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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Romero Jucá, articulador da conspiração golpista de Temer, agora age nas sombras

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Denunciado em diversas investigações da Lava Jato, por suposto recebimento de propina, senador segue prestigiado e influente, no Palácio do Planalto e no Congresso
Por Bruno Lupion, no Nexo e no Outras Palavras
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) conseguiu manter o prestígio sobre o Executivo, o Legislativo e seu próprio partido mesmo depois de ser acusado, por mais de um delator, de pedir propina a empreiteiras da Lava Jato e de ter sido flagrado em gravação sugerindo um “pacto” para tirar Dilma Rousseff do Palácio do Planalto e assim “estancar” a operação que investiga a Petrobras.
Na quarta-feira (20), o jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que um ex-diretor da empreiteira Andrade Gutierrez, Flávio Barra, disse em delação premiada que Jucá o orientou a procurar o sócio de uma empresa de fachada, a Ibatiba, “para viabilizar o pagamento da propina”. Segundo Barra, um dos sócios da Itatiba, José Augusto Ferreira dos Santos, indicou a realização de contratos fictícios para transferir suborno relativo às obras para construir a usina nuclear Angra 3, no Rio.
O Ministério Público Federal afirma que a Ibatiba recebeu R$ 30 milhões de 2010 a 2012 das empreiteiras Andrade Gutierrez, Mendes Júnior e OAS, e diz ser improvável que a empresa tenha prestado algum serviço em troca, pois “não declarou possuir qualquer funcionário e não efetuou qualquer pagamento a contribuintes individuais” no período. A defesa de Jucá afirma que a delação contém informações “falsas” e que seu cliente nunca teve intimidade com Santos.
A gravação de Machado e outras delações
Essa não é a primeira delação que acusa Jucá de pedir propina em obras públicas. Outro ex-executivo da Andrade Gutierrez, Flávio Gomes Machado Filho, também disse ter se reunido com Jucá, no gabinete do senador, e recebido pedido de propina de 3% para o PMDB a título de “custo político” da construção de Angra 3, o que ele também nega.
Jucá é um dos articuladores do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Em maio, enquanto o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AP) adotava uma postura mais equânime sobre o caso, Jucá defendia publicamente a queda da petista.
Onze dias após ter assumido o Ministério do Planejamento na gestão do presidente interino Michel Temer, contudo, Jucá deixou o cargo devido à divulgação de gravações em que ele defendia a realização de um “pacto” para “estancar” a Lava Jato. Os áudios haviam sido gravados em conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, também delator.
Prestígio, porém, está mantido
Apesar de citado em delações e alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal na Lava Jato — um relacionado à Petrobras e outro à construção de Angra 3 —, e de ter deixado o governo em razão dos áudios de Machado, Jucá se mantém influente sobre o Planalto, o Senado e o PMDB. E segue procurado com frequência por servidores públicos que buscam reajustes de salário em meio à crise fiscal do governo. Acompanhe:
PALÁCIO DO PLANALTO
Jucá saiu do governo dizendo que iria se “licenciar” do cargo, apesar de essa figura jurídica não ser prevista para ministros. Na prática, foi exonerado e a pasta foi assumida pelo então secretário-executivo, Dyogo Oliveira, até que Temer decidis se sobre a volta ou não de Jucá ao posto. Oliveira permanece ministro até hoje.
Em 14 de julho, quase dois meses após Jucá ter deixado o Planejamento, a sala do gabinete do ministro permanecia vazia, em um sinal de “respeito” de Oliveira a Jucá, informou o jornal “O Estado de S. Paulo”.
Jucá também participou, como representante do Senado, de reunião do governo sobre meta fiscal de 2017 e segue influente sobre Oliveira.
SENADO FEDERAL
Jucá é segundo vice-presidente do Senado e um dos congressistas que ajudam na articulação do governo Temer na Casa.
Em julho, foi indicado por Renan para presidir uma comissão especialcriada para analisar temas considerados prioritários pelo presidente do Senado, como o que atualiza a lei sobre abuso de autoridade.
PMDB
Como atual presidente nacional do PMDB, Jucá participa ativamente da preparação do partido para as eleições municipais de outubro.
Em 12 de julho, reuniu-se em Brasília com 19 dos 27 presidentes dos diretórios estaduais da legenda sobre política de alianças, estratégias de financiamento e plataformas de governo.
FUNCIONALISMO PÚBLICO
Na estrutura do governo federal, o Ministério do Planejamento é o responsável por negociar reajustes salariais com o funcionalismo público. Servidores de diversas carreiras têm aproveitado a passagem de Jucá pela pasta e sua influência junto ao governo para pedir apoio a aumentos no holerite.
Os projetos de lei sobre reajustes que já tramitavam foram aprovados em julho pelo Senado, com impacto de R$ 67,7 bilhões até 2018. Outras 14 categorias, que ainda não haviam sido contempladas, conseguiram convencer o Planalto a enviar novos projetos de lei em seu benefício. Entre elas estão os auditores da Receita, que hoje ganham entre R$ 15,7 mil a R$ 22,5 mil, e passariam a ganhar, em reajuste escalonado até 2019, de R$ 22 mil a R$ 30,3 mil.
A proximidade de Jucá com demandas corporativas rende benefícios políticos ao senador. No último mês, ele publicou em sua conta do Twitter fotos com servidores e em apoio a reajustes salariais deauditores fiscaisdefensores públicos da Uniãoservidores federais que trabalham no Rio, militares de Roraima e do Amapá e servidores públicos não identificados.

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