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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

O assassino e as 210 mil pessoas mortas, por Armando Coelho Neto, advogado e jornalista, ex-integrante da Interpol e delegado aposentado da Polícia Federal

 


Chamar o “presidente” do Brasil de genocida é como não chamar a coisa pelo nome. Tem mesmo que chamar de assassino, ainda que criminoso intelectual, posto que age por meio de incitação ao crime

Jornal GGN:

Quase 210 mil pessoas mortas. E meu cãozinho com isso?

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Ontem, num espetáculo tosco, uma enfermeira tomou a primeira vacina contra a Covid, no Brasil, enquanto o mundo não vira jacaré há tempos. A rigor, o país esperava pelo dia D e hora H de Pazuello, que só Alexandre Garcia sabe explicar quando seria ou será, já que não é nem antes nem depois, sabe-se lá de quê ou de quem.

Dória com sua calça justa (literalmente) quis roubar e roubou em parte a cena do “Dia D, Hora H”, saindo na frente na guerra política da direita nutela contra a direita raiz. O bufão do Planalto, via general da Saúde, quer o passeio da vacina: ela sai do Butantã, vai para Brasília e só na véspera do Dia D, parte de volta para São Paulo.

O burocrata da Saúde, o “estrategista” Pazuello, quer toda vacina produzida no Butantã, mas para evitar o passeio do imunizante, aquele instituto pede que informe a quantidade destinada a São Paulo, de forma a enviar para Brasília o restante destinado ao restante do Brasil, conforme o “Dia D Hora H”, coisa e tal.

Em meio esse perrengue eclodiu a mais que previsível crise no Amazonas, que se torna visível mais uma vez ao mundo, desta feita na versão Covid 19, acrescida das mortes por falta de oxigênio.

Acabar o oxigênio era um dos cenários previstos pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que confessou ter revelado a gravidade para o “presidente”. Poderia faltar até oxigênio e faltou. É improvável que substitutos de Mandetta não tenha feito a mesma avaliação, mas esbarraram no negacionismo bolsopata.

O bufão insiste na conspiração mundial contra ele e já cogita mandar uma brigada para Manaus, cuja missão é fazer tratamento precoce na população mediante uso da Cloroquina. Detalhe: o próprio “pai da Cloroquina”, o médico francês Didier Raoult, já passou a negar a eficácia desse tipo de tratamento. É mole?

Chamar o “presidente” do Brasil de genocida é como não chamar a coisa pelo nome. Tem mesmo que chamar de assassino, ainda que criminoso intelectual, posto que age por meio de incitação ao crime, delito previsto no Art. 286 do Código Penal, já que “incita, publicamente, a prática de crime”.

Os primários verbetes penais das redes sociais mostram que o incentivo é público e direcionado as pessoas indeterminadas. Se o bufão do Planalto conclama pessoas a invadir hospitais, abrir covas para checar caixões vazios, conclama, patrocina e frequenta aglomerações, entre outros está praticando crime comum.

Trata-se de condutas objetivas que se aliam a outras já apontadas neste GGN sobre a ocorrência de crimes. Quando se atravessa a fronteira jurídica e política da postura “presidencial”, até mesmo o uso de palavrões perdeu o sentido, como sugere Jânio de Freitas, em artigo para a Folha de S. Paulo.

Para o jornalista, o bufão do Planalto “forçou o jornalismo a deseducar e endurecer a linguagem”. Fácil, pois, concluir, que os meios de comunicação que destruíram o cérebro de grande parte dos brasileiros não têm força para reconstruir. Eles também perderam a credibilidade, abrindo espaço para fontes ímpias e apócrifas.

Em plena segunda onda da pandemia, vacina prevista para dia e hora dispersos e aleatórios, surge crise paralela fruto da primeira a promover o falecimento de 60 pessoas por uma das mais angustiantes mortes, que é a consequente de asfixia. É também, sob a perspectiva visual, das mais torturantes para quem assiste.

– Corta!

Recentemente, vivi dias tensos e tristes, acompanhando os últimos dias de um cãozinho com quem convivi por mais de 15 anos. Nos seus melhores dias, ele tinha vergonha de fazer xixi e cocô no lugar errado, exibindo um desapontamento com seus erros, que tanto faz falta em nossos políticos. E como faz!

Meu cãozinho Tevez se encantou e eu o vi angustiado com falta de ar. Por meio de respiração boca a boca o vi ressuscitar em duas ocasiões. Encantou-se na terceira, e eu chorei a morte de um cãozinho num país com milhões de seres ditos humanos, indiferentes à morte de quase 210 mil pessoas.

Eis um contexto em que a avaliação do bufão do Planalto subiu de 35 para 37%., segundo a revista Exame. Constatação cruel do quanto fracassamos na evolução civilizatória.

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

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