Do Portal do José:
Bolsonaro, diz a pesquisadora Esther Solano, representa o empoderamento de grupos políticos que previamente se sentiam isolados politicamente ou silenciados.
“É o empoderamento do homem médio, conservador, que nunca se sentiu visibilizado pela grande política, e hoje se vê reconhecido pelo bolsonarismo. É a exaltação da masculinidade, branquitude, e da direita”, diz a acadêmica.
"A base fiel bolsonarista está passando por um processo de hiper-radicalização, aponta pesquisa de Esther Solano, doutora em sociologia e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que estuda o fenômeno do bolsonarismo desde 2017.
“Os bolsonaristas radicais têm uma ligação cada vez mais emocional e psicológica com Bolsonaro. A base que anteriormente chamávamos de fiel está passando por um processo de fortalecimento e consolidação do discurso de defesa do presidente”, diz Solano.
Segundo ela, os radicais estão convictos de que Bolsonaro é perseguido por todos, e eles encaram isso como uma perseguição a eles próprios e ao Brasil que idealizam.
Esta base de “bolsonaristas heavy”, como define Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, correspondia a 17% do eleitorado em agosto de 2020 e, hoje, é de 11%.
De acordo com a última pesquisa do Datafolha, os bolsonaristas heavy são aqueles que votaram no Bolsonaro no primeiro e segundo turno em 2018, avaliam o governo como ótimo ou bom e que confiam em tudo o que o presidente diz.
Bolsonaro, diz Solano, representa o empoderamento de grupos políticos que previamente se sentiam isolados politicamente ou silenciados.
“É o empoderamento do homem médio, conservador, que nunca se sentiu visibilizado pela grande política, e hoje se vê reconhecido pelo bolsonarismo. É a exaltação da masculinidade, branquitude, e da direita”, diz a acadêmica.
“Para eles, caindo o Bolsonaro, eles caem junto, e tudo em que eles acreditam cai também; é como se eles voltassem para a invisibilidade.”
A acadêmica faz pesquisas etnográficas, que reúnem pequenos grupos de pessoas que já se conhecem e conversam entre si, de diferentes localidades e classes sociais, para avaliar as narrativas e as visões.
Houve especulação de que o recuo de Bolsonaro, por meio da carta costurada pelo ex-presidente Michel Temer, podia decepcionar a base bolsonarista mais fiel, que apoia os atos mais agressivos do presidente.
Vários dos bolsonaristas analisados por Solano afirmaram ter se sentido inicialmente decepcionados com o recuo, pois ficaram “confusos com as informações de uma imprensa que sempre tenta enganar e destruir o presidente”.
Eles foram às ruas esperando que algo fosse feito contra o STF. Mas, depois, entenderam que foi “pura estratégia” de Bolsonaro, que foi a atitude correta para melhorar as coisas sem que houvesse violência ou caos.
“Ele foi um estrategista de primeiro nível, a imagem dele saiu fortalecida porque demonstrou que é um sujeito explosivo e autêntico, mas que também pode ser um negociador e um homem tático que escuta sua equipe. O dólar baixou, a bolsa subiu, o poder econômico está satisfeito com o recuo e a imagem internacional dele também melhorou”, disse um dos participantes.
“Ele vai tentar primeiro resolver a situação com o STF de forma não violenta, aí, se não der, como última alternativa, ele partirá para uma revolução junto com o povo.”
Muitos, segundo Solano, encaram o presidente Bolsonaro e a pátria como uma coisa só, acreditam que o Brasil está em perigo porque Bolsonaro está em perigo, e foram às ruas atendendo ao chamado do presidente.
“Pelo fato de querer o melhor para o Brasil, a oposição contra nosso presidente estava muito alta, eu vi que o presidente só tem o povo, e resolvi ir para apoiá-lo. Esperava que naquele mesmo dia o STF recuasse do que eles estavam impondo contra o Zé Trovão e os que estavam sendo perseguido por conta de expor a sua opinião, além dos projetos do presidente que o STF vetou", disse outro.
Segundo a pesquisadora, essa base radical dificilmente vai se decepcionar com o presidente, porque a conexão desses apoiadores com Bolsonaro não é programática, nem política; é uma ligação afetiva, emocional, que passa pela forma de entender o mundo.
Discutindo se iriam às ruas de novo se Bolsonaro pedisse, ainda que fosse para tentar algo mais radical como fechar o STF, os pesquisados responderam sem titubear: “Sem dúvidas, estamos fechados com Bolsonaro”. Para eles, fechar o STF não seria golpe.
“Ele está tentando resolver a situação com o STF de um jeito pacífico, mas se os acordos forem descumpridos pelos ministros, e Bolsonaro decidir radicalizar, todo mundo estará com ele, mesmo com guerra civil”, disse um deles.
“Se for necessário chegar nesta situação extrema pelo bem do povo brasileiro, não será culpa de Bolsonaro e sim do STF”, afirmou outro. “Não seria um ‘golpe’, se tudo fosse conforme a Constituição, já que a Carta Magna prevê este tipo de situações. Uma grande parte de militares e as policiais responderiam a este chamado de Bolsonaro”.
Segundo Solano, para eles, foi a esquerda que deu um golpe com a captura do Estado pela corrupção. Bolsonaro, na visão deles, quer fortalecer a democracia ao limpar o Brasil de corruptos. Em relação à vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vencerá se houver fraude nas urnas.
Texto publicado na Folha-UOL em 25/9/21
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