Há provas científicas da existência dos Espíritos? Parte I
por Marcos Villas-Bôas
Publicado no Jornal GGN em 16 de maio de 2017
Os últimos textos, como primeiros do blog, tinham o objetivo de despertar a curiosidade sobre o estudo científico dos Espíritos e tratar de alguns pontos básicos. Muitos têm cobrado agora a apresentação de provas científicas da existência de Espíritos. Alguns elementos já foram apresentados em texto anterior, mas iremos, de agora em diante, descer em mais detalhes sobre sólidos estudos realizados por célebres cientistas ao longo da história.
Primeiramente, é preciso tecer algumas palavras sobre a prova e sobre a prova científica. Uma prova é um relato sobre um fato, é algo que atesta a ocorrência do evento ou a procedência de uma teoria e lhe faz, assim, fato, consumado, aceito. A prova, portanto, é, como tudo na vida social, comunicacional e retórica.
Quer-se dizer com isso que não existe a “prova em si”, mas apenas a “prova aceita”. Há prova quando há concordância sobre algo estar provado.
A prova científica se forma, então, quando há concordância de estudiosos acerca de um relato ou de uma teoria sobre algo, e essa “certeza” depois termina “escoando” para a sociedade. É, portanto, um conceito fluido, na medida em que não há uma definição de quantas pessoas seriam necessárias para se falar em “prova científica”. É preciso unanimidade? Seria maioria? Se sim, simples ou absoluta?
Pretende-se demonstrar com isso que há um claro e considerável grau de subjetividade em relação ao que está provado cientificamente e ao que não está. A imensa maioria das pessoas não faz experimentos científicos, nem viu com os próprios olhos as provas de 99,99% deles. Elas simplesmente acreditam, pois veem especialistas falando sobre aquilo, beneficiam-se de tecnologias resultantes das descobertas e sua racionalidade aceita a hipótese.
Quantos já fizeram experiências científicas com a energia elétrica? A partir de qual momento foi possível afirmar que havia prova da sua existência? Apesar de Tales de Mileto tê-la descoberto na Grécia Antiga, se alguém afirmasse isso no século XIII, seria queimado na fogueira como demoníaco. Se falasse no início do século XVII, seria tido por louco.
Foi apenas em meados do século XVII, 23 séculos depois de Tales de Mileto, que se iniciaram estudos sistematizados da energia elétrica com Otto von Guericke. No século XVIII vieram Ewald Georg von Kleist, Petrus van Musschenbroek, Benjamin Franklin, Luigi Aloisio Galvani e outros. No século XIX, vieram James Clark Maxwell, Heinrich Hertz, Thomas Alva Edson e outros. Em 1876, próximo do final do século XIX, ainda não se sabia transmitir a energia elétrica gerada.
Qual a importância disso para o estudo dos Espíritos? Ninguém vê propriamente a energia elétrica, mas apenas os efeitos que provoca, sendo possível senti-la. Até o início do século XVIII, mesmo apesar dos estudos de alguns dos cientistas geniais aqui citados, a grande maioria das pessoas negava existir a energia elétrica. Algo similar acontece com os Espíritos, que, em regra, não se mostram aos olhos da maioria dos humanos. Segundo Kardec, no item 105 do Livro dos Médiuns:
“Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível e tem isto de comum com uma imensidade de fluidos que sabemos existir, sem que, entretanto, jamais os tenhamos visto. Mas, também, do mesmo modo que alguns desses fluidos, pode ele sofrer modificações que o tornem perceptível à vista, quer por meio de uma espécie de condensação, quer por meio de uma mudança na disposição de suas moléculas. Aparece-nos então sob uma forma vaporosa”.
O estudo do Espírito enquanto objeto científico começou apenas em meados do século XIX, com Allan Kardec. Quem lê suas obras nota a sua rara racionalidade e capacidade científica, mas é preciso, como sempre, desenvolver e difundir a ciência que ele sistematizou.
