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sábado, 24 de março de 2012

Galileu Galilei, o universo humano e a magia da educação




A mais pura verdade... verdade que incomoda a muitos... Por isso querem enfraquecer o ensino da Filosofia, da Sociologia e da Pedagogia, especialmente a de Paulo Freire, que mídias comprometidas com as elites, como a sujíssima Revista Veja, tanto odeia.



É engraçado.... Paulo Freire, o brasileiro mais reconhecido e admirado nas universidades de todo o mundo, para a Veja e para os burgueses de direta é um destes "fanáticos socialistas, comunistas" mas cujas obras são adotadas no mundo inteiro, havendo cátedras com seu nome de Havard à Sorbonne. Na Universidade de Porgual onde faço o doutorado, o seu nome é referência a tudo o que se leva em conta em educação "libertadora". Levando-se em conta outros "fanáticos socialistas" como Chico Buarque, Portinari, Mário Lago, Picasso, Frei Betto, Dom José Maria Pires, acho que não troco a mente fechada destes por nenhum lúcido de direita.

Carlos Guimarães





O resultado mundial da "civilização" ocidental e capitalista

É este o resultado da civilização capitalista ocidental. E você, o que acha disso?



A Voz do povo é mesmo a Voz de Deus? Não creio....

É pelos frutos que se conhece a árvore.... Mas muita gente ainda confunde o dito pelos fatos realmente produzidos e trocam por vezes o herói pelo bandido... A comparação abaixo bem mostra isso (tirada do Facebook)

A sabedoria de Mafalda


Pois é.... seria bom que a beleza, a gratuidade, a fraternidade voltassem a valer mais que quantidades, que divisibiidades e imediata lucratividade.


Carlos

Deus não tem religião, mas os homens adotaram a divisão


Precisa falar mais alguma coisa? Normalmente os que mais se dizem "apóstolos" , "santos" e "enviados" do próprio Deus são exatamente, na prática, estelionatários, egoístas, belicosos, hipócritas... Se utilizam de Deus para criarem templos ao dinheiro e às riquezas materiais. 

segunda-feira, 19 de março de 2012

Frei Betto: A Bíbilia pela ótica feminina - crítica ao machismo patriarcal religioso



A Bíblia pela ótica feminina

Frei Betto

  A menina marcava as páginas onde estavam impressas aquelas leis absurdas com a intenção de, mais tarde, arrancá-las. 0 pai explicou-lhe que era inútil, havia muitos outros livros com as mesmas leis. quisesse mudá-las, teria de convencer as pessoas que faziam leis.

Lida por esta ótica, a Bíblia revela a igualdade entre homens e mulheres e denuncia a leitura machista que pretende derivar dos desígnios de Deus instrumentos de dominação, como a interdição de acesso das mulheres ao sacerdócio e ao episcopado, e a preponderância masculina sob o pretexto de que Eva foi criada a partir da costela de Adão — quando a natureza não deixa dúvidas de que todo homem nasce do corpo de uma mulher.

0 evangelista Mateus aponta, na árvore genealógica de Jesus; cinco mulheres. Tamar, Raab, Rute e Maria; e de modo implícito, a mãe de Salomão, aquela "que foi mulher de Urias". Não é bem uma ascendência da qual um de nós haveria de se orgulhar.

Em sua atividade pública, Jesus se fez acompanhar pelos Doze e por algumas mulheres: Maria Madalena; Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes; Susana e várias outras. Portanto, o grupo de discípulos de Jesus não era propriamente machista. Além disso, Jesus freqüentava, em Betânia, a casa de suas amigas Marta e Maria, irmãs de Lázaro.

O primeiro milagre de Jesus foi para atender ao pedido de uma mulher, Maria, sua mãe, preocupada com a falta de vinho numa festa de casamento em Canã.

Escolhido por Jesus para ser o chamado primeiro Papa, Pedro era casado. Onde se diz, então, que os que se dedicam ao sacerdócio têm de, obrigatoriamente, seguir o celibato, nos evangelhos? E ainda, onde neles se impede a discussão e o ofício pastoral por parte das mulheres?

Em nosso país, destacam-se Ana Flora Anderson, Teresa Cavalcanti, Wanda Deifelt e Athalya Brenner. O Centro de Estudos Bíblicos (Cebi) há anos forma, pelo Brasil afora, homens e mulheres dos setores populares em novos métodos de interpretação bíblica, pondo fim ao monopólio clerical e machista.

Descobrir que a mulher ocupa na Bíblia lugar e importância iguais aos do homem é questionar as igrejas que, às vésperas do terceiro milênio, insistem em reservar aos homens as funções de poder. E, por tabela, subverter os valores desta sociedade que considera a direção política um talento masculino e a questão social um derivativo da primeira dama, e ilustra sua publicidade televisiva e as páginas das revistas com mulheres que se prestam a ser reificadas, reduzidas ao mero apelo de consumo material e simbólico e, no entanto, queixam-se quando tratadas pelos homens como objetos descartáveis.

  Frei Betto
 (Carlos Alberto Libânio Christo),(1945) é frade dominicano, filósofo e escritor. Esteve ativamente envolvido com as lutas revolucionárias pela justiça social durante a ditadura militar. Dividia seu tempo entre os estudos de filosofia, o jornalismo, as meditações religiosas e a assistência de direção de José Celso Martinez Corrêa na histórica montagem de O rei da vela, pelos idos de 1967.
É escritor consagrado, com inúmeros livros de sucesso, dentre eles "Fidel e a Religião", coletânea de entrevistas com o líder cubano, "A Obra do Artista", "Batismo de Sangue", "Conversa sobre a fé e a ciência" (este com o astrônomo Marcelo Gleises e o escritor Waldemar Falcão), entre outros excelentes livros.
O texto acima foi publicado no jornal "O Globo", de 28/07/2000.

domingo, 18 de março de 2012

Gandhi reflete sobre Religião



Pois é... Ele - o Ser ou Ente a quem chamamos de Deus - não tem religião... Como poderia o Absoluto ser contido em dogmas, textos escritos há séculos - os sobre Cristo elaborados décadas após sua morte a partir de relatos verbais e tradições já cheias de mitos e interferências político-ideológicas -, ou em discursos exclusivistas? Sua única preocupação é o Amor - e a tolerância é a maior prova de que se ama, mesmo aos inimigos, como pregado por Cristo, pois todos somos partes e vemos apenas pedaços da verdade transcendental a partir de pontos de vista diferentes.... Quando os auto-intitulados atuais doutores da lei, com sua bibliolatria, entenderão isso???

