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quarta-feira, 20 de abril de 2022

Bob Fernandes: Soldado do Exército relata como torturavam e liquidavam presos políticos. A Ditadura exposta em todos os seus crimes

 

Do Canal do analista político Bob Fernandes:



O que vocês vão ver e ouvir logo a seguir, amigas e amigos, é de extrema utilidade pública.

É uma aula de história num tempo em que um governo, o de militares e Bolsonaro, tenta apagar a história, a memória, para mais uma vez repeti-la.

Como fazem, para não irmos muito longe, desde a Proclamação da República, que nasce com um golpe militar. Um dos tantos e tentativas desde então.

Por isso, em nome da memória, do presente, do passado e do futuro, vamos reproduzir trechos da entrevista de Valdemar Martins de Oliveira, 71 anos, soldado reformado do Exército.

Valdemar relata a Juliana Dal Piva, jornalista do UOL, a tortura e o assassinato do casal João Antônio e Catarina Abi-Eçab, no dia 8 de novembro de 1968.

Valdemar, então paraquedista do Exército, assistiu à sessão de espancamento, tortura e morte comandadas pelos então capitães do Exército Rubens Paim Sampaio e Freddie Perdigão Pereira.

Os tiros fatais em João Antônio e Catarina foram dados por Freddie Perdigão.

Isso depois de choques elétricos nos lábios, vagina e ânus de Catarina.

João e Catarina não haviam participado do que os militares os acusavam: a morte do capitão Charles Chandler, um norte-americano.

Valdemar fala agora em resposta a Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.

Eduardo, que há dias, canalha como só essa gente sabe ser, disse que a jornalista Miriam Leitão não tem como provar ter sido torturada na ditadura.

Muitas vezes, mesmo com provas, há quem negue a verdade.

Vide a família Bolsonaro diante de sua espantosa fortuna imobiliária.

Fruto, segundo Ministério Público do Rio, de vasto e criminoso esquema de peculato: as rachadinhas.

Como negar, por exemplo, profundo significado das suas relações com gente tipo Queiroz e os matadores Adriano da Nóbrega e Ronnie Lessa - esse, o assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Os militares, por ação, cumplicidade ou omissão tomaram o Poder novamente. E avançam.

Tutelam o país com, por ora, frágil resistência. O Supremo Tribunal Federal, com uma sociedade anômica, oferece espasmos de ação e reação.

Há uma semana, no jornal O Globo, Miriam Leitão, jornalista, publicou fitas do Superior Tribunal Militar à época da ditadura.

Com ministros militares conhecendo e aceitando, uns se esquivando, as denúncias das torturas praticadas por militares e civis a serviço de militares durante a ditadura.

- …Esse moço apanhou um bocado. Baixou no hospital e citou o nome das duas pessoas que martelaram ele. Estou inteiramente com o ministro Rodrigo Octávio, às vezes discordo de sua excelência quando é difícil apurar. Eles podem negar, mas que os nomes dos dois estão aí, estão. É fulano e beltrano. Martelaram esse moço, daí a confissão dele.

O general Mourão, vice de Bolsonaro, mais uma vez mostrando quem e o que verdadeiramente é, debochou:

- Apurar o quê? Já morreram tudo. (risos) Vai trazer os cara do túmulo de volta?

Mourão usa a argumentação habitual do poder militar; que, aliás, está tentando apagar a suja história da ditadura.

Sob ataque, nesses tempos, a memória exposta na Biblioteca Nacional, no Museu Histórico Nacional e na Casa de Rui Barbosa, entre outras instituições.

Mourão repete o máximo permitido a quem tem a capacidade intelectual e moral de defender ou justificar tortura e ditadura.

Diz que a ditadura existiu para, imaginem só, impedir uma ditadura.

21 anos de censura, sequestros, tortura, assassinatos e emburrecimento do Brasil para impedir que outros, supostamente, viessem a fazer exatamente o que eles fizeram.

(Vídeo do soldado reformado Valdemar Oliveira)

- Então ela foi colocada naquele pau de arara, nua. Tiraram a roupa e foi colocada lá, e aquela sessão de pancadaria, e perguntando sobre a morte do capitão Chandler. E ela não falava. Não falava porque calculo que não sabia. Porque uma pessoa apanhando daquela forma, eu calculo que, sei lá…

- Quem estava no comando de tudo isso era o capitão Freddie Perdigão Pereira, e eu disse que eles não sabiam nada. Na minha visão, né? E foi uma bobagem eu falar aquilo. Eles eram uma força extrema diante da menina e do rapaz. Então esse Freddie Perdição me pegou pelo pescoço, me encostou na parede e me chamou de “comunista”, na época, né? Depois ele disse que eles eram da esquerda, que eram comunistas. Até então eu não tinha uma noção muito exata do que era aquilo.

