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sábado, 30 de outubro de 2010

O paradoxo que somos nós...



Existe em todos o potencial do amar e do odiar... Potencial que pode se desenvolver ou se desvirtuar. Potenciais que Paulo Freire tanto lutou por ver desabrochar em autonomia e partilha crítica e afetuosa onde o eu mais se diferencia quanto mais interage em um "nós". Autonomia de pensar e agir, contudo, que não é icentivada - muito pelo contrágio, é reprimida, por foças econômicas e classes dominantes ciosas de seu poder..
.Em parte podemos ser poetas ou sádicos... Reconhecer em nós o gênio e o demente pode ser o início da sabedoria, mas isso não impede de se escolher ser mais um ou outro. De que lado você prefere estar? - Carlos Antonio Fragoso Guimarães

"As palavras nos permitiram elevar-nos acima dos animais; mas é também pelas palavras que não raro descemos ao nível de seres bestiais."

Aldous Huxley

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ser e não aparentar...


Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre; se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico.

Séneca

Cada pessoa em nossa vida...


Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas quando parte, nunca vai só nem nos deixa a sós. Leva um pouco de nós, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas há os que não levam nada.

Gibran Khalil Gibran

Há segredos na alma...


Sim... há segredos na alma...
Segredos que roçam a razão e que esta não consegue apreender...
Há mais nas profundezas do ser do que pode ver o olhar acima da imensidão deste mar
Mas, por mais profundo que a estes segredos se possa descer,
A essência mesma só por fugazes lampejos se deixar ver...

Por fim, não existe segredo sem algo que não ponte para a sua existência...
Por fim, em alguns há segredo bem perto e ao lado da luz que os deixam ver...

"A alma não tem segredo que o comportamento não revele."

Lao-Tsé

O essencial escapa ao discurso....



Rótulos, conceitos, idéias e modelos nada mais são que tentativas de dar um ordenamento racional à exuberância de vida que nos cerca e que nunca se deixa reduzir a estas construções do intelecto...

"O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete."

Aristóteles


"O sábio não se exibe e vejam como é notado. Renuncia a si mesmo e jamais é esquecido."

Lao-Tsé
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Aquele que sabe não fala; aquele que fala não sabe.

Lao-Tsé


Vejamos, por hora, apenas três pensamentos questionadores, ambos do autor de O Pequeno Príncipe, o filósofo e aviador francês Antoine de Saint-Exupèry (1900-1944):

O Homem distingui-se dos homens. Nada se diz de essencial acerca da catedral se apenas falarmos das pedras. Nada se diz de essencial a respeito do Homem se procurarmos defini-lo pelas qualidades humanas.

O progresso do homem não é mais do que uma descoberta gradual de que as suas perguntas não têm tanto significado
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Conhecer não é demonstrar nem explicar, é aceder à visão.

O Louco, de Gibran Khalil Gibran




Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:


Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.


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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Analfabeto Político de Brecht




O Analfabeto Político

Bertold Brecht


O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

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domingo, 3 de outubro de 2010

O "Deus" Mercado




O Deus Mercado


Carlos Antonio Fragoso Guimarães


Como outros conceitos “metafísicos”, tais como o da “Mão Invisível do Mercado” e de “Investidores em Bolsa de Valores” , sem rostos, sem traços, o de “Neoliberalismo” se mostrou o pior de todos. Usa o termo “Neo”, como sendo novidade ou reformulação, e o de “liberalismo” para implicar a liberdade de compra e venda. Mas que liberdade? A de grandes corporações destruírem o o pequeno comércio local, despejando famílias em um exército de desempregados desesperados que, assim, podem ser contratados à preços ridículos chamados “salários” para se dedicar 110% à empresa com medo de serem despedidos?

Tal estado de coisas é muito bom para os empresários que buscam lucros crescentes às custas dos sacrifícios dos assalariados, entre os quais, as perdas de conquistas, como férias remuneradas, salário-família, décimo terceiro, conquistas estas que são vistos, pelos patões, como vestígios de uma prática “antiga”, “ultrapassada”, “getulista”, que precisa ser “reformada”, para ser “modernizada” em prol do desenvolvimento do “Mercado” – entenda-se, em prol do aumento absurdo dos lucros deles, a minoria exploradora. No final, a culpa é dos mais fracos e a luz e a razão esclarecida, dos que menos trabalham e mais se dão bem nesse sistema.