A sociedade em geral apenas aceitará a existência dos Espíritos na medida em que possa ter mais elementos concretos, o que é complicado, pois eles são seres inteligentes em corpos semimateriais, de modo que, primeiramente, o estudo dessa ciência depende de uma aquiescência dos próprios Espíritos, que são gente como a gente, em participar das experiências.
Os experimentos Scole dão provas robustas da existência de Espíritos, pois registraram em áudio, fotos e vídeo a desmaterialização e rematerialização de objetos, comunicações espirituais, toques deles nos pesquisadores por meio de uma mão visível e palpável etc.
Como de costume, alega-se que pode haver embuste nesses experimentos. Há pessoas que poderiam se deparar com o Espírito de um ente querido, se comunicar claramente com ele e, mesmo assim, não acreditariam que aquilo tivesse realmente ocorrido. Não adianta querer fazer enxergar aquele que não quer ver. Recorre-se com frequência à justificativa do sonho e das alucinações para afastar qualquer possibilidade espiritual.
No caso dos que estão abertos a entender os Espíritos, eles são inteligências fora do corpo físico, ou seja, são nós mesmos, humanos, desencarnados, não havendo o que temer, mas apenas respeitar e compreender. É preciso, no entanto, um forte senso crítico para que a aceitação da existência dos Espíritos, ou para que a afinidade com a Ciência Espírita, não leve a conclusões precipitadas.
Carl Gustav Jung, o pai da Psicologia Analítica, passou toda sua vida lidando com experiências mediúnicas de sua mãe e dele próprio, porém nunca afirmou existir prova científica da existência dos Espíritos.
Com receio de ser execrado do meio científico, uma vez que já tinha sofrido retaliações de Freud e outros por se interessar pelo Ocultismo, ele era muito cauteloso e não afirmou abertamente que tinha contatos com o mundo espiritual até a sua última brilhante obra, escrita quando já tinha mais de 80 anos de idade. Nela, ele afirma:
“Não foram somente os meus sonhos mas, ocasionalmente, os de outras pessoas que, revisando ou confirmando os meus, deram forma às minhas concepções a respeito de uma sobrevida” (Memórias, Sonhos e Segredos, p. 40).
Jung cita ao longo desse livro inúmeros casos de premonições dele e de outras pessoas, encontros com Espíritos durante o desprendimento da alma ao longo do sono, com coincidências incríveis e que, de tão incríveis, o levaram a concluir que aquilo não era simplesmente ação da sua imaginação.
Como todo bom cientista, Jung procurava se questionar bastante sobre todos os sonhos e visões que tinha. O mesmo acontecia com Camille Flammarion. Em texto anterior publicado aqui no blog, um leitor deixou comentário sobre o fato de o próprio astrônomo ter afirmado que as cartas escritas por ele e assinadas como “Galileu” não foram eventos mediúnicos em comunicação com Galileu Galilei, mas apenas sonhos, elementos da sua imaginação:
“Naquelas reuniões na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, escrevi, por meu lado, páginas sobre astronomia assinadas por ‘Galileu’. Essas comunicações ficavam no escritório da sociedade, e Allan Kardec publicou-as em 1867, sob o título Uranographie générale (Uranograjia Geral), em seu livro intitulado Genese (Gênese) (do qual conservei um dos primeiros exemplares, com a dedicatória do autor). Essas páginas sobre astronomia nada me ensinaram. Não tardei em concluir que elas eram apenas o eco daquilo que eu sabia e que Galileu nada tinha a ver com aquilo. Era como uma espécie de sonho acordado. Além disso minha mão parava quando eu pensava em outros assuntos” (As forças naturais desconhecidas, p. 44).
Cabe aqui uma importantíssima observação destinada a todos, mas especialmente aos que já são espíritas fervorosos. Assim como acontece no debate político, tendemos a aceitar aquilo que nos agrada e a refutar aquilo que nos desagrada. Se queremos realmente aprender mais e nos aprofundar em algum tema, é preciso questionar cada fato, cada premissa e cada conclusão. Do contrário, o risco de erros é enorme e, no caso da Ciência Espírita, o risco de misticismo também.
