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segunda-feira, 9 de abril de 2018

Vozes femininas do cristianismo precisam ser ouvidas. Artigo de Tayana Leôncio


"A ênfase dada num discurso prioritariamente masculino, e por uma voz masculina é o que por muito tempo tem tornado o cristianismo uma religião sexista. Diferente do que o Mestre jesus, cerne da fé cristã, viveu e ensinou. Hoje vemos seus “discípulos” deixando um não lugar na experiência religiosa para as mulheres."

Do Justificando:

Vozes femininas do cristianismo precisam ser ouvidas


“A Anunciação”. Pintura de Leonardo da Vinci (1472).
“uma das maneiras de valorizarmos as mulheres e defendermos a sua dignidade é tirá-las do anonimato, do esquecimento”
– Rute Almeida
Devemos tomar conhecimento da vasta contribuição feminina no cristianismo. Desde de sua origem no ministério de jesus, onde podemos comprovar a efetividade da ação feminina para que a mensagem de Jesus alcançasse diferentes povos. Em seguida, os movimentos pós ressurreição, no período de organização dos pequenos grupos de cristãos. Até chegar nas cruzadas evangelísticas das décadas de 70 até hoje.
O que observamos é uma seletividade nos heróis apresentados nos sermões.

Falamos de homens como modelos de fé e vida casta. Porém em muito menos proporção falamos das nossas profetizas e mulheres que carregaram sobre seus ombros a missão de propagar e viver o evangelho de Cristo.

A ênfase dada num discurso prioritariamente masculino, e por uma voz masculina é o que por muito tempo tem tornado o cristianismo uma religião sexista. Diferente do que o Mestre jesus, cerne da fé cristã, viveu e ensinou. Hoje vemos seus “discípulos” deixando um não lugar na experiência religiosa para as mulheres. A elas muitas vezes são reservados os lugares de bastidores e em ambientes muito convencionais como atividades na cozinha , limpeza , organização, cuidado. Não digo isso, crendo que se nós quisermos ocupar esses lugares não seja permitido , mas que essa não seja nunca a primeira opção ou a única viabilizada.
… sabemos que o cristianismo não nasceu a partir da igualdade de gênero e menos ainda cresceu a partir da igualdade de gênero. Muito embora o feminismo esteja atuando como movimento social há mais de trinta anos no Brasil, a força real e simbólica da submissão continua a estruturar as relações cristãs. As mulheres não conseguiram ainda a cidadania integral na maioria das igrejas cristãs![1]
Com machismo velado, nós a igreja, reproduzimos comportamentos e discursos que não tem permitida uma experiência de empatia com nossas irmãs nos ambientes cúlticos.
Jesus valorizou a figura feminina em suas parábolas. Gostava de ouvi-las a cerca de suas impressões sobre o Reino de Deus. E escolheu se revelar como Messias primeiro para uma mulher. Jesus em todo tempo nos ensinou a valorizar o lugar de fala do outro. Deixando o exemplo de cuidado que devemos ter uns com outros. A tradição judaica não reconhecia a potência do feminino e por isso a determinou pra um lugar a margem da sociedade, onde sua fala, sua percepção, sua experiência não era valorizada. E ainda hoje vemos os reflexos desse comportamento machista, quando uma denominação que se diz cristã, não reconhece o ministério feminino, quando seus púlpitos são 99% de vozes masculinas, quando seus sermões trazem apenas ou majoritariamente referências masculinas, ou quando majoritariamente ou preferencialmente são as mulheres que ocupam os lugares serviço.
Precisamos começar com o primeiro passo para a mudança e de fato aproximar o nosso cristianismo com figura de jesus. E este é reconhecer que historicamente temos reproduzido comportamentos sexistas. Determinando as irmãs como, quando e onde são seus lugares, comportamentos e falas permitidas.
Deixemos o sopro da RUAH soprar também sobre nossas irmãs, e deixa-las fluir na experiência com o sagrado. Assim sendo, teremos ganhos incontáveis na vida em comunidade e na experiência de fé no cristo. Quando só temos a revelação masculina de Deus deixamos de aprender e apreender a face feminina de Deus.
Irmãs teólogas Latino Americanas com vasta contribuição nos estudos da religião como Ivone GebaraMaria José Fontelas Rosado Nunes ou suas antecessoras vozes missionárias do protestantismo Sara KalleyMartha WattsCarlota Kemper entre outras tantas vozes femininas que o espirito santo impulsionou e foram pouco valorizadas e celebradas. Arriscaria dizer que 90% das irmãs que estão hoje nos templo cristãos não saberia citar uma mulher vocacionada na obra de Cristo que impactou sua geração ou que contribui nos movimentos mais recentes de cruzadas evangelísticas.
A religião patriarcal tem impedido as vozes femininas que ecoam na historia serem ouvidas. Sigamos o exemplo de Cristo traga a mulher esquecida e marginalizada para o meio da multidão e lhe devolva a dignidade que o próprio Deus a deu.
Tayana Leôncio é cristã feminista, teóloga, especialista em historia da cultura afro-brasileira, fotografa de retratos femininos e fotografia documental e diretora da ONG Há Esperança – Empreendedorismo Social (na baixada Fluminense).
Para todas as mulheres que têm nos acompanhado, mandem seus relatos! Nosso e-mail é: feministas@justificando.com

Citação: RUTE, Almeida Salviano, Vozes femininas no Inicio do protestantismo Brasileiro Escravidão, império, religião e papel feminino.

[1] GEBARA, Ivone, Teologia urbana ensaios sobre ética, gênero, meio ambiente e a condição humama.

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