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

sábado, 17 de março de 2012

Contradições e paradoxos das chamadas Igrejas Cristãs





  Na verdade, as igrejas deveriam estimular, seguindo o exemplo do seu Mestre, o amor, a humildade, a maturidade, a responsabilidade pessoal, a liberdade, a reflexão e a tolerância.... É isso o que, atualmente, vemos? O cuidado para com as viúvas, os órfãos e os excluídos? Ou vemos espetáculos, estímulo ao materialismo, à vaidade, ao dogmatismo, à intolerância e ao exclusivismo?

Onde está entre estas, de fato, o Cristo? Onde foi que Ele exigiu dízimos, jatinhos, bibliolatria, arrogância, exclusivismo ou luta política pelo poder e vendas de todo o tipo de quinquilharias?



Carlos Antonio Fragoso Guimarães



quarta-feira, 14 de março de 2012

Leonardo Boff, a crise mundial atual e o momento da inflexão de paradigmas



A Erosão da "Relational Matrix"
Leonardo Boff, 11/03/2012
extraído do site de Leonardo Boff
  Há muitos hoje no mundo inteiro, das mais diferentes procedências, preocupados com a crise atual que engloba um complexo de outras crises. Cada um traz luz. E toda luz é criadora. Mas, de minha parte, vindo da filosofia e da teologia, sinto necessidade de uma reflexão que vá mais fundo, às raizes, de onde lentamente ela se originou e que hoje eclode com toda a sua virulência. À diferença de outras crises anteriores, esta possui uma singularidade: nela está em jogo o futuro da vida e a continuidade de nossa civilização. Nossas práticas estão indo contra o curso evolucionário da Terra. Esta nos criou um lugar amigável para viver mas nós não estamos nos mostrando amigáveis para com ela. Movemos-lhe uma guerra sem trégua em todas as frentes, sem nenhuma chance de vencer. Ela pode continuar sem nós. Nós, no entando, precisamos dela.
  Estimo que a origem próxima (não vamos retroceder até o homo faber de dois milhões de anos atrás) se encontra no paradigma da modernidade que fragmentou o real e o transformou num objeto de ciência e num campo de intervenção técnica. Até então a humanidade se entendia normalmente com parte de um cosmos vivente e cheio de propósito, sentindo-se filho e filha da Mãe Terra. Agora ela foi transformada num armazém de recursos. As coisas e os seres humanos estão desconectados entre si, cada qual seguindo um curso próprio. Essa virada produziu uma concepção mecanisista e atomizada da realidade que está erodindo a continuidade de nossas experiências e a integridade de nosso psiqué coletiva.
  A secularização de todas as esferas da vida nos tirou o sentimento de pertença a um Todo maior. Estamos desenraizados e mergulhados numa profunda solidão. O oposto à uma visão espiritual do mundo não é o materialismo ou o ateismo. É o desenraizamento e o sentimento de que estamos sós no universo e perdidos, coisa que uma visão espiritual do mundo impedia. Esse complexo de questões subjaz à atual crise. Precisamos, para sair dela, reencantar o mundo e perceber a Matriz Relacional (Relational Matrix) em erosão, que nos envolve a todos. Somos urgidos a comprender o signficado do projeto humano no interior de um universo em evolução/criação. As novas ciências depois de Einstein, de Heisenberg/Bohr, de Prigogine e de Hawking nos mostraram que todas as coisas se encontram interconectadas umas com as outras de tal forma que formam um complexo Todo.
  Os átomos e as partículas elementares não são mais consideradas inertes e sem vida. Os microcosmos emergem como um mundo altamente interativo, impossível e ser descrito pela linguagem humana, mas apenas por via da matemática. Forma uma unidade complexa na qual cada partícula é ligada a todas as outras e isso desde os primórdios da aventura cósmica há 13,7 bilhões de anos. Matéria e mente comparecem misteriosamente entrelaçadas, sendo difícil discernir se a mente surge da matéria ou a matéria da mente ou se elas surgem conjuntamente. A própria Terra se motra viva (Gaia) articulando todos os elementos para garantir as condições ideais para a vida. Nela mais que a competição, funciona a cooperação de todos com todos. Ela mostra um impulso para a complexidade, para a diversidade e para a irrupção da consciência em níveis cada vez mais complexos até a sua expressão atual pelas redes de conexões globais dentro de um processo de mundialização crescente.
  Esta cosmovisão nos alimenta a esperança de um outro mundo possível, a partir de um cosmos em evolução que através de nós sente, pensa, cria, ama e busca permanente equilíbrio. As idéias-mestras como interdependência, comunidade de vida, reciprocidade, complementariedade, corresponsabilidade são chaves de leitura e nos alimentam uma nova visão mais harmoniosa das coisas.
  Esta cosmologia é que falta hoje. Ela tem o condão de nos fornecer uma visão coerente do universo, da Terra e de nosso lugar no conjunto dos seres, como guardiães e cuidadores de todo o criado. Esta cosmovisão nos impedirá de cair num abismo sem retorno. Nas crises passadas, a Terra sempre se mostrou a nosso favor, nos salvando. E não será diferente agora. Juntos, nós e ela, sinergeticamente poderemos triunfar.
Leonardo Boff é autor de Homem: Satã ou Anjo Bom? Record, Rio 2008

terça-feira, 13 de março de 2012

Novas palavras politicamente corretas para antigos Engodos


Eduardo Galeano

do livro "De Pernas pro Ar", editora LP&M
 Extraído do site da revista Carta Maior

