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terça-feira, 9 de agosto de 2022

Atuação eleitoral virou mico para as Forças Armadas. Artigo de Helena Chagas, dos Jornalistas pela Democracia

 A "apuração paralela" das eleições pelas Forças Armadas poderá, segundo Helena Chagas, acabar com "os militares ridicularizados perante a nação"

www.brasil247.com - Fachada do TSE, exército e urna eletrônica

Fachada do TSE, exército e urna eletrônica (Foto: Roque de Sá/Agência Senado | Valter Campanato/Agência Brasil | Fernando Frazão/Agência Brasil)

Por Helena Chagas

Nossas Forças Armadas – digo “nossas” porque são instituições de Estado, a serviço da nação, e não de governantes temporários – não merecem o acelerado desgaste de imagem pelo qual estão passando. Representantes do Ministério da Defesa passaram a semana passada dentro do TSE catando imperfeições no sistema eletrônico de voto. Tudo indica que não acharam nada, só o vexame de ter seu indicado para o serviço, coronel Ricardo Santana, descredenciado pelo TSE. É, reconhecidamente, um propagador de fake news sobre as urnas nas redes.

O ofício do TSE à Defesa é assinado por dois presidentes do TSE - o que sai, Edson Fachin, e o que entra, Alexandre Moraes.E evidentemente está criada mais uma crise entre militares e Justiça eleitoral. Não será a última, mas certamente deixará a opinião pública ao lado do TSE.  

Mais um vexame para as Forças Armadas, que podem chegar a 2023 com sua reputação no fundo do poço - e não só por isso. A intenção do Ministério da Defesa de fazer a vontade do presidente da República com uma “apuração paralela” dos votos no dia 2 de outubro pode virar um grande mico para os militares.

Além do risco de se imiscuir num tema que não faz parte de suas prerrogativas constitucionais, os militares correm o risco de acabar ridicularizados perante a nação. A contagem paralela de votos pode, sim, ser feita - e partidos políticos e outras entidades até já costumam fazer isso para checar resultados pontuais aqui e ali.

Isso é possível via boletins de urna, cada um referente a uma dessas unidades, emitidos logo após o encerramento da votação, em cada seção eleitoral do país. O problema é que, nas eleições de outubro, serão utilizadas 577 mil urnas, espalhadas nos mais de cinco mil municípios.

Este ano, esses boletins, que costumam ser afixados em papel na entrada de cada seção, estarão disponíveis para consulta na internet, o que até facilita as coisas. Mas será preciso acessar cada um e somar os votos - o que o TSE faz num supercomputador. É evidente que, sem expertise no ramo, os militares vão demorar mais para fazer essa totalização, mesmo que usem um software com programas de contagem rápida.

É grande, enorme, o risco de que a apuração paralela saia muitas horas depois da apuração oficial, talvez até no dia seguinte - e para dar o mesmo resultado que o país, espera-se, já estará comemorando.

É por isso que militares da ativa tentam hoje convencer o ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, a desistir dessa empreitada, ou reduzi-la a uma pequena amostragem. A imagem das Forças Armadas está em jogo, e uma parte delas não está disposta a se jogar no fundo do poço com Jair Bolsonaro.

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