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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Jesus Camp: o fundamentalismo evangélico e a política



Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Em 2006 o mundo ainda livre ficou estarrecido com as cenas de um documentário que concorreu ao Oscar: Jesus Camp, a história de uma colônia de "férias" chamada Kids on Fire, em que se mostra todo um processo de doutinação de meninos e meninas para se transformarem em "soldados" da fé, ou seja, modelados para serem ativistas sectários com a missão de converter os não pentecostais e os que pensam diferente deles, ainda tornando-se defensores agressivos do modo americano de vida.

Uma das cenas mais marcantes do documentário, feito por Rachel Grady e Heide Swing, é a de quando a pastora Becky Fisher põe um poster em tamanho natural do sórdido George W. Bush e pondo as crianças se postem diante do mesmo, adorando-o e o abençoando, repetindo frases como a de que o "Líder" está construindo "uma nação para Deus". Esta é uma tática já conhecida desde os tempos da juventude hitlerista, baseada na fascinação obsessiva para fazela-as crer que Bush e sua equipe extra-ultra-conservadora foi um dos melhores bens já ocorridos ao EUA e ao mundo. Veja-se o video abaixo, extraído do documentário Jesus Camp:



Aliás, tirando algumas Igrejas Protestantes históricas européias, mais sérias, lúcidas e benéficas, a maior parte das Novas Igrejas Midiáticas fazem do culto à personalidade de seus líderes uma constante e a própria mensagem espiritual fica reduzida a um materialismo tranvestido de cristianismo, já que as promessas são sempre de "ganho", "vitória", "guerra santa" e vantagens pessoais desde que se pague aos pastores para reconhecer que eles detém a "verdade" sobre Cristo, o "Senhor" que servirá como o gênio da lâmpada dando tudo o que se pedir - bem diferente do mestre que pedia uma atitude ética e de amor para todos - e que deve ser aceito (como se ele fosse desconhecido e não amado por bilhões, mesmo os não pertecentes à igrejas).

O documentário Jesus Camp retrata com cenas fortes como o acampamento de férias da Kids on Fire transformava crianças em soldados para a "causa de Deus" transformando-os fanáticos de guerra. O objetivo era o de serem treinadas a seguirem cegamente o cristianismo biblicista, desconsiderando a mensagem de Cristo em Mateus de que nem todo o que diz "Senhor, Senhor" será salvo, mas adotando a visão de Paulo de que basta acreditar e ter fé na figura do estranho "Senhor Jesus" - que nada tem a ver com o Jesus meigo e tolerante dos evangelhos - e lutar para converter e implantar a todo o custo a visão fundamentalista e capitalista para ter assegurado um lugar no "céu".

Crianças treinadas a desconsiderar como "obra do maligno" (no final o grande aliado sempre chamado a retirá-los de situações intelectualmente desafiantes) qualquer tipo de informação que questionasse essa doutrina de acomodação, “aprendendo” a desprezar a lei factual da evolução da espécies descrita por Darwin em favor da crença "criacionista ” literal da Bíblia, sendo induzidas a acreditar que filmes como os de Harry Potter são manifestações ideológicas do Mal. Aprendem que católicos são perigosos idólatras (enquanto não reconhecem a si mesmos como bibliólatras que preferem "a letra que mata ao espírito que vivifica", como foi escrito pelo próprio Paulo de Tarso) e que árabes são demônios, que filmes que falem e denunciem contra o capitalismo são elementos criados pelo diabo para seduzir os incautos, já que o capitalismo é o mais justo dos sistemas, aprovada, segundo eles, pela própria Bíblia (presunção sem fundamento que foi brilhantemente posta abaixo por Michael Moore em seu excelente documentário "Capitalismo, uma História de Amor").

Como bem reflete sobre o assunto Frei Betto (http://alainet.org/active/7132&lang=es)

Escolas do Sul dos EUA, e também no Estado do Rio de Janeiro, rejeitam os avanços científicos resultantes das pesquisas de Darwin e ensinam que o homem e a mulher foram criados diretamente por Deus. Tal visão fundamentalista nem sequer reconhece que "Adão", em hebraico, significa terra, e "Eva", vida. Como os autores hebreus do Antigo Testamento não raciocinavam com categorias abstratas, à semelhança da gente simples do povo, o conceito ganhou plasticidade simbólica no causo de Adão e Eva.

Todo fundamentalista é, a ferro e fogo, um "altruísta". Está tão convencido de que só ele enxerga a verdade que trata de forçar os demais a aceitar o seu ponto de vista... para o bem deles! Há muitos fundamentalismos em voga, desde o religioso, que confessionaliza a política, ao líder político que se considera revestido de missão divina. Eles geram fanáticos e intolerantes. O mais próximo de nós, brasileiros, é o que vigora no governo dos EUA, convencido de que promove o bem contra as forças do mal, utilizando armas letais no extermínio do povo iraquiano e tratando os homossexuais como doentia aberração da natureza. Uma das melhores conquistas da modernidade é a separação entre a Igreja e o Estado. Nada de papas coroando reis, como na Idade Média, ou de presidentes consagrando a nação ao Sagrado Coração de Jesus, como há poucas décadas ocorria na Colômbia.


E para quem acha que isso só ocorre nos Estados Unidos ou países distantes do Brasil, é bom refletir sobre os mais famosos programas evangélicos da televisão e se questionar se um Silas Malafaia, um Edir Macedo, uma Igreja Renascer e outros parecidas não fazem coisa semelhante ou ainda pior por aqui... Também seria bom ter o mínimo senso crítico para se pensar eventos como o chamado ultra-reacionário "Encontro para a Consciência Cristã" que ocorre no Nordeste do Brasil e que foi criado para enfrentar o democrático, fraterno e ecumênico "Encontro para a Nova Consciência" criado há vinte anos na cidade de Campina Grande, Paraíba, para o diálogo entre religiões, filosofias e tradições em uma demonstração de respeito que os fundamentalistas consideram como coisa do demônio a ser destruida a todo custo, partindo da bancada evangélica na política, para se implantar a visão "correta de religião" à força, na Terra.

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