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quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Bob Fernandes: Um Brasil doente de fanatismo fascista finge não ver o genocídio dos Yanomami, finge não ter sido golpeado pelos militares...

 

Do Canal do Analista Político Bob Fernandes:

Esse Brasil que fingia não ver assalto e genocídio nas terras Yanomami, nos últimos 6 anos, desde o impeachment de Dilma, finge também não ter sido, nas sombras, golpeado e tutelado por uma casta militar. Mas não só.

Golpe também parlamentar e jurídico, lá no início.

Com auxílio luxuoso de porções do judiciário lavajatista tornado instrumento de ascensão política e econômica.


UM BRASIL DOENTE FINGE NÃO VER O GENOCÍDIO DOS YANOMAMI, NÃO TER SIDO GOLPEADO PELOS MILITARES...

Um Brasil está doente e precisa de divã.

Fingiu, nos últimos quatro anos, não ver o genocídio dos Yanomami.

Agora, com imagens que correm o mundo, o estarrecimento.

Crianças e velhos com costelas à mostra, só pele, osso, barrigas inchadas.

Só entre as crianças Yanomami, ao menos 570 mortos. Por fome, desnutrição, doenças.

Esse Brasil que fingia não ver assalto e genocídio nas terras Yanomami, nos últimos 6 anos, desde o impeachment de Dilma, finge também não ter sido, nas sombras, golpeado e tutelado por uma casta militar. Mas não só.

Golpe também parlamentar e jurídico, lá no início.

Com auxílio luxuoso de porções do judiciário lavajatista tornado instrumento de ascensão política e econômica.

Perceba-se onde estão, o que são hoje as duas figuras centrais daquilo tudo, Moro e Dallagnol.

Estão no Congresso. Que ao impeachment se associou em maioria. Boa parte deles, em especial entre os que pontificavam, corruptos.

Isso a história se encarregaria de demonstrar nos anos seguintes àquela dantesca noitada de votação na largada do impeachment.

Invocam os acertos da Lava Jato. Não esqueçam o desnudar da Farsa e farsantes expostos na Vaza Jato.

Fingem não saber. Foi o ministro da Justiça, Moro, quem paralisou a demarcação das terras indígenas e os entregou ao banditismo.

O indigenista assassinado, Bruno Araújo, deixou a FUNAI, substituído por um evangélico inexperiente na gestão Moro.

Bruno coordenava o sensível contato com índios isolados.

E Moro havia nomeado o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier para a presidência da FUNAI.

Deu nisso aí.

O Brasil doente é aquele que, embora tenha meios e oportunidade para saber, prefere fingir não ter os meios e as oportunidades.

Fosse esse país uma pessoa, o diagnóstico inicial seria o da negação.

Persistindo e se agravando a patologia teríamos a recusa. Neurose que se expandiu não sem motivos.

São anos sob governo perverso, que evoluiu para a psicopatia.

Espessa a camada de recusa e fingimento. Mas no contexto pós posse de Lula e terror no 8 de janeiro, o Diário de Guerra do site Sumaúma, incrustado na Amazônia, expôs com imagens, reportagem e manchete o horror:

- Não estamos conseguindo contar os corpos.

Em quatro anos de governo de Jair, 570 crianças com menos de 5 anos morreram no território Yanomami.

Cerca de 30 mil vivem no território entre Roraima e o Amazonas. Velhos também estão morrendo às pencas.

Submetido a um apagão estatístico na era Bolsonaro, relata Sumaúma, não se sabe a dimensão da subnotificação.

Mortes por fome e suas consequências: pneumonia, vermes, diarreia.

E a malária, que se alastra, transmitida por garimpeiros picados pelos mosquitos.

O mundo estarrecido com cenas e corpos de crianças que remetem aos campos de concentração nazistas.

Lula, ministros e equipes voaram para Roraima para anunciar medidas de emergência.

700 mil mortos depois da irresponsabilidade criminosa na Covid, foragido nos EUA, Bolsonaro novamente assumiria com habitual naturalidade seu papel de genocida.

Mesmo diante do que salta aos olhos e sentidos, disse:

- Isso é uma farsa da esquerda.

Não há análise ou relato jornalístico objetivo que impeça uma constatação: Bolsonaro é um psicopata escroto.

Já vemos, lemos e ouvimos ólogos vários debatendo se o ismo da vez é ou não nazismo.

Da mesma forma assistimos nos últimos anos o “é ou não é o fascismo?”. Como se qualquer desses ismos brotasse do nada, de um dia para o outro e sem hospedeiros.

