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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Vídeo do UOL: Dinheiro de dívida de igrejas com impostos poderia ser usado em outras áreas, diz advogada

 

Do Canal UOL:

Um grupo de 16 entidades religiosas deve R$ 1,6 bilhão em impostos, segundo levantamento da PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional) obtido pelo UOL por meio da Lei de Acesso à Informação. Em entrevista ao UOL News, a advogada tributária Tathiane Piscitelli, professora da FGV Direito, fala sobre o caso e os direitos e deveres legais das igrejas




Vídeo do Meteoro Brasil sobre o racismo estrutural (base do neofascismo brasileiro)

 Do Canal Meteoro Brasil:

Você provavelmente já ouviu o termo "racismo estrutural", mas talvez não conheça a gravidade daquilo a junção dessas duas palavras aponta. Hoje, recorremos à obra de Silvio Almeida para entender o que é racismo estrutural.





Ex-ministros debatem construção e desmonte das políticas nacionais de Direitos Humanos

 Evento transmitido ao vivo no Youtube, em 1/10, tem como objetivo construir a memória institucional das políticas nacionais e fazer diagnóstico conjunto sobre passado, presente e futuro do setor



Jornal GGN – O Instituto de Estudos Avançados da USP, em parceria com a OAB Nacional e a Comissão Arns, reunirá na próxima sexta-feira, 1º de outubro, ex-ministros, ex-ministras, ex-secretários e ex-secretárias especiais de Direitos Humanos para abordar as políticas nacionais que foram construídas durante os governos passados e destruídas após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.

O evento terá transmissão ao vivo e aberta ao público, entre 14 e 18h. Acompanhe pelo link abaixo:

O evento compõe o “Ciclo de Memórias da Política Institucional Brasileira de Direitos Humanos”, proposto e organizado pelo Grupo de Pesquisa “Direitos Humanos, Democracia e Memória” do Instituto de Estudos Avançados da USP (GPDH/IEA) para os anos de 2021 e de 2022.

A organização de cada evento que compõe o ciclo propõe-se a promover diálogos entre o(a)s convidados e convidadas para que construam coletivamente a memória institucional das políticas públicas nacionais de direitos humanos e um diagnóstico conjunto sobre o passado, o presente e o futuro das políticas e institucionalidades desses direitos no Brasil.

Coordenação:
Matheus de Carvalho Hernandez (GPDH/IEA e UFGD) e Marrielle Maia (GPDH/IEA e UFU)
Organização: José Augusto Lindgren Alves (Cedec), Andrei Koerner (GPDH/IEA, Cedec e Unicamp), Raissa W. Ventura (GPDH/IEA, Cedec e Unicamp) e Carla Vreche (Cedec e Unicamp)
Abertura: Andrei Koerner (vice-coordenador do Grupo de Pesquisa Direitos Humanos, Democracia e Memória) e Guilherme Ary Plonski (IEA USP)


Exposições:
José Gregori, Secretário Nacional dos Direitos Humanos (1997-2000)
Gilberto Vergne Saboia, Secretário Nacional dos Direitos Humanos (2000-2001)
Paulo Sérgio Pinheiro, Secretário Nacional dos Direitos Humanos,(2001-2003)
Nilmário Miranda, Ministro de Estado da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (2003-2005)
Mário Mamede Filho, Ministro de Estado da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (2005-2006)

Paulo de Tarso Vannuchi, Ministro de Estado da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (2006-2011)
Maria do Rosário, Ministra de Estado da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (2011-2014)
Ideli Salvatti, Ministra de Estado da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (2014-2015)
Pepe Vargas, Ministro de Estado da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (2015-2015)
Nilma Lino Gomes, Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil (2015-2016)
Rogério Sottili, Secretário Especial de Direitos Humanos (2015-2016)


Mediação: Matheus de Carvalho Hernandez (GPDH/IEA e UFGD)
Encerramento: Leitura do manifesto, por Raissa W. Ventura (GPDH/IEA, Cedec e Unicamp)
Organização: Grupo de Pesquisa Direitos Humanos, Democracia e Memória (GPDH IEA)
Apoio: Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns)

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Gabriela Prioli sobre as maldades à Joseph Mengele da Prevent Senior (que, aliás, adotava o lema das SS de Hitler: Obediência e Lealdade) e seus absurdos contra a saúde na Pandemia

 

Do Canal da jurista Gabriela Prioli:

Hoje nosso vídeo irá falar sobre o escândalo das acusações que estão sendo feitas na CPI da COVID contra o plano de saúde Prevent Senior. São inúmeros os crimes que estão sendo apurados. Da implementação do famoso “Kit Covid” até ocultação do número de mortes. É muito grave e podemos acabar tendo implicações no mundo político, já que o dossiê apresentado à CPI afirma que existia um acordo entre o governo Jair Bolsonaro e o plano de saúde.


Realização: Play9



domingo, 26 de setembro de 2021

Do Portal do José: Bolsonaro é para sempre? Que fim levarão seus seguidores? Para onde o Brasil está indo?

 

Do Portal do José:

Bolsonaro, diz a pesquisadora Esther Solano, representa o empoderamento de grupos políticos que previamente se sentiam isolados politicamente ou silenciados.

“É o empoderamento do homem médio, conservador, que nunca se sentiu visibilizado pela grande política, e hoje se vê reconhecido pelo bolsonarismo. É a exaltação da masculinidade, branquitude, e da direita”, diz a acadêmica.



"A base fiel bolsonarista está passando por um processo de hiper-radicalização, aponta pesquisa de Esther Solano, doutora em sociologia e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que estuda o fenômeno do bolsonarismo desde 2017.

“Os bolsonaristas radicais têm uma ligação cada vez mais emocional e psicológica com Bolsonaro. A base que anteriormente chamávamos de fiel está passando por um processo de fortalecimento e consolidação do discurso de defesa do presidente”, diz Solano.

