Um golpe tem sempre alguém no papel de “mão do rei”, como no seriado Game of Thrones. Em 2016, o papel foi representado por Eduardo Cunha, no impeachment de Dilma Rousseff. Agora, o “mão do rei” é o juiz Sergio Moro, ao exarar a sentença que estava escrita desde o inicio, juridicamente frágil mas politicamente coerente com o roteiro da Lava Jato. Não perguntem o nome do rei, que ele tem muitos nomes: mercado, oligarquia, plutocracia, ideologia e outros mais, afora os entes estrangeiros. O golpe, entretanto, ainda não acabou, pois na partida final entrará em cena o protagonista por excluído, o eleitorado; leia aqui a coluna de Tereza Cruvinel
Golpe adentro, Lula condenado
Tereza Cruvinel
A condenação de Lula por Sergio Moro revoltou seus admiradores e aliados mas era esperada. Arrancou manifestações sádicas de êxtase de seus adversários mas era por eles também esperada. É com a sentença de Moro, apondo a ferro quente a marca de “corrupto” ao maior líder popular brasileiro, que se coroa o golpe de 2016. Ele teria sido um logro, um gasto inútil de energia para empossar um Temer vulgar e descartável, se não cumprisse o desiderato maior de liquidar com Lula e removê-lo da arena política antes da disputa presidencial de 2018. Antes, porém, em 2014, a poucos meses da eleição presidencial, a Lava Jato entrou em cena e explicitou que seu alvo claro eram Lula, o PT e o governo petista.
Golpe adentro, chegamos ao dia de ontem, que aprofundou a divisão política do Brasil. Um golpe tem sempre alguém no papel de “mão do rei”, como no seriado Game of Thrones. Em 2016, o papel foi representado por Eduardo Cunha, no impeachment de Dilma Rousseff. Agora, o “mão do rei” é o juiz Sergio Moro, ao exarar a sentença que estava escrita desde o inicio, juridicamente frágil mas politicamente coerente com o roteiro da Lava Jato. Não perguntem o nome do rei, que ele tem muitos nomes: mercado, oligarquia, plutocracia, ideologia e outros mais, afora os entes estrangeiros. O golpe, entretanto, ainda não acabou, pois na partida final entrará em cena o protagonista por excluído, o eleitorado.
Muito além da Avenida Paulista, onde a noite desta terça-feira registrou a tristeza e a revolta dos admiradores e aliados de Lula, a poucos metros da manifestação de júbilo e ódio do anti-lulismo, nas profundezas sociais e regionais do Brasil, a maioria que não protestou nem festejou foi dormir perplexa. Como compreender a condenação sem prova provada de que Lula seja dono daquele imóvel que, desde 2010, está empenhado pela proprietária OAS como garantia numa operação financeira? Mais difícil ainda, como compreender a condenação de Lula no dia em que Geddel Vieira Lima, o boca de jacaré, foi libertado pela Justiça e que a CCJ da Câmara entrou pela noite discutindo a licença para que Temer seja processado por ineludível ato de corrupção passiva. Como entender Lula condenado enquanto Rocha Loures, o homem da mala com R$ 500 mil, dorme tranquilo em sua casa? Ou que Aécio Neves se mantenha no Senado como excelência apesar da gravidade das acusações que enfrenta? Moro, que condenou Lula, não é o mesmo que premiou os criminosos-delatores, permitindo que vivam nababescamente em suas mansões à beira-mar?
Estas e outras estranhezas não devem levar grandes massas à rua em solidariedade a Lula, ou aos atos em sua defesa que o PT planeja realizar. A seu devido tempo, entretanto, elas produzirão o posicionamento da maioria dos brasileiros agora perplexos. Até agora, Lula liderou as pesquisas por uma espécie de força do contraste, pela saudade de seu governo, dos anos em que o ricos ficaram mais ricos mas os pobres também ganharam com o crescimento da economia, com a retomada dos investimentos públicos e privados, com o fulgor do pleno emprego. Do tempo em que entraram no orçamento da União, através de políticas sociais inclusivas. Elas reduziram a pobreza e a desigualdade com transferências de renda e o crescimento continuo do salário-mínimo, levaram filhos de analfabetos à universidade ou às escolas técnicas, iluminaram o Brasil rural com o Luz para Todos, e garantiram remédio gratuito para as doenças crônicas...Enfim, a maioria perplexa sabe que aquele pilar de um estado de bem-estar social, criado ou fortalecido por Lula, vem sendo destruido com perseverança pelo governo do golpe, que acabou até mesmo com as garantias da CLT de Vargas.
Se até agora foi a saudade da era Lula que sustentou a liderança dele nas pesquisas, daqui para a frente a condenação poderá ser um adensador dessa preferência, especialmente se a seletividade da Justiça continuar sendo escancarada: se Temer escapar e se aos não-petistas for reservado o “garantismo” de um Judiciário historicamente indulgente com a elite.
Mas Lula, sabemos todos, só será candidato se a sentença de Moro não for mantida pelo tribunal recursal, o TRF-4 de Porto Alegre, que tem validado quase todas as suas condenações. Mantida a condenação, e isso acontecendo até o final de junho do ano que vem, Lula estará fora do jogo, inelegível pela lei da ficha limpa, e o golpe terá cumprido plenamente seu objetivo, assim como a Lava Jato.
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