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sábado, 29 de outubro de 2016

A teoria da relatividade do amor coxa-fundamentalista-reaça... Texto de Cynara Menezes




Nós, de esquerda, cometemos um erro ao falar que os reaças só sabem odiar. Não, gente. Os reaças também amam! Só que depende. Que negócio é esse de amar incondicionalmente? Mesmo se dizendo cristãos que interpretam a Bíblia ao pé da letra e vivem na igreja, eles são incapazes de seguir as palavras de Jesus: “amai o próximo como a ti mesmo”. O amor cristão do reaça é relativo. Querem ver como é que os reaças amam?

– Eu amo o Brasil, adoro sair pelas ruas com minha camiseta da seleção e minha bandeira verde e amarela, para mostrar como amo a minha pátria. Claro que sem o Norte e o Nordeste meu Brasil ficaria muito melhor. Não tenho nada contra nortistas, inclusive gosto de passar as férias no Nordeste, quando não posso ir a Miami. O pessoal lá é atencioso, apesar de meio preguiçoso. E aquele sotaque é engraçadinho, né? Mas é inegável que o Norte e o Nordeste vivem às custas de São Paulo e do Sul. Com certeza se o Brasil se dividisse seria até bom para o Nordeste, eles iam aprender a trabalhar, se esforçar mais.

– Eu amo o meu semelhante, Jesus ensinou isso, Deus é amor, mas… desde que o meu semelhante não seja gay. Ou lésbica. Ou transexual. Ou travesti. Quer dizer, não se pode dizer que eu seja semelhante a esta turma, né? Respeito a “opção” deles, só quero que fiquem bem longe de mim e dos meus filhos, vai que isso pega. Além de ser pecado, está na Bíblia, não posso fazer nada. Todos os demais seres humanos eu amo. Quer dizer, menos os comunistas. É que eu não considero que comunista seja gente. 

– Eu amo os pobres, faço caridade, ajudo doando umas roupas velhas, uns sapatos. Mas não quero eles dormindo na minha rua, emporcalhando minha calçada, pedindo dinheiro no sinal, enchendo o saco. Ou, pior ainda: pegando o mesmo avião que eu! Fazendo aquela bagunça, aquela farofada, transformando os aeroportos em rodoviárias. Aí não dá. Amo os pobres que deixaram de ser pobres porque se esforçaram, mas não precisa ficar frequentando os lugares diferenciados que eu frequento. Porque a pessoa só é pobre porque não se esforçou, todo mundo sabe disso.

– Eu amo todos os seres humanos. Mas só os humanos direitos. Por que eu iria amar bandidinho, seja de que idade for? Não é meu problema se a família do de menor é toda escangalhada, se ele cresceu na rua e tem só 10 anos de idade. Roubou porque quis, quero mais é que apodreça na cadeia. Isso se não morrer antes, porque bandido bom é bandido morto. Tá com pena? Leva ele para casa.

– Eu amo a família. A minha família, por exemplo, é tudo de bom. Minha família em primeiro lugar. Agora, família é pai e mãe, né? Não venha me falar de “família gay” ou “família lésbica”. Ou é homossexual ou é família, as duas coisas juntas é impossível. Vão querer ensinar essa sujeirada para os filhos! Prefiro ver as crianças num orfanato até a idade adulta do que adotadas por um casal destes de anormais.

– Eu amo os negros, até tenho conhecidos negros, o que eu não gosto é de vitimismo, este negócio de cota. Tanto negro aí que subiu na vida sem precisar de ajuda, só porque se esforçou. O problema do negro é que não se esforça, não quer trabalhar duro, aí fica culpando os 300 anos de escravidão, como se eles já não fossem escravos lá na África. Como se hoje em dia não houvesse chances iguais para todo mundo, só porque neguinho estuda em escola pública e mora na favela. Não existe racismo no Brasil, até a escurinha que trabalha lá em casa sabe.

– Eu amo as mulheres, elas são lindas, delicadas, doces, a melhor coisa do mundo é mulher. Desde que não seja feminista. Nem feia. Nem gorda. Nem diga palavrão. Mulher tem que ser comportadinha. Sentar direito e de preferência ficar calada enquanto eu falo. Depois eu deixo ela falar. Já diz o ditado: atrás de todo homem tem uma grande mulher, não ao lado nem muito menos na frente. Mulher tem que ser obediente, não pode ser mandona. Ninguém quer saber de mulher chata. Mulher que é mulher sabe o seu lugar. Óbvio que eu odeio mulher que sai à rua em manifestação, falando em machismo. Mostrando os peitos! Ah, mulher direita não faz isso, isso é coisa de feminazi mal comida. De puta. E eu lá vou gostar de puta?

Cynara Menezes

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