- Não concordei nem um pouco com aquilo. Foi uma covardia muito grande. E depois eles foram tirados de lá, já estavam quase apagados. Apanharam muito. A menina tomou choque na vagina, no ânus, na boca, nos lábios… E eles ficaram desfalecidos ali. Aí foram dispostos um do lado do outro no chão. E o Freddie Perdigão disse: “Esses aí não servem mais para nada, não têm mais utilidade nenhuma”. E sacou uma pistola e atirou na cabeça de cada um. Executou os dois ali.

- Eu venho contando isso há mais de 40 anos para muitas autoridades. Tenho nome e documentos aqui, inclusive, pra provar. E falei com muitas pessoas. A última pessoa, inclusive, o Caco Barcellos fez uma matéria sobre isso no ano 2001.

- E já propus que me levassem ao foro devido para falar sobre isso… Já falei com juízes do Exército… Tem muita gente boa no Exército. Tem generais aí que devem ficar horrorizados com essas coisas… E a última tentativa que eu fiz foi no GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República), lá em Brasília, no quarto andar. Fui recebido por três coronéis e tentei falar tudo o que eu sempre falei e estou falando aqui, dentro da legalidade que mandam os ditames da política e inclusive das Forças Armadas, do Exército. É você procurar superiores para falar a respeito de tudo isso que estamos falando aqui. Mas nem documentos eles quiseram ver. Inclusive um deles me tratou de uma forma muito grosseira.

Os militares são O Poder novamente. E querem seguir no Poder.

Bolsonaro é o boneco do ventríloquo. Seu pré-candidato a vice é o general Braga Neto.

Até outro dia, o ministro da Defesa.

Braga Netto foi convidado para o governo dois dias depois do assassinato do capitão Adriano da Nobrega.

Figura central no esquema das milícias no Rio de Janeiro.

Porque Adriano era acusado de ser um matador.

De chefiar uma equipe de pistoleiros. O Escritório do Crime.

Poucos podem conhecer essa história mais a fundo do que o anunciado vice de Bolsonaro, General Braga Netto.

Porque em 2018 ele foi interventor militar no Rio de Janeiro.

Com todos os serviços de informação, das Forças Armadas e das polícias a seu serviço.

Da intervenção no Rio, Braga Netto foi chefiar o Estado Maior do Exército.

Portanto, o que Braga Netto sabe sobre milícias e facções, do crime organizado no Rio, o exército deve saber, tem que saber.

O exército, as Forças Armadas, querem continuar no Poder.

Tutelando o país.

O Estado não investigou e não puniu pra valer os crimes cometidos pela ditadura.

Sequestros, tortura, desparecimentos e assassinatos.

Agora novamente expostos para quem quiser ver, ouvir, aprender.

Se 21 anos de terror não foram punidos, não será o ridículo e grotesco espetáculo de um milhão de quilos de carnes, de dinheiro público pagando Viagra e próteses penianas que será investigado pra valer.

Sim, obviamente há o que se investigar no sistema de licitação dessa farra militar.

A começar por quem leva o que para a própria residência, para a própria casa.

E, sim, essa farra pantagruélica desmoraliza as Forças Armadas dentro e fora do país.

Basta ver no noticiário mundo afora. E, sim, isso une ainda mais as Forças Armadas.

Fortalece ainda mais seu secular desejo de seguir no Poder.

Fazendo-se de heróis em defesa da Pátria, essa pátria que vai sendo estraçalhada, quando a começar o exemplo pelo topo ora no Poder, o que querem é o que milhões querem: se dar bem, ter uma vida boa.

Não por acaso a aliança de militares com o Centrão, símbolo-mor da corrupção, o tal Centrão.

E a cumplicidade, a sociedade com um governo que, para tentar se reeleger, já tem medidas de sua máquina pública que ultrapassam os R$ 600 bilhões.

E aquilo que, quando se está na oposição, se chama de mamata, mordomia ou, pior ainda, corrupção.

Como desde sempre, para se manter no Poder, inventam inimigos e fazem o que bem entendem.

Diante de um país de história marcada por extremadas violências, inclusive física e oral, e ainda mais extrema covardia moral.

As fitas do Superior Tribunal Militar na ditadura e a repetição das denúncias do soldado Valdemar Martins Oliveira ensinam mais uma vez...

Ao menos duas coisas não se consegue esconder: a tosse e quando um país, um sistema está profundamente corrompido.

Com o desprezo e aquela valentia de quem tem a seu lado o poder das armas, mas não a história, por mais que tentem, o presidente do Superior Tribunal Militar, Luiz Carlos Gomes Mattos respondeu à denúncia sobre fatos já conhecidos por quem pode e quer conhecer.

- Garanto que não estragou a Páscoa de ninguém. Porque a minha não estragou.

A arrogância e o deboche diante da denúncia, feita, repetida por um militar, mostram o que pensam, quem são os militares novamente donos do poder no Brasil.

Um comentário:

  1. Isso já acontece deste de 19 e me esqueci, na décima região militar em Fortaleza quando o Castelo Branco foi comandante. Os oficiais deitavam e rolavam na intendência, se abasteciam mais não pagavam. E o Castelo Branco acabou com a moleza! Dizendo isso aqui é do povo não é de vocês.

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