Quanto à afirmação acima de Flammarion, contudo, pode ser que ele mesmo tenha ficado confuso e chegado a uma conclusão errada. De qualquer forma, mesmo que ele houvesse sonhado e não tivesse psicografado Galileu, ou mesmo que ele não fosse, como alguns propõem a reencarnação de Galileu, que buscava o conhecimento no seu inconsciente, isso em nada ruminaria a existência de Espíritos e da psicografia, como o mesmo Flammarion afirma tantas vezes no próprio livro:
“Mas, nada é mais raro, no nosso planeta, que a independência e a liberdade absoluta da mente; nada é mais raro, também, que a verdadeira curiosidade científica, desprovida de qualquer interesse pessoal. Os leitores, em geral, dirão: ‘O que há nisso de tão importante? Mesas que se elevam, móveis que se mexem, poltronas que se deslocam, pianos que saltam, cortinas que se agitam, pancadas dadas sem causa conhecida, respostas a questões mentais, frases ditadas ao contrário, aparições de mãos, de cabeças ou de fantasmas, tudo isso não passa de banalidades ou de bobagens indignas de ocupar a atenção de um cientista. E o que isso provaria, se fosse verdade? Isso não nos interessa’. Há pessoas incapazes de se abalarem, mesmo que o céu lhes caia sobre a cabeça. Eu responderei: Mas como? Nada significa saber, constatar, reconhecer, que existem forças desconhecidas ao nosso redor?” (As forças naturais desconhecidas, p. 9-10).
Flammarion demonstra, a todo o tempo, nesse livro o cientista brilhante e curioso que era, sempre aberto a descobertas, a infirmar suas próprias “verdades”, mas também questionador, desconfiado. Essa deve ser a postura de um estudioso, de alguém ávido por aprender mais e mais. À frente, ele diz o seguinte:
“De um lado, os céticos não abrem mão de suas objeções, convencidos de que eles conhecem todas as forças da natureza, que todos os médiuns são farsantes e que os experimentadores não sabem observar. Por outro lado, os espíritas crédulos que imaginam haver constantemente espíritos à sua disposição em uma mesinha redonda e evocam, sem pestanejar, Platão, Zoroastro, Jesus Cristo, Santo Agostinho, Carlos Magno, Shakespeare, Newton ou Napoleão, eles irão me lapidar pela décima vez, declarando que me vendi ao Instituto por uma ambição inveterada, e que não ouso concluir em favor da identidade dos espíritos, para não contrariar os amigos ilustres” (As forças naturais desconhecidas, p. 10-11).
Essa obra de Flammarion aqui citada é de 1906, mas foi uma revisão de texto publicado no ano de 1865, o que é muito interessante, pois, quarenta anos após o jovem cientista escrever sobre o assunto, ele volta a analisar aqueles fenômenos espirituais muito mais maduro e após adquirir bem mais conhecimento. A sua importância histórica também é evidente. Um trecho transcrito da primeira obra diz o seguinte:
“É preciso ser bem audacioso para insistir, em nome da própria ciência positiva, em afirmar a possibilidade dos fatos chamados (erroneamente) de sobrenaturais, e de se fazer o campeão de uma causa aparentemente absurda, ridícula e perigosa, sabendo-se que os partidários confessos dessa causa têm pouca autoridade na ciência, e que seus partidários ilustres não ousam declarar que o são tão abertamente. Todavia, já que essa causa acaba de ser tratada momentaneamente por uma infinidade de jornalistas, cujas preocupações habituais são bem diferentes dos estudos das forças da natureza; como, de toda essa massa de escritores, a maior parte só fez acumular erros sobre erros, puerilidades sobre extravagâncias, e como fica evidente em cada uma de suas páginas (que eles me perdoem essa confissão!) que não somente eles não conhecem os rudimentos do assunto que pensaram poder tratar de acordo com sua fantasia, mas que também seu julgamento sobre essa ordem de fatos não repousa em nenhuma base, eu penso que seria útil deixar desta longa discussão um documento mais fundamentado, e enfrento voluntariamente mil críticas, por amor à verdade” (As forças naturais desconhecidas, p. 13).