Segundo ela, os radicais estão convictos de que Bolsonaro é perseguido por todos, e eles encaram isso como uma perseguição a eles próprios e ao Brasil que idealizam.

Esta base de “bolsonaristas heavy”, como define Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, correspondia a 17% do eleitorado em agosto de 2020 e, hoje, é de 11%.

De acordo com a última pesquisa do Datafolha, os bolsonaristas heavy são aqueles que votaram no Bolsonaro no primeiro e segundo turno em 2018, avaliam o governo como ótimo ou bom e que confiam em tudo o que o presidente diz.

Bolsonaro, diz Solano, representa o empoderamento de grupos políticos que previamente se sentiam isolados politicamente ou silenciados.

“É o empoderamento do homem médio, conservador, que nunca se sentiu visibilizado pela grande política, e hoje se vê reconhecido pelo bolsonarismo. É a exaltação da masculinidade, branquitude, e da direita”, diz a acadêmica.

“Para eles, caindo o Bolsonaro, eles caem junto, e tudo em que eles acreditam cai também; é como se eles voltassem para a invisibilidade.”

A acadêmica faz pesquisas etnográficas, que reúnem pequenos grupos de pessoas que já se conhecem e conversam entre si, de diferentes localidades e classes sociais, para avaliar as narrativas e as visões.

Houve especulação de que o recuo de Bolsonaro, por meio da carta costurada pelo ex-presidente Michel Temer, podia decepcionar a base bolsonarista mais fiel, que apoia os atos mais agressivos do presidente.

Vários dos bolsonaristas analisados por Solano afirmaram ter se sentido inicialmente decepcionados com o recuo, pois ficaram “confusos com as informações de uma imprensa que sempre tenta enganar e destruir o presidente”.

Eles foram às ruas esperando que algo fosse feito contra o STF. Mas, depois, entenderam que foi “pura estratégia” de Bolsonaro, que foi a atitude correta para melhorar as coisas sem que houvesse violência ou caos.

“Ele foi um estrategista de primeiro nível, a imagem dele saiu fortalecida porque demonstrou que é um sujeito explosivo e autêntico, mas que também pode ser um negociador e um homem tático que escuta sua equipe. O dólar baixou, a bolsa subiu, o poder econômico está satisfeito com o recuo e a imagem internacional dele também melhorou”, disse um dos participantes.

“Ele vai tentar primeiro resolver a situação com o STF de forma não violenta, aí, se não der, como última alternativa, ele partirá para uma revolução junto com o povo.”

Muitos, segundo Solano, encaram o presidente Bolsonaro e a pátria como uma coisa só, acreditam que o Brasil está em perigo porque Bolsonaro está em perigo, e foram às ruas atendendo ao chamado do presidente.

“Pelo fato de querer o melhor para o Brasil, a oposição contra nosso presidente estava muito alta, eu vi que o presidente só tem o povo, e resolvi ir para apoiá-lo. Esperava que naquele mesmo dia o STF recuasse do que eles estavam impondo contra o Zé Trovão e os que estavam sendo perseguido por conta de expor a sua opinião, além dos projetos do presidente que o STF vetou", disse outro.

Segundo a pesquisadora, essa base radical dificilmente vai se decepcionar com o presidente, porque a conexão desses apoiadores com Bolsonaro não é programática, nem política; é uma ligação afetiva, emocional, que passa pela forma de entender o mundo.

Discutindo se iriam às ruas de novo se Bolsonaro pedisse, ainda que fosse para tentar algo mais radical como fechar o STF, os pesquisados responderam sem titubear: “Sem dúvidas, estamos fechados com Bolsonaro”. Para eles, fechar o STF não seria golpe.

“Ele está tentando resolver a situação com o STF de um jeito pacífico, mas se os acordos forem descumpridos pelos ministros, e Bolsonaro decidir radicalizar, todo mundo estará com ele, mesmo com guerra civil”, disse um deles.

“Se for necessário chegar nesta situação extrema pelo bem do povo brasileiro, não será culpa de Bolsonaro e sim do STF”, afirmou outro. “Não seria um ‘golpe’, se tudo fosse conforme a Constituição, já que a Carta Magna prevê este tipo de situações. Uma grande parte de militares e as policiais responderiam a este chamado de Bolsonaro”.

Segundo Solano, para eles, foi a esquerda que deu um golpe com a captura do Estado pela corrupção. Bolsonaro, na visão deles, quer fortalecer a democracia ao limpar o Brasil de corruptos. Em relação à vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vencerá se houver fraude nas urnas.

Texto publicado na Folha-UOL em 25/9/21

Eduardo Battaner, no El País: “Não encontrei Deus no universo, mas Einstein sim, na perfeição e na beleza de suas leis”

 

O astrofísico espanhol Eduardo Battaner analisa num livro a relação dos físicos com as crenças religiosas ao longo da história


O astrofísico Eduardo Battaner López, autor do livro 'Los físicos y Dios'.



Raul Limón

Eduardo Battaner López (Burgos, 1945) não tem procurado Deus na física, mas físicos que o fizeram ao longo da história e aqueles que negaram sua existência —algo que, como dizia Paul Dirac, é um dos problemas fundamentais desta ciência. Battaner, astrofísico formado na Espanha e no prestigioso Instituto Max Planck da Alemanha, é professor emérito da Universidade de Granada e publicou Los Físicos y Dios (sem edição em português), que analisa a relação desses buscadores de respostas ao longo da história.

MAIS INFORMAÇÕES

Pergunta. Por que Los Físicos y Dios?

Resposta. Os grandes pesquisadores têm trabalhado nesse horizonte que divide o conhecido e o desconhecido. Portanto, têm o privilégio de observar a natureza como isso nunca antes havia sido feito. Sua interpretação da natureza tem implicações na filosofia e na teologia. Por isso, muita gente quer saber qual era o pensamento religioso dos grandes cientistas e, portanto, dos grandes físicos. Mas é preciso dizer que neste livro não há nenhuma intenção de propaganda doutrinária. Não se defende nenhuma posição religiosa concreta. Nem se defende o teísmo ou o ateísmo. Fala-se da atitude dos físicos diante da ideia de Deus com base em suas próprias palavras. Este livro tem apenas um enfoque histórico.

