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sábado, 16 de março de 2019

Com as ameaças de Bolsonaro de expulsar diplomatas, Itamaraty, pela primeira vez em sua história, perda a compostura internacionalmente e arma barraco na ONU




Não é de hoje que Jair Bolsonaro é dado a estultices. Desde época em que foi expulso do Exército por tentar colocar bombas na Vila Militar do Rio até hoje ele é incapaz de um gesto de bom senso e moderação. Num café da manhã com jornalistas de baixos teores de rancor, realizado no Palácio do Planalto, na quarta-feira passada (13/03), ele resolveu anunciar publicamente que irá trocar 15 embaixadores brasileiros nas principais capitais do mundo.

Nem na época da ditadura que tantas saudades traz ao capitão-presidente cometiam-se atrocidades deste quilate. Entre os diplomatas a serem catapultados está Sérgio Amaral. Justamente, o representante do Brasil em Washington que negocia com as autoridades norte-americanas o encontro de Bolsonaro com Trump, na próxima terça-feira.

A estupidez e a descortesia do mandatário brasileiro não se limitaram a constranger o experimentado diplomata nos Estados Unidos. As razões apresentadas por ele para promover essa verdadeira degola nas representações mundo afora, são de uma sandice que só um Bolsonaro poderia dizer. Alegou que precisa melhorar sua imagem no exterior, onde é visto como um ditador racista, misógino e homofóbico.

Para o desespero do Itamaraty, o capitão resolveu tratar a Casa de Rio Branco como se fosse a sua própria mansão no famoso condomínio “Vivendas da Barra”, na Zona Oeste carioca. Ninguém teve coragem de esclarecer que embaixador cuida dos interesses do País e não da imagem de governantes. Pelo menos, é o que garantem os artigos 34 e 36 do decreto-lei 99261/90 que regulamenta a atividade destes representantes no exterior.

Charge do Duke (dukechargista.com.br)
Normalmente, quem se ocupa de promover a imagem do presidente dentro e fora do País é a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Ocorre que Bolsonaro, perto de completar o seu terceiro mês de mandato, ainda não pegou o traquejo da sua função. Está perdido diante de tantas leis, regulamentos e regimentos. Coitado!

Do que adianta um profissional da diplomacia se esforçar para melhorar a imagem de Bolsonaro, se ele próprio aparece nas redes sociais disseminando pornografia e falando mal da maior festa popular do País que ele está governando? Nem os mágicos conseguem tamanha proeza.

De qualquer maneira, a truculência contra os embaixadores já está provocando resultados. Na sexta-feira (15/03), a embaixadora do Brasil na Organização das Nações Unidas – ONU –, Maria Nazareth Farani Azevedo, invadiu o auditório da instituição, em Genebra, na Suíça, para bater boca com o ex-deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ).

O ativista brasileiro – que se auto exilou na Europa – fazia uma conferência sobre o avanço do populismo de direita pelo mundo. No momento em que Wyllys explicava que “Bolsonaro ganhou com uma campanha baseada na propagação de fake news e no discurso do ódio, a diplomata acompanhada de assessores invadiu o plenário e exigiu ser ouvida.

Disse que “Bolsonaro não abandonou o Brasil depois de levar uma facada e que está trabalhando duro para colocar o País nos eixos”. E, finalizou com a seguinte pérola: “Bolsonaro não é racista, fascista ou autoritário”. Dito isso abandonou recinto marchando como se estivesse numa parada de Sete de Setembro, em Brasília.

Wyllys respondeu a saraivada de inverdades à altura. Lembrou a plateia que o mandatário defendido por Maria Nazareth entre outras coisas era suspeito juntamente com seus filhos de terem ligações com as milícias que assassinaram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, há um ano. Foi aplaudido (alguns dos participantes o fizeram em pé).



Para se sujeitar a tal desgaste em público, a embaixadora em Genebra deve estar na lista dos 15 que serão defenestrados. Sufoco maior tem enfrentado o embaixador brasileiro em Beijing, Paulo Estivallet de Mesquita.

Graduado, originalmente, em agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e formado diplomata pelo Instituto Rio Branco, Mesquita é um profundo conhecedor dos temas relacionados ao agronegócio. Graças também à sua atuação em Beijing, os chineses se transformaram nos maiores compradores da soja cultivada no Brasil.

Como se sabe, desde quando o governo Bolsonaro deu mostras que marcharia ao lado de Trump na invasão da Venezuela, há três semanas, o primeiro ministro chinês, Li Keqiang, anunciou que transferirá as encomendas destas comodities do Brasil para os Estados Unidos. Algo como 30 bilhões de dólares deixarão de entrar na balança comercial brasileira.