Como se nota, muito pouco mudou. O tema dos Espíritos era tratado do final do século XIX para o início do século XX pela maioria como fantástico e de forma fantasiosa. Uns queriam negar a todo custo e outros queriam acreditar a todo custo. Os famosos que acreditavam buscavam, muitas vezes, não aparecer, com receio dos preconceitos de pessoas que os criticavam duramente sem nada saber das manifestações.
Como Flammarion as vinha pesquisando havia alguns anos, rebatia-os com certa indignação:
“É bom que se saiba que não considero meu julgamento superior ao dos meus colegas, dos quais alguns têm, em outros assuntos, um alto valor. É simplesmente porque, não estando familiarizados com o assunto, eles se perdem a torto e a direito, errando em uma região desconhecida, confundindo até os próprios termos e considerando como impossíveis fatos constatados há muito tempo, ao passo que este que escreve estas páginas vem fazendo experiências e discutindo o assunto já há muitos anos” (As forças naturais desconhecidas, p. 13-14).
Não é nenhuma novidade a desconfiança humana em relação ao que é novo, sobretudo ao que desmente suas crenças, mais especialmente ainda se disser respeito a suas crenças mais íntimas sobre quem ele é e sobre como o mundo a sua volta funciona. Flammarion nos remete, então, de volta à descoberta da eletricidade:
“Em 1791, um italiano, em Bolonha, tendo pendurado na balaustrada de sua janela rãs esfoladas, com as quais havia preparado um caldo para sua jovem esposa doente, viu-as se mexerem automaticamente, embora elas tivessem sido mortas na véspera. O fato era inacreditável e, por isso, Galvani encontrava uma oposição unânime por parte daqueles a quem contava o fato. Os homens sensatos pensavam que se rebaixariam caso se dessem ao trabalho de verificá-lo, tanto que estavam certos de sua impossibilidade. Todavia, Galvani chegara a notar que o efeito máximo se produzia quando se colocava um arco metálico de estanho e cobre em comunicação com os nervos lombares e a extremidade das patas da rã. Então, ela entrava em convulsões violentas. Ele pensou tratar-se do fluido nervoso e perdeu o fruto de suas descobertas. Ele estava reservado a Volta, ao descobrir a eletricidade” (As forças naturais desconhecidas, p. 17).
Os Espíritos fazem analogias frequentes entre a eletricidade, o magnetismo e fenômenos espirituais. Trata-se, em todos os casos, de fluidos ainda pouco conhecidos pelo homem, sobretudo na última situação. Assim como levou muitas décadas para a eletricidade ser aceita como descoberta científica e é difícil dizer em qual momento exato se teria uma prova científica dela, o estudo dos Espíritos está em processo de maturação, carecendo de curiosidade e cautela de todos que lidem com ele.
Os excelentes livros de Jung e Flammarion citados aqui buscam entender cientificamente as manifestações espirituais e merecem, com certeza, ser lidos por todos. Em textos seguintes, continuaremos a analisá-los, juntamente com obras de outros estudiosos tão ou mais célebres do que eles, procurando uma resposta para a pergunta: há prova científica da existência dos Espíritos?
Há provas científicas da existência dos Espíritos? Parte II
por Marcos Villas-Bôas
Publicado no Jornal GGN em 17 de maio de 2017
No texto passado, iniciamos uma busca por provas científicas da existência dos Espíritos e começamos utilizando uma obra de Carl Gustav Jung, um dos principais estudiosos da Psicologia em toda a história humana, e outra de Camille Flammarion, um dos principais estudiosos da Astronomia em toda a história humana. Em comum, suas obras tinham o estudo científico dos Espíritos e a conclusão de que eles existem.
A seriedade com que esses dois e outros estudiosos empreenderam seus estudos afasta a acusação de que a Ciência Espírita seria misticismo, uso de pseudociência para justificar uma religião. Jung e Flammarion se questionaram, ao longo de toda a vida, sobre a realidade dos fenômenos que enfrentavam e observavam.