Na era vitoriana era proibido fazer menção às calças na presença de uma senhorita. Hoje em dia, não fica bem dizer certas coisas perante a opinião pública:


- O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado;
- O imperialismo se chama globalização;
- As vítimas do imperialismo se chamam países em via de desenvolvimento, que é como chamar de meninos aos anões;
- O oportunismo se chama pragmatismo;
- A traição se chama realismo;
- Os pobres se chamam carentes, ou pessoas de escassos recursos;
- A expulsão dos meninos pobres do sistema educativo é conhecida pelo nome de deserção escolar;
- O direito do patrão de despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral;
- A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria;
- Em lugar de ditadura militar, se diz processo.
- As torturas são chamadas de constrangimentos ilegais ou também pressões físicas e psicológicas;
- Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões, são cleoptomaníacos;
- O saque dos fundos públicos pelos políticos corruptos atende ao nome de
enriquecimento ilícito;
- Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos motoristas de automóveis;
- Em vez de cego, se diz deficiente visual;
- Um negro é um homem de cor;
- Onde se diz longa e penosa enfermidade, deve-se ler câncer ou AIDS;
- Mal súbito significa infarto;
- Nunca se diz morte, mas desaparecimento físico;
- Tampouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares: os mortos em batalha são baixas e os civis, que nada têm a ver com o peixe e sempre pagam o pato, danos colaterais;
- Em 1995, quando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: “Não gosto da palavra bomba. Não são bombas. São artefatos que explodem”;

segunda-feira, 12 de março de 2012

Edgar Morin: a dominação da Natureza pelo homem, em seu afã reducionista, e a reação desta, enfim



 No que se refere à dominação com o significado de assujeitar/controlar sem sofrer a retroação (o retorno) do subjugado no decorrer dos desenvolvimentos tecno-econômicos dos tempos modernos, esta dominação pôde ser feita, nos últimos quatro séculos, ao universo físico e às máquinas simples sem retroação, depois estendeu-se ao conjunto dos seres vivos, vegetal e animal. O homem substituiu as regras ecológico-organizadoras pelas novas regras da exploração da natureza. Nas últimas décadas, contudo, a natureza, ou seja, a biosfera, retroagiu a essa dominação. A dominação dominou os dominadores, cada vez mais alienadas entre si e entre a vida, tornando-nos dependentes de todas as degradações a que submetemos a biosfera.
 Precisamos compreender, enfim, que o homem faz parte da biosfera e depende dela mais do que ela depende dele, uma vez que a vida continuará a existir mesmo depois da extinção da humanidade...

Edgar Morin


sexta-feira, 9 de março de 2012

É possível sim construir um mundo melhor


Sempre é possível lutar para se achar algo de bom aqui, agora, além do arco-íris... Nós todos fazemos a História e o que de bom ou ruim vier será nossa a responsabilidade....

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Da necessidade de mudarmos constantemente...





Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que de tão usadas já têm a forma de nosso corpo,  e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia... e se não ousarmos fazê-la teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos....


Fernando Pessoa











Fernando Pessoa: Do Contraditório como Terapêutica de Libertação (trecho)




Segue trecho de uma reflexão do poeta português Fernando Pessoa:

   Se há facto estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentado sobre a mesma opinião, sempre permanentemente coerente consigo próprio. A contínua transformação de tudo dá-se também no nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro consequentemente. Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando não só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem? Ser imutável é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural.
   A coerência, a convicção, a certeza absoluta são além disso, demonstrações evidentes — quantas vezes escusadas — de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade. 
    Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de flexibilizar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Deve ter, não crenças religiosas, opiniões políticas, predileções literárias, mas sensações religiosas, impressões políticas, impulsos de admiração literária.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Texto de Leonardo Boff relativizando o pensamento mecanicista capitalista dos dias atuais