Fábio Wajngarten chefiou a Secretaria de Comunicação, SECOM, de Bolsonaro.

Agora, mesmo com imagens de corpos de crianças indígenas lembrando o horror nos campos de concentração do nazismo ele, publicamente, fingiu não ver.

No sábado, imagens estarrecendo Brasil e mundo, Wajngarten preferiu protestar contra a demissão do comandante do Exército.

E falando em “interferência nas Forças Armadas”.

Quem vai avisar ao cidadão que presidente da república é comandante-em-chefe das Forças Armadas?

E que sob omissão cúmplice também de militares, isso pra não ir além, golpistas tocaram o terror contra os Três Poderes há duas semanas?

Em que planeta habita o ex-comunicólogo do Jair?

Ele não entendeu ou fingiu não entender o significado de, em 2018, no Clube Hebraica do Rio e ao lado da bandeira de Israel, Bolsonaro usar o termo “arrobas” para definir o peso de pretos?

E de dizer isso:

- Nem um centímetro para indígena e quilombola!

O Brasil que tem como saber e finge não ver por quatro anos desconheceu o genocídio sendo exposto nos relatórios do Conselho Indigenista Missionário. Estava tudo lá.

As fotos de Rios, como Madeira entre tantos, inundados pelo mercúrio que envenena águas e pessoas.

Fingiram não ver o que o resto do mundo viu. Em todos os continentes, como aqui mostramos em uma edição só com manchetes.

Fingiram não ouvir Bolsonaro dizer: “A Amazônia não é mais nossa”.

Como não notaram a cara de espanto do aliado, o falecido Major Olímpio, ao ouvir tal disparate.

Nunca se interessaram e quando provado seguiam fingindo não ver. Diário da Câmara dos Deputados, 16 de abril de 1998. Fala o deputado Jair Bolsonaro, então projeto de genocida:

- A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país.

E seguia o Messias: “Apresentei projeto para tornar sem efeito a reserva Yanomami. Para minha surpresa, até mesmo deputados da bancada amazônica votaram em peso contra esse projeto”.

O fascismo, o nazismo, não caem das árvores, são construções.

Não vê, não ouve, não sabe quem não tem como saber. Ou os que não querem ou fingem não saber.

Há quantas décadas esse Brasil finge não saber das levas de suicídio entre indígenas, principalmente jovens, entre 9, 10 e os 24, 25 anos?

E entre os Guarani Kaiowá, em Dourados, Mato Grosso do Sul, mas não apenas. Brasil afora.

Já mais de mil suicidas, o CIMI denuncia, entidades denunciam, mas esse Brasil finge não ver, não saber, e desconhecer os motivos.

Sul da Bahia, onde nasceu esse outro Brasil, que há cinco séculos era dos indígenas. Há dias mais assassinatos. E… registros protocolares.

Militares. General Mourão, ex-vice-presidente e à frente do Conselho Nacional da Amazônia Legal... E… nada.

Agora diz que Lula busca alimentar a crise com militares.

Não, general Mourão. Ou seria senador Mourão?

Aliás, antes de mais nada o general senador ou senador general precisa decidir e informar ao distinto público com que persona estamos a falar.

Com o general, com o senador ou com a dupla personalidade?

Pois, general ou senado, Lula não parece alimentar crise com militares, e sim, numa missão quase impossível, tenta minimizar a crise.

Porque militares e sua já secular fome pelo Poder e suas benesses são, eles mesmo, a crise.

General na reserva, Sérgio Etchegoyen. De família centenária no Exército.

E desde o avô, Alcides, envolvida em golpes de Estados, tentativas, quarteladas.

Disse que Lula foi covarde ao criticar militares. Por saber que nenhum general na ativa iria responder ou contestar.

É essa a percepção arrogante, prepotente, de gente acostumada a exercer a tutela. Um pavão.

General não tem que responder nada. Tem que cumprir ordens. Que emanam do ministro da Defesa e do comandante-em-chefe. No caso, o presidente.

Para profundo desgosto de Etchegoyen. Que não aceitou ter a Comissão da Verdade incluído seu pai, Leo, e seu tio, Ciro, entre militares de alguma foram responsáveis por crimes durante a última ditadura.

Um ano antes de impeachment, golpe contra Dilma, Etchegoyen e o comandante do Exército, Villas Bôas, se reuniam com o então vice Michel Temer.

Que traiu Dilma. Com apoio dos militares. Isso é a história. E está nos livros.

Na última semana, Lula demitiu o ex-comandante do Exército, general Júlio César de Arruda.