Flammarion, por exemplo, criticava aberta e diretamente parte dos espíritas por sua falta de método científico e muitos médiuns que eram embusteiros:
“A respeito desses fenômenos, tem-se falado muito em espiritismo. Alguns dos seus defensores acreditam tê-lo consolidado, apoiando-o em uma base também frágil. Os opositores acreditam tê-lo excluído definitivamente e o enterrado sob o desmoronamento de um armário. Ora, os primeiros mais o comprometeram do que o serviram; os segundos, não conseguiram derrubá-lo, apesar de tudo. Mesmo que seja demonstrado que no espiritismo não exista senão truques de prestidigitação, a crença na existência de almas separadas do corpo não será absolutamente atingida. Além disso, as trapaças dos médiuns não provam que eles trapaceiam sempre. Elas apenas nos põem de sobreaviso e nos convidam a ser muito severos em nossas observações. Quanto à questão psicológica da alma e à análise das forças espirituais, estamos ainda hoje no ponto em que a química encontrava-se no tempo de Alberto, o Grande, ignoramos! Portanto, não podemos ficar num justo meio-termo, entre a negação que recusa tudo e a credulidade que aceita tudo? É razoável negarmos tudo o que não compreendemos, ou acreditarmos em todas as loucuras que imaginações doentias dão à luz umas após as outras? Não podemos possuir ao mesmo tempo a humildade que convém aos fracos e a dignidade que convém aos fortes?” (As forças naturais desconhecidas, p. 20).
Nas páginas seguintes do seu livro, Flammarion conta sobre experimentos que realizou com a médium Eusapia Palladino, de Nápoles, que foi a Paris a convite do Instituto Geral de Psicologia (IGP). Entre os diversos cientistas que a estudaram, ele destaca Pierre Curie, vencedor do Prêmio Nobel juntamente com sua esposa Marie Curie, que foi a primeira mulher a ganhar tal prêmio duas vezes e também adepta da teoria da existência dos Espíritos:
“Entre esses cientistas, citarei Pierre Curie, eminente químico, com o qual conversei alguns dias antes de sua morte tão infeliz e tão horrível. Essas experiências eram para ele um novo capítulo do grande livro da natureza, e também ele estava convencido que existem nelas forças ocultas, a cuja investigação não é anticientífico se consagrar” (As forças naturais desconhecidas, p. 22).
Outro que estudou a mesma médium citada, além de muitos outros paranormais, foi Charles Richet, também vencedor do Prêmio Nobel, comprovando-se que houve repetidos experimentos científicos, realizados pela mentes mais brilhantes do mundo, que chegaram a conclusões semelhantes. Isso não faria prova científica? Então, o que faria? Fotografias? Os incrédulos dirão que foram alteradas ou que não mostram exatamente aquilo que está lá registrado.
Flammarion e o IGP tiravam fotografias de alguns de seus experimentos, como, por exemplo, o realizado com a médium Eusapia Palladino de levantamento de uma mesa por ter as mãos espalmadas nela e até mesmo sem sequer tocá-la:
“Eis o caso de uma mesinha redonda. Eu vi, muitas vezes, uma mesa bastante pesada elevar-se a quatro, vinte, trinta e quarenta centímetros de altura, e dela tirei fotografias bem incontestáveis. Constatei, por tantas vezes, que a suspensão desse móvel com as mãos de quatro ou cinco pessoas colocadas sobre dele, produzia o efeito de flutuação de uma tina cheia de água ou de um fluido de plástico, que, para mim, a levitação dos objetos não é mais duvidosa do que a de um par de tesouras levantado com a ajuda de um imã. Mas, desejo de examinar sem pressa como a coisa se operava, uma tarde em que me encontrava quase sozinho com Eusápia (29 de março de 1906, nós éramos, nos total, quatro), pedi que ela pusesse, juntamente comigo, as mãos sobre a mesinha redonda, sendo que as duas outras pessoas mantiveram-se à distância. O móvel foi, bem-depressa, suspenso a trinta ou quarenta metros do assoalho, enquanto nós dois estávamos de pé. No momento da produção do fenômeno, a médium, colocando uma de suas mãos sobre uma das minhas, apertou-a energicamente, e a outra mão de cada um de nós ficou próxima uma da outra. Houve, aliás, tanto de sua parte, como da minha, um ato de vontade expresso por palavras, por comandos ao ‘espírito’: Vamos! Levante a mesa! Ânimo! Vejamos! Faça um esforço! etc. Constatamos imediatamente que havia dois elementos presentes. De um lado, os experimentadores dirigindo-se a uma entidade invisível. De outro, a médium sofre uma fadiga nervosa e muscular, e seu peso aumenta em proporção ao do objeto levantado (mas não em proporção exata). Devemos agir como se lá houvesse, realmente, um ser que estivesse ouvindo. [...] Não seria possível que ao nos esforçarmos, originássemos uma liberação de forças que agiriam exteriormente aos nossos corpos? Mas não há, nestas primeiras páginas, lugar para começarmos a imaginar hipóteses. Naquele dia, a experiência que acabo de citar foi repetida três vezes consecutivas, em plena luz de um lustre a gás, e nas mesmas condições de evidência absoluta. Uma mesinha redonda, pesando cerca de seis quilos, foi suspensa por essa força desconhecida. [...] Devo acrescentar que, muito amiúde, a levitação do móvel prossegue, mesmo que os experimentadores param de tocar a mesa. Há aí um movimento sem contato”.