Do ilusório Gene egoísta ao caráter cooperativo do Genoma humano

03/03/2012
Extraído do Blog de Leonardo Boff


Tempos de crise sistêmica como os nossos favorecem uma revisão de conceitos e a coragem para projetar outros mundos possíveis que realizem o que Paulo Freire chamava de o “inédito viável”.
É notório que o sistema capitalista imperante no mundo é consumista, visceralmente egoísta e depredador da natureza. Está levando toda a humanidade a um impasse pois criou uma dupla injustiça: a ecológica por ter devastado a natureza e outra social por ter gerado imensa desigualdade social. Simplificando, mas nem tanto, poderíamos dizer que a humanidade se divide entre aquelas minorias que comem à tripa forra e aquelas maiorias que se alimentam insuficientemente. Se agora quiséssemos universalizar o tipo de consumo dos países ricos para toda a humanidade, necessitaríamos, pelo menos, de três Terras, iguais a atual.
Este sistema pretendeu encontrar sua base científica na pesquisa do zoólogo britânico Richard Dawkins que há trinta e seis anos escreveu seu famoso O gene egoísta (1976). A nova biologia genética mostrou, entretanto, que esse gene egoísta é ilusório, pois os genes não existem isolados, mas constituem um sistema de interdependências, formando o genoma humano que obedece a três princípios básicos da biologia: a cooperação, a comunicação e a criatividade. Portanto, o contrário do gene egoísta. Isso o demonstraram nomes notáveis da nova biologia como a prêmio Nobel Barbara McClintock, J. Bauer, C. Woese e outros. Bauer denunciou que a teoria do gene egoísta de Dawkins “não se funda em nenhum dado empírico”. Pior, “serviu de correlato biopsicológico para legitimar a ordem econômica anglo-norteamericana” individualista e imperial (Das kooperative Gen, 2008, p.153).
Disto se deriva que se quisermos atingir um modo de vida sustentável e justo para todos os povos, aqueles que consomem muito devem reduzir drasticamente seus níveis de consumo. Isso não se alcançará sem forte cooperação, solidariedade e uma clara autolimitação.
Detenhamo-nos nesta última, a autolimitação, pois é uma das mais difíceis de ser alcançada devido à predominância do consumismo, difundido em todas classes sociais. A autolimitação implica numa renúncia necessária para poupar a Mãe Terra, para tutelar os interesses coletivos e para promover uma cultura da simplicidade voluntária. Não se trata de não consumir, mas de consumir de forma sóbria, solidária e responsável face aos nossos semelhantes, à toda a comunidade de vida e às gerações futuras que devem ter o direito de também consumir.
A limitação é, ademais, um princípio cosmológico e ecológico. O universo se desenvolve a partir de duas forças que sempre se auto-limitam: as forças de expansão e as forças de contração. Sem esse limite interno, a criatividade cessaria e seríamos esmagados pela contração. Na natureza funciona o mesmo princípio. As bactérias, por exemplo, se não se limitassem entre si e se uma delas perdesse os limites, em bem pouco tempo, ocuparia todo o planeta, desequilibrando a biosfera. Os ecossistemas garantem sua sustentabilidade pela limitação dos seres entre si, permitindo que todos possam coexistir.
Ora, para sairmos da atual crise precisamos mais que tudo reforçar a cooperação de todos com todos, a comunicação entre todas as culturas e grande criatividade para delinearmos um novo paradigma de civilização. Há que darmos um adeus definitivo ao individualismo que inflacionou o “ego” em detrimento do “nós” que inclui não apenas os seres humanos mas toda a comunidade de vida, a Terra e o próprio universo.
Leonardo Boff é autor de Preservar a Terra-cuidar da Vida. Como evitar o fim do mundo, Record, RJ 2011.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Elites, a mídia concentrada e militares reformados reagem contra o crescimento do Brasil


Agora as "viúvas da ditadura" se movimentam em seus pijamas... Não aceitam o Brasil de agora, não aceitam o sucesso da democracia e menos ainda aceitam que os crimes cometidos durante a ditadura sejam conhecidos, como já exigiu até mesmo a OEA. Diante disto, o fantasma de 64 começa querer dar seus primeiros passos para uma nova assombração... Vejamos o texto escrito por Altamiro Borges sobre o ocorrido recetemente:

Mídia abana indisciplina militar

 

Por Altamiro Borges

 

Quando das greves da PM que agitaram alguns estados, todos os jornalões publicaram vários editoriais raivosos condenando a “insubordinação militar” e exigindo uma postura mais dura do governo contra os grevistas. Agora, estranhamente, nenhum jornal condenou abertamente as provocações de alguns oficiais da reserva, também chamados de milicos de pijama, contra o governo Dilma Rousseff.

 

Primeiro foi um “manifesto” assinado pelos presidentes dos três clubes militares. Repreendidos pelo comando das Forças Armadas, eles recuaram e pediram desculpas. Na sequência, cerca de 500 oficiais da reserva assinaram outro documento, solidarizando-se com os presidentes dos clubes militares e desacatando abertamente a presidenta da República e o ministro da Defesa, Celso Amorim.

Terrorismo preventivo das viúvas da ditadura

 

No “manifesto” intitulado “Eles que venham, aqui não passarão”, os saudosistas da ditadura tentam se precaver diante do início dos trabalhos da Comissão da Verdade, que analisará os crimes cometidos naquele sombrio período da história brasileira. Eles esbanjam valentia, mas, na verdade, estão com medo de que suas atrocidades venham a público. Fazem terrorismo para evitar a verdade!

 

Diante da inaceitável indisciplina dos oficiais da reserva, que acabam exercendo influência sobre os da ativa – como já ocorreu nos preparativos do golpe militar de 1964 –, o governo federal decidiu punir os que aderiram ao manifesto golpista. O interessante é que a mídia, a mesma que apoiou o golpe e a ditadura, até agora permanece em silêncio diante desta grave insubordinação.

 

A falsa neutralidade na imprensa

 

Nas notícias sobre o episódio há, inclusive, uma falsa neutralidade. Já alguns trogloditas que gozam de espaços privilegiados nos jornalões, revistonas e emissoras de televisão ligadas às mesmas elites de antes de 64 não escondem a sua simpatia pelo “direito democrático” dos milicos de pijama. Outra vez, Reinaldo Azevedo, o pitbull da Veja, é o mais venenoso e asqueroso. Ele estimula os indisciplinados a “não se intimidarem”.

 

Eliane Cantanhêde, da “massa cheirosa” do PSDB, aconselha a presidenta Dilma a evitar radicalizações – como se o governo fosse culpado pelas sandices das viúvas da ditadura. Já Hélio Schwartsman acha “um exagero que leis e regulamentos castrenses permitam enquadrar e punir por desrespeito à hierarquia os oficiais reformados, que são, para todos os efeitos, cidadãos aposentados”.

 

O torturador Brilhante Ustra na ativa

 

Enquanto isto, a lista de adesões ao manifesto continua aberta e é atualizada diariamente no sítio “A verdade sufocada”, liderado pelo torturador Carlos Brilhante Ustra, que foi comandante do Doi-Codi entre 1970 a 1974. Repugnante a atitude dos saudosistas da ditadura militar e estranha, muita estranha, a postura complacente da mídia.

 

A presidenta Dilma, como comandante em chefe das Forças Armadas, deveria ficar bem atenta a estas perigosas movimentações.

