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sábado, 21 de maio de 2011

Repensando "Metal Contra as Núvens"


Segue uma série de reflexões surgidas ao pensar a canção Metal Contra as Núvens, do Legião Urbana:

Não sou escravo de ninguém
Ninguém é senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz


Aqui temos a afirmação do tipo "eu sou uma pessoa independente, tenho uma subjetividade, tenho um pensar autônomo. Mas tenho medo que meus valores se percam em um mundo conturbado, de um sistema que burocratiza e coisifica pessoas e seres, cheio de faltas e escolhas outras, não humanistas, que batem com o que considero valioso". Também se refere aos ideais e sonhos que se desfazem frente a uma realidade que se mostra o contrário da ideal.

Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais


Nesta estrofe ele diz algo assim: lutamos tanto para sermos independentes, para tentar sermos nós mesmos... E nisso percebo que fico cada vez mais só... Poucas são as pessoas que se dispõe a se diferenciar, a se desevolver, a se individuar, como diria Carl Gustav Jung. Nisso, a própria "fé" que deveria ajudar a libertar pela beleza espiritual se transforma em adesismo comodista a uma interpretação facilitada infantil do transcendente, no fanatismo de uma imensa parcela que não ousa pensar.

Eu sou metal
Raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal
Eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal
Sabe-me o sopro do dragão


Apesar dos embates, eu tenho força, tenho resistência, consigo me fortalecer como o aço diante do fogo.

Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos.


Apesar das decepções - mesmo a mão que um dia me afagou ontem me apedrejou - vejo que ainda posso encontrar alguém ou saber de alguém que não é igual aos demais, um modelo que pode estar distante - ou, o que é o pior, o que é valioso sendo "possuído" por outrem, até mesmo de modo bizarro.

Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra
Tem a lua, tem estrelas
E sempre terá


Aqui minha terra pode ser minhas origens (minha infância, meu lar, minha terra natal) ou meus ideais, talvez as duas coisas. Lá eu reencontro meus ideais primeiros que me dão identidade: tem a lua e as estrelas que diminuem a escuridão em que sinto a minha alma.

Quase acreditei na tua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa


Aqui o Renato está criticando o sistema: o consumismo e a coisificação que transforma pessoas e a natureza em objetos e mercadorias. É o desabafo também que também é encontrado na canção Índios da própria Legião Urbana.

Olha o sopro do dragão

Olha as provações da vida que tentam nos amolecer... Mas somos metais, não somos? O fogo pode nos fortalecer

É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais


Nossos sonhos, nossos ideias, nosso desejo de estar juntos com as pessoas, sendo frustrados pelo sistema. Compromissos em prol de interesses alheios nos separam do nosso íntimo, não mais fazemos aquilo que gostariamos, especialmente as coisas mais simples, os valores mais sublimes, nos são tirados por um sistema impessoal, individualista e alienante ao mesmo tempo, que nos faz pensar que ter e ter e competir e competir nos dará uma felicidade fabricada que nunca vem exatamente por ser vazia de valores e de companhia. Aquilo que foi objeto de nossas utopias é desencantado pelo sistema... sem igualdade, sem fraternidade, apenas a liberdade para o consumo... Apenas um racionalismo instrumental e pragmático, mecanicista.

Tenho os sentidos já dormentes
O corpo quer, a alma entende
Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos


O descaso, a indiferença das pessoas me deixam desiludido, meus sentidos já estão ficando dormentes... O carinho, o contato, meu corpo quer achonchego, alguém que me dê apoio... e isso a alma entende... Mas sei que devo superar a indiferença, não deixar meus sentidos ficarem dormentes, pois se deixar, o sistema ganhou, me venceu...

Eu sou metal - raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal: eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal: me sabe o sopro do dragão


Eu sou forte... Eu posso enfrentar a massa amorfa... Eu tenho valor, a vida sabe o quanto já venci.

Não me entrego sem lutar
Tenho ainda coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então


Eu sei que sou apenas um... mas sou o um que posso fazer a diferença... sei que outros pensam como eu, mas ainda estamos separados ("you may say thatr I'm a dreamer, but I'm not the olny one", John Lennon).

Tudo passa
Tudo passará


Nada é para sempre, nem mesmo este tempo de alienação e coisificação... Nenhum império dura para sempre, tudo muda.

E nossa história
Não estará
Pelo avesso assim
Sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar

E até lá
Vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora, ahh!
Apenas começamos.

Não se deixe amedrontar... Façamos a nossa parte... somos a semente do amanhã... E a luta por mudar o mundo dá sentido às nossas vidas... O mundo começa agora... apenas começamos...

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