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domingo, 21 de março de 2010

Novo documentário de Michael Moore: "Capitalismo uma história de amor"...




Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Em 1989 Michael Moore chamava a atenção em seu primeiro documentário (gênero em que se tornou mestre), intitulado Roger & Eu. Neste, ele abordava de maneira dramática e com fina ironia, por vezes hilária, como uma cidade antes próspera - por sinal, cidade natal de Moore e também da própria GM - chamada Flint, no estado de Michigan, foi reduzida à miséria pela decisão da General Motors de fechar sua seminal fábrica da região, aparentemente por simples redução de custos, sem levar em conta o impacto da decisão na vida de milhares de famílias e na renda de demais setores da cidade, demonstrando que a ficção jurídica de uma empresa ser considerada "uma pessoa" traz consigo forte potencial de destruição social, transformando-se em um Leviatã plutocrático que se alimenta do sangue de operários e funcionários, ambos descartáveis.

Anos depois, seu premiado "Tiros em Columbine", que recebeu o Oscar em 2002, desmascara a hipocrisia de uma sociedade de fachada, onde valores da competitividade e do acúmulo de bens se expressam no hábito do culto às armas e à violência, substituindo o cultivo de valores humanos, sociais, cooperativos. 



Pouco tempo depois, Moore mostra o Rei Bush nu, junto com seus asseclas neo-conversadores e messiânicos no super-conhecido"Farenheit 11 de setembro". Nunca o Império americano foi tão explicitamente desmascarado de forma tão direta e irônica em um documentário de linguagem tão acessível.

Em 2007, Moore desmascara o comércio lucrativo que é o sistema de saúde norte-americano (que serve de modelo ao nosso), em "Sicko - S.O.S Saúde", documentário em que as relações espúrias da indústria médica (incluindo-se a farmacêutica) com a população, entendida como gado a ser explorado pelo sistema mais caro e elitista do mundo, é finamente exposta. Sensacional os momentos finais do filme, onde heróicos voluntários que participaram do resgate das vítimas do 11 de setembro, e que adoeceram por aspirarem a poeira dos ecombros, após serem desprezados pelos sitema americano, são levados à Cuba onde recebem todo o tratamento adequado e ainda são homenageados pelo governo comunista de Fidel Castro pelo heroísmo demonstrado após o choque dos aviões ao World Trade Center.

Agora, Moore volta à tona com um novo e sensacional documentário: "Capitalismo, uma história de amor (2009)". Neste, Moore começa apresentando como o sistema destroça famílias, despejando-as de suas casas após enganá-las com promessas de prosperidade, demintindo-as sem dó nem piedade. Retorna também aos inícios de sua história enquanto ser humano e quanto cineasta, na cidade de Flint, para construir um documentário bem fundamentado e bastante objetivo sobre as origens do capitalismo e a maneira desastrosa como os E.U.A. são dominados pelo corporativismo sem regulamentações do estado neoliberal, especialmente na área bancária e financeira.



Moore faz uma crítica objetiva à lógica do neoliberalismo devastador que, após Reagan e Thatcher, se impôs ao mundo desde 1989, para eles o ano do "fim da história" já que o antigo conflito entre ideologias teria acabado e o capitalismo teria vencido de vez, evento simbolizado pela queda do Muro de Berlim, passando a creditar-se imbatível e pleno de liberdade inclusive para começar a tratar explicitamente mal aposentados, empregados, povos, países em busca de aumento de lucro a partir do corte de "despesas" com o bem-estar social e ambiental. 


 Moore leva-nos numa viagem pelo país, e mostra-nos os epicentros mais importantes das corporações e do mercado financeiro-especulativo não-produtivo e os seus ‘podres’, que se repercutem não só a uma escala nacional, mas consequentemente a uma escala global, dando seguimento e indo mais além do documentário "A Corporação", de Jennifer Abott e Marck Achbar, 2003, onde o próprio Moore participa como entrevistado.

Sobre o potencial polêmico do filme, que geralmente é usado para encobrir sua mensagem, o cineasta é enfático e direto em sua ironia:


"Escutem, deixe eu ser direto: eu sou apaixonado por esse filme. Ele não é apenas o mais pessoal de todos os filmes que eu já fiz, mas é o mais vital e necessário filme que já fiz em 20 anos de carreira como cineasta. Eu falei para a minha equipe no começo das filmagens, "Vamos fazer um filme tão honestamente brutal que NINGUÉM com qualquer dinheiro nunca mais irá escrever um cheque para fazermos um novo filme!". Então nós fizemos o documentário mais perigoso que poderíamos ter feito", desabafou Michael Moore em uma entrevista coletiva a 9 de Março de 2010.

Com seu habitual humor e sagacidade, o filme explora o preço que a população dos EUA pagam por seu tradicional amor dogmático ao capitalismo, especialmente, nos últimos 35 anos, do capitalismo de cassino financeiro, de rendimentos sobre juros bancários e não em investimento produtivo, movido, para delícia dos grande executivos de Wall Street. Se após a II Guerra, esse amor parecia inocente, baseada na produção de bens, já que as fábricas na Europa ainda estavam se refazendo da Guerra, embalado a Rock 'n Roll e carrões consumidores de litros de combustível, hoje o sonho americano parece mais um pesadelo quando famílias pagam o preço da jogatina dos bancos com seus empregos, casas e economias, ou mesmo dando a vida em guerras insanas por ganância econômica.

Moore nos leva aos lares de pessoas comuns cujas vidas viraram de cabeça para baixo a partir das promessas de Alan Greenspan, dos dramas calculados de Bush e de outros (a comerçar pro Ronald Regan, primeiro presidente títere de Wall Street) de que eles poderiam ter dinheiro fácil e seguro fazendo empréstimos sobre empréstimos e hipotecando suas casas a taxas de juros exorbitantes pela máfia dos bancos. Moore também sai em busca de explicações em Washington e em toda parte, do porque da crise de 2009, sendo evitado de ser recebido pelos grandes de Wall Street e dos grandes Bancos (Citibak, Bank of America, a seguradora AIG). Com toda a razão se pergunta onde foram parar os 700 bilhões de dólares doados pelo governo Bush a estes setores... Mostra como o congresso (especialmente na época de Bush) se tornou um braço de Wall Street. Ele, então, descobre os sintomas tão conhecidos do fim de um antigo caso caso amor: simulações, frieza, abuso, traição...e alguns milhares de empregos sendo fechados por dia.





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