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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Moro e o Judiciário parcializado tem grande papel na crise institucional de hoje. Por Tatiana Correia

 


Ministros "iluministas" e operação pró-mídia corporativa e interesses externos que extrapolou limites da legalidade contribuíram para ascensão da ultradireita e do bolsonarismo no Brasil


Sergio Moro (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil).

Jornal GGN  A candidatura do ex-ministro Sergio Moro à presidência do Brasil e a ascensão da ultradireita no país foram alguns dos temas explorados na TV GGN 20 horas desta quarta-feira (01/12), quando os jornalistas Luis Nassif e Marcelo Auler conversam com o escritor e jornalista César Callejon.

Antes, Nassif divulgou os dados da covid-19 no Brasil. Nassif inicia o programa com uma análise dos dados da covid-19 no Brasil. Nesta quarta-feira, foram registrados 11.413 casos. A média diária semanal chegou a 8.966 casos, queda de 4,1% na média de sete dias e de 8,2% na média de 14 dias.

Quanto aos óbitos, foram registradas 566 mortes. A média diária semanal chegou a 232 vidas perdidas, alta de 9,2% ante sete dias, mas 10,5% a menos do que o visto há 14 dias.

A degringolada moral do Brasil

Nassif chama a atenção para a degringolada moral vivenciada pelo Brasil ao longo dos últimos anos.

“O Bolsonaro rebaixou o nível de julgamento moral lá para o lixo, lá para o esgoto. E, com isso, rebaixou todos os outros atentados à ética pública. Uma coisa impressionante”, diz Nassif

“A imprensa perdeu totalmente a capacidade de denunciar, que é o primeiro filtro que você tem de moralizador”, diz Nassif, ressaltando que isso não acontece com Bolsonaro uma vez que “as milícias não tem essa sensibilidade”.

Um exemplo disso é o que ocorre no Supremo nos países considerados saudáveis, onde um ministro que sai da linha é alvo de crítica e de pressão moral para que volte aos eixos. Isso não ocorre mais no Brasil.

Para contextualizar, Nassif cita como exemplo a chamada voz das ruas. “A voz das ruas é o que de mais selvagem existe em uma sociedade. O que é a voz das ruas: aquela voz não submetida a regras morais, regras legais, regras jurídicas (…)”

“Aquele assassino que habita mentes mais doentias, ele era contido pelas regras morais da sociedade, pelas regras judiciais, pelo papel do Judiciário”, afirma Nassif.

Contudo, Nassif lembra um pedido do ministro Luís Roberto Barroso para ‘ouvir a voz das ruas’, o que foi o ponto de partida para um jogo que se propagou por toda a estrutura do Ministério Público, da Polícia Federal e da mídia.

“Um país é composto pelo povo, por alguns setores organizados, é composto por um lumping empresarial – um pessoal útil para o país, mas que não são pensadores, não pensam conceitos filosóficos, jurídicos, de civilização. Nem os próprios políticos”, lembra Nassif.

“Então, você tem uma elite pequena – que pode vir do meio empresarial também, mas muito pouco -, mas essa elite intelectual que garante a idoneidade moral de um país vem dos tribunais, especialmente da Suprema Corte”.

No caso da Suprema Corte, Nassif lembra que seu poder foi fortalecido após o nazismo justamente para evitar a voz das ruas e, assim evitar que momentos de comoção levassem a linchamentos, e para evitar a politização das ruas de forma a fazer com que maiorias ocasionais liquidassem com o processo político e processo legal.

Contudo, houve um “liberou geral” – “essa semente da maldade está perpassando, é presente na sociedade. Quando tem o liberou geral, você tem a selvageria. Brigas de torcidas organizadas, linchamentos de ruas”, ressalta Nassif.

“E aqui nós tivemos a espinha dorsal da civilização sendo destruída por ministros do Supremo, em nome do que? Do novo Iluminismo”, lembra Nassif.

O despertar não aconteceu

Nassif lembra que, em tempos de guerra, a consciência coletiva costuma despertar após o desastre. Isso ocorreu na Segunda Guerra Mundial, mas não ocorreu no Brasil de Bolsonaro.

“A gente imaginava que depois dos 650 mil mortos (por covid-19) o Brasil tivesse tido a sua guerra mundial. Não teve, e daí vem a candidatura Moro como terceira via para enfrentar a ultradireita do Bolsonaro”

“Ou seja, (a candidatura Moro é) um barco salva-vida para essa ultradireita perniciosa, uma ultradireita que faz parte do Brasil improdutivo, que não produz, que não trabalha, que quebra empresas, acaba com empregos e com uma banalidade do mal expressiva”

Para discutir o tema, Nassif e o jornalista Marcelo Auler conversam com o jornalista e escritor César Callejon.

Voz das ruas dando aval à selvageria

Callejon não só mostra preocupação com a atual situação do país, como cita um exemplo clássico do efeito da voz das ruas – quando uma pessoa filma e aprova um policial militar arrastando uma pessoa algemada à sua moto por uma importante avenida da cidade de São Paulo.

“A ascensão do bolsonarismo mudou essa dinâmica, e mudou o devido processo legal no sentido de banalizar tudo isso de uma forma sem precedentes (…)”, diz Callejon

“Acho que a gente precisa atentar, agora, é que quem pavimentou esse caminho, quem rompeu esse caminho rompendo o devido processo legal, passando por cima de liberdades individuais, de direitos políticos, foi o próprio Sergio Moro e a figura da Lava-Jato”, afirma Callejon.

Para o jornalista e escritor, Moro é o principal risco à democracia brasileira. “A democracia pressupõe uma série de coisas que transcendem em alta medida isso – pressupõe uma imprensa relativamente livre e idônea, pressupõem liberdades individuais, direitos políticos, tudo o que a Lava-Jato atropelou sem dó nem piedade”.

Lava-Jato e os EUA

César Callejon ressalta a interferência norte-americana dentro da operação Lava-Jato – o que o levou a ser alvo de ataques de parlamentares e de jornalistas, que o acusaram de ‘organizar teoria da conspiração’.

“Ora, pesquisem o que disse Kenneth Blanco, que é um procurador norte-americano, (…) Esse senhor se gaba que, em cooperação com a Lava-Jato e com esses membros do MPF e com time Sergio Moro/Dallagnol, eles romperam os processos legais (…)”

“Não me espanta que a gente esteja no meio desse caos que a gente está vivendo atualmente, e que isso represente uma afronta ao processo civilizatório como a gente conhece”, afirma César Callejon.

O pesquisador também aponta Espionage Act e o Sedition Act, que são a lei de espionagem e lei de traição americana.

“Nos EUA, o Moro estaria olhando para uma prisão perpétua ou para pena capital. Ele seria executado (…) Com o apoio americano, ele (Moro) ele é capaz não só de não enfrentar nenhuma consequência mais séria, mas ainda se lança à Presidência da República em 2022. Então, isso te dá conta do estado de coisas que a gente tem de surrealismo (…)”, afirma Callejon.

Confira a íntegra do debate entre Nassif, Auler e Callejon no vídeo abaixo

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