Por evidente omissão - finjamos que foi só omissão do Exército - no ataque aos Três Poderes em 8 de janeiro.

Façamos de conta seguir não entendendo o “Chame-Gente” para as portas dos quartéis por mais de dois meses.

O general Tomás Miné Paiva é o novo comandante do Exército. Às vésperas da nomeação, fez discurso bonito sobre respeito às instituições, ao voto etc.

Ok, beleza. Façamos de conta não saber do resto. Saber, atrapalha.

O general comandava até então o poderoso II Exército, o Sudeste. Baseado em São Paulo.

Durante dois meses assistimos a convescote golpista às portas do QG em São Paulo. Lula até citou o fato às vésperas da nomeação.

E Tomas Miné, como vocês já ouviram aqui algumas vezes nos últimos anos, comandava a AMAN quando, em novembro de 2014, dentro da ACADEMIA foi, ilegalmente, lançada a candidatura de Bolsonaro à presidência da República.

O general Tomás não soube, não viu a cena, gravíssima, que pra começar fere o próprio Estatuto dos Militares, a lei 6.880?

A solução, portanto, foi a solução possível para superar o impasse do momento entre o Poder Executivo e militares. Que secularmente se têm e se enxergam como tutores do Brasil.

Nesta segunda-feira, em Buenos Aires, ao lado do presidente Alberto Fernández, Lula mandou mensagens múltiplas. Para a Argentina, para a América do Sul e além.

E para os militares do Brasil; inclusive as polícias militarizadas. Mensagem essa com doses milimetricamente calibradas, calculadas.

- E tive uma boa conversa com o comandante, e ele pensa exatamente com tudo que tenho falado sobre as Forças Armadas. As Forças Armadas não servem a um político. Elas não existem para servir a um político. Ela existe para servir à soberania de nosso país.

Aguardemos capítulos futuros sobre a ânsia pela tutela militar.

E o outro Poder, esse que está acima das nações e é invisível e onipresente, O O Mercado?

Feroz combatente contra o Estado, o que tem a dizer sobre a bilionária picaretagem das Lojas Americanas?

Vocês leram, ouviram manchetes citando, sempre em Off, o que pensa “O O Mercado” sobre o bilionário tombo?

Damares. Como senadores conviverão com essa farsante que, ministra, vivia a falar sobre indígenas e crianças?

O que esse ser humano abjeto tem a dizer sobre o genocídio de crianças indígenas?

E como deputados que sejam decentes aceitarão a companhia asquerosa de Ricardo Salles?

Ele, que confessadamente arregaçou a Amazônia para sua boiada, seu gado. Que escancarou a floresta para o contrabando de madeira.

Como, vendo as imagens dos corpos de crianças indígenas, chegar perto de Salles sem ter ânsia de vômito? Ou ânsias de algo muito pior?

E os ministros da Saúde? Queiroga ou aquele também general, Pazuello?

O que têm a dizer sobre o genocídio indígena estes senhores?

A Inteligência Militar não soube de 21 alertas sobre o genocídio em andamento?

O jornalismo. De quando em quando uma reportagem alertava para a tragédia.

Eliane Brum, a mesma da Sumaúma que agora expôs as mortes de crianças indígenas, Alceu Castilho, de Olho nos Ruralistas, André Trigueiro na Globo, Rubens Valente e Fabiano Maisonnave, então na Folha, estes, estas, alguns entre os que por anos denunciaram a tragédia em andamento.

Mas as grandes corporações do jornalismo, por que não se moverem como deveriam?

Por que só se movem agora com as imagens de crianças famélicas correndo o mundo?

O que esse silêncio cúmplice tem a nos dizer sobre o jornalismo?

Porque o Agro é pop?

Há que se debater por que cada vez mais o jornalismo submete-se à doença do cliquismo, a busca estúpida, emburrecedora, pela audiência a qualquer custo.

Ao assistir por anos à Jovem Klan, entre outras e outras, empilhando influencers fascistas como se jornalistas fossem, ou jornalistas fascistas no papel de influencers. Inescapável um debate sobre o jornalismo, as mídias.

Da ausência de regulamentação, capitalista como se vê mundo afora, que busque coibir monopólios, nacional e regionais e abra espaços econômicos para o pluralismo.

Mas não apenas. Que se debata também ao que levou o fim da regulamentação da profissão de jornalista.

À profusão de Monarks, Constantinos, Figueiredos como se jornalistas fossem.

A química entre arrivistas despreparados, ou muito mal intencionados, o pior do jornalismo e estruturas fossilizadas ajuda a explicar a doença. O Brasil que finge não ver e não saber.


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