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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

“Quero a esquerda unida, capaz de enfrentar fascistas, milicianos e burros que estão no poder”, diz Jean Wyllys



Em entrevista exclusiva à Fórum, Wyllys falou sobre os motivos de deixar a vida parlamentar: "Eu não posso brincar com a minha vida, porque é a única que eu tenho. E todos sabemos o que aconteceu à Marielle. Também sabemos o que essa família pensa sobre mim”


O Brasil foi surpreendido no dia 24 de janeiro, com o anúncio de que o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) havia renunciado ao seu terceiro mandato. Além disso, o parlamentar decidiu deixar o país, em consequência de ameaças de morte sofridas por ele e seus familiares.

Em entrevista exclusiva à Fórum, Wyllys deixa claro que o fato não vai impedi-lo de continuar lutando pelas causas que sempre defendeu.

“Essa nova vida à qual fui obrigado pelas ameaças não vai me retirar do front. Vou continuar fazendo política no sentido mais amplo. Desde outro lugar, mesmo sem cargo público, vou continuar denunciando as atrocidades desse governo e defendendo como sempre as liberdades individuais, a justiça social e os direitos humanos. Apenas ampliei a trincheira, para a qual voltarei quando estiver inteiro de novo. E também espero poder voltar um dia ao Brasil, quando esse pesadelo acabar”, relata.

Esquerda unida

Apesar de estar fora do Brasil, Wyllys tem acompanhado com atenção o que acontece com a política nacional, como as eleições na Câmara Federal e no Senado, os primeiros passos do governo Bolsonaro e o papel da esquerda nesse momento crucial do país.

Durante a escolha do presidente da Câmara, por exemplo, o campo progressista se dividiu. Enquanto PT e Rede apoiaram a candidatura de Marcelo Freixo (PSOL), o PSB lançou candidato próprio (João Henrique Caldas, o JHC) e o PCdoB e o PDT fecharam com Rodrigo Maia (DEM), que acabou vencendo.

Jean Wyllys é contundente em sua análise, como de costume: “Eu não vou somar a minha voz a essa troca de acusações e recriminações entre diferentes setores da esquerda e entre pessoas que eu respeito e de quem eu gosto”, revela.

“O Brasil passa por uma situação gravíssima, com um governo fascista eleito pelo voto popular, graças à prisão política do Lula. Esse governo chega com uma agenda que tem como eixo fundamental (não é cortina de fumaça, mas a narrativa que lhe permitiu construir hegemonia na sociedade) a negação do direito à existência de diversas minorias, o discurso de ódio, a legalização do preconceito e da discriminação, a perseguição política, o macarthismo mais descarado, a repressão violenta, a desconstrução do sistema de proteção dos direitos humanos e um profundo retrocesso em direitos econômicos e sociais”, acrescenta.

A consequência direta disso, segundo o agora ex-deputado do PSOL, é o iminente risco às liberdades democráticas, aos direitos civis, à liberdade de imprensa, aos direitos sociais.

“Nesse contexto, as brigas internas da esquerda, que sempre foram péssimas, são imperdoáveis. Então, não contem comigo para atacar ninguém. Eu quero uma esquerda unida que seja capaz de enfrentar os fascistas, milicianos e burros que estão no poder e defender as populações mais vulneráveis de qualquer perda de direitos. Quero uma esquerda que, unida, seja capaz de articular lutas democráticas, inclusive, com setores ideológicos mais amplos. Para isso, sim, contem comigo”.

Calamidade

Questionado sobre que balanço faz, depois de tudo que viveu nos últimos anos e ainda está vivendo, com todas as ameaças e retrocessos contra ele e o Brasil, Wyllys volta suas baterias novamente para Bolsonaro e sua equipe.

“Esse governo vai ser uma calamidade, já está sendo. A seleção dos ministros foi algo inacreditável, são pessoas absolutamente incapazes, muitos deles não conseguiriam jamais um bom emprego no setor privado e nem conseguiriam passar num concurso público ou até mesmo na prova do ENEM. Eles chegam ao poder, sem qualquer experiência na administração pública, carregados de ódio, preconceitos e macarthismo. Não entendem a diferença entre a Bíblia e a Constituição Federal, desprezam os direitos humanos, não têm a menor sensibilidade para as questões sociais, são ignorantes, toscos”, analisa.

O ex-parlamentar, portanto, reconhece os tempos difíceis, mas não perde a esperança. “O Brasil vai atravessar um período muito ruim, mas eu espero que haja muita resistência e que a gente consiga recuperar nosso país, para que volte a ser essa terra de esperança e otimismo que já foi nos seus anos melhores”.

Marketing?

Jean Wyllys não se furtou a comentar as acusações que vem recebendo, depois de decidir renunciar ao mandato e deixar o Brasil, de que as ameaças de morte sofridas por ele e sua família não passam de um golpe de marketing?

“Quer dizer que eu saí da minha terra, me afastei da minha família e dos meus amigos, renunciei a um mandato de deputado federal e a quatro anos de salário, deixei meu apartamento, vendi meus móveis, perdi acesso aos meus livros e fiquei desempregado como parte de uma jogada de marketing?”, questiona.

Ele encontra uma explicação para as acusações. “Será que alguém falaria isso, nas mesmas circunstâncias, se eu não fosse homossexual? Olha, a resposta é simples. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, depois de analisar as provas das ameaças recebidas e da brutal campanha de destruição de reputação a que eu fui submetido por essa quadrilha de fascistas, concluiu que minha vida estava em risco e solicitou ao Estado brasileiro proteção para mim e para minha família. Mas nada foi feito”, diz.

Jean Wyllys relembra, ainda, os riscos que correu e justifica sua decisão de deixar o país: “Eu não posso brincar com a minha vida, porque é a única que eu tenho. E todos sabemos o que aconteceu a Marielle, sabemos quem está sendo investigado por esse crime (e no gabinete do filho de quem a esposa e a filha dele estavam lotadas como assessoras). Também sabemos o que essa família pensa sobre mim”, completa.

Lucas Vasques 
No Fórum

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