Vide foto de experimentos realizados em 6 de julho de 1905, dos quais participaram Camile Flammarion, Pierre Curie, Eusapia Palladino e outros. Há outras fotos na Internet que retratam experimentos de levitação de mesas com ajuda espiritual, fenômeno amplamente conhecido do final do século XIX para o início do século XX, documentado de diferentes formas, inclusive em inúmeros jornais, e abertamente discutido pelas pessoas.
Para constituir prova científica robusta, precisaríamos de outros estudiosos, como Jung, Flammarion e o casal Curie, com vasto conhecimento, enorme inteligência e respeitabilidade bem acima da média, que comprovassem experimentos de cunho espiritual e fossem capazes de explicá-los. Também seria prudente considerar o “uso” de outros médiuns, partindo do pressuposto, pouquíssimo crível por conta das características descritas, de que qualquer um poderia ter fraudado os experimentos.
Voltemos, então, ao vencedor do Nobel de Medicina Charles Richet, que também realizou experimentos com Eusapia Palladino e outros diferentes médiuns, sofrendo diversas críticas dos incrédulos, o que lhe levou a afirmar o seguinte:
“Pois quê! Tudo o que até aqui temos visto não passa de fraude! Essa fraude começou com as meninas Fox, que extravagantemente imaginaram ser divertido produzirem pancadas. Daí pra cá milhares de indivíduos, muito crédulos, não há que ver, porém a maioria imbuída de fé sincera, obtém, nas suas sessões particulares, tão só para se acomodarem aos caprichos das meninas Fox, fenômenos de pancadas. Um dia Home teve o desplante de produzir uma mão fantasmática. Por causa disso, Slade, Stainton Moses, produziram também mãos fantasmáticas. Um dia Eva teve vontade de velhaquear e fez cair ectoplasmas de sua boca. Por causa disso, Stanislawa, Willy, a Srta. Goligher, resolveram também velhaquear como Eva. Esse amontoado de embustes, tendo desafiado todos os controles, é de uma inverossimilhança igual pelo menos àquela da ectoplasmia. O futuro – um futuro mesmo muito próximo – julgará o litígio”.
Para negar a existência de prova científica após tantos experimentos documentados, seria necessário que outros muitíssimos experimentos fossem realizados hoje com médiuns e que se encontrasse outras razões, que não as espirituais, para as dezenas de tipos de diferentes fenômenos gerados por eles com ajuda de inteligências espirituais. Ficar apenas acusando todos de embusteiros ou de delirantes revela baixeza.
Conforme afirma também Richet:
“Não posso, num prefácio, entrar numa discussão que mais para adiante será exposta com brevidade. Contentar-me-ei em dizer que as experiências negativas, a não ser que o sejam em número enorme – e ainda bem! – nada provam contra uma experiência positiva.