Jair Bolsonaro e Benjamin Netanyahu
Foto: Fernando Frazão/AgBr
Em entrevista à Folha de S.Paulo, na última sexta-feira (15/03), o vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto, jogou a toalha. Não escondeu o arrependimento da sua categoria por ter colocado tanto dinheiro na campanha do capitão embusteiro.

Nesse seu périplo pelo mundo, Bolsonaro também está sendo esperado, em Israel. O ultraconservador primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, o aguarda de braços abertos. Já antecipou, aos quatro ventos, que o mandatário brasileiro está indo até lá para anunciar a transferência da embaixada brasileira de Tel-Aviv para a cidade sagrada de Jerusalém, reivindicada por palestinos e judeus como sendo a capital de seus respectivos países.

Outra encrenca braba em que o capitão se meteu. As nações árabes que apoiam Jerusalém como terra palestina já mandaram avisar que se Bolsonaro cometer tal desrespeito haverá retaliações. Especialmente nas importações de soja brasileira e de carne bovina. Temos aí outros 5 bilhões de dólares que poderão se evaporar da balança comercial para atender os caprichos ideológicos dos capitão-presidente.

Arnaldo César é jornalista e colaborador do blog Marcelo Auler.



Constrangimento diplomático: Bolsonaro vai jantar com Bannon, o Olavo de Carvalho dos Estados Unidos

Olavo de Carvalho e Steve Bannon.
Foto: Reprodução/Josías Teófilo/Instagram
Só o fato de Bolsonaro jantar com o guru da extrema direita Steve Bannon e Olavo de Carvalho na Embaixada do Brasil em Washington já seria motivo suficiente de constrangimento.

Pior é quando o convite a Bannon não foi feito pelo embaixador, Sérgio Amaral.

Foi ideia de Olavo de Carvalho e de seu discípulo Eduardo Bolsonaro, como conta a repórter Lúcia Guimarães, da Veja.

Ela lembra que o jantar é uma deselegância com Donald Trump, uma quebra de protocolo. “Vamos supor que Angela Merkelfaça uma visita oficial ao Brasil e, antes mesmo de pisar no Palácio do Planalto, jante com João Pedro Stédile, o líder do MST, na embaixada alemã. Nenhuma chance. Seria uma bofetada diplomática no país anfitrião”, compara.

Bannon não teria no governo Trump a influência que se imagina.

Ele surfa mais na onda de extrema direita dos países periféricos.

O polêmico Stephen K. Bannon, de 65 anos, é um ex-oficial da Marinha americana e ex-investidor de Wall Street com uma passagem por Hollywood como produtor. Em 2012, com a morte de Andrew Breibart, o fundador do Breibart News, ele passou a dirigir esse website extremista de direita. Foi também um dos fundadores da Cambridge Analytica, empresa digital envolvida no escândalo sobre a manipulação da campanha pelo Brexit. Em agosto de 2016, quando o hoje condenado Paul Manafort deixou a direção da campanha de Donald Trump para a Casa Branca, Bannon foi nomeado para o posto. Com a vitória republicana, ganhou o cargo de estrategista e conselheiro sênior do presidente eleito. O estilo abrasivo e as posições antiglobalistas e anti-imigração de Bannon alienaram a atuação do genro de Trump, Jared Kushner, e de sua filha Ivanka, que apoiavam outros egressos de Wall Street do governo.

Pouco depois do incidente terrorista em Charlottesville, na Virginia, em agosto de 2017, quando um nacionalista branco jogou seu carro contra a multidão e matou uma jovem, Bannon deixou o cargo. Insistiu que sua partida fora voluntária. Mas estava inequivocamente enfraquecido e fora escorraçado da Casa Branca por Trump.

Uma fonte amedrontada do Itamaraty avalia a ideia de trazer uma figura extremista e marginal no centro de poder, em Washington, é uma grosseria com o anfitrião na Casa Branca. “Não, Bannon ainda tem influência expressiva entre os conservadores,” diz a voz nervosa do outro lado da linha para justificar a inclusão do agitador ao lado de acadêmicos conservadores respeitados, como Walter Russell Meade, à mesa de Bolsonaro.

Outro diplomata mais graduado concorda em número e grau com o fato de que nossa diplomacia jamais incluiria Bannon num compromisso do presidente em visita oficial ao exterior.

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