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quarta-feira, 17 de abril de 2019

Até José Padilha, ainda que tardiamente e após ter ajudado na alienação prófascismo com seu "o Mecanismo", abandona Moro






Artigo I - Até José Padilha abandona Moro, o Miliciano. Por Altamiro Borges


Em uma autocrítica incisiva – embora tardia –, o cineasta José Padilha, diretor dos filmes Tropa de Elite (um e dois) e da série O Mecanismo, publicou nesta terça-feira (16) um artigo na Folha com críticas ao “marreco de Maringá”, que hoje ocupa um superministério no laranjal de Jair Bolsonaro. “O leitor sabe que sempre apoiei a operação Lava Jato e que chamei Sergio Moro de ‘samurai ronin’, numa alusão à independência política que, acreditava eu, balizava a sua conduta. Pois bem, quero reconhecer o erro que cometi”, admite no texto emblemático em que detona o projeto anticrime do ministro.

A autocrítica recebeu aplausos dos que sempre apontaram os abusos da Lava-Jato e alertaram sobre a vaidade e a arrogância do juizeco midiático. Mas o cineasta também foi alvo de ironias. Muitos internautas lembraram que José Padilha – com seus filmes policialescos, sensacionalistas e de escandalização seletiva da política – ajudou a chocar o ovo da serpente fascista no país, que resultou no golpe que depôs Dilma Rousseff, na chegada ao poder da quadrilha de Michel Temer e na eleição de Jair Bolsonaro. Transformado em herói por oportunistas e ingênuos, Sergio Moro teve papel decisivo nessa cavalgada trágica.

O ator José de Abreu, que recentemente se autoproclamou presidente da República, não perdeu a chance para fustigar o “diretor do fake O Mecanismo”: “Elegeram um fascista e agora pulam do barco”. Já o jornalista Palmério Dória, um dos mais irreverentes na guerrilha do Twitter, brincou com os costumeiros erros de português do falso superministro. “Uma ‘ruga’ entre José Padilha, que fakeia a história, e Sergio Moro. O cineasta bombardeia hoje o pacote anticrime do ministro da Justiça. Diz que é ‘antiFalcone’, o herói do ex-juiz, e turbina as milícias. Assim, dessa maneira, Moro acaba perdendo mais um ‘conje’”.

Apesar das críticas e ironias hilárias, o artigo de José Padilha merece ser lido. Ele é consistente, incisivo e representa mais uma fratura na base de apoio dos atuais milicianos no poder. Reproduzo abaixo:

* * *

O ministro antiFalcone 

Por José Padilha

Folha, 16 de abril de 2019

Pacote de Moro contra o crime vai fortalecer milícias

Sergio Moro sabe que:

1 - As milícias são organizações criminosas controladas por policiais civis e militares corruptos e violentos;

2 - Esses policiais utilizam o aparato do Estado, como armas, helicópteros e caveirões, para expulsar o tráfico e dominar as favelas;

3 - As milícias cobram por proteção e dominam atividades econômicas importantes nas áreas que controlam: distribuição de sinais de TV e de gás de cozinha e transporte alternativo;

4 - As milícias decidem quem faz propaganda eleitoral nas suas áreas e financiam campanhas políticas;

5 - Milicianos e políticos ligados a milicianos foram eleitos no Brasil para cargos legislativos e executivos em níveis municipal, estadual e federal.

Mesmo sabendo de tudo isso, o ministro Sergio Moro declarou que as milícias representam a mesma coisa que as facções criminosas dentro das prisões, sugerindo que esses grupos operam como o varejo do tráfico de drogas.

Ora, o leitor sabe que sempre apoiei a operação Lava Jato e que chamei Sergio Moro de “samurai ronin”, numa alusão à independência política que, acreditava eu, balizava a sua conduta.

Pois bem, quero reconhecer o erro que cometi.

Digo isso porque não há outra explicação: Sergio Moro finge não saber o que é milícia porque perdeu sua independência e hoje trabalha para a família Bolsonaro.

Flávio Bolsonaro não foi o senador mais votado em 74 das 76 seções eleitorais de Rio das Pedras por acaso...

O pacote anticrime que Sergio Moro enviou ao Congresso - embora razoável no que tange ao combate à corrupção corporativa e política - é absurdo no que se refere à luta contra as milícias.

