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quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Xadrez da indústria de armas e o financiamento da direita, por Luis Nassif


"O jogo da indústria de segurança com o esquema Bolsonaro ficou nítido no primeiro dia após as eleições, quando o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o segundo filho, Carlos Bolsonaro, anunciaram ida imediata a Israel para negociar a compra de drones assassinos (https://goo.gl/tK4XfK). A indústria de segurança de Israel tem uma longa tradição de corrupção com o Brasil, iniciada com a venda de equipamentos superfaturados para o governo Quercia." 

Peça 1 - a indústria de armas e a direita


O jogo da indústria de segurança com o esquema Bolsonaro ficou nítido no primeiro dia após as eleições, quando o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o segundo filho, Carlos Bolsonaro, anunciaram ida imediata a Israel para negociar a compra de drones assassinos (https://goo.gl/tK4XfK). A indústria de segurança de Israel tem uma longa tradição de corrupção com o Brasil, iniciada com a venda de equipamentos superfaturados para o governo Quercia,
Dois twitters dos inenarráveis irmãos Bolsonaro - Eduardo e Carlos - reforçam esse tema, que tem sido pouco abordado nas análises políticas: a parceria da indústria de armas com a ultradireita mundial. E mostram como os profissionais deitaram e rolaram em torno do suposto lobby dos Bolsonaro pela Taurus, empresa brasileira. O buraco era bem mais acima.
O primeiro twitter, de Eduardo, citando o irmão Carlos, a respeito das divisões da ultradireita com fabricantes de armas. Com a naturalidade de quem discute futebol, Carlos denuncia os “fanfarrões” que fazem propaganda da Taurus, mas usam Glock. Quando denunciados, o que fazem os fanfarrões? “Dizem que estamos dividindo a direita! O twitter é de 1o de novembro de 2017.


O segundo twitter, de 17 de janeiro de 2017, mostra o estreitamento de relações de Eduardo Bolsonaro, com a influente NRA, a Associação Nacional de Rifles dos Estados Unidos, quando se preparava para a campanha eleitoral.



De fato, no dia 11 de junho passado, Bolsonaro já mostrara que haviam frutificado suas relações com a NRA. Anunciou que, se eleito, acabaria com o monopólio da Taurus, alterando o artigo 190 do Decreto 3.665, de 2.000, sobre produtos controlados. Diz o decreto:  "o produto controlado que estiver sendo fabricado no país, por indústria considerada de valor estratégico pelo Exército, terá a importação negada ou restringida".
No dia 10 de novembro de 2018, o site da America´s 1st Freedom, da NRA, dizia (https://goo.gl/F7mkKV):  “Tiremos o chapéu para Bolsonaro por ver a situação pelo que realmente é”.
Um ano antes, em 2017, Jair e Eduardo Bolsonaro foram recebido com todas as regalias pela NRA, conforme reportagem da Bloomberg (https://goo.gl/KWcMhy):
“Enquanto estavam lá, eles experimentaram uma AK-47 e outras armas de assalto. Depois, Eduardo, vestindo uma camiseta "F --- ISIS", segurou cartuchos de grande calibre para a câmera e expressou consternação por eles poderem "ter um problema" se tentassem trazer a munição para o Brasil.”

Peça 2 - como funciona a NRA


Mas, afinal, o que vem a ser a NRA?
Foi fundada há 148 anos em, Nova York, por dois veteranos do Exército. Sua missão original seria “uma associação que representa apenas cidadãos individuais”.
Nos últimos anos, seu perfil se alterou radicalmente. Passou a ser bancada por fabricantes de armas de outros países, que exportam para os Estados Unidos; e fabricantes norte-americanos, que buscam novos mercados. De 2010 a 2016, as exportações de revólveres, rifles e espingardas para uso civil aumentaram 60%. Tornou-se o grande negóci da indústria de armas dos EUA e de seu lobby, a NRA.
E aí, a NRA passou a entrar em conflito com interesses nacionais. Em 2014, criticou o Departamento de Tesouro por incluir a Kalashnikov Concern, fabricante da AK-47, nas retaliações à Rússia pela invasão da Ucrânia.
Quando apareceram suas investidas na Austrália, Rússia e Brasil, passou a ser questionada pela imprensa norte-americana, sobre quais interesses representaria.
Lembrou-se que em março de 2.000, quando o governo Clinton anunciou um acordo histórico com a Smith & Wesson, para que incluísse dispositivos de segurança nas armas curtas - que não disparariam sem a impressão digital do proprietário - a NRA foi contra a estimulou a entrada, no país, da Beretta USA Corp, controlada pela italiana Beretta (https://goo.gl/KWcMhy).
Uma de suas ações mais ostensivas foi na divulgação da austríaca  Glock – a preferida dos Bolsonaro. A empresa produziu um vídeo para celebrar sua entrada nos EUA. No final, há uma mensagem de Wayne LaPierre, o presidente da NRA.
A reportagem da Bloomberg, sobre a internacionalização da NRA, lembrava que EUA e Brasil têm coisas em comum: ocupam o primeiro e o segundo lugar no número de cidadãos mortos a cada ano. E informava que Bolsonaro utilizava, na sua campanha, os mesmos argumentos da NRA.
29 de setembro de 2018, Brasil, Rio de Janeiro: Um defensor do candidato presidencial de extrema direita Bolsonaro está vestindo uma camiseta com sua foto em um comício.