P. Por que essa preocupação entre os físicos?

R. Porque essa é uma preocupação de todas as pessoas, e é dos físicos porque são pessoas. Mas seu ponto de vista tem um interesse adicional porque seu ofício é conhecer o universo. Os físicos hoje trabalham prescindindo de suas crenças particulares. Inclusive os mais religiosos não misturam sua ciência e sua fé. Nem sempre foi assim. Por exemplo, [Johannes] Kepler era um místico que, baseando-se na noção de que somos feitos à imagem e semelhança, acreditava que podia compreender o mundo. É um método científico inaceitável hoje, mas que o levou a estabelecer leis de grande precisão. Kepler julgava ter a responsabilidade de interpretar a criação.

PMichel Mayor, descobridor do primeiro exoplaneta, diz que “não há lugar para Deus no universo”. Em sua tarefa como astrofísico, o senhor o encontrou?

R. Não encontrei Deus no universo, mas no livro não pretendo expor minhas próprias ideias, e sim a dos grandes físicos. Entre eles —e, em particular, entre os astrofísicos— há uma grande disparidade de crenças. Existem crentes, agnósticos e ateus. Nem todos pensam como Mayor. Por exemplo, [Albert] Einstein encontrou Deus no universo, na perfeição e na beleza de suas leis.

P. Mas o senhor questiona que os físicos de hoje se amparem na não resposta como resposta.

R. É verdade que hoje os cientistas têm uma espécie de pudor ao confessar suas crenças. Não sei por quê. Não costumam responder. Isso contrasta com os físicos de outros tempos, que revelavam suas crenças sem hesitar. Por que não dizer? Outra coisa são os agnósticos que não se pronunciam porque não encontram a resposta ou acreditam que não haja.

P. Há um sentido físico na evolução do universo?

RO universo evolui de uma forma bastante conhecida e previsível matematicamente (se excluirmos os primeiros instantes). Há um sentido físico. O que não quer dizer que haja um propósito.

P. Por que muda a relação da física com Deus?

R. Ao longo da história observamos, de fato, uma evolução. Os cientistas islâmicos da Idade Média tomavam como certa a existência de Deus. E, se algum deles não acreditava, calava-se. A partir do Renascimento, começa a diversidade de opiniões. E hoje há muitas posturas diferentes. Por quê? Certamente por causa do avanço prodigioso da ciência e da dissolução da censura.

P. A física é compatível com Deus?

R. Completamente. Houve grandes físicos crentes, inclusive devotos e ermitãos. Um bom exemplo pode ser o de [Georges] Lemaître, pai da teoria do Big Bang, que era sacerdote jesuíta e um dos melhores físicos de todos os tempos.

P. A fé limita o método científico?

R. Historicamente, sim. Por exemplo, algumas ordens religiosas tiveram grandes interesses científicos, mas a proibição do heliocentrismo limitava seu progresso. No século XVIII, porém, essa limitação desapareceu. Hoje a resposta é contundentemente não. Existem muitos físicos crentes, embora não misturem suas equações diferenciais com sua fé.

P. A física continuará procurando Deus?

R. A física não procura Deus. Os físicos, enquanto homens, sim. Mas em nosso cérebro, e somente temos um, a questão sobre a existência de Deus está à espreita.

P. Qual é a finalidade da física?

R. Como astrofísico, considero que seja compreender o princípio, a evolução e o final do universo. O físico busca a unificação de todas as forças. É um velho sonho no qual embarcaram nomes da estatura de [Michael] Faraday e Einstein. Procura-se a teoria de tudo. Procura-se uma equação que explique tudo.

P. Essa equação poderia ser Deus?

R. Haverá alguns físicos que veem assim e outros que não. Mas a pergunta da existência de Deus não será resolvida pela ciência. Perguntas como a que se fazia Gottfried Leibniz (“Por que há algo em vez de nada?”) ficarão sem resposta no contexto da física, acredito.

P. Que físico conjugou melhor a ideia de Deus e a ciência?

RAlbert Einstein tinha uma ideia de Deus não vinculada a nenhuma igreja ou fé estabelecida. Não acreditava num Deus que premiasse os bons e castigasse os maus ou que prometesse a imortalidade. Mas ele acreditava num Deus que havia criado o universo. Ficou surpreso ao poder escrever as equações do universo em meia folha de papel. Não era ateu, nem agnóstico nem panteísta. Ele assim o expressou. Com seu senso de humor característico, chamava Deus de “O Velho”.

Reinaldo Azevedo: Bolsonaro assassina até (e também) a lógica

 

Do Canal BandNews FM:

A Anvisa recomendou uma quarentena à comitiva brasileira que viajou a Nova York. Imagens que circulam nas redes sociais, no entanto, mostram o presidente Jair Bolsonaro furando a recomendação. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ficou sabendo do teste positivo dele para Covid-19 nesta terça-feira (21) durante a tarde. No mesmo dia, já sabendo do resultado do exame, segundo o jornal Folha de São Paulo, Bolsonaro abraçou e tirou fotos com apoiadores. O presidente ficou o tempo todo sem máscara. Esse foi um dos assuntos analisados por Reinaldo Azevedo durante o programa O É da Coisa desta quinta-feira (23 de setembro de 2021).




quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Momento de reflexão: Jesus e a Samaratina, por Dora Incontri

 

Do Canal Boas Palavras para um Bom Dia:

Hoje, numa só história do Evangelho de João, muitas reflexões atuais, sobre fraternidade, respeito ao feminino e diálogo.



