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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

A opinião de analistas portugueses: "Bolsonaro, um Salazar brasileiro", editorial do jornal português Público, escrito por Ana Sá Lopes, antecedida de uma introdução sobre quem foi Salazar pelo GGN


"Bolsonaro traz para ideologia oficial do Brasil tudo aquilo que foi a cartilha da ditadura portuguesa, o mesmo ódio às "ideologias", a religião como parte do Estado, a defesa dos valores das famílias ultraconservadoras, o mesmo horror aos "vermelhos". " - Trecho do Editorial do Jornal Português Público




Jornal GGNO jornal português Público, em seu editorial, focou nas semelhanças entre o que se inicia hoje no Brasil e a ditadura de Salazar. Diz que o novo presidente brasileiro traz oficialmente para a pauta toda a cartilha da ditadura portuguesa: ódio às ideologias, religião como parte do Estado, defesa dos valores ultraconservadores, horror aos 'vermelhos'. 
No editorial a afirmativa de que os discursos de Bolsonaro prenunciam o pior. As declarações de Bolsonaro de colocar fim à ideologia de gênero dão o toque moderno àquilo que saiu da pauta portuguesa em 1968. E, tal qual, Bolsonaro subiu ao poder com forte apelo populista e um prenúncio de volta às cavernas.
Diz que a democracia do Brasil é extremamente jovem, mas que, lamenta o editorial, democracias jovens também podem morrer.
Leia o Editorial a seguir.
do Público
por Ana Sá Lopes
Bolsonaro traz para ideologia oficial do Brasil tudo aquilo que foi a cartilha da ditadura portuguesa, o mesmo ódio às "ideologias", a religião como parte do Estado, a defesa dos valores das famílias ultraconservadoras, o mesmo horror aos "vermelhos".
Os dois discursos que ontem Jair Messias Bolsonaro fez na tomada de posse prenunciam o pior. Já sabíamos, evidentemente, desde o início da campanha, mas o capitão reformado entendeu não desiludir quem o elegeu para o cargo de Presidente do Brasil. O elevado grau de aprovação com que Bolsonaro chega ao Planalto é, evidentemente, um susto para quem defende a liberdade e a democracia no sentido ocidental do termo. 
Para nós, portugueses, assistir ontem aos discursos de Bolsonaro, trouxe reminiscências dos discursos de um homem que saiu do poder em 1968, embora isso tivesse acontecido por doença: Oliveira Salazar. Bolsonaro traz agora para ideologia oficial do Brasil tudo aquilo que foi a cartilha da ditadura portuguesa, o mesmo ódio às "ideologias", a religião como parte do Estado, a defesa dos valores das famílias ultraconservadoras, o mesmo horror aos "vermelhos".
Há uma frase que não poderia nunca ter sido usada durante a ditadura, porque naquele tempo a expressão "ideologia de género" era desconhecida, mas é todo um programa: "Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar a religião, a nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de género, conservando os nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre de amarras ideológicas". A ideologia dos que são "contra os políticos" foi expressa por Salazar na sua época - aliás, a sua ascensão ao poder e o golpe de 20 de Maio de 1926 tiveram, como tem agora Bolsonaro, um esmagador apoio popular. 
Tudo naquela cerimónia de posse foi um monumento à tragédia anunciada: o discurso do número 2, o general Hamilton Mourão, foi um regresso às cavernas que o povo aplaudiu em delírio; o fim do discurso de Bolsonaro, quando ergue a bandeira brasileira em conjunto com Mourão e grita: "Esta é a nossa bandeira, que jamais será vermelha, só será vermelha se for do nosso sangue derramado para a manter verde e amarela".
Bolsonaro vem preencher um anseio profundo da população, o da segurança seja de que maneira for. "Temos o desafio de enfrentar a ideologia que descriminaliza bandidos, pune polícias e destrói famílias, vamos restabelecer a ordem no país", disse ontem, já depois de ter prometido liberalizar o acesso às armas. O anseio da "ordem" também foi o que levou Salazar ao poder. A democracia brasileira é demasiadamente jovem, mas também as democracias jovens podem morrer. 

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