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terça-feira, 17 de outubro de 2017

Brasil oscila entre “ilusões perdidas” e um “horizonte tenebroso”, por Franklin Frederick


"O último e maior defeito dos homens de Estado foi a sua honestidade numa luta em que seus adversários empregavam todos os recursos da trampolinagem política, a mentira e as calúnias, desencadeando contra eles, pelos meios mais subversivos, as massas ininteligentes, capazes somente de compreender a desordem." - Honoré de Balzac




Jornal GGN - Franklin Frederick, colaborador do GGN, fez uma "entrevista diferente" com o Honoré de Balzac sobre a situação política do Brasil atual. Todas as respostas de Balzac são tiradas de seus romances. O que será que ele tem a dizer sobre o maior erro do PT, os jornais e o apoio ao golpe, entre outros assuntos? 
Por Franklin Frederick
Exclusivo: para célebre escritor francês, a situação política do Brasil oscila entre um cenário de “ilusões perdidas” e um “horizonte tenebroso”
Em entrevista exclusiva concedida diretamente do 20o distrito de Paris, onde reside ininterruptamente desde há cerca de 167 anos, Monsieur Honoré de Balzac comentou os acontecimentos recentes da política brasileira, desde a eclosão do golpe do 12 Frimário de 2015.
- Monsieur de Balzac, o senhor tem acompanhado atentamente a situação do Brasil e está bem informado sobre o golpe que derrubou o governo da Presidente Dilma Roussef. Eu gostaria de começar esta entrevista perguntando o seguinte: em sua opinião, qual foi o maior erro do Governo do PT em todo este processo que acabou levando ao golpe?
- O último e maior defeito dos homens de Estado {do PT} foi a sua honestidade numa luta em que seus adversários empregavam todos os recursos da trampolinagem política, a mentira e as calúnias, desencadeando contra eles, pelos meios mais subversivos, as massas ininteligentes, capazes somente de compreender a desordem.
(Tirado de Os Empregados – Les Employés )
- A imprensa, sobretudo os grandes jornais, teve um papel decisivo na construção de um clima favorável ao golpe de estado. Como o senhor vê estes grandes jornais hoje em dia?
- O jornal, em vez de ser um sacerdócio, tornou-se um meio para os partidos; e de um meio passou a ser um comércio e, como todos os comércios, não tem nem fé, nem lei. Todo jornal é (...) uma loja onde se vendem ao público palavras com as cores que ele deseja.(...). Um jornal não é mais feito para esclarecer, mas para adular as opiniões. Assim, todos os jornais serão em um dado tempo covardes, hipócritas, infames, mentirosos, assassinos; matarão as idéias, os sistemas, os homens, e por isso mesmo florescerão. Terão a vantagem de todos os seres pensantes: o mal estará feito sem que ninguém seja o responsável. (...) O jornal pode se permitir a mais atroz conduta, ninguém sairá pessoalmente maculado.
 (Ilusões Perdidas – Ilusions Perdues) 
- Mas e os jornalistas? Eles não poderiam desde dentro tentar mudar este quadro que o senhor descreve?
- Os jornalistas já estabelecidos serão substituídos por outros jornalistas pobres e esfomeados. A ferida é incurável, será cada vez mais maligna, cada vez mais insolente; e quanto maior for o mal, mais ele será tolerado, até o dia em que a confusão se instalará nos jornais, pela sua abundância, como em Babilônia.Todos nós sabemos que os jornais irão mais longe que os reis em ingratidão, mais longe que o mais sujo comércio em especulações e em cálculos, que devorarão nossas inteligências vendendo-lhes todas as manhãs a sua matéria cerebral.
(Ilusões Perdidas)
- E a Operação Lava Jato? Está cada vez mais claro para a sociedade brasileira que o objetivo real desta operação sempre foi condenar o Ex-Presidente Lula e impedi-lo de participar da vida política do país. O senhor concorda em que há uma verdadeira perseguição ao Ex-Presidente conduzida pela própria Justiça?
- Desde que as sociedades inventaram a Justiça, nunca descobriram o meio de dar à inocência acusada um poder igual àquele de que dispõe o magistrado contra o crime. A Justiça não é bilateral. A defesa que não tem espiões nem polícia não dispõe em favor dos seus clientes da potência social. A inocência nada mais tem por si do que o raciocínio, e o raciocínio que pode impressionar os juízes é muitas vezes impotente sobre o espírito prevenido dos jurados. O país inteiro está contra vocês.
(Um caso tenebroso – Une tenebreuse affaire)
- O senhor vê então uma influência dos grandes jornais sobre a Justiça no caso desta perseguição ao Ex-presidente Lula?
- Há uma atmosfera das idéias. Numa corte de justiça, as idéias da multidão pesam sobre os juízes, sobre os jurados e reciprocamente.
(Um caso tenebroso)
- E para terminar nossa entrevista, o senhor gostaria de dizer uma última palavra para os nossos juízes?
-Os costumes são os homens; mas a lei é a razão de um país.
(Um caso tenebroso)
* Honoré de Balzac (1799-1850) é o autor da prodigiosa série de romances ‘A Comédia Humana’, que conta com mais de uma centena de romances e novelas. 
Nesta curta entrevista Honoré de Balzac nos dá a sua visão sobre a atual situação política no Brasil, construída a partir de citações oriundas de obras tais como “Ilusões Perdidas” – que bem poderia ser o título de uma história da esquerda brasileira, “Um caso tenebroso” – que por sua vez seria o título ideal para uma história do governo Temer – dentre outras.
Como se sabe, o túmulo de Balzac encontra-se no cemitério de Père-Lachaise, situado no 20o arrondissement da capital francesa.

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