Área Q: um filme co-produzido pelo Brasil e pelos Estados Unidos voltado para a reflexão filosófica



Carlos Antonio Fragoso Guimarães


O Filme Área Q , com estréia nos cinemas prevista para o dia 13/04, parece ser um daqueles filmes atípicos que navegam contra a corrente comum das produções cinematográficas, ao lado de obras como Cisne Negro, Gattaca, A vida em Preto e Branco, Ghost e Amor Além da Vida, se aproximando, pela sua temática, destes últimos.

O filme é uma Co-produção Brasil e E.U.A.  e é estrelado pelo ator americano Isaiah Washington e também pelos brasileiros Murilo Rosa e Tania Khalil.

O filme Area Q segue a linha de reflexão que se mostrou bem sucedida em películas semelhantes, como 2001, Uma Odisseia no Espaço e Ghost do Outro Lado da Vida, e que, surpreendentemente, tem se mostrado um bom filão  a ser explorado, como se comprova os sucessos de séries de TV, com Arquivo XLost, Fringe, Médium, Ghost Whisperer e Gifted Man. Como nestas, Área Q traz, através da ficção cinematográfica, uma história cujo enredo aparentemente comum (visões de OVNIS) embute, de modo mais ou menos implícito, assuntos que acompanham a reflexão filosófica sobre a alma humana desde Heráclito, Pitágoras, Sócrates e Platão. Esta junção entre a ficção e a filosofia pode vir a estimular as consciências mais sensíveis  para questionar o modismo mecanicista-materialista e as picuinhas a estes associados, abrindo uma brecha para a possibilidade, ainda que temporária, da assunção da História nas mãos de consciências lúcidas que trabalham por um mas sensível, e não de instituições massacrantes como bancos, multinacionais e bolsas de valores.

Assuntos como Vida depois da Morte, Reencarnação, afinidades espirituais, evolução, ecologia e holismo são os pontos temáticos de fundo - às vezes indiretos - que se discutem nesta película surgindo a partir de uma história, como já dito, com contornos de ficção científica. O problema e a curiosidade é saber como se faz a junção destes temas, fundamentais sobre o porquê da vida, com uma história que faz menção à questão de OVNIS e ETs, talvez por esta temática ser mais atraente ao público norte-americano, o que os filmes de Steven Spielberg, em sua maioria, demonstram.  De qualquer modo, o tema sugere que o universo e a vida são mais complexas, conectados e ricos do que imaginamos a partir de nosso conhecimento atual. Esperemos agora que estes pontos polêmicos possam ser costurados em um roteiro realmente interessante e que possam se gravar indelevelmente na memória dos cinéfilos de todo o mundo.

A história conta a trajetória do jornalista Thomas Mathews (Isaiah Washinghton) que tem sua vida mudada pelo súbito desaparecimento de seu filho. Arrasado pelo fato, ele aceita, meio a contra gosto, fazer uma matéria no Brasil, mas especificamente no Ceará, sobre aparições de OVNIS em locais como Quixadá e Quixeramobim, que formam a região chamada Área Q. Nestes locais ele conhece João Batista, interpretado por Murilo Rosa, que possui explicações e teorias sobre o que ocorre nesta área e, inclusive, sobre o que aconteceu com seu filho, e uma outra jornalista e pesquisadora, interpretada por Tania Khalil... Veja-se o trailer oficial do filme, abaixo:




domingo, 4 de março de 2012

Carl Gustav Jung: Nossas ilusões ensinam...



"Se não quisermos ser feitos de tolos pelas nossas ilusões devemos, pela análise cuidadosa de cada fascínio, extrair deles uma parte de nossa personalidade como parte de nossa quinta essência, e reconhecer lentamente que nos encontramos conosco mesmos repetidas vezes, em mil disfarces, no caminho da vida" 


Carl Gustav Jung

quinta-feira, 1 de março de 2012

A estranha lógica do Capital na Crise Financeira: Bancos especuladores valem mais que vidas



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

  Enquanto pais de famílias se desesperam por perderem seus empregos, estudantes se vêm sem futuro e todo o mundo começa a ter certeza de que o capitalismo sem regras e sem controle é um mal, a infame Revista Veja condena a educação humanista, já que o ensino de Filosofia e de Sociologia, bem como de Psicologia no segundo grau seria uma "doutrinação de esquerda". Críticas idênticas são feitas aos excelentes documentários de Michael Moore (de Fahrenheit 11 de setembro e de Capitalismo, uma História de Amor), de Jennifer Abott e Mark Achbar (de A Corporação) e de Charles Ferguson (de Inside Job, Trabalho Interno). A mesma sórdida Revista Veja, representante da Direita paulista mais reacionária e suas instituições, como a Febraban e a Fiesp, chama de estúpidos os movimentos sociais (que a mídia convencional, em geral, faz questão de desprezar) contra o cassino global dos mercados financeiros especulativos, como o movimento Ocupem Wall Street, e diz que os Gregos (e de regra, seguindo a mesma "lógica" os Portugueses, Espanhóis, Irlandeses, etc.) estão sofrendo as consequencias de suas dívidas e têm mais é de dar o sangue para que o funcionamento do Capitalismo continue exatamente do jeito que está....

  Enquanto o Natal de muitos europeus e norte-americanos foi cheio de apreensão por um futuro incerto, quatro dias antes do dia 25 dedezembro (que já foi do Cristo mas que hoje pertence ao comercial Papai Noel) os bancos europeus receberam um presente extraordinário: 489 Bilhões de euros (ou o equivalente a 1,23 TRILHÕES de Reais), dinheiro do POVO emprestados pelo Banco Central Europeu a juros de 1% AO ANO, recursos estes que não podem ser transferidos diretamente do BCE para os governos e as pessoas, mas que o podem ser pelos bancos beneficiados a juros de mais de 7% AO MÊS! Ou seja, os Bancos - não esquecendo que foram estes, através da jogatina financeira e de estímulo ao endividamento que iniciaram a crise, e nos EUA - podem ter todas as benesses para sobreviver e ainda lucrar, enquanto as pessoas físicas, as pessoas que pagam os impostos e FAZEM A HISTÓRIA, essas não podem. Aliás, se algumas morrerem seria até bom para diminuir a pressão popular contra o capitalismo neoliberal defendido pela Veja. Se na crise de 1929 os responsáveis pelo desastre costumavam se atirar dos prédios, hoje eles sarcasticamente atiram seus empregados e as famílias destes sem pestanejar...

