro, praticar a arte culinária, escrever uma poesia…

Eu, por exemplo, nessa quarentena, saí da condição de poeta incógnita (embora com livros de poesias publicados), para ouvir um poema meu declamado entusiasticamente em plena Rede Globo pelo Pedro Bial. E tenho gravado diariamente poemas e escritos meus e de outros, para espalhar reflexão e consolo.

Que alívio, recebermos em casa a Mônica Salmaso, com canções lindíssimas, com acompanhantes geniais – de um Yamandu a um Chico Buarque, de um João Bosco a um Guinga e a outros menos conhecidos, mas talentosíssimos, muitos jovens, revelando que ainda há uma quantidade boa e reconfortadora de artistas, despontando em nosso desvalido Brasil… Que lives emocionantes de Gil e Yamandu, de Milton e agora teremos finalmente a de Caetano.

Isso tudo nos faz lembrar que arte é alimento para a alma, é necessidade para sanidade mental, é conexão humana profunda, é liame cultural e emocional de um povo. Pela arte, ainda nos sentimos brasileiros, embora sintamos saudades de um Brasil que está morrendo. Mas outro haverá de renascer.

 

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