"Trabalho infantil é assunto sério demais para ser tratado de forma tão torpe por aqueles que se julgam representativos de algo que não são", explica a economista Monica de Bolle sobre o tema abordado nas redes sociais desde o último domingo (7), graças a uma declaração de Bolsonaro
Foto: Agência Brasil
Por Monica de Bolle
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Efeitos Econômicos do Trabalho Infantil (Fio):
1. Há ampla literatura sobre os determinantes do trabalho infantil — o principal é a pobreza — e uma literatura não tão vasta sobre os efeitos econômicos do trabalho infantil.
2. No curto prazo, o trabalho infantil sustenta a renda familiar, sobretudo de famílias miseráveis. Mas, no longo prazo o trabalho infantil deprime a produtividade e o crescimento econômico ao reduzir o estoque de capital humano — trabalho infantil compete com educação.
3. O trabalho infantil e o baixo nível de educação a ele associado comprometem o desenvolvimento social dos países que mais os utilizam. Países que mais utilizam trabalho infantil tendem a ser os mais pobres do mundo, o que os prende em armadilha de pobreza e subdesenvolvimento.
4. O trabalho infantil tende a aumentar a taxa de fertilidade, já que filhos podem aumentar a renda da família. Contudo, no longo prazo esse crescimento populacional não ajuda o crescimento econômico pois essas crianças tornar-se-ão adultos com mínima escolaridade.
5. O trabalho infantil tende a reduzir os níveis gerais de saúde da população, sobretudo quando há crianças exercendo atividades insalubres ou de alto grau de periculosidade. (Pensen nas crianças catadoras de lixo nas favelas de Mumbai…ou de muitos estados brasileiros).
6. Países que utilizam trabalho infantil geram desincentivos ao investimento em inovação tecnológica e aprimoramento produtivo — já que há um recurso barato em abundância (as crianças). Menos investimento significa menos crescimento e desenvolvimento de longo prazo.
7. No curto prazo, o trabalho infantil contribui para a renda familiar e tende a reduzir desigualdade. Mas, no longo prazo, o trabalho infantil aprisiona crianças e adultos em ciclo de baixa produtividade e pobreza que contribuem inequivocamente para o aumento da desigualdade.
8. Há alguma evidência mostrando que, quando se considera o trabalho infantil doméstico e não-remunerado, no longo prazo ele tende a aumentar as disparidades de gênero, cujos efeitos também são negativos para o crescimento (conforme analisei em vídeo e postagens recentes).
Conclusões
É incrível que exista tanta desinformação no Brasil sobre os efeitos perversos do trabalho infantil, sobretudo entre a elite — passando por políticos e celebridades, que recentemente postaram suas experiências pessoais.
Deveria ser óbvia a afirmação de que trabalhar no armazém do papai, vender bombom na escola, ou trabalhar na lojinhha da família nas férias não é o que se entende por trabalho infantil.
Aqui nos EUA, por exemplo, é exigência de algumas escolas públicas o cumprimento de 75 horas de trabalho comunitário voluntário como requisito para completar o ensino médio. Sem que isso interfira nas atividades escolares. Vender bombom não conta. Tampouco a lojinha da família.
Trabalho infantil é assunto sério demais para ser tratado de forma tão torpe por aqueles que se julgam representativos de algo que não são. Para quem quiser se informar, referências a seguir.
Algumas Referências:
http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—dgreports/—inst/documents/publication/wcms_193680.pdf …https://sites.duke.edu/djepapers/files/2016/11/Gordon.pdf …https://www.dartmouth.edu/~eedmonds/nzzessay.pdf …http://documents.worldbank.org/curated/en/303751468000587076/pdf/WPS7 …https://pubs.aeaweb.org/doi/pdf/10.1257/0895330053147895 …
Uma entrevista de Luis Nassif com Monica de Bolle:
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