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quinta-feira, 19 de março de 2020

Luis Nassif: "Nesses momentos extremos, bebo Brasil e aposto que eles não passarão"




E ouvindo, e vendo a celebração nacional em torno da música, a maneira como se enfrenta a perda, me passa a esperança de que eles não passarão.

Nesses momentos extremos, bebo Brasil.
Inclusive para superar o sentimento de raiva que paira no ar, tão corrosivo quanto o coronavirus, principalmente quando se fica sabendo da infiltração do ódio bolsonarista nos escalões médios e baixos das Forças Armadas e das Polícias Militares em um momento em que a peste necessita de um movimento de solidariedade nacional. E tudo estimulado por um presidente desequilibrado, obcecado pela síndrome da morte.
O que acontecerá é uma incógnita, mas que reforça o sentimento de indignação com pessoas como Luis Roberto Barroso, o general Villas Boas e outros oportunistas que se valeram das armas institucionais para jogar o Brasil nas mãos de loucos pirados, uma aventura inconsequente, como se não fosse a consequência lógica do discurso de ódio legitimado por eles e outros oportunistas institucionais.
Entra-se no maior desafio da história, com o terror difuso da coronavirus e do desemprego ameaçando nossas crianças, nossos velhos, e o Brasil se transformando em uma nau sem rumo dirigida por insensatos, com o risco do próximo porto ser o da rebelião final da ralé.
Mas não é hora do ódio consumir as energias. É hora de juntar forças e de buscar, nos nossos valores imemoriais, as forças para enfrentar a peste. É esse sentimento que dobrará os broncos, os toscos, os primários que passaram a comandar o país.
As lembranças correm solta e remetem à infância, com os filhos sentindo-se seguros, protegidos pelos pais. Fico lembrando da minha crise de crupe, de sarampo, indo ao doutor Martinho que me receitou três injeções. A de menor tamanho era a mais dolorida. De volta à minha casa, aparece a prima Rosa Maria para me ler o livro do Pinochio e outros que me encantavam. Durante todo o dia, outros parentes, primas, tias e a vó Martha trazendo o alento familiar. E à noite, a tranquilidade de se sentir protegido por seu Oscar e dona Tereza, me embalando o sono com suas canções
E aí salto agora para minhas meninas, para as doenças infantis que as acometeram e para a corrida aos prontos socorros mais aparelhados da capital. Lembro até hoje a Bibi e a Dodó, depois de uma intoxicação alimentar, pequenas, com braços furados para injetar soros, mas com o olhar tranquilo de quem sabe protegidas pelos pais.
E agora? Trancado em casa, sem poder sair, vendo se espalhar um vírus que ataca com a letalidade de uma gripe espanhola, que invade sem sutileza os ambientes mais improváveis, como proteger minhas seis meninas, quatro filhas, duas netas, expostas a um país que perdeu o rumo?
Pior, sabendo que o vírus assassino se espalhou pela cidade com as manifestações estimuladas por um presidente da República insano, cercado de terraplanistas desvairados e suportados por instituições acovardadas, sem sentimento de Brasil.
Aí ligo o Youtube e vou atrás da alma brasileira, a música que melhor sintetiza meu sentimento de Brasil, o “Que nem jiló”, de Luiz Gonzaga, cantada por corais em homenagem à morte da professora que os ensinou.
E ouvindo, e vendo a celebração em torno da música, a maneira como se enfrenta a perda, me passa a esperança de que eles não passarão.

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