Peça 3 - a crise do lobby


A vida da NRA começou a complicar este ano.
Em 2017, levantou US$ 312 milhões em contribuições dos fabricantes de armas, mas significou uma queda de 15% em relação a 2016. Mesmo assim, investiu US$ 55,6 milhões nas eleições, dos quais US$ 30 milhões em apoio a Donald Trump.
Quando explodiu o escândalo da interferência russa nas eleições norte-americanas, a agente russa Butina, em sua delação, informou que sua missão era encontrar americanos politicamente influentes infiltrando-se em uma “organização de defesa dos direitos das armas”. Justamente, a NRA.
O pior estava por vir  (https://goo.gl/rjPSdA).
A NRA foi alvo de uma campanha pesada do governador democrata de Nova York, Andrew Cuomo. A revelação das ligações com os russos ajudou a cortar os laços da NRA com a mídia norte-americana. Sem a retaguarda da mídia, e com o aumento das ações judiciais, as seguradoras passaram a ter receio de negociar com a NRA. O lobby vendia um seguro de responsabilidade civil para os associados, para cobrir atos de transgressão intencional. Mas constatou-se que usava uma apólice de seguro ilegal, o que lhe custou uma multa de US$ 7 milhões e aumentou o seu descrédito. Reguladores financeiros de NY investiram contra a NRA, espalhando o boicote pelo setor financeiro.
A reação da NRA foi um vídeo ameaçando a mídia tradicional. Mostra um homem destruindo uma televisão com uma marreta, em resposta às supostas notícias falsas. A apresentadora no canal da NRA usa uma camiseta com o slogan “Lágrimas Socialistas”. O vídeo foi visto 200 mil vezes.
Dois dias depois, aconteceu a tragédia na Flórida, com 17 alunos de uma escola secundária assassinados por um colega armado.
Associações contra as armas publicaram um anúncio de duas páginas no New York Times, denunciando 276 políticos financiados pela NRA. Ao lado, foto das crianças que deixaram a escola Marjory Stoneman Douglas durante o tiroteio. E as palavras de David Hogg, sobrevivente de 17 anos: “Nós somos as crianças. Vocês são os adultos ... façam alguma coisa.
Shannon Watts, fundadora da Moms Demand Actions para Gun Sense explicou o anúncio: “A violência armada e sem sentido, devastadora e evitável. Todo legislador que não atua está permitindo que as matanças continuem”.
A reação da NRA veio através de seu líder, Wayne LaPierre, alertando contra uma “agenda socialista” por trás das campanhas contra o desarmamento. E dizendo que o direito às armas “é garantido por Deus a todos os americanos como direito de nascença” (https://goo.gl/QKwpaa).
Garantiu que as “elites” pretendem eliminar as armas “para que possam erradicar todas as liberdades individuais”.

Peça 4 – vá atrás do dinheiro


A decisão de Jair Bolsonaro, de revogar o estatuto do desarmamento, e escancarar o mercado para importações de armamentos, atende a todas as demandas da NRA.
E, assim como por lá, recorreu-se a toda sorte de notícias falsas, como na inacreditável entrevista de Onix Lorenzoni à Globonews, comparando acidentes com armas a liquidificadores, manipulando estatísticas, distorcendo conclusões. Ou na entrevista de Sérgio Moro, procurando legitimar as barbaridades do governo Bolsonaro, como um óbolo a ser pago à opinião pública para conseguir passar reformas condenadas pela opinião pública. Um autêntico circo romano, sangrento e irresponsável.

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