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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Diálogo inter-religioso – Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Sobel, as freiras do colégio e a espiritualidade de Lula, por Dora Incontri


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É preciso que os que trabalham com a espiritualidade de forma universalista, solidária e engajada na mudança das estruturas injustas da sociedade, se unam, se façam ouvir, criem pontes entre si e com outros…

Diálogo inter-religioso – O rabino Sobel, as freiras do colégio e a espiritualidade de Lula

por Dora Incontri

Eu tinha 16 anos e estudava no Colégio Maria Imaculada, das Madres Concepcionistas de Ensino em São Paulo e já era espírita de berço. Sempre fui respeitada pelas madres, que jamais forçaram qualquer coisa para me trazer ao catolicismo. Mais do que isso, havia espaço para falar de outras correntes, que não a católica, e me lembro de ter feito uma exposição sobre espiritismo na 8ª série, sob a acolhida de Madre Marina Gómez, que nos incentivava à pesquisa aberta de ideias e formas de fé. Hoje, meus livros Todos os Jeitos de Crer – de ensino inter-religioso, são adotados em inúmeros colégios católicos, Brasil afora.
Mas dizia… tinha 16 anos e num trabalho de pesquisa livre, na aula de filosofia, escolhi tratar sobre o tema morte. Lancei-me então a entrevistar filósofos e líderes religiosos para colher diferentes visões sobre o tema.
Pois houve um rabino judeu que me recebeu, com toda fidalguia e gentileza, expondo-me perspectivas judaicas sobre a morte. Jamais me esqueci daquele cordial encontro. O rabino era Henry Sobel.
Como jamais me esqueci das freiras, com quem mantive amizade e afeto durante anos, e que sempre me respeitaram a forma de ver o mundo, dando-me amplas provas de afeto e amizade.
Justamente nesses dias, em que soubemos da morte de Sobel – e só depois vim a entender o seu papel na resistência contra a ditadura militar, quando fiz jornalismo na Cásper Líbero e participava do Centro Acadêmico Vladimir Herzog – também está sendo lançado um livro de que tive alegria de participar: Lula e a Espiritualidade, Oração, meditação e militância. Um livro inter-religioso, em que representantes de diferentes tradições se manifestam a respeito do tema. Nessas incríveis conexões da vida, o organizador do livro, o jornalista Mauro Lopes, e criador do Canal Paz e Bem, foi meu veterano na Cásper e chegamos a escrever artigos lado a lado no jornal da faculdade.
Essas histórias vêm a propósito, porque desde muito cedo, aprendi e cultivei a convivência fraterna com pessoas de diferentes formas de fé ou sem nenhuma fé e tenho feito uma militância de anos, pelo diálogo inter-religioso e pela inserção da espiritualidade na educação, de forma plural. A convivência com o diferente – com quem sempre descobrimos muitas coisas em comum, é sempre enriquecedora e reconfortante, porque o que importa é o humano, o coração, a solidariedade e, sobretudo, a união na luta por um mundo melhor.
Esse livro sobre Lula e a Espiritualidade não é um livro de militância petista – eu mesma não sou petista – mas uma justa reflexão sobre um grande líder, que sofreu uma tremenda injustiça, como está fartamente demonstrado pelas revelações do Intercept, e se engrandeceu ainda mais como ser humano e como cultivador de uma espiritualidade cristã, mas aberta ao outro. Num momento histórico sombrio, em que os fundamentalismos fanáticos, intolerantes e persecutórios se instalam no poder, no Brasil, em outros países da América Latina e do mundo, é preciso que os que trabalham com a espiritualidade de forma universalista, solidária e engajada na mudança das estruturas injustas da sociedade, se unam, se façam ouvir, criem pontes entre si e com outros… esse livro, organizado por Mauro Lopes faz isso.
Ao mesmo tempo, rendemos a nossa homenagem ao Rabino Sobel, que junto com D. Paulo Evaristo Arns e o pastor James Wright, estenderam-se as mãos, para se opor às violências da ditadura no Brasil.

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