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domingo, 10 de julho de 2016
Imagens, símbolos, mitos, contos e arquétipos: a linguagem primária da alma, por Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Na Psicologia, em geral, na Psicanálise, em especial, e na psicologia de Carl Gustav Jung, em particular, as imagens, o imaginário, os símbolos e as expressões não verbais são foco de especial atenção: elas expressam - muitas vezes de forma espontânea e independentemente de nosso pensar racional discursivo - muito de nossa alma, nossas preocupações, sonhos, anseios e, principalmente, sentimentos frente ao outro e ao mundo.
Nas sociedades tradicionais - e estas possuem váriados aspectos, que vão desde as sociedades não industriais às cidades do interior ainda longe do caos e "coisificação" da grande cidade capitalista -, os referenciais de coesão social e a consolidação de um sentimento de pertencimento a uma comunidade são dadas, prioritariamente, através de histórias e dos mitos culturais, quase sempre pautados na religião.
Mitos são formas de dar sentido à vida e de preparar as pessoas para os desafios da mesma, bem como para oferecer "modelos" dos papeis sociais a assumir: do herói, da pessoa boa (evitando ser a pessoa má), do sábio, etc.
O erudito norte-americano Joseph Campbell (1904-1988) tornou-se mundialmente famoso pela série de tv "O Poder do Mito", explicando as funções psicológicas e sociológicas do mito e, como tal, ainda atuante em nossos dias. O mito, portanto, reflete em poesia o que nossa racionalidade tenta ordenar em prosa: dar uma sentido ao mundo em que vivemos. A visão de mundo de uma sociedade normalmente é expressa de forma alegórica em seus mitos e etapas de uma nova forma de ver o mundo são, antes de se tornar conhecida ou compartilhada, primariamente expressa em linguagem mítica. Assim, a pujança racional e ao mesmo tempo lírica dos gregos se arvoravam na discussão de seus deuses e contos épicos, como a Ilíada e a A Odisseia de Homero. Na modernidade, histórias como as do Dr. Fausto de Goethe e o romance Frankenstein, de Mary Schilley, são expressões da guinada à hipertrofia da racionalidade que nos levaram aos paradoxos da modernidade e sua "Matrix" técnica....
Os contos de fada, por sua vez, constituem uma forma mítica curta para expor, em linguagem figurada, processos de desenvolvimento do ser humano no seu crescer e existir. A sexualidade, os paradoxos do amor, as dúvidas existenciais tomam contornos alegóricos ou simbólicos.... As fontes de nossos desejos podem tomar a forma de uma aspecto da natureza ao mesmo tempo belo e sombrio, como o grande oceano ou a floresta, de onde saem partes de nosso psiquismo que precisamos integrar ou conviver, na forma de uma baleia ou do lobo mal, ou mesmo de uma pessoa extremamente diferente (o mouro, o bruxo, etc.), mas que são partes nossas, nossa sombra (que nem sempre possui aspectos sombrios, mas apenas não reconhecidos como pertencentes a nós mesmos). Não é o conto da Chapeuzinho Vermelho uma alegoria do despertar sexual das meninas?
Devemos a Sigmund Freud (1856-1939) e, mais em especial, a Carl Jung (1875-1961) o resgate da força e significado das imagens, do sonhar e dos símbolos no entendimento de nossa alma. Mas realidade do universo imaginário se tornou reconhecida em outras áreas do conhecimento, especialmente na Antropologia, Filosofia e e Crítica Literária. Sua presença nas Artes, em geral, por séculos, não precisa ser discutida.
O cinema e a literatura, bem como a música, obtém a sua força e encanto do uso deste potencial universal de nosso mundo arquetípico. O estudo dos contos, dos sonhos, da poesia, portanto, só acrescentam e nos tornam mais humanos nestes dias tão estranhos de tanta artificialização e retorno do fascismo....
Para Ler:
CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. Editora Palas Athena (também em vídeo, pela TV Cultura).
ELIADE, Mirceia. Imagens e Símbolos. Martins Fontes Editora.
JOHNSON, Robert. We - a Chave da Psicologia do amor romântico. Editora Mercuryo.
JUNG, Carl Gustav. O Homem e Seus Símbolos. Editora Nova Fronteira
MAY, Rollo. A Procura do Mito. Editora Manole.
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