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sexta-feira, 25 de junho de 2021

GGN: Está cada vez mais difícil descolar a cumplicidade e ação dos militares no Covaxingate de Bolsonaro

 Deputado Miranda tenta eximir Pazuello, mas seus subordinados militares foram os "centralizadores" da compra superfaturada (ou seja, com corrupção) de vacinas menos testadas que as da Pfizer, Astrazeneca-Oxford Fiocruz, Butantan e outras, mas mais cara e menos usada que estas

Do Jornal GGN:


Foto: Agência Brasil

Jornal GGN – O deputado federal Luis Miranda (DEM) concedeu uma entrevista bombástica à CNN Brasil na quarta-feira (23), falando sobre o Covaxingate – a escandalosa compra bilionária da vacina Covaxin pelo Ministério da Saúde, com vários indícios fortes de corrupção e participação direta do Presidente da República.

Quem assistiu, viu Miranda transitar entre a motivação pessoal para por a boca no trombone – já que seu irmão é o servidor o Ministério que foi pressionado para acelerar a importação das vacinas superfaturadas em 1000% – e a tentativa de eximir o general Eduardo Pazuello de culpa, ao mesmo tempo em que dava o benefício da dúvida a Jair Bolsonaro.

Disse o deputado Miranda que ao tomar conhecimento de cheiro de corrupção na compra das vacinas, levou o irmão servidor a Jair Bolsonaro em 20 de fevereiro. Bolsonaro viu os documentos e se convenceu de que havia mesmo algo de “muito estranho” no ar, e prometeu acionar a Polícia Federal. Não há nenhuma evidência de que Bolsonaro não tenha prevaricado na questão. A Polícia Federal não tem registro oficial de inquérito sobre o tema.

Pelo contrário, cinco dias após o encontro sigiloso, o Ministério anunciou à imprensa o contrato para 20 milhões de doses da Covaxin, que chegaria a partir de março, mesmo sem autorização da Anvisa para ser inoculada na população. Antes disso, aliás, o próprio Bolsonaro – que rejeitou a Pfizer e a Coronavac em 2020, com argumentos que não param em pé – despendeu esforços junto ao primeiro-ministro indiano para concretizar as negociações o quanto antes.

Em torno daqueles dias em que a vacina foi anunciada, segundo Miranda, Pazuello caiu do Ministério da Saúde. Não antes de tomar conhecimento do Covaxingate, pela boca do próprio deputado. Miranda afirma que foi dentro de um avião que iria receber outras vacinas em São Paulo, que ele revelou ao então ministro as suspeitas em torno da compra da vacina mais cara que o governo Bolsonaro já contratou, e no menor espaço de tempo, e a única com uma empresa atravessadora que exigiu pagamento antecipado para uma vacina que sequer tinha aval para ser inoculada nos brasileiros.

Segundo Miranda, Pazuello fez uma cara inesquecível de “decepcionado”, como quem admitia que o governo Bolsonaro não conseguiu manter a retidão moral que tanto pregou e continua pregando desde a campanha. Pazuello teria insinuado que já tinha consciência disso e que este, aliás, seria o motivo de sua “expulsão” do Ministério. Miranda tratou Pazuello como um herói que não conseguiu lutar contra interesses empresariais corruptos e por isso foi sacado da cadeira de ministro.

Menos de 24 horas depois de Miranda narrar essa história em rede nacional, o Estadão publica reportagem explicando que o irmão servidor estava na ponta da contratação da Covaxin, no setor que assina a nota fiscal e acompanha a importação. Mas quem negociou mesmo os contratos suspeitos foram militares subordinados a Pazuello.

Braço-direito de Pazuello, Élcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério, mandou uma carta a 16 secretarias e diretorias da Pasta avisando que ele concentraria todas as tratativas referentes a compra de vacinas. Isso aconteceu menos de um mês do contrato com a Covaxin ser anunciado pelo Ministério da Saúde. Hoje, o atual ministro, Marcelo Queiroga, acossado pelo escândalo, diz que o governo não comprou nenhuma dose da Covaxin. Uma contradição, já que a imprensa noticiou que Queiroga estuda uma forma de cancelar o contrato urgentemente.

Além de Élcio Franco, Luis Ricardo Miranda, o irmão do deputado Miranda e servidor concursado do Ministério da Saúde, disse às autoridades que sofreu pressão fora do comum para acelerar a importação da Convaxin por parte de outros dois militares: o coronel Marcelo Pires, ex-diretor de Programa do Ministério e o tenente-coronel Alex Lial Marinho, ex-coordenador-geral de Aquisições de Insumos Estratégicos para Saúde. Eles foram nomeados por Pazuello e exonerados quando Queiroga assumiu a Pasta, assim como aconteceu com Franco. Hoje, Franco é investigado oficialmente pela CPI da Covid no Senado.

Questionado pela CNN sobre o motivo de Pazuello ter escondido todas essas informações da CPI, em seu depoimento no começo de junho, Miranda passou o pano para o general de novo: disse que Pazuello tem “amor à própria vida e à República, porque um caso deste abala todas as estruturas”.

Se Miranda está certo, no mínimo, os militares do governo sabiam de coisas que preferiram empurrar para debaixo do tapete.

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