De fato, é um pacote pró-milícia, posto que facilita a violência policial.

Se Sergio Moro tivesse estudado os autos de resistência no Brasil teria descoberto que:

1 - Apenas no Rio de Janeiro, a cada seis horas, policiais em serviço matam alguém;

2 - A versão apresentada por esses policiais costuma ser a única fonte de informações nos inquéritos instaurados em delegacias para apurar os homicídios;

3 - Como policial tem fé pública, a sua versão embasa a excludente de ilicitude, evitando a prisão em flagrante;

4 - A Polícia Civil, além de raramente escutar testemunhas ou realizar perícias no local dos assassinatos, tem mania de desfazer as cenas do crime para prestar socorro às vítimas, apesar de a maioria delas morrer instantaneamente em decorrência de disparos no tórax;

5 - Desde 1969, quando o regime militar editou a ordem de serviço 803, que impede a prisão de policiais em caso de “auto de resistência”, apenas 2% dos casos são denunciados à Justiça e poucos chegam ao Tribunal do Júri.

Aprovado o pacote anticrime de Sergio Moro, esse número vai tender a zero.

Isso porque o pacote prevê que, para justificar legitima defesa, bastará que o policial diga que estava sob “medo, surpresa ou violenta emoção” - ou, ainda, que realizava “ação para prevenir injusta e iminente agressão”.

O hábito que os policiais milicianos têm de plantar armas e drogas nos corpos de suas vítimas para justificar execuções é tão usual que deu origem a um jargão: todo bom miliciano carrega consigo um “kit bandido”.

Aprovado o pacote de Moro, nem de “kit bandido” os milicianos precisarão mais.

Sergio Moro nunca sofreu atentados e nunca lidou com a máfia.

Mas o juiz Giovanni Falcone, em quem o ministro diz se inspirar, foi morto aos 53 anos de idade na explosão de uma bomba colocada pela máfia em uma estrada. Sua mulher e três seguranças morreram com ele.

O crime foi uma reação da máfia à operação “Maxiprocesso”, que prendeu mais de 320 mafiosos na década de 1980.

Ela deu origem à operação “Mãos Limpas”, que mostrou que a máfia elegia e controlava políticos importantes na Itália.

Ora, no contexto brasileiro, é obvio que o pacote anticrime de Moro vai estimular a violência policial, o crescimento das milícias e sua influência política. Sergio Moro foi de “samurai ronin” a “antiFalcone”.

Seu pacote anticorrupção é, também, um pacote pró-máfia.

José Padilha é cineasta, diretor dos filmes "Tropa de Elite" (2007), "Tropa de Elite 2" (2010) e "RoboCop" (2014).

Altamiro Borges



Artigo II - Padilha chama Moro de “samurai ronin” e mostra que também não entende nada de cultura japonesa


Em seu artigo para a Folha de S.Paulo, ao criticar o pacote anticrime do superministro Sérgio Moro, o cineasta José Padilha relembra que chamava o ex-juiz de “samurai ronin” da Operação Lava Jato.

Diz que o apelido foi dado devido à “independência política” da “conduta” do então magistrado.

No final do texto, Padilha também relata que Moro foi de “samurai ronin” a “antiFalcone” e que seu pacote anticorrupção no governo Bolsonaro “é, também, um pacote pró-máfia”.

Para além das críticas às milícias, às acusações de corrupção que rondam o novo governo, o diretor de “Tropa de Elite” e “O Mecanismo” comete um grave erro de conceito.

Os samurais, chamados também de bushi no Japão, eram guerreiros do período feudal que serviam aos senhores e também ao imperador.

O conceito de ronin é praticamente o oposto.

Chamados de “guerreiros sem honra”, eles eram geralmente trabalhavam para senhores que haviam sido assassinados.

Sem rumo, os ronin tornavam-se mercenários, nômades e frequentemente eram chamados de desertores.

Numa cultura antiga que valorizava a honra, o samurai cometia haraquiri, o suicídio ritual, caso ele caísse em desgraça.

Hoje, o espírito dos ronin sobrevive em jovens que não conseguem entrar na universidade e estão desempregados. Sem o feudalismo, os japoneses transformaram o mundo do trabalho no norte de suas vidas.

Padilha parece ter assistido a filmes ruins de kung fu e saiu dando caneladas a esmo.

Pedro Zambarda
No DCM

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