E tão grande é a ilusão de que palavras como mercado, bolsas, investimentos, refletem realidade mágicas e naturais, que por tanto serem ditas na Televisão – normalmente pertencentes a poucas famílias atreladas aos negócios capitalistas – acabam por, de fato, parecerem refletir leis naturais. Nas palavras de Frei Betto:

O mercado é o novo fetiche religioso da sociedade em que vivemos. Antigamente, nossos avós consultavam a Bíblia, a palavra de Deus, diante dos fatos da vida. Nossos pais, o serviço de meteorologia: "Será que vai chover?". Hoje, consulta-se o mercado: "O dólar desvalorizou? Subiu a Bolsa? Como oscilou o mercado de capitais?".

Diante de uma catástrofe, de um acontecimento inesperado, dizem os comentaristas econômicos: "Vamos ver como o mercado reage". Fico imaginando um senhor, Mr. Mercado, trancado em seu castelo e gritando pelo celular: "Não gostei da fala do ministro, estou irado." Na mesma hora os telejornais destacam: "O mercado não reagiu bem frente ao discurso ministerial".


Se algo dá errado com o Mercado, como por exemplo a crise de 2008 causada pela aposta de Bancos e Mega-especuladores financeiros, a culpa é da população contribuinte que terá seu dinheiro dos impostos utilizado para salver e enriquecer (e entenda-se, premiar) os mesmos Bancos e Mega-especuladores. Dinheiro que deveria ser do povo em forma de melhores condições de vida, de hospitais, de segurança e de educação. E a resposta destes exploradores não é um agradecimento, mas sim a de que se deve fazer reformas trabalhistas para se gastar menos com quem os salvam pelo consumo e uso dos impostos, e aumentar ainda mais o lucro vampiresco de Bancos e Mega-Especuladores, os regentes e sacerdotes do Deus Mercado.

E quem é este mercado? A população? Os trabalhadores? Os estudantes? Os aposentados? Os camponeses ou apenas uma parte elitista que manda, desmanda e, principalmente, influi na vida de todos os demais? Onde está a Democracia dos iguais? Onde as promessas de um mundo mais feliz e seguro?

Engraçado que até um tipo de religião se ergueu neste momento, uma de tipo neopentecostal e fundamentalista que tem seu maior atrativo nas promessas de crescimento econômico e financeiro – que, de fato, se faz visível na esnobação materialista de seus líderes: o televangelismo-midático-espetaculoso de uma Igreja Universal do Reino de Deus o da Assembléia de Deus de um Silas Malafaia e seu jatinho de meros 12 Milhões de Dólares são apenas alguns exemplos disto...

Ainda Frei Betto:

Antes, falava-se em Estado, o importante era fortalecer o Estado. Um ministro da ditadura militar chegou a declarar: "Vamos fazer crescer o bolo, depois haveremos de dividi-lo." Só que o bolo cresceu, e o gato comeu, não se viu o resultado. Aqueles mesmos políticos que advogavam o crescimento do Estado defendem, hoje, a sua destruição, com o sofisticado lema da ‘privatização’.

Não sou radicalmente contrário à privatização, nem estatista. Há países ricos - como a França e o Reino Unido - nos quais os serviços públicos estatais funcionam muito bem. Não é por serem públicas que as empresas e os serviços devem operar negativamente. A história é outra: muitos políticos, que deveriam ser homens públicos, estão prioritariamente ligados a empresas privadas, de maneira que não têm interesse em que as coisas públicas, estatais, funcionem bem. O maior exemplo disso é o serviço de saúde no Brasil. São US$ 8 bilhões circulando por ano nos planos privados de saúde, que atendem apenas 30 milhões de pessoas numa população de 190 milhões. Por que o SUS haveria de funcionar bem? Outrora, alguém ficava doente e dava graças a Deus por conseguir um lugar no hospital. Hoje, as pessoas morrem de medo de ir para o hospital. Hospital virou ante-sala de cemitério.

A privatização não é só econômica, é também filosófica, metafísica. Tem reflexos na nossa subjetividade. Também nos tornamos seres cada vez mais privatizados, menos solidários, menos interessados nas causas coletivas e menos mobilizáveis para as grandes questões. A privatização invade até mesmo o espaço da religião: proliferam as crenças ‘privatizantes’, que têm conexão direta com Deus. Isso é ótimo para quem considera que o próximo incomoda. É a privatização da fé, destituindo-a da sua dimensão social e política.