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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Do Jornal O Globo: Abin apontou participação de grupos neonazistas e de supremacistas brancos em movimentos golpistas durante eleições

 

De O Globo:

Órgão de inteligência afirmou que as comunidades usavam 'narrativas de deslegitimação' das instituições para 'avançar teses extremistas violentas' e 'fomentar movimentos de insurreição armada'
Por — Brasília

Material de grupo neonazista e supremacista apreendido em operação da Polícia Civil do RS feita em parceria com a Abin


A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) detectou que grupos identificados com bandeiras neonazistas e de supremacistas brancos em aplicativos de mensagens tentaram se associar a movimentos de contestação, sem provas, dos resultados das eleições de 2022. Segundo a Abin, cinco comunidades do Telegram reuniu cerca de 2.800 membros para fomentar "narrativas de deslegitimação" das instituições.

Os documentos da agência de inteligência do governo foram elaborados em 25 de novembro e 1º de dezembro de 2022 e foram encaminhados à Polícia Federal e à Polícia Civil do Rio Grande do Sul — que, em junho deste ano, realizou operação para combater discursos de ódio difundidos no grupo. Na ocasião, três pessoas foram presas e quatro mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Porto Alegre, Canoas, Nova Santa Rita e Novo Hamburgo.

— Eles (grupos nas redes sociais) guardam relação com várias destas células extremistas, inclusive com os materiais e folders que apreendemos — afirmou Tatiana Bastos, delegada titular da Polícia de Combate à Intolerância de Porto Alegre.

A Abin aponta que as células neonazistas e extremistas tiveram um aumento de engajamento após a eleição presidencial. “Até o pleito eleitoral de 2022, não se identificava histórico de envolvimento sistemático de grupos supremacistas e neonazistas com pautas políticas ou manifestações. Apesar disso, em monitoramento de grupos virtuais utilizados para disseminação de conteúdo supremacista na conjuntura eleitoral, observou-se aumento da interação e da visualização”, diz trecho do relatório.

  • Os grupos, segundo a Abin, foram utilizados para indicar suspeitas infundadas de fraudes nas urnas, divulgar bloqueios em rodovias federais e disseminar panfletos sobre a "luta contra comunistas".

"Alguns grupos neonazistas demonstram interesse em associar narrativas supremacistas a movimentos de contestação dos resultados eleitorais e adotam discursos que dialogam com pautas de outros movimentos para recrutar novos adeptos e promover ações violentas contra autoridades, instituições e agrupamentos antagônicos", diz o relatório.

Um dos grupos identificados pela Abin, com o nome de “Resistência Sulista 1 Divisão", foi criado no Telegram em 3 de outubro de 2022, mas as primeiras publicações só se deram em 30 de outubro de 2022 — no dia do segundo turno das eleições. No canal, foi postado um vídeo que ensina técnicas de como fabricar armas de fogo por meio de impressoras 3D. "Esse é um canal com vários diagramas de armas 3D, baixem, imprimam e passem para frente", diz a publicação.

Outro canal identificado é o "Sul Independente Milícia", que, segunda o órgão, "difunde imagens com estética e teor associados ao neonazismo aceleracionista — vertente do neonazismo que defende a necessidade de atos de violência por atores isolados ou pequenas células como forma de acelerar o colapso da sociedade".

Em 31 de outubro de 2022, foi criado outro grupo no Telegram, o "Soldati Della Luce"(Soldados da Luz), que se autodescreve como "milícia digital". O canal é repleto de referências racistas e diz em sua descrição que foi criado para defender a raça branca, criticando a criação do Ministério da Igualdade Racial no governo Lula.


Os oficiais da Abin também identificaram que os grupos eram usados para discutir ataques a autoridades públicas. Em uma das mensagens interceptadas, um dos integrantes pedia uma lista de "possíveis alvos com nome e endereço completos". Em suas conclusões, a agência afirma ver articulação de extremistas no período pós-eleição como uma estratégia para arregimentar novos membros e "promover ações violentas contra autoridades".

"Além de sinalizar tendência de radicalização, demonstram interesse em associar narrativas supremacistas a movimentos de contestação dos resultados eleitorais e adotam discursos que dialogam com pautas de outros grupos para recrutar novos adeptos e promover ações violentas contra autoridades, instituições e agrupamentos antagônicos", diz o documento.

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