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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

E após golpes, os ventos da Democracia, apesar da resistência dos decadentes e dos que se beneficiam das forças dos trabalhadores, teimam em voltar a soprar nas Américas. Por Paulo Endo, dos Psicanalistas pela Democracia

 

Os ventos da democracia voltam a soprar por toda a América e eles chegam ao Brasil antes do que esperávamos.

do Psicanalistas pela Democracia

Os ventos sopram nas Américas e tocam os rostos das brasileiras e dos brasileiros nas cidades, morros, favelas e litorais

por Paulo Endo

Ventos fortes sopram nas Américas. Após a catástrofe no Brasil e EUA a Argentina vira o jogo em 2019, derrotando o candidato à direita, Mauricio Macri, criando uma frente democrática que vence as eleições presidenciais na Argentina colocando no poder a chapa composta pelo controverso Alberto Fernandéz e Cristina Kirschner. Em entrevista Cristina menciona ter aprendido com o que havia acontecido no Brasil nas eleições de 2018. Ou seja, sem frente democrática nada feito, o ultraliberal Macri venceria o pleito. Com a composição dessa frente democrática Alberto e Cristina vencem as eleições gerando tensões entre o desgoverno brasileiro recém-eleito e seu principal parceiro latino americano.

Na Bolívia ante um golpe, apoiado por Donald Trump em novembro de 2019,  o presidente indígena Evo Morales é praticamente expulso de seu país após ser coagido a renunciar pelas forças armadas bolivianas. Assume o poder o golpista Carlos Mesa, se beneficiando da renúncia do presidente recém reeleito Evo Morales que deixa o país e viaja para a Argentina, numa das páginas melancólicas da história boliviana.

Em novo pleito na Bolívia em 2020, e em disputa contra o mesmo Carlos Mesa o povo boliviano reconduz ao poder o grupo de Evo Morales elegendo Luis Arce, seu ex-ministro, que assume a presidência no primeiro turno das eleições. Evo Morales retorna à Bolívia em novembro de 2020, praticamente um ano após deixar o país.

Em um concerto magnífico de protestos e manifestações populares, iniciadas no Chile em outubro de 2019, o mundo testemunha o mais importante conjunto de protestos populares contra as políticas de Sebastian Piñera. Os protestos e manifestações foram reprimidos com grande violência deixando em seu rastro inúmeras e inúmeros feridos e dezenas de mortes. Com os protestos se encaminhando para o pedido de renúncia do presidente Piñera e com sua popularidade despencando, após muitos episódios de violência das forças armadas e policiais, Piñera se compromete a realizar plebiscito nacional para decidir sobre a realização de uma nova assembleia constituinte. Em outubro de 2020 o povo chileno vota e decide com quase 80% dos votos por uma nova carta magna que colocará por terra a ainda vigente e herdeira constituição do governo sanguinário de Augusto Pinochet.

Em novembro de 2020, na eleição com maior número de votantes da história americana o devastador e disseminador de  ódio, mentiras e violência pelo mundo, Donald Trump,  é derrotado nas urnas por Joe Biden, seu adversário democrata.

Os ventos da democracia voltam a soprar por toda a América e eles chegam ao Brasil antes do que esperávamos.

Na maior capital do país uma batalha se trava. Aliados desde o princípio a Bolsonaro, o atual governador do estado e o atual prefeito que o sucedeu, jamais foram capazes de emitir críticas contundentes a um governo que apoia sistematicamente violações de direitos humanos, despreza as conquistas ambientais e trabalha para esvaziar todos os mecanismos institucionais capazes de sustentar o estado democrático de direito no país. Ao contrário os pessedebistas renegam seu apoio, antes implorado nas eleições para o atual governador João Dória e aceitam o candidato bolsonarista derrotado, Celso Russomano, como apoiador da chapa de Bruno Covas no segundo turno das eleições paulistanas.

Os princípios bolsonaristas correm nas veias do PSDB e sem conseguir omitir, esconder e dissimular tais influências, estão sempre abertos às negociações para se manterem no poder na cidade e no estado de São Paulo. O bolsodoria se reagrupa agora com um não assumido covamano.

Como seus adversários temidos no segundo turno, uma chapa surpreendente consegue em semanas o que parecia impossível: o reagrupamento de todos os partidos e forças democráticas do país  que, desde 2016, sequer se insinuava e, por isso inviabilizara totalmente a candidatura de Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, deixando a cidade do Rio de Janeiro à mercê dos sofríveis Eduardo Paes, ex-secretário e apoiador de Sergio Cabral, hoje na cadeia por crimes cometidos contra o erário público, e o bispo da Igreja universal do reino de Deus  e sobrinho de Edir Macedo, Marcelo Crivella.

Porém bons ventos ainda sopram em São Paulo. Uma campanha limpa, inteligente, divertida, resoluta e democrática ocupa as ruas da maior cidade do país. Por toda parte veem-se sorrisos nos lábios, lágrimas nos olhos e canções nas gargantas. A alegria é contagiante, a confiança é enorme e a união é tônica.

Todos os que fizeram a lição de casa indo às urnas na Argentina, no Chile, na Bolívia e nos EUA trouxeram lufadas de brisa fresca, que empurrariam os brasileiros e brasileiras em direção à retomada da democracia brasileira, rumo ao demorado 2022, caso o impeachment não viesse antes.

Mas o inesperado da política brotou em São Paulo e mais uma vez instalou a esterilidade de todos os vaticínios, porque subitamente compreendemos que o dia é hoje e o tempo é agora.

Fazer tudo o que é possível em São Paulo na semana que se inicia, pode significar começar a fazer o impossível para que não dependamos apenas das urnas em 2022. Ora de içar as velas e ganhar o mar aberto juntos e cientes das tempestades. Viva! O tempo da melancolia não nos fez soçobrar, contudo somente a ação política nos devolverá aos lugares em que se fabulam mundos melhores e se constrói coletivamente, tudo o que ainda não existe ou deixou de existir.

Todos ao convés por Guilherme Boulos e Luiza Erundina que são hoje, para nós, os intérpretes do porvir!

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