A delação premiada de Sérgio Machado expôs a nu o governo interino de Michel Temer. Toda a cúpula do PMDB foi diretamente comprometida, sem excluir o próprio presidente.
"Pro Michel eu dei", disse o delator, explicando que se tratava de R$ 1,5 milhão acertados pessoalmente com Temer na Base Aérea de Brasília, em repasses de propina da empreiteira Queiroz Galvão. O dinheiro ilícito teria sido destinado à campanha de Gabriel Chalita à prefeitura paulistana.
É verdade que delação não é prova. Não era quando se tratava do PT e não será agora porque o alvo é Michel Temer. Deixemos a incoerência para quem vive dela.
Mas não custa lembrar que por muito menos que isso, Lula foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal. E Dilma — sob o fraco pretexto das pedaladas — destituída da Presidência da República mediante um golpe parlamentar.
Nenhum depoimento até então apontou a presidenta como recebedora de propinas. Já Temer, em apenas um mês de governo, tem o nome diretamente ligado ao esquema. O ambiente é de corrosão.
Quem prometia a "salvação nacional" precisa preocupar-se agora em salvar seu pescoço. Do presidente interino a seus ministros, passando por metade do Congresso, todos estão na corda bamba. E se Sérgio Machado está fazendo esse estrago, imaginem então o que não faria uma delação de Eduardo Cunha, caso seja mesmo cassado e preso.
Tudo o que é sólido se desmancha no ar. Isso vale para o governo Temer e também, é claro, para o sistema político brasileiro, em franca dissolução.
Mas o que se desmancha no ar pode ser recomposto em mais do mesmo, se as forças vivas da sociedade não forem capazes de apresentar saídas.
Não basta estar podre para cair. A crise entre os "de cima" precisa vir acompanhada da mobilização decidida dos "de baixo".
Guilherme Boulos
No Esquerda Caviar
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