  Interessante essa lógica parcial encampada e tantas vezes endossada pela Revista Veja.... Com uma parcela muito menor desta montanha de dinheiro, seria possível diminuir grandemente a devastação ambiental, incentivar a educação ou mesmo erradicar a fome. Mas Veja-se a escolha das elites financeiras: explorar a tudo e a todos, não importando mais de onde estejam as bocas e os corações (antes, o Terceiro Mundo é quem fornecia as vítimas para o Deus Mercado, hoje, mesmo países "desenvolvidos" fornecem pessoas à Kali financeira de bom grado) e a capacidade do pensar diferente vai-se esvaindo, assim como a capacidade de governança nas democracias vai se restringindo aos poderes e interesses de natureza financeira e midiática, onde os bancos, as bolsas e a televisão ditam as regras e percepções da realidade, cujo núcleo central se resume em um novo dogma materialista: Explorai a todos e acumulai como poucos, esta é toda a Lei e os profetas!

Para entender a Crise Econômica, 1ª Parte





Professor da secular Universidade de Coimbra, Portugal, António Avelãs Nunes discorre sobre as causas da crise mundial, a partir da estreiteza do modelo neoliberal, e seu impacto, especialmente na Europa, desde 2008.

Transcrevemos aqui sua entrevista concedida ao jornal Correio da Paraíba por ocasião do recebimento do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Paraíba, UFPB, em entrevista publicada dia 08 de janeiro de 2012.

Entrevista:

- Professor, como se explica essa sucessão de crises econômicas que vêm atingindo a Europa?

- A crise começou por não ser uma crise europeia. É uma crise do capitalismo como um todo e ela surgiu mais uma vez, como em 1929, no centro do capitalismo e com muitos pontos em comum com a crise de 29.

- O senhor se refere aos Estados Unidos?

- Sim, foi o berço da crise, o maior país do mundo capitalista. Como em 1929, a crise se deve a um período de euforia nas bolsas com desenfreada especulação financeira, ou seja, de jogo de papeis em bancos buscando ganho fácil em cima de juros em detrimento do investimento na produção real de bens.

- O que realmente aconteceu?

- O capital financeiro (especialmente bancário) descobriu uma maneira de se remunerar a partir da especulação sem ter as dificuldades do capital aplicado, produtivo, que dá emprego, e sem os riscos da atividade produtiva normal. Depois, com a consolidação da ideologia neoliberal (após Reagan e Thatcher e com Collor e FHC no Brasil), ou seja, com a liberalização absoluta dos movimentos de capitais – impostas pelos grandes senhores do mundo – o capital financeiro tem se dedicado aos jogos de cassino, a apostar perigosamente para ganhar muito em pouco tempo. Por isso alguns autores tratam o capitalismo atual como capitalismo de cassino. Veja que os bancos apostaram e criaram a crise e foram os que mais receberam dinheiro dos governos depois de esta instalada. Essa tem sido a grande prática do capitalismo nos últimos anos com riscos diagnosticados há muitos anos.

- O senhor poderia ser mais preciso em relação a esse espaço de tempo?

- O próprio Keynes, há 50 anos, alertou para isso: “vamos mal se o capital financeiro se sobrepor ao capital produtivo”. E particularmente Keynes tinha uma grane aversão ao que ele chamava de “rentista” (o que vive de rendas de aplicações financeiras em bancos) e tem uma expressão famosa dele em que defendeu a eutanásia dos rentistas, ou seja, daqueles que vivem das rendas do seu dinheiro, dos que não poupam para a atividade produtiva.

- Que solução o senhor vê para o problema?

- Tenho defendido que o estado deveria intervir com oferta de moeda para evitar que a oferta fosse inferior à procura e assim evitando subir a taxa de juros (exatamente o oposto do que propagam os arautos do neoliberalismo para quem quanto mais auto a taxa de juros, melhor para uma minoria e pior para toda a humanidade). É preciso que o Estado venha a intervir para reduzir a taxa de juros e acabar com o rentista, o endeusado “investidor” especulativo.

- O que realmente esses “rentistas” trouxeram de mau para o mercado?

- Produtos financeiros derivados que são, nada mais nada menos, que objetos de apostas, no capitalismo de cassino em que se transformou o mundo do capitalismo. (Veja-se o documentário de Michael Moore Capitalismo, uma história de amor, sobre o jogo sujo por trás da criação dos tais “derivativos” das bolsas de valores) Os capitalistas dizem que a sofisticação desses produtos financeiros é tal que, muitas vezes, nem os próprios jogadores habituais deste cassino sabem o que compram e vendem...

- E é interessante que a crise tenha chegado à Europa via um banco alemão que havia comprado títulos podres...

- Mas boa parte do sistema financeiro europeu fazia aplicação em títulos podres dos grandes empórios, dos grandes conglomerados financeiros americanos – as companhias de seguros, os fundos de pensão e investimentos privados e todos os bancos. Fazia isso de modo que as poupanças das pessoas comuns foram investidas em produtos que os especialistas já vinham chamando a atenção como sendo armas de destruição em massa.

Para entender a Crise Econômica, 2ª Parte




- Apesar do alerta, todos foram enganados?

