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domingo, 26 de agosto de 2018

Para historiador e brasilianista norte-americano, a prisão injusta de Lula e o crescimento de um setor fascista e intolerante do eleitorado faz o cenário eleitoral o Brasil ser "angustiante" e "imprevisível"



Para brasilianista, “Lula tem importância histórica imensa”; mas a preocupação é com o surgimento de "um setor" da população brasileira que não respeita a "democracia plural"



Do Jornal GGN:




Imagens: Colagem entre reprodução de foto de McCann e Agência Brasil
 
Jornal GGN - A eleição presidencial de 2018 tem componentes que remetem à eleição de 1945, quando Getúlio Vargas conseguiu exercer poder de transferência de votos que resultou na eleição de Eurico Dutra, o primeiro presidente eleito pelo voto direto após o Estado Novo. No caso atual, Lula é quem detém essa capacidade com mais força. A avaliação é do historiador norte-americano, professor da Universidade Georgetown e brasilianista, Bryan McCann, em entrevista à Folha de S.Paulo
 
"Lula tem uma importância histórica imensa para o Brasil. A questão principal agora é tentar entender como essa importância dele vai ter influência na eleição. Acho que a candidatura dele vai ser barrada, mas acredito que ele tenha grande poder de transferência de votos. E mesmo se o candidato dele não conseguir passar ao segundo turno, Lula ainda terá capacidade de transferir votos no segundo turno, para o candidato que tiver mais proximidade", analisou.
 
Apesar de apontar para esse quadro, McCann acredita que há um risco real da vitória de Bolsonaro nessas eleições, mesmo com pouco tempo de propaganda gratuita na TV e rádio. "Depois da vitória do 'brexit' e da eleição de Trump, o que temos visto nos últimos anos é um mundo político em que um movimento populista que simplesmente quer acabar com a situação atual e quebrar a casa pode vencer, sim", afirma. 
 
O historiador elabora, ainda, que a situação política e eleitoral brasileira hoje é "angustiante" dada sua grande imprevisibilidade e o surgimento de "um setor da população brasileira que não respeita" a democracia plural que se desenvolveu no país, especialmente, nas últimas 30 décadas.
 
"Sim, é verdade que ao longo dos últimos três anos o Brasil está em crise, mas ao longo de três décadas o Brasil alcançou avanços enormes por causa da consolidação e da construção de uma democracia plural. A eleição é um momento angustiante para a democracia brasileira", arremata, considerando que o fenômeno revela que parte da população não valoriza as conquistas sociais obtidas nas últimas décadas.
 
MacCann concorda, também, que as eleições deste ano tem componentes das eleições de 1989, quando Leonel Brizola e Lula acabaram dividindo os votos da esquerda, porém acha o momento atual mais difícil de avaliar, sobretudo porque a os partidos que representam às esquerdas brasileiras não foram capazes de se organizar em uma frente única contra o levante da extrema-direita.
 
"A esquerda brasileira aparentemente não aprendeu a lição. Não vemos agora uma união de forças contra o Bolsonaro, por exemplo. Vemos Ciro e Lula disputarem, e mesmo dentro do PT tem tendências disputando espaço". 
 
Por fim, na entrevista, ressaltou que a candidatura de Lula, preso, causa "dúvidas e incertezas" no cenário eleitoral pontuando que não existe, fora do país “uma percepção geral de que Lula foi injustiçado". 
 
"O que há é uma incerteza sobre o que está acontecendo, como ele pode ser candidato, e uma ideia de que no fim ele não vai poder concorrer, então o partido dele vai ter que apoiar outro nome", conclui. 


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