Páginas

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

A fábula do Conjo, o que foi receber seu prêmio fora, por Maria Betânia Silva, Procuradora de Justiça

 

Um belo dia, Conjo foi convidado para voar para além da Linha do Equador, de novo. Ele aceitou o convite e se foi. Disse que como tinha destruído o gigante poderia passar um tempo descansando por lá.

Jornal GGN:
Boris Kossoy

do Coletivo Transforma MP

A fábula

por Maria Betânia Silva

Conta- se que num país abaixo da linha do Equador, cheio de petróleo, gás e muitas florestas habitava um homem chamado Conjo cuja voz era irritante e a mentalidade tosca.

Conjo gostava de usar capa preta e ora parecia juiz de altos Tribunais, ora super-herói, coisas que no lugar onde Conjo morava eram comuns e importantes.

Com sua capa, Conjo tinha uma enorme capacidade de voar e voava para onde queria. Voou muito para lugares acima da Linha do Equador onde aprendeu vários truques: um deles consistia em saber como destruir um gigante. Na terra natal de Conjo tinha um que era muito querido pelos habitantes. Mas Conjo não gostava dele porque ele era um gigante inteligente.

Na sua terra natal, Conjo se juntou a uns homens nanicos e, inspirado numa versão distorcida das Aventuras de Gulliver lançada na Itália, usando de alguns truques que aprendeu no Norte, enfrentou o gigante a fim de destruí- lo. Amarrou- o da cabeça aos pés e proibiu os habitantes do lugar que lhe dessem comida. Nessa época, os habitantes do lugar costumavam ter comida no prato e de vez em quando faziam oferendas ao gigante por não lhes haver pisoteado. Mas o gigante era muito, muito grande para comer essas oferendas como os habitantes queriam.

Entretanto, Conjo conseguiu destrui-lo, porque além de amarrá-lo, edificou uma gaiola imensa onde o gigante passou a viver sem ser visto, mesmo que os habitantes continuassem a fazer oferendas. Pouco a pouco, muitos habitantes foram convencidos pelo Conjo de q o gigante punha no lixo todas as oferendas que recebia e isso fez com que os habitantes ficassem chateados com o gigante.

Um belo dia, Conjo foi convidado para voar para além da Linha do Equador, de novo. Ele aceitou o convite e se foi. Disse que como tinha destruído o gigante poderia passar um tempo descansando por lá.

No lugar para onde Conjo voou, havia um homem já velho chamado Jobi, que conseguiu, depois de uma árdua batalha, vencer um homem muito mau chamado Laranja, e que adorava ver tudo pegando fogo. Laranja tinha a língua de dragão. Toda vez que abria a boca incendiava tudo ao seu redor. Aliás, Laranja era o ídolo de um outro homem que morava na terra de origem de Conjo e do gigante, que fora destruído.  Esse homem, chamado Boston, também gostava de tocar fogo em tudo, inclusive nas florestas. Boston não gostava de muitas coisas e por isso também não gostava das flores, dos bichos e das árvores, que, segundo ele, eram usadas para fabricar arco e flecha, hábito secular de um povo isolado que vivia nas florestas.

Boston conheceu Conjo mas eles se desentenderam porque Boston se disse flechado por Conjo e pensou que ele estava querendo ter amizade com os povos da floresta.

Esta é a história de Conjo até antes da partida dele.

Contudo, há quem que diga que quando Conjo chegou para morar no lugar onde vive Jobi, Jobi ficou sabendo e ao conhecer Conjo cuja fama, por haver destruído um gigante, era imensa, quis ter com ele uma conversa.

Conta- se que quando eles se conheceram Jobi teria feito um acordo com Conjo. Jobi teria dito que Conjo poderia voltar para o seu lugar de origem a fim de proteger as florestas. Conjo, então, perguntou o que ganharia com isso (ele era muito bom  em fazer negociação  que lhe trouxesse algum benefício mesmo que isso significasse o sacrifício de muitos ) e, Jobi, então, teria dito que o ajudaria a criar os filhos do gigante que ficaram sem pai, se ele assumisse o compromisso de não mais tocar fogo na floresta, coisa que os habitantes do lugar adorariam. Ao mesmo tempo, teria pedido para que Conjo não recuperasse as partes já devastadas pelo grande incêndio provocado por Boston. Jobi disse que tinha planos para usar a terra queimada como se fosse uma terra prometida, uma terra sagrada para salvar o futuro.

Conjo teria topado o acordo porque se sentiu prestigiado e além disso queria se vingar de Boston, já que este concorreu com ele pra destruir o gigante e  teve a simpatia de muita gente ao propor envenenar a comida do gigante.

É que Boston tinha dividido a população entre os queriam alimentar o gigante e os que queriam envenená-lo. E Conjo ficou com inveja dele porque destruir o gigante era objetivo seu.

De tudo que se conta sobre Conjo, o que se sabe até agora é que ele pensa ser um gigante ao Sul do Equador porque destruiu um. Diz- se que os habitantes do lugar já ouviram falar de Jobi e sabem que ele quer proteger a floresta. Mas não sabem ainda se entre Jobi e Conjo existe alguma amizade.

Maria Betânia Silva (em exercício literário) – Procuradora de Justiça aposentada – MPPE e membra do Coletivo Transforma – MP. DEAs com foco em Sociologia Política e Filosofia Política – Paris VII e EHESS, respectivamente. MSc. Em Práticas de Desenvolvimento – Brookes University – Oxford

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Assine e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

ASSINE AGORA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá... Aqui há um espaço para seus comentários, se assim o desejar. Postagens com agressões gratuitas ou infundados ataques não serão mais aceitas.