Do programa Semeando Espiritualidades: diálogo entre Dora Incontri e Maurício Zanoline sobre os males do capitalismo, colonialismo e patriarcado

 

Do Canal Paz e Bem:

 


Nesse programa da série Semeando Espiritualidades, Diálogo e Crítica, Dora Incontri e Mauricio Zanolini conversam sobre algumas ideias do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos a respeito do capitalismo, o colonialismo e o patriarcado.

Livros citados na conversa: O fim de um Império Cognitivo O futuro começa agora - d pandemia à utopia Artigo sobre o Colonialismo insidioso:https://sul21.com.br/opiniao/2018/04/...

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Deu a louca na ONU. Bolsonaro, um mentiroso e seu bando em Nova York... Vídeo do Canal de Bobo Fernandes

 

Do Canal do jornalista e analista político Bob Fernandes:



CRÉDITOS Direção Geral: Bob Fernandes Direção Executiva: Antonio Prada Produção: Daniel Yazbek Edição: Gabriel Edé Arte e Vinhetas: Lorota Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé Este é um vídeo do canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.

Vídeo de Jamil Chade, no UOL: Ridicularizado, Bolsonaro é alvo de avalanche de denúncias na ONU

 

Do Canal UOL:

    Pelos corredores da ONU, reuniões informais ou conversas sigilosas entre atores da cena internacional, falar em Jair Bolsonaro (sem partido) é a garantia de ouvir dos interlocutores estrangeiros reclamações, denúncias e ironias, nem todas elas finas. Jamil Chade, colunista do UOL, comentou o "constrangimento" pela participação brasileira na Assembleia Geral da ONU.



Projeções na cidade de Nova York denunciam Bolsonaro e a destruição da Amazônia

 

Os protestos de rua estão sendo organizados com grupos de base de ação climática, antifascistas e de brasileiros em Nova York

Protestos contra Bolsonaro em Nova York

Protestos contra Bolsonaro em Nova York (Foto: Protestos contra Bolsonaro em Nova York)

Nova York, 21 de setembro de 2021 - Na véspera do discurso de Jair Bolsonaro na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA), ativistas projetam imagens ao lado da ponte do Brooklyn alertando sobre os perigos da chegada do presidente não-vacinado. As imagens destacam a agenda anti-ambiental de Bolsonaro, que levou à destruição generalizada da floresta amazônica, aos ataques sistemáticos aos direitos dos povos indígenas no país, ao manejo inadequado da pandemia e ao enfraquecimento das instituições democráticas no Brasil. Ativistas e aliados brasileiros estão convocando os líderes mundiais e a comunidade global para responsabilizar Bolsonaro pelas múltiplas crises que seu governo causou no país e globalmente.

A participação de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU tem sido cercada de polêmica desde que o presidente declarou sua condição de não vacinado, o que viola o mandato interno de vacinação de Nova York. Seu desrespeito coloca em risco todos com quem ele entra em contato; de funcionários de hotéis e restaurantes a delegados e funcionários da ONU. Conforme noticiado na imprensa, a equipe de Bolsonaro passou a semana tentando contornar a ordem do prefeito da cidade, Bill De Blasio, tentando fazer acordos para que ele não tivesse que ser vacinado para comparecer.

O Comitê Defend Democracy in Brazil (DDB-NY) está organizando uma série de atos e fez parceria com The Illuminator e Greenpeace USA para projetar as imagens às vésperas da Assembléia. Os protestos de rua estão sendo organizados com grupos de base de ação climática, anti-fascistas e de brasileiros em Nova York.

“As ações do Bolsonaro no Brasil são um ataque direto aos direitos humanos, ao meio ambiente e à saúde global. Ao se gabar de sua condição de não vacinado na cidade de Nova York, Bolsonaro mostra seu total desprezo pela vida humana e pelas famílias das vítimas do COVID-19 no Brasil e nos Estados Unidos. As ações de Bolsonaro não devem ficar impunes. Ele mentiu em seus discurso na ONU no passado e o fará novamente. Ele precisa ser envergonhado, se não for coibido pela própria ONU”, disse Natália de Campos, do DDB-NY.

O Comitê Defend Democracy in Brazil formou uma coalizão com outros grupos e juntos se manifestaram contra Bolsonaro já em maio de 2019, repudiando suas visões racistas, homofóbicas e anti indígenas. [1] Vários grupos desta coalizão agora organizam uma manifestação em 21 de setembro na 2ª avenida com a rua 45, enquanto Bolsonaro falará na Assembléia Geral da ONU.

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Reinaldo Azevedo: Bolsonaro é mais debochado que os ditadores que ele admira, como Pinochet ou Médici

 

Do Canal BandNews FM:

Uma pesquisa Datafolha mostra que 85% dos brasileiros reduziram o consumo de algum alimento desde o início do ano. De acordo com o levantamento, 67% cortaram o consumo de carne vermelha; 51% o de refrigerantes e sucos e 46% o de leite, queijo e iogurte. Ainda no noticiário econômico, começaram a valer as novas alíquotas do IOF, o imposto sobre operações financeiras. O reajuste vale até o fim do ano para as operações de crédito, de câmbio e seguros. Na avaliação de Reinaldo Azevedo, "não tem governo. Tem uma administração burocrática e acabou. Não há uma identidade do Bolsonaro com o povo que ele governa"




segunda-feira, 20 de setembro de 2021

“Dialéctica Y Libertad”, relembrando o amor e genialidade de Paulo Freire, por José Luís Fiori

 

Apesar de sua imensa complexidade, é possível falar e classificar as ações humanas em pelo menos dois grandes tipos, segundo a posição hierárquica do ator: as “ações massificadoras ou dominadoras” e as “ações conscientizadoras ou libertadoras”.

