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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Do Huffpost Brasil: As eleições municipais e o crescimento do fundamentalismo no Brasil, por Rafael Rodrigues

ELECTIONS BRAZIL

O sentimento que fica, após o primeiro turno das eleições municipais, é o de que não adianta conversar, escrever, opinar, se colocar contra retrocessos - porque não é apenas o conservadorismo que está tomando conta do Brasil: é principalmente o retrocesso. Este é pior que aquele, e tem vencido quase sempre.
É compreensível que muitos prefiram não mexer em times que, teoricamente, estão ganhando - podemos chamar isso de conservadorismo. Aqui em Feira de Santana, cujo prefeito foi reeleito - será seu quarto mandato, ou quinto, se considerarmos o indicado que ele elegeu em 2008 -, por exemplo, não se pode negar que houve alguns avanços - ainda que mínimos.
A minha preocupação, no caso da cidade em que nasci, fui criado e ainda vivo, é com a longevidade de um mesmo grupo político na administração municipal (como tratei do assunto no texto anterior, não me alongarei aqui).
É uma situação muito diferente do que ocorreu em São Paulo, por exemplo, com a eleição de um empresário que foi acusado de comprar votos de militantes do seu partido, que se apropriou de um terreno do município e foi condenado a devolvê-lo, e cujo grupo empresarial tem relações promíscuas com o governo do estado.
É diferente, também, do que ocorreu no Rio de Janeiro, onde 14% dos eleitores colocaram um Bolsonaro em 4º lugar na disputa pela prefeitura, e um elemento da Igreja Universal, Marcelo Crivella, na liderança, com 27,78% dos votos.
Ao escrever isto não estou lamentando o fato de minhas opiniões e/ou desejos não terem prevalecido, mas constatando os diversos movimentos retrógrados em nossa sociedade, especialmente na política.
É claro que houve alguns pontos positivos, como Marcelo Freixo passando para o segundo turno no Rio e Eduardo Suplicy sendo o vereador mais votado de São Paulo. Mas, diante dos retrocessos, isso é muito pouco.
E, diante de tudo isso, fica também uma vontade: a de simplesmente deixar de conversar, debater, opinar. Até vislumbro alguns slogans: "não opine, trabalhe"; "não debata, mude de assunto"; "não discuta, jogue a toalha"; "não escreva, deixe as coisas rolarem e cuide de sua vida, você não faz diferença alguma neste processo".
Acredito que não falo apenas por mim: quem se propõe a debater, opinar e escrever sobre política imagina que pode fazer alguma diferença, mesmo que muito pequena. Mas a verdade é que, atualmente, o percentual de pessoas que têm certezas demais e dúvidas de menos é muito grande.
Escrevo, opino e converso porque tenho dúvidas. Detalhe: converso com todos os lados e não raro saio dessas conversas com pulgas atrás da orelha e vontade de ler mais sobre fatos e assuntos que não domino. Até mesmo com fãs dos Bolsonaros já me propus a dialogar cordialmente, mas, infelizmente, a recíproca raramente é verdadeira.
Ao defender meus pontos de vista, não penso em impor minhas visões de mundo aos meus interlocutores e aos prováveis leitores dos meus textos, postagens no Facebook e do Twitter. O maior objetivo é tentar iniciar conversas, levantar questionamentos, tentar plantar dúvidas, tentar fazer alguns enxergarem certas obviedades - como, por exemplo, o fato de que os Bolsonaros são deploráveis.
Mas, como disse, o que mais tenho visto por aí são pessoas cheias de certezas. O Brasil está cada vez mais polarizado politicamente, e isso é muito ruim. Quando políticos, militantes e eleitores perdem a capacidade de questionar a si mesmos e a seus candidatos e partidos, abre-se espaço para o fundamentalismo, para a fé cega numa pessoa ou numa sigla.
Sei que é chato e para muitos talvez seja uma bobagem dizer isto, mas precisamos, cada vez mais, de consciência crítica, de pulgas atrás das orelhas, do bom e velho "desconfiômetro". Precisamos, cada vez mais, de tolerância, polidez, respeito, bom senso, sabedoria.
A situação do país não vai melhorar enquanto o debate continuar no nível em que está - "coxinha!", "petralha!", "comunista!", "bolsominion!". Isso só leva a um aumento dos extremismos. E a responsabilidade sobre isso está com os poucos moderados que ainda se dispõem a conversar sobre política.
Quem sou eu na fila do pão... Mas, felizmente, a vontade de simplesmente jogar a toalha e parar de escrever, debater e opinar é daquelas coisas que dão e logo passam.
Fonte: Huffpost Brasil

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