Uma única experiência positiva – com a condição, claro está, de ser feita corretamente – tudo leva de vencida. Por exemplo, tenho entre as minhas mãos as de Eusápia, levanto-as para cima, separando-as, e nesse meio tempo outra mão me acaricia. Eis aí uma experiência positiva: não sei como podem infirmá-la, alegando: ‘Cem vezes separei as mãos de Eusápia e jamais percebi uma terceira mão’. Esta negação nada prova e fica um terceiro obrigado a demonstrar como pude, assim como Fred. Myers e Olivier Lodge, ser enganado desta maneira.
Na verdade, novas experiências com pessoas assim tão caprichosas, tão desconfiadas, serão sempre necessárias, porque indiscutivelmente a metapsíquica objetiva não está ainda construída em bases fortes como metapsíquica subjetiva, o que se deve à extrema raridade de médiuns de efeitos físicos e à facilidade (relativa) de fraude”.
Tenha-se em mente que o IGP realizou dezenas de pesquisas com diferentes médiuns, não apenas com Eusapia Palladino. O foco de vários cientistas sobre ela, por longo período, se devia ao fato de que conseguia produzir de modo claro as bem menos comuns manifestações físicas.
Em carta datada de 17 de setembro de 1984, Pierre Curie diz o seguinte a sua esposa Marie:
“Devo confessar que esses fenômenos me intrigam muito. Acredito que haja temas intimamente relacionados com a física. [...] Há algum agente desconhecido responsável por estes fenômenos? Seria apenas puro magnetismo?”.
O IGP havia criado uma sala no número 14 da Rua Condé, em Paris, com o aparato tecnológico mais avançado da época para registrar em fotos os experimentos e controlar os efeitos provocados e sentidos por Eusapia durante eles. Segundo Pierre Curie, os controles eram “de excelente qualidade durante toda a sessão”.
Havia uma vela para clarear Eusapia e não permitir que realizasse qualquer ação mecânica sobre a mesa. Pierre chegou a controlar seus joelhos e diferentes controles eram exercidos ao longo dos experimentos. Na sessão seguinte, ele levou sua esposa Marie para que pudesse tornar as experimentações ainda menos dependentes da subjetividade dele. Seguiam-se controles, como amarrar a médium, segurar membros do seu corpo, fazer com suas mãos ou uma delas não tocasse a mesa etc.
Todos esses experimentos estão fartamente documentados, como no relatório de Jules Courtier intitulado “Rapport sur les seances d’Eusapia Palladino” (Relatório sobre as reuniões de Eusapia Palladino).
Parece que há sobras de provas científicas acerca da existência de “forças naturais desconhecidas”. Se unirmos as pesquisas de Allan Kardec, às de Camile Flammarion, Pierre Curie, Marie Curie, Charles Richet, Carl Jung e muitos outros, não ficam dúvidas para um sujeito racional e aberto ao novo acerca da existência de Espíritos, médiuns e suas manifestações, todas muito bem explicadas – apesar de ser possível desenvolvê-las, aprofundá-las – por Allan Kardec no Livro dos Médiuns.
Apesar disso, a pouca divulgação que se deu a esses estudos e a sua pouca repetição nas últimas décadas culminou numa baixa disseminação da fundamental e, no nosso modo de ver, comprovada hipótese da natureza de que Espíritos existem e se comunicam com os humanos encarnados a todo momento, informações suficientes para dar uma completa guinada em nossas vidas.
Aos que aceitam essas provas científicas, cabe, dentro de suas possibilidades, continuar os estudos, as experimentações daqueles grandes cientistas e difundir ao máximo esse conhecimento, para que, aceitando a existência dos Espíritos, os humanos possam estudar seus ensinamentos morais, sobretudo, e intelectuais, de modo a construir uma nova humanidade no Planeta Terra.
No texto seguinte, veremos mais detalhes sobre os experimentos aqui comentados a partir das obras dos estudiosos referidos e de outros, colaborando para que cada um possa tirar suas próprias conclusões acerca da existência ou não de Espíritos, mas de modo bem fundamentado, olhando para diversos experimentos, teorias e acontecimentos singulares que ajudam na racionalização do problema.
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