“Dialéctica Y Libertad”, relembrando Paulo Freire

por José Luís Fiori

En sociedades cuya dinâmica estructural conduce a la dominación de
las conciencias, la “pedagogia dominante es la pedagogia de las
clases dominantes”. Los métodos de opresión no pueden,
contradictoriamente, servir a la liberación del oprimido. En essas
sociedades, gobernadas por intereses de grupos, clases y nacionais
dominantes, “la educación como prática de la libertad” postula
necessariamente una “pedagogia del oprimido”
Fiori, E. M., “Aprender a decir su palabra”. In: Freire, P.; Fiori E. M.; e
Fiori J.L. Educación Liberadora. Bilbao: Zero S.A., 1973, p. 9.

“Dialética y Libertad” é o título de um “documento de trabalho” que escrevi em 1967, quando participei como “jovem aprendiz” de uma pesquisa – ao lado de Maria Edy Chonchol e Marcela Gajardo – liderada por Paulo Freire, sobre “o universo temático dos camponeses chilenos”, realizada no Instituto de Investigação e Capacitação em Reforma Agrária (ICIRA/FAO), sediado em Santiago do Chile. Essa pesquisa foi feita na mesma época em que Paulo Freira escreveu sua obra clássica, Pedagogia do Oprimido, (1967-1968) que ele tinha por hábito discutir – quase diariamente – com sua equipe de pesquisa e com outros colegas do próprio ICIRA.

Em 1973, este pequeno texto introdutório à nossa pesquisa, e que me foi encomendado pelo próprio Paulo Freire, foi incluído num livro publicado em Bilbao, Espanha, ao lado de dois artigos de P. Freire e E. M. Fiori. Meu texto foi escrito originalmente em espanhol, mas ao relê-lo agora, depois de 54 anos, decidi traduzir apenas uma parte e republicá-la livremente, não pelo seu valor intrínseco, mas como um documento de uma época que pode ser útil para os estudiosos da educação e da vida de Paulo Freire, e como uma forma de relembrar e homenagear Paulo, que foi para mim um mestre inesquecível, um humanista, e um amigo de toda vida, apesar das distâncias geográficas e a despeito da nossa diferença geracional. Os anos calejaram minhas ideias e minhas esperanças, mas jamais poderei esquecer o otimismo perene de Paulo, e uma lição que me deu logo quando nos conhecemos: “nunca tenha medo de suas próprias ideias, mesmo quando elas mudem através do tempo”.

“Nenhuma ação humana pode ser compreendida fora do contexto histórico de suas relações sociais e culturais, e de suas determinações estruturais; relações dos homens com o mundo, e dos homens com os demais homens, através do mundo. Por isso, a ação humana é sempre interação, comunicação e transformação. Ela não existe sem um sujeito que a intencione, e sem um objeto que seja “intencionado”. Ela é “práxis” e, como tal, possui uma dimensão “finalista” que é definida e orientada por valores que se interconectam dinamicamente, e que se constituem no conteúdo essencial de toda a ação.

Apesar de sua imensa complexidade, é possível falar e classificar as ações humanas em pelo menos dois grandes tipos, segundo a posição hierárquica do ator: as “ações massificadoras ou dominadoras” e as “ações conscientizadoras ou libertadoras”. Nas primeiras, o homem é objeto do próprio homem, ocupando o lugar de “mediador instrumental” entre este e o mundo. Nas outras, os homens se constituem e constroem dialogicamente como sujeitos de um “mundo objeto”. Num caso, os conteúdos e finalidades são impostos por um homem sobre outro, e por um grupo sobre o outro. Já no segundo caso, os conteúdos e finalidades da ação são buscados e realizados de forma conjunta pelos dois “polos” envolvidos em toda e qualquer relação ou situação concreta.

A inspiração originária desta pesquisa sobre a “consciência camponesa”, e deste projeto mais amplo de ação pedagógica proposto por Paulo Freire, nasce do reconhecimento dessa dicotomia fundamental, mas não de um reconhecimento passivo – pelo contrário, de uma opção clara e definida pelos oprimidos. Um projeto de ação pedagógica transformadora que parte da investigação da realidade em movimento das pessoas envolvidas e que depois volta a essas pessoas tematizando e problematizando seus problemas e desafios mais cruciais. Por isso, nesta concepção pedagógica, investigação, tematização e problematização se sucedem e se articulam dialeticamente como momento de um mesmo processo de análise, síntese e superação. Uma ação cultural que parte, portanto, de uma pedagogia dialógica que começa na própria investigação do “universo temático” do povo. Depois segue com a tematização desde universo para voltar ao povo na forma de conteúdos problemáticos. Esse processo se reinicia e refunda continuamente, na medida em que o povo supera suas experiências no mundo, refletindo sobre elas e integrando-as em uma visão sempre mais compreensiva e crítica, e numa ação transformadora cada vez mais ampla e inclusiva. Reflexão e práxis, portanto, aparecem nesta pedagogia como polos que se envolvem e implicam mutuamente numa superação contínua.

Deste ponto de vista, a educação não é algo que se pensa e estrutura em um mundo vazio de meditações metafísicas. É uma ação e uma intervenção que não podem se dar fora das relações concretas dos homens através do seu mundo. E neste sentido, também, a ação pedagógica não pode escapar da dicotomia proposta no início deste texto. A pedagogia se situa no mundo das ações e relações humanas, e, nestes termos, ela ou é massificadora ou é libertadora, não podendo ser as duas coisas ao mesmo tempo.

Ao postular uma educação que nasce do povo e define seus conteúdos e finalidades com o povo, Paulo Freire defende uma pedagogia “do povo”, e não “para o povo”. “Uma pedagogia em que o oprimido tenha condições de se descobrir e conquistar reflexivamente, como sujeito do seu próprio destino histórico”¹.  Uma pedagogia que, ao investigar e tematizar o mundo junto com o povo, faz do mundo do povo um “contínuo retomar reflexivo de seus próprios caminhos de libertação”². Uma pedagogia, em última instância, que sendo conscientizadora, se assume e se define plenamente como uma ação “desmassificante” e libertadora, e como uma pesquisa que se propõe ser dialética e política, na medida em que coloca a libertação como um objetivo ético e uma busca permanente.

