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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Relativismo: um manual de sobrevivência, por Sérgio Saraiva


Tudo tem dois lados, cada lado não necessariamente tem o mesmo peso, mas isso se ajusta a bico de pena. O relativismo e a Lei de Murici - a Lei de Imprensa de Bolsonaro.


relativismo

O relativismo como forma de proteção física e intelectual para os tempos de revisionismo histórico que vêm com Bolsonaro. Uma proposta de convivência não adesista com o fascismo para os covardes... que sobreviverão.


Aqui, um estrato do texto Narrativas de Samuel Pessoa para a Folha de São Paulo de 04 de novembro de 2018 que mostra o quão o método pode ser incoerente, mas é safo.
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Leia agora o texto começando do fim para o começo. É um exercício revelador - ele mostrá a real intenção do autor. Foi escrito para ser assim mesmo - leia-se de um lado ou do outro. É a busca do ponto central da quadratura do círculo.
Já seria o suficiente para ilustrar o relativismo nele contido, mas, lendo toda a matéria, ficamos sabendo que:
"Não há simetria entre os crimes...  mas, se é fato que a ditadura torturou Dilma Rousseff, também é fato que toda a guerrilha lutou para instituir a ditadura que considerava correta".
Falta ao texto dizer que Dilma Rousseff  - torturada - e Rubens Paiva, Wladimir Herzog e Manuel Fiel Filho - assassinados sob tortura - jamais participaram da luta armada. Mas isso, como nos ensina o "manual da redação para tempos de Murici", é coisa que "podemos tirar, se achar melhor".
Segue o didático texto de Pessoa e ficamos sabendo ainda que: "se é verdade que o Escola sem Partido pretende instituir práticas em sala de aula incompatíveis com a liberdade de expressão, é forçoso reconhecer que esse movimento reage a um processo de doutrinação nas disciplinas de história e geografia que constrói inúmeras narrativas factualmente erradas".
Um detalhe: em treze anos de governos petistas, nem o PT, nem os "grupos de esquerda infiltrados na Educação", buscaram passar uma lei que criminalizasse qualquer professor que ensinasse o contrário. Tampouco, incentivaram pais e alunos a perseguir e execrar tais professores. Detalhes inconvenientes. Um leve toque do bico de pena, e eles desaparecem.
E finalmente: "...  se é verdade que a direita defendeu a ditadura por aqui, é verdade também que partidos de esquerda defendem ditaduras na América Latina ainda hoje".
Claro está que, neste instante, todos os governantes da América - inclusive Bolsonaro - chegaram e se mantém no poder pelo voto popular. Mas, ditaduras se escolhem quais sejam e quais não sejam, segundo os interesses de quem pode mais e de quem quer chorar menos.
E para não deixar dúvidas, porque, hoje em dia, não é prudente deixar dúvidas de que a isenção tem lado - o lado certo - o fecho do texto:  "a dita esquerda, se quiser continuar a pertencer ao campo democrático, terá de abandonar suas narrativas mentirosas e buscar os fatos".
Pessoa completa assim o círculo do relativismo de sobrevivência. Começa o seu artigo com grupos bolsonaristas buscando reescrever nossa história e o conclui acusando a esquerda de usar narrativas mentirosas. Razão para que seja - a esquerda - excluída do "campo democrático" que vigorará a partir de Bolsonaro. Esses são os fatos.
A democracia agradece. E Samuel Pessoa sobreviverá para contar a história.

PS1: Lei de Murici: "em tempo de murici, cada um cuida de si".
PS2: quando a razão se torna irracional, meu coração pede asilo na Oficina de Concertos Gerais e Poesia.



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