- Todos os gurus do neoliberalismo, com o senhor Allan Greenspan à frente, diziam: “o que é preciso é o mercado agir sozinho, nada do Estado regulamentando, nada de intervenção, nenhuma instituição do Estado é mais eficiente que o mercado”. Disseram isso ao Brasil (e FHC assinou embaixo, daí o desmonte do Estado brasileiro configurado nas privatizações) e disseram isso no Congresso americano. O que é bom para o capital financeiro é bom para o mundo. E na audiência no Congresso, o presidente da instituição disse ao Greenspan: “o senhor com essa ideologia nos prejudicou e estamos todos a pagar um preço alto. O senhor não tinha meios para evitar essas consequências?” Respondeu Greenspan: “Não, eu pensava que o não intervir era a melhor opção”... O que levou à réplica óbvia do presidente da instituição: “Então, parece que o senhor se enganou” e o Greenspan, guru nos neoliberais, finalmente disse: “Tenho de reconhecer”.

- E é ainda em Marx que se encontra a melhor explicação para a crise?

-  Eu penso que Marx ainda é o melhor autor que compreendeu o capitalismo. Sem chegarmos ao Marx não compreendemos nada do que se passa. Essa é uma crise tal qual Marx caracterizou as crises do capitalismo. É uma crise que resulta de contradições profundas do capitalismo. Quanto mais o capitalismo estiver livre do Estado, como sonham os neoliberais, e das pressões externas – como o desaparecimento da União Soviética – mais ele se convence que pode tudo.

- Como o fim da União Soviética contribuiu para esse assoberbamento ainda maior do capitalismo?

- O capitalismo se convenceu que tinha sua eternidade garantida. Dizia-se entre os neoliberais estupidamente que a queda do Muro de Berlim marcava “o fim da História”. Passou-se a permitir ao capital todas as liberdades, inclusive, as liberdades que matam, bem como aquilo que o próprio Keynes já havia descrito: o capitalismo tem dois vícios fundamentais, ou produz duas contradições fundamentais: Gera situações de desemprego involuntário e dá origem a desigualdades insuportáveis. E essas duas contradições são bastante prejudiciais ao desenvolvimento da própria economia...

- Que desigualdades são essas?

- As desigualdades de rendimento, as desigualdades de rendas. São duas contradições fundamentais. Essa desigualdade do rendimento só tem se acentuado nos últimos anos e de certa forma pode-se afirmar que a crise foi programada.

- Esse problema começou a se agravar quando?

- Há uns 20 anos, por toda a parte, a ideologia neoliberal vinha procurando reduzir o salário real dos trabalhadores (veja-se aqui no Brasil que o aumento do salário mínimo, um dos menores do mundo, traz a crítica de partidos neoliberais, como o PSDB e do empresariado neoliberal e da mídia atrelada a estes), contrariando toda a teoria econômica do século XVIII. Há estudos da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da ONU, da OCDE, além de inúmeros estudos científicos de diversos autores, todos mostrando que as desigualdades têm se acentuado, não só entre os países, mas até mesmo dentro de cada país, inclusive nos mais ricos.

- E não se pode ignorar a importância do trabalho na economia, seja qual for o seu estágio de desenvolvimento...

- É claro que aqui há uma falta de compreensão enorme de que o capitalismo não leva a sério a grande massa da população. E que são os trabalhadores que têm que comprar o que se tem para vender. Essa é a contradição: diminuir o salário de quem é comprador, porque se não venderem não há lucro, não há mais-valia em termos marxistas. Se se esgota, se se reduz o poder de compra dos trabalhadores, está cavada a tumba do capitalismo porque a produção fica sem destino.

- Esse rebaixamento dos salários também se verifica no primeiro mundo?

- Isso também se verifica nos Estados Unidos. Em função da “desterritorialização”  industrial, o capitalismo, em seu afã do lucro máximo, fugiu para todas as chinas possíveis do mundo produtivo. Uma prova disso é que nos últimos anos, o PIB, mantém-se, mas as estatísticas de desemprego são crescentes, porque o crescimento econômico pelas vendas de produtos fabricados em outro0s países não traz o crescimento do emprego interno exatamente porque as atividades industriais não estão mais nos Estados Unidos. O que se verifica é o crescimento do setor terciário (comércio e serviços) com salários muito baixos, em profissões marginais. Isso tudo se vê na Europa, nos Estados Unidos, em toda a parte. A crise se resume a isso: o desvio das poupanças para fins meramente especulativos em prol de uns poucos e, com isso, o fomento da desigualdade de renda e, portanto, da diminuição do poder de compra da população.

- Aliás, grandes industriais americanos sempre defenderam o fortalecimento do poder de compra de seus trabalhadores...

- O próprio Ford comentou: “eu preciso que meus próprios trabalhadores comprem meus próprios automóveis, senão em qualquer dia não poderei mais vende-los.” Num tempo de produção em série, em massa, é preciso um consumo de massa. Não se pode viciar as pessoas apenas em endividar-se, porque numa altura dessas as pessoas não podem pagar.
- Como a Europa mantendo essa consciência crítica deixou-se contaminar?
- Ai é que está: a Europa, atualmente, não tem essa consciência crítica. Quem tem sou eu e eu não sou a Europa. Eu creio que a União Europeia acabou sendo a maior obra do mundo neoliberal. Os tratados estruturantes da União Europeia reproduzem, infelizmente, os dogmas mais fundamentais de toda a falida ideologia neoliberal. Basta irmos ao Banco Central Europeu, sobretudo a partir do tratado de Maastricht com a criação da EU, do sistema europeu de bancos centrais, da moeda única e do chamado pacto de estabilidade e crescimento, que impõem limites em termos de inflação, dívida publica e termos de déficit das contas públicas.

- O senhor se referiu ao Banco Central europeu. O que é que o distingue dos demais?

- O nosso BC europeu é o mais independente de todo o mundo e seus estatutos estão centrados nos tratados europeus, o que significa que só podem, em teoria, ser alterados através de acordo entre os 27 estados membros da UE o que, segundo muita gente, é o maior crime que já se cometeu, pois impede mudanças urgentes. Os estatutos do BC europeu são a coisa mais neoliberal que se pode conceber. O Banco Central Europeu, por conta de seus estatutos, não pode emprestar dinheiro ou garantir dívidas ou de nenhum modo ajudar efetivamente países em dificuldades.