A proposta básica da pesquisa de Paulo Freire é realizar uma investigação que seja pedagógica, e uma pedagogia que seja ao mesmo tempo investigativa. O processo educativo, segundo Freire, envolve a investigação e a transcende a um só tempo, mas na medida em que a investigação faz parte do processo educativo, ela também deve ser concebida e pensada dialeticamente. Por isso mesmo, a investigação não tenta jamais enclausurar a realidade em um espaço limitado do tempo; ao contrário, procura adequar seu método e suas técnicas ao movimento dinâmico da própria realidade. Propondo como objetivo captar historicamente uma sociedade que está em permanente movimento, envolve-se com o próprio movimento dessa sociedade, ao contrário da antropologia tradicional e da metodologia clássica da sociologia empírica. Sem aceitar jamais a “coisificação” dos homens e do seu mundo, ao propor a necessidade de fazer do próprio povo “pseudoinvestigado”, o verdadeiro sujeito é investigador do seu mundo e da sua forma de pensar este mundo. A investigação, ao captar e objetivar junto com a comunidade suas próprias situações e desafios existenciais estratégicos, permite que a própria comunidade objetive e critique sua própria situação neste mundo através do diálogo e do exercício da reflexão crítica.

Primeiro, se codificam certas situações existenciais que são depois projetadas e discutidas nos “círculos de investigação”. Depois, é o próprio pensar do povo exposto através dos diálogos que é recodificado na forma de “temas recorrentes” e cruciais que são reapresentados e propostos à discussão do grupo em novos e sucessivos “círculos de cultura”. E é desta forma, através de codificações existenciais e decodificações dialógicas, que avança a investigação, procurando inserir-se dinamicamente na realidade comunitária e histórica do grupo. Desta forma, os “círculos de investigação” e os “círculos de cultura” se seguem de forma contínua, constituindo-se no método pelo qual avançam em conjunto a investigação e a atividade pedagógica, codificando, decodificando e recodificando a vida da comunidade e do mundo “externo”, em conjunto com os pesquisadores. Desta forma, as distinções entre os dois tipos de “círculos”, impostas pela própria cronologia do processo investigativo e educativo, vão desaparecendo de forma progressiva, transformando os círculos de investigação e cultura numa só realidade, em um só “círculo”, no qual a investigação e a educação se fazem ao mesmo tempo e no mesmo lugar.

Já os participantes dos “círculos de investigação”, ao discutirem suas situações existenciais, começam a distanciar-se e a criticar seu próprio pensamento e sua visão do seu próprio mundo, que vai sendo objetivado e questionado na sua forma de ser anterior ao início do processo investigativo-educativo. Assim os participantes, em conjunto, acabam objetivando sua própria maneira anterior de dizer o seu mundo, assumindo uma nova consciência de si mesmos e do mundo ao redor, sem ver nem conseguir dizer o que de fato estavam vivendo. Desta forma, a própria comunidade se assume como investigadora de si mesma, e esta nova atitude vai-se desenvolvendo cada vez mais nos “círculos de cultura”, onde a comunidade crítica supera reflexivamente suas próprias condições imediatas, capacitando-se para transformar em conjunto o seu mundo real.

Paulo Freire diria que a comunidade emerge de sua “consciência ingênua”, assumindo cada vez mais a postura própria de uma “consciência crítica”. Isso seria uma reprodução, em escala menor, do próprio processo universal de constituição dialética da consciência, como uma consciência histórica movida pela pulsão existencial e histórica da liberdade. Portanto, a atividade de investigação já deve ser – em si mesma – interativa e transformadora, fazendo dos homens “investigados” sujeitos de sua própria superação e realização. E é por isso que se pode dizer ou propor que os homens se conscientizem e se libertem ao investigar a si mesmos.

Deste ponto de vista, o papel do investigador “profissional” termina em um determinado momento, mas a investigação continua na direção do futuro, nas mãos da própria comunidade investigada, e dos pedagogos que seguirão junto com a comunidade, pesquisando e se educando enquanto transformam o mundo. E é neste sentido que se pode dizer que a “investigação temática” se transforma numa prática permanente da liberdade. Ou seja, o processo de investigação e de educação prepara os homens para sucessivas tomadas de decisão. Mas existe uma decisão prévia que inspira toda a pesquisa e que está presente em todas as etapas deste processo que procuramos descrever: a opção e a decisão de desenvolvimento permanente da consciência crítica e de libertação dos homens oprimidos”. Fiori, J. L. “Dialética y Libertad. In: Freire, P.; Fiori, E. M; Fiori, J. L. Educacion Liberadora. Bilbao: Editora Zero S.A., 1973

1 Fiori, E. M. Aprender a decir su palabra (FREIRE; FIORI; FIORI, 1973, p. 10).

2 Idem, p. 11.

José Luís Fiori – Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Economia política Internacional, PEPI, coordenador do GP da UFRJ/CNPQ, “O poder global e a geopolítica do Capitalismo”; coordenador adjunto do Laboratório de “Ética e Poder Global”; pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis, INEEP. Publicou “O Poder global e a nova geopolítica das nações”, Editora Boitempo, 2007; “História, estratégia e desenvolvimento”, Boitempo, em 2014 ; “Sobre a Guerra”, Editora Vozes Petrópolis, 2018; e “A Síndrome de Babel”, Vozes, 2020.

Dom Paulo Evaristo Arns e Paulo Freire, os 100 anos de dois gigantes

 

"Neste momento em que o Brasil está à deriva, com um governo direitista e ultraliberal, que prefere os bancos às escolas e financia latifúndios em vez de habitação para o povo, é oportuno lembrar das palavras desses dois gigantes", escreve Elvino Bohn Gass


Este setembro tornou-se um mês especial, com a celebração do centenário de dois brasileiros ilustres, referências mundiais na defesa dos direitos humanos e da democracia: dom Paulo Evaristo Arns, cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, e Paulo Freire, educador e patrono da Educação no Brasil.

