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domingo, 21 de fevereiro de 2021

Fundamentalismo Religioso reacionário e violento nas Redes Sociais no Brasil, por Marcos Vinicius de Freitas Reis

 



A democracia é uma das maiores conquistas obtidas pelo Brasil no século passado. O período da Ditadura Militar (1964-1985) é para ser esquecido. Qualquer forma de autoritarismo defendido deve ser combatido no Brasil. Precisamos aprender a conviver com as diferenças. As redes sociais são espaços importantíssimos de debate. Entretanto, não podemos concordar com campanhas de ódios e posicionamentos que destroem a frágil democracia brasileira.


Do Jornal GGN:


Religião e Sociedade na Atualidade

Fundamentalismo Religioso nas Redes Sociais no Brasil

por Marcos Vinicius de Freitas Reis

Não é de hoje que as redes sociais é utilizada por grupos políticos, empresas, religiosos, e outros segmentos da sociedade, para posicionar a cerca sobre os mais variados temas. As eleições de 2018 é um exemplo disto. A campanha eleitoral do atual presidente da república destacou-se pelo protagonismo e influência que conseguiu exercer no facebook, twitter e o whatsapp. Muitas opiniões emitidas tinham fundamentos alicerçados de um radicalismo religioso defendidos em geral por adeptos do catolicismo e do protestantismo.

O fundamentalismo religioso ganha visibilidade e destaque na sociedade brasileira. Os radicais religiosos travam embates na defesa que o conservadorismo religioso é a solução para os problemas da democracia brasileira. Isto é, os princípios cristãos conservadores são os princípios que devem ser assumidos pelo Brasil para guiar suas ações no campo político, econômico, cultural e social. São valores universais, hegemônicos, colonialistas e eurocêntricos.

O bolsonarismo é o maior expoente do fundamentalismo religioso no Brasil atualmente. Os adeptos vinculados a tal corrente ideológica possuem dificuldades de conviver com o contraditório. Não aceitam opiniões divergentes, não aceitam as diferenças identitárias, reforça o clientelismo, patrimonialismo e as estruturas de poder consolidadas no desenvolvimento da formação do estado brasileiro. Exaltam ditadores e sistemas políticos autoritários, misóginos, xenófobos, racistas e sexistas. Em nome da manutenção dos meus valores justifica-se atos de violência e tentativas de eliminação do diferente. Em termos práticos é a institucionalização da intolerância religiosa e do racismo religioso.

A visão de mundo autoritária do presidente da república do Brasil Jair Bolsonaro (sem partido) ganha legitimidade entre segmentos católicos e evangélicos. No campo católico o movimento da Renovação Carismática Católica (RCC) é o exemplo disto. Apoiam abertamente o atual presidente do Brasil. Nos eventos promovidos pela RCC são proferidas palavras e orações de apoio e solidariedade a aquele gestor público que está “salvando” o Brasil do ateísmo, comunismo chinês, petismo, indígenas, feminismo, ideologia de gênero, africanidade, islamização e da corrupção. Esses apoios ocorrem também nas comunidades evangélicas pentecostais e neopentecostais.

Voltando as redes sociais. Religiosos radicais não conseguem lidar com opiniões diferentes das suas. Seguem a lógica do bolsonarismo. Tivemos nestas últimas semanas dois fatos lamentáveis de hostilização para com dois intelectuais que teceram críticas nas redes sociais ao fundamentalismo religioso e político no Brasil. A pastora Romi Bencke, secretária geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), recebeu ataques de ódio nas redes sociais por defender a Campanha da Fraternidade Ecumênica após o seu lançamento. A campanha tem por meta estimular o diálogo inter-religioso, ecumenismo e a supressão da cultura de ódio. O segundo exemplo é o artigo publicado pelo Prof. Dr. Fábio Py (UENF) sobre o padre Paulo Ricardo. O referido padre é conhecido pelos seus posicionamentos radicais na defesa da fé católica. Há alguns que o chamam de “Malafaia da Igreja Católica”.  No texto, Fábio Py, relata a partir dos discursos de ódio e radicais proferidos pelo Padre Paulo Ricardo, como setores do catolicismo mostram-se intolerantes. O autor foi alvo também de ataques nas redes sociais por pessoas que não concordam com o seu ponto de vista.

A democracia é uma das maiores conquistas obtidas pelo Brasil no século passado. O período da Ditadura Militar (1964-1985) é para ser esquecido. Qualquer forma de autoritarismo defendido deve ser combatido no Brasil. Precisamos aprender a conviver com as diferenças. As redes sociais são espaços importantíssimos de debate. Entretanto, não podemos concordar com campanhas de ódios e posicionamentos que destroem a frágil democracia brasileira. Deixo registrado a minha solidariedade a Pastora Romi e o Prof. Fábio Py. Duas pessoas que são exemplos de resistência e de trabalho dedicado ao Brasil.


Marcos Vinicius de Freitas Reis – Professor da Universidade Federal do Amapá UNIFAP. Líder do Centro de Estudos de Religião, Religiosidades e Políticas Públicas (CEPRES-UNIFAP/CNPq). Interesse em temas de pesquisa: Religião e Políticas Públicas. E-mail para contato: marcosvinicius5@yahoo.com.br

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