- O que fez o BC europeu, então?

- Emprestou dinheiro aos Bancos Privados a 1% de juros e estes emprestaram aos Estados – Grécia, Portugal, Irlanda – a 10%, 12%, 13%.

Para entender a Crise Econômica, 3ª Parte

    

        - Por que a crise chegou à Europa?

                - Porque a Europa é uma parte muito clara do mundo neoliberal, travada por seus tratados, pelo estatuto do Banco Central. O Banco Central americano é independente dentro do governo, mas partilha com o governo uma série de políticas públicas para atender ao crescimento e a criação do emprego. Quando o Banco Central europeu diz que seu objetivo principal é a estabilidade dos preços, com essa estabilidade, sacrifica todos os outros objetivos. E os tratados da EU dizem que nenhum estado pode estabelecer acordos com o Banco Central Europeu para pactuar medidas de política econômica.

                - E como ficam os países de economia mais frágil?

                - Se um país mais débil entra em crise na Europa, há uma transferência de soberania e todos perdem. Perdem  a soberania econômica, monetária, cambial e em matéria de pesca e política agrícola, em política de transportes. Mas essa perda de soberania não foi transferida para nenhum órgão de soberania europeia comum, porque não há órgão de soberania europeia com competência para desempenhar uma política de solidariedade de combate à crise (afinal, o neoliberalismo incentiva a competição e a individualização dos lucros, apenas isso).

                - Por que essa divergência de tratamento entre os países do mesmo pacto?

                - Porque o credo monetarista e neoliberal alemão atual e os tratados da União Europeia dizem que os Estados devem reduzir as despesas, aumentar os impostos, retirar direitos sociais dos trabalhadores, diminuir o tempo em que se recebe auxílio desemprego, cortar direitos da seguridade social, diminuir os salários, ou seja, tudo o que Kaynes havia proposto como despesa benéfica do Estados e como transferência para as pessoas, para as famílias, para que estas possam um poder de compra para evitar o declínio da economia. Mas os neoliberais fazem tudo ao contrário, aumentando a crise, e é isso que estão fazendo todos os países. Por isso já se verificou que a Grécia não tem condições de cumprir suas metas. Portugal também não vai cumprir. Estamos em recessão e vamos continuar em recessão. Espera-se que o desemprego em Portugal em 2015 tenha o mesmo índice atual, 11,1% ou 11,2%.

                - Vamos chegar aonde com essa perspectiva?

                - Como é que vamos crescer para pagar juros de 5,1% se os juros do mercado são ainda superiores? Não vamos. Evidentemente que esse não é o caminho. Esse é o caminho sim para liquidar com os direitos dos trabalhadores, liquidar o estado social, partir de novo para a estaca zero. E depois se verá. E nessa altura vão pensar que a solução será renegociar a dívida. Como os autores e pensadores de esquerda têm proposto desde o início da crise grega. Só há uma solução: renegociar a dívida. A Grécia tem que ter mais tempo para pagar e tem que se baixar a taxa de juros e eventualmente têm que lhe perdoar alguma dívida. Senão, ela não paga. Portugal está na mesma situação, a Espanha corre os mesmos riscos. Agora se contaminar a Itália e a Espanha, a Itália vai dar um berro, porque os compromissos dessas nações contaminariam todo o sistema europeu.

                - Essa crise chegará aos países em desenvolvimento, aos emergentes?

                - Há um caso específico entre os emergentes que é o da China, que tem quase 2/3 da dívida dos Estados Unidos, além dos interesses americanos na China (com sua mão de obra barata) e dos interesses chineses em território americano. Se há uns anos os Estados Unidos tivessem chegado a uma situação de não pagamento, o que  a China faria? O problema é que muitas vezes, nas relações internacionais, o maior devedor está mais protegido que o maior credor e aquele, assim, tem de ser tratado com o maior cuidado, como era o Brasil, que foi um grande devedor e tudo era feito para que ele NÃO pagasse nunca suas contas, deixando-o nas mãos dos interesses financeiros internacionais. Antigamente os credores invadiam os devedores à força, agora isso é menos possível. Creio que estamos no mundo que as coisas não me deixam com muito otimismo.

                - Vem mais aperto para o trabalhador em relação à suas suadas conquistas sociais?

                - Isso é o que vem ocorrendo. É absolutamente claro. Na Grécia e em Portugal há uma forte resistência aos partidos de esquerda, aos movimentos sindicais e isso vai continuar. Os socialistas e sociais democratas da Europa são hoje dependentes do neoliberalismo como verdadeiros dependentes químicos, os partidos comunistas praticamente desapareceram, mas creio que as coisas vão chegar a um ponto que alguma coisa deve ser feita.

                - Mas que avaliação pode se fazer dessa perspectiva que só aponta para a crise?

                - O problema é que nessas conjunturas se gera a cultura do medo, promovida especialmente pelas classes dominantes. As pessoas têm medo das incertezas. Penso que estamos à beira de um cataclismo, que pode ser uma guerra mundial ou outra coisa qualquer e pode, inclusive à ditaduras de direita, exatamente como após 1929.

                - E o Brasil nesse contexto?

                - Penso que países como o Brasil estão um tanto protegidos disso, porque se adotar políticas adequadas, o Brasil tem um espaço de segurança própria que é o seu grande mercado interno. Se a agricultura brasileira se voltar mais para a produção de alimentos que para o que chamo de cultura de sobremesa e a indústria se voltar mais para as necessidades de seu mercado interno há uma grande possibilidade de superar a crise, porque, afinal de contas, é um mercado de 180 milhões de pessoas. O Brasil pode ter nesse mercado interno uma espécie de escudo para se proteger. É o caso da China e da Índia também. Os mercados internos desses países permitem uma expansão grande.