A trajetória de ambos tem a marca indelével das lutas por um outro mundo possível, livre de toda forma de opressão.

Um no exílio, outro aqui, eles atuaram contra o arbítrio e a ignorância, condições seculares que as classes abastadas utilizam para aumentar suas riquezas enquanto se expande a miséria.

Dom Paulo (14/09/1921 – 14/12/2016), como arcebispo católico no estado mais poderoso do Brasil, é chamado de “Cardeal da Resistência”.

Fez do poder de sua representação instrumento para denunciar os crimes e resistir aos desmandos da ditadura militar.

Freire (19/09/1921 – 2/05/1997) foi perseguido e exilado pelos golpistas de 1964, virou referência mundial em alfabetização.

Seu centenário, no governo neofascista de Bolsonaro, não mereceu uma homenagem oficial sequer; mas o seu trabalho continua muito bem, obrigado.

Há um boom de venda de livros dele e sobre sua vida. Freire optou por estar com os “esfarrapados do mundo” e contribuiu, com seu método revolucionário, para alfabetizar milhões de pessoas em diversos países.

Em 1975, quando o jornalista Vladimir Herzog foi torturado até a morte, os militares disseram que ele havia se suicidado, Dom Paulo foi quem primeiro desmentiu a versão oficial.

E poucos dias depois, naquele perigoso ano, comandou um culto ecumênico na Praça da Sé, em São Paulo. Reuniu oito mil pessoas, o maior ato de resistência desde 1968.

Naquele culto, Dom Paulo disse: “Não matarás. Quem matar, se entrega a si próprio nas mãos do Senhor da História e não será apenas maldito na memória dos homens, mas também no julgamento de Deus!”

Dele, o padre Júlio Lancelotti conta uma história lapidar: em 30 de outubro de 1979, o cardeal foi até o Instituto Médico Legal de São Paulo. Sabia que lá estava o corpo do metalúrgico Santo Dias da Silva, preso porque fazia greve.

“Dom Paulo saiu de casa com todos os trajes episcopais e chegou dizendo: ‘Abram a porta. É o arcebispo de São Paulo’. Foi aonde estava o corpo e pôs o dedo na bala, indicando o ferimento feito por um policial”.

Foi Dom Paulo quem vendeu o palácio episcopal no centro de São Paulo, onde moravam os bispos, para comprar terrenos e fazer igrejas na periferia. E teve forte atuação na criação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), sempre ao lado dos trabalhadores e das comunidades das periferias.

Paulo Freire, eleito pelo bolsonarismo como uma espécie de inimigo público número 1 do sistema, está mais vivo do que nunca. É reconhecido como um dos maiores educadores de todos os tempos e eclodem homenagens a ele, promovidas por diferentes instituições, aqui e mundo afora.

Nas palavras de Nita Freire, viúva do educador, “Paulo foi um homem absolutamente extraordinário, que viveu a sua vida em função de humanizar as pessoas, lutando contra a miséria e o analfabetismo, a favor dos vilipendiados pela elite brasileira.”

Num País em que as elites cultivam a ignorância e a truculência como método de dominação, Paulo Freire foi na contramão.

Com seu sistema revolucionário, provou que o analfabetismo – e a ignorância inerente a esse mal – pode ser erradicado. Em 1963, no município de Angicos (RN), alfabetizou 380 trabalhadores em 40 dias através do método criado por ele.

Neste momento em que o Brasil está à deriva, com um governo direitista e ultraliberal, que prefere os bancos às escolas e financia latifúndios em vez de habitação para o povo, é oportuno lembrar das palavras desses dois gigantes:

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. (Freire)

“No Brasil, é necessário lutar todos os dias pelos direitos de todos e pelo fim da exclusão social” (Dom Paulo).

Que os ensinamentos dos dois Paulos nos guiem para a construção de um Brasil mais justo, igualitário, tolerante, com respeito ao meio ambiente, à soberania nacional e aos direitos sociais e trabalhistas do povo.

Não tenho dúvida de que, se estivessem vivos hoje, estariam ao nosso lado dizendo: Impeachment já!

Fonte do texto: Brasil 247

domingo, 19 de setembro de 2021

Da Alemã Deutsche Welle: Por que a extrema direita bolsonarista elegeu Paulo Freire seu inimigo

 

Para especialistas, é da natureza da pedagogia freireana incomodar, justamente porque ela propõe ensino libertador e baseado na formação crítica do aluno. Celebrado no mundo, pedagogo é muito criticado só no Brasil (bolsonarista).

Da Deutsche Welle Brasil    

Paulo Freire

Paulo Freire foi homenageado por pelo menos 35 universidades de todo o mundo

Em dezembro de 2003, o então ministro da Educação Cristovam Buarque inaugurou, na frente da sede do ministério, em Brasília, um monumento em homenagem ao educador Paulo Freire (1921-1997). O pedagogo era então aclamado como uma personalidade importante da história intelectual do país — nove anos mais tarde, uma lei federal o reconheceria como patrono da educação brasileira.

Em 2019, Abraham Weintraub comandava o mesmo ministério no primeiro ano da gestão do presidente Jair Bolsonaro. Diante dos maus resultados obtidos pelo país no ranking Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), ele chamou o monumento a Freire de "lápide da educação" e afirmou que o pedagogo "representa esse fracasso total e absoluto".

O próprio Bolsonaro já criticou Paulo Freire, e em mais de uma oportunidade. Numa das ocasiões, referiu-se a ele como "energúmeno". É um discurso recorrente: nos últimos anos, a extrema direita brasileira tem usado Paulo Freire, cujo centenário de nascimento é celebrado neste 19 de setembro, como bode expiatório para a baixa qualidade do sistema educacional brasileiro.

De acordo com especialistas ouvidos pela DW Brasil, o que incomoda reacionários e também alguns conservadores é o fato de a pedagogia freireana ser essencialmente política. "A essência da obra de Freire é totalmente política, no sentido nobre do termo, não no sentido da política partidária", diz o sociólogo Abdeljalil Akkari, da Universidade de Genebra, na Suíça. "Por isso em todas as regiões do mundo, sua obra é lembrada como algo muito interessante para refletir sobre o futuro da educação contemporânea."

"O objetivo da pedagogia freireana é fazer com que cada uma e cada um aprendam a dizer a própria palavra, ou seja, tenham a capacidade de ler o mundo e se expressar diante do mundo. É a pedagogia da autonomia, da esperança: libertadora no sentido de as pessoas terem as capacidades de se libertarem das opressões que buscam calá-las", diz o educador Daniel Cara, professor da Universidade de São Paulo e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Professor do curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ítalo Francisco Curcio acredita que parte dessa controvérsia seja por desconhecimento do que é, enfim, o método Paulo Freire. "A maior parte dos que dizem rejeitá-lo nem é especialista em educação, acaba repetindo frases apregoadas por líderes com os quais se identifica", comenta. "Isso é muito ruim. Quem padece é a própria população, desde a criança até o adulto."

Diálogo em vez de lógica bancária

Paulo Freire desenvolveu sua pedagogia no início dos anos 1960. Em 1963 ele trabalhou na alfabetização de adultos no Rio Grande do Norte — e conseguiu resultados muito eficientes com sua abordagem. Em linhas gerais, ele defendia que a educação não poderia obedecer a uma "lógica bancária", em que o conhecimento era simplesmente depositado na cabeça dos alunos. Clamava por um ensino baseado no diálogo, em que professor e estudante constroem o conhecimento em conjunto.

Por princípio, é uma pedagogia inclusiva. E saberes específicos, de acordo com contextos particulares, são valorizados. "Ele ressaltou no meio educacional, especialmente na formação de professores e gestores escolares, que é imprescindível considerar os conhecimentos e saberes que o educando já possui, ao ser recebido como aluno. É célebre sua frase: 'Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo'", diz Curcio.

"Seu método não fala em ideologias, mas em formas de ensinar e aprender. Não é um instrumento proselitista", acrescenta. "Quem faz proselitismo é a pessoa, por meio de seus atos e discursos, e não o método. Eu posso utilizar uma faca tanto para cortar o pão ou a carne e me alimentar, quanto para matar alguém."

O educador Cara argumenta que Freire não é bem aceito pela extrema direita justamente porque sua filosofia não admite a doutrinação. "O sectarismo do autoritarismo impede o reconhecimento de uma pedagogia verdadeiramente libertadora", afirma. "Então, Freire se tornou inimigo dos ideólogos de direita porque busca uma pedagogia libertadora, enquanto o modelo tradicional é uma pedagogia opressora."

"Quando a extrema direita chegou ao poder no Brasil, precisava agir no campo da educação. E a figura de Freire se mostrou fácil de ser atacada, porque era algo comum nas comunidades educacionais do Brasil", diz Akkari.

Para o professor, conservadores tendem a acreditar que os problemas educacionais podem ser corrigidos com base em aspectos instrumentais, ou seja, mais tecnologia, equipamentos e carga horária, e não com uma mudança de abordagem. Além disso, existe um tabu sobre politização e formação crítica — ele lembra o movimento Escola Sem Partido, criado nos anos 2000 e que ganhou notoriedade no país após 2015.

Paulo Freire é o oposto de tudo isso: sua obra é baseada na formação crítica do aluno. "Ele é o pedagogo da politização da educação", define Akkari.

Mazelas do ensino

Outro mito que os especialistas combatem é o de atribuir à Paulo Freire a culpa pelos problemas educacionais brasileiros. O principal argumento contrário, ressaltam eles, é que a pedagogia dele nunca foi implementada de modo amplo e irrestrito no Brasil. E há ainda o aspecto oposto: o método freireano é muito disseminado em países que costumam se destacar em avaliações educacionais, como a Finlândia.

"Não faz o menor sentido culpar o Paulo Freire pelas mazelas educacionais brasileiras. Ele não é responsável pelo subfinanciamento da educação, pelos péssimos salários dos professores, pelo fato de que o Brasil só passou a colocar a educação como questão nacional a partir dos anos 1930. E, na prática, mesmo em governos alinhados à esquerda não se fez uma pedagogia freireana no país", diz Cara. "Até porque é uma pedagogia que demanda investimentos sólidos em formação e um replanejamento de todo o sistema de ensino."

Akkari observa que essa negação de Paulo Freire por um viés ideológico só ocorre no Brasil. "Se você observar o resto do mundo, a obra dele é consensual", diz.

Isso fica claro no amplo reconhecimento que Paulo Freire recebeu. Em vida, foi homenageado por pelo menos 35 universidades de todo o mundo — entre as quais as de Massachusetts e a de Illinois, nos Estados Unidos; a de Genebra, na Suíça; a de Estocolmo, na Suécia; a de Bolonha, na Itália; e a de Lisboa, em Portugal. O brasileiro também foi reverenciado pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura, com o Prêmio Educação para a Paz, em 1986.

"Particularmente, entendo que, por ele ter se tornado uma celebridade internacional, identificado historicamente com uma educação socializante, acaba incomodando algumas pessoas que vêm em sua obra alguma possibilidade de doutrinação", avalia Curcio. "E isso faz com que pessoas que desconhecem o método acabam por dispensar-lhe a mesma conotação."

Curcio ressalva que Paulo Freire não é criticado pela direita, "mas por certas pessoas de direita". Denominando a si mesmo conservador e mencionando que tem muitos amigos educadores também conservadores, ele afirma que, mesmo que haja críticas ao método Paulo Freire, é dispensado "o mais profundo respeito pelo trabalho dele", que continua sendo estudado. "É apenas uma questão de identificação. Não